Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador Angel Aquarod. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Angel Aquarod. Mostrar todas as postagens

domingo, 16 de maio de 2021

Caminho da Perfeição

 

Caminho de Perfeição

por Angel Aquarod

Reformador (FEB) 16 Abril 1919

             Não são as boas intenções que determinam o progresso alcançado pelos seres humanos, nem são eles a prova concludente do dever cumprido. Progresso e dever cumprido só se confirmam na obra viva. As elocubrações podem assinalar um caminho magnífico a percorrer, mas servem de pouco se o Espírito não passa do terreno especulativo ao da ação. Uma peça oratória pode ser uma eloquente e artística manifestação de energia mental, do extraordinário desenvolvimento imaginativo do autor, mas é letra morta, folha seca que o vendaval arrasta, sem deixar mais que uma fugaz impressão de voo, se as ideias vertidas não se cristalizam em fatos.

            Não são as razões, são as obras que edificam. Entendemo-lo.

            Já sei que alguém dirá que tal verbiagem, de tão sabida, já a depositou no ‘panteon’ do esquecimento. Quem isso disser terá acertado e, longe de ser uma censura, por mais que tal ideia esteja no pensamento, essa observação, constitui a justificativa da lembrança. E como abrigo a absoluta convicção de fazer um bem a meus irmãos da Terra, falando-lhes a linguagem da verdade, por mais amarga que esta seja e por mais sabida que a tenham, não me detenho ante qualquer consideração humana e cumpro fielmente meu dever.

            Quando nos falam de vários caminhos de perfeição, meditemos bem sobre as palavras com que se exprimem os mestres da sabedoria; pois se assim não o fazemos, corremos risco de cair em lamentáveis erros; porque – saibamo-lo – nenhum caminho, por si só, conduz à perfeição; há várias bifurcações e necessidade de com êxito percorre-las todas para a gente alcançar a perfeição; e se um só caminho conduzisse à cúspide (cume) do progresso humano, tenhamos por certo que o privilegiado seria o da ação; porque, para realizar qualquer obra que seja, é precisa a ação, que dá forma à ideia plasmando-a no respectivo plano. 

             A devoção é muito boa, aproxima de Deus a criatura, mas com a condição de cumprir a lei divina, causa impossível sem o estímulo da ação. A sabedoria não pode ser objetivada e responder ao motivo de sua existência, sem o veículo da ação.

            Pelo bem que quero aos meus irmãos de cativeiro, não me cansarei de aconselhar-lhes que cifrem principalmente na ação o seu progresso. Tinha razão Aquele que disse nada ser a fé sem as obras, ou antes uma condenação do crente. Porque ao que não crê, ou não sabe, pouco se lhe pode exigir; mas ao que crê, ou sabe, é justo se lhe exija o fruto de sua crença ou de sua sabedoria, e não há fruto sem ação. Não esqueçamos que a árvore que não dá frutos será arrancada pela raiz e lançada ao fogo. Recordemos também: Aquele que veio ensinar aos humanos o caminho da Redenção disse que não pelas palavras mas pelo fruto, isto é, a ação, se reconhecerão os verdadeiros ou falsos discípulos.

            O mundo, amigos meus, sofre uma enorme pletora (abundância) de palavras mas está anêmico de obras; e o que é necessário é falar menos e trabalhar mais. As palavras, leva-as o vento, mas as obras permanecem. Estudai muito, meus irmãos, se assim vos apraz; o estudo sempre é bom; não serei eu, portanto, quem aconselhe o contrário; mas pensai que de pouco servirão vossos estudos, se deles, por meio da ação, não fazeis obra duradoura, que responda às necessidades do progresso humano.    


domingo, 6 de setembro de 2020

As comunicações com os espíritos



As comunicações com os Espíritos
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) 16 Setembro 1916

            Realmente de grande utilidade, para os espíritos encarnados ou desencanados, as comunicações que entre uns e outros podem estabelecer-se.

            Boa, consoladora, é a doutrina espírita; mas sem comunicação não passaria de uma filosofia a mais, altamente racional e de consequências excelentes, na qual seríamos levados a crer.

            Com a comunicação, a convicção é mais firme, porque se apoia na certeza e já a crença não é necessária para o seu fundamento, sobre o que nenhuma dúvida pode haver; esta fica reservada, em todo caso, para plano secundário, que pouco influi nas decisões dos indivíduos.  

            Há grande diferença entre crer e saber. Quando se crê, a vontade para obrar conforme a crença é menos enérgica do que sabe quando se as. Por isso, eu, regra geral, os que possuem a certeza das comunicações com os Espíritos estão sempre mais aptos a coordenar as suas ideias do que os que só possuem a crença.

            Sabemos que pela intuição e inspiração os Espíritos podem comunicar-se conosco; que também o fazem pela palavra, pela escrita, pela vidência, e pela audição além de outros vários meios que podem empregar para dar testemunho de sua presença e exprimir sua vitória.

            Todos esses múltiplos recursos de que se utilizam os invisíveis para comunicar-se conosco, fazem com que não haja pessoa alguma que não receba sua influência e que os que estão convencidos dela se sintam sempre animados e fortes para proceder conforme a lei de Deus, por saberem que a sua boa vontade e esforço dos seus amigos do espaço, que aproveitam estas boas disposições, para eles, praticarem igualmente o bem, dando prova de amor a seus protegidos.

            Mas, realmente, o ser humano sente os benefícios das comunicações com intensidade extraordinária, quando, amargurada a sua existência com a perda de um ser amado, obtém deste comunicados autênticos, nos quais se renovam as manifestações amorosas, se pronunciam juramentos de mútua conexão e se contraem pactos, para sucessivamente seguirem ambos, sem desvios, o caminho do bem, único meio de adquirirem a certeza de se encontrarem um dia no espaço e de conseguirem a realização dos dourados sonhos que hão de uni-los eternamente num laço indissolúvel.

E se o ser encarnado alcança da comunicação benefícios tão grandes, não menos devem alcança-los o Espírito desencarnado. Este, que deixou suas afeições na Terra,para seu consolo, necessita também entrar em comunicação com os seres que amou e ama; necessita igualmente advertir ao que anda por ao que anda por extraviados caminhos e que uns e outros se convençam de que um ser de ultra terra lhes fala, lhes aconselha e lhes envia os eflúvios de seu amor.

            O bem é sempre o bem, e o Espírito desencarnado pode fazê-lo aos encarnados sem que eles se apercebam. Mas, como sempre devemos buscar o bem maior, quando os espíritos podem dar fé de vida ficam mais satisfeitos, porque dar fé de vida ficam mais satisfeitos, porque os resultados que obtém de sua ação são de maior importância.

            Por isso ficam contentíssimos de possuírem o telégrafo e o fonógrafo da comunicação, que a ambas as coisas se assemelha, e os utiliza sempre que se lhes apresenta ocasião propícia.

            Esta consideração faz com que não cheguem a convencer-me que limitam extraordinariamente os casos de comunicação dos Espíritos, que, pela facilidade que tem de influir entre os homens e a necessidade que disso devem sentir, forçosamente há de determinar uma comunicação entre encarnados e desencarnados mais frequente do que opinam os partidários da limitação.

            Muito boa é a comunicação ultraterrena, mas é preciso fazer dela um bom uso. Abusa-se frequentemente, e então, em vez de benefícios, se obtém prejuízos. Resultados de abuso são a degeneração física e moral de muitos médiuns, as obsessões e subjugações, os fanatismos e superstições de grande número de crentes, os erros sustentados por alguns como verdades e o ridículo em que amiúde se coloca o Espiritismo por esta classe de adeptos.

            À comunicação com os espíritos devemos ir sempre sem venda nos olhos, dispostos a analisar quanto nos digam as entidades invisíveis, quanto os médiuns nos transmitam; jamais a curiosidade e o interesse material devem ser nossa determinante, mas sim o estudo, o bem, a satisfação de nosso espírito, gozando com o descobrimento e confirmação da verdade, com a qual podemos ser úteis ao progresso próprio e alheio.

            Bendita seja a comunicação do além túmulo quando nos ilustra quando nos ilustra, nos consola e nos fortalece na fé! Mas tememo-la quando não acudirmos a ela de coração puro, porque neste caso não nos faltará transtornos.

            Temamos a comunicação se abusam dela e queremos que nos supra o estudo e o trabalho de pensar. Assim não nos faltarão espíritos que, reconhecendo o nosso gosto, nos conduzirão a um abismo do qual nos custará sair.

            Recebamos as comunicações, pelo contrário, com seriedade e recolhimento, em nossos Centros, a alma pura e a intensão sã; busquemo-la quando uma pena nos aflige e quando necessitamos a luz do alto que nos ilumina para levar ao cabo, com maior lucidez e acerto, nossas boas obras, e os Espíritos superiores virão pressurosos ajudar-nos. Não importa que não tenhamos um médium à nossa disposição.    

            Faltando-nos ele não nos há de nos faltar por isso o auxílio espiritual, porque, como todos somos médiuns, receberemos, então, a comunicação direta.

            Atendamos, pois, amiúdo, a esta comunicação direta, elevando-nos a planos superiores, para recebe-la a mais pura, e não nos arrependeremos.


domingo, 1 de dezembro de 2019

Do Mestre para o Discípulo



Do Mestre para o Discípulo
por  Angel Aquarod
Reformador (FEB) Julho 1920

- O que se deve ao corpo e o que se deve à alma -

            Meu amado discípulo: Livra-te de imitar os que, não tendo outro Deus senão a matéria, cifram todas as suas aspirações em satisfazer as exigências da carne e das paixões que essas exigências desenvolvem; e os que, levados por um egoísmo espiritual mal compreendido, ao impulso de um fanatismo exagerado, sacrificam o corpo, negando-lhe a nutrição que a sua natureza exige, a vestimenta, o repouso conveniente, o asseio e outros cuidados higiênicos indispensáveis à conservação da saúde e ainda o sujeitam à macerações e cilícios brutais.

            Tudo isso, tanto da parte de uns como de outros, é antinatural e, portanto, produz efeitos opostos aos que se visam. Os que querem tratar o corpo como soberano, satisfazendo-lhe a todas as exigências, desequilibram o seu regular funcionamento. Com este desequilíbrio produzem a perda da saúde e, sem nunca o satisfazerem, porque ele é insaciável e descontente como criança mal educada, lhe preparam um fim prematuro, após um período, mais ou menos longo, de sofrimentos.

            Os segundos pensam favorecer a alma e só conseguem atrofiar suas potências principais e entorpecer o cumprimento de sua missão terrestre, quando colocam em más condições o instrumento de sua manifestação no plano físico. O que acontece é inutilizarem o corpo, tornando-o enfermo, enfermidade que se transmite ao espírito, envolvendo-o numa espécie de idiotice - em uma idiotice efetiva - da qual custará muitíssimo a se ver livre.

            São casos de fanatismo fulminante, que ataca a maior parte da humanidade e cujas consequências todos sentimos. A isso se deve a degeneração da espécie, o desequilíbrio entre o corpo e o espírito gerador de tendências rivais, duma irredutibilidade notória, que põe em perigo a liberdade, a paz, o sossego público e a dignidade humana.

            Acrescente-se a perda da saúde corporal e espiritual como resultado fatal, e vejamos se isso não oferece motivo de sobra para bradar forte e insistentemente contra este mal universalmente espalhado.

            Foge, pois, querido discípulo, de semelhantes extremos e dai ao corpo e ao espírito o que a um e a outro corresponde.

            O espírito tem que cumprir, encarnado na Terra, a importantíssima missão de desenvolver e por em ação suas faculdades; de contribuir, em diferentes ordens, para a realização do plano divino, na grande obra da evolução. Para esse fim, como veículo de manifestação, como instrumento de ação, necessita do corpo e se este não se achar de perfeita saúde, em bom estado de funcionamento, comprometida está a missão do espírito, cuja ação se torna deficiente e improdutiva, contraproducente muitas vezes.

            Ao corpo, em verdade, como vês, se devem dar satisfações; porém, nada mais do que aquelas que, legitimamente, exija a sua natureza não viciada: nutrição sã e adequada, em quantidade suficiente, nem mais nem menos, porque igualmente se prejudica o corpo assim por excesso como por falta de nutrição. Exclusão de toda satisfação desnecessária, como é o uso - e mais o abuso - do tabaco, do ópio, das bebidas alcoólicas, os refinamentos da mesa, etc., etc. Desta maneira se favorece ao corpo e se beneficia o espírito. O interesse de ambos é o mesmo. Os excessos que enfermam o corpo enfermam também o espírito. Pois se é pecado cometido por este! Por isso, em boa justiça, sobre ele têm que recair as consequências. O transbordamento das paixões e os fanatismos, que são enfermidades do espírito, repercutem no corpo e o enfermam também, expiando o espírito, nesta enfermidade, seus pecados, que o fazem sofrer e lhe retardam o progresso. Há perfeita solidariedade entre o corpo e o espírito, não ocorrendo a um nada que não afete ao outro.

            Tanto ao corpo como ao espírito se pode e se deve castigar; porém, não da forma como o fizeram e fazem certos místicos e fanáticos religiosos, sujeitando-o a prolongados jejuns, a privações de coisas essenciais ao seu sustento e aplicando-lhe disciplinas e cilícios rigorosos. A violência para com o corpo só se justifica se se lhe regateiam, ou, melhor, se se lhe negam em absoluto os prazeres doentios da gula, da luxúria, da negligência, da inclinação a certos vícios, excessos e paixões desordenadas, que com frequência se apoderam do homem. Destas violências perseverantes e sustentadas com firmeza lucram o corpo e a alma: o corpo, porque o purificam, sublimam e lhe melhoram o estado de saúde e a alma, porque, graças ao seu esforço, se obtém a vitória, sendo ela o principal agente, de justiça é que seja a primeira beneficiada. A alma sai da contenda purificada e enobrecida e com o instrumento, corpo, em melhor disposição para o serviço.

            Por bons motivos, certamente, Deus, ao criar os corpos, sujeitou o funcionamento, o crescimento e a conservação deles a certas leis. Pois bem, cumprir essas leis é fazer a vontade divina e, portanto, obra santa. Conculcá-las (espezinha-las) é faltar à lei de Deus, rebelar-se contra a vontade do Supremo Criador e, por conseguinte, fazer obra má.

            Só é admissível que se castigue o corpo quando em benefício da saúde ou do bem alheio, físico ou espiritual. Também quando, em cumprimento do mandato divino, se expõe a saúde e a vida, chegando-se mesmo à perda desta, procede-se cristãmente, pratica-se um ato plausível e altamente meritório, porque nessa maneira de proceder entram em jogo a abnegação e o sacrifício, duas virtudes celestes que se convertem em brancas asas para os espíritos que delas sabem usar a fim de se elevarem às puríssimas regiões da bem aventurança eterna.


quarta-feira, 2 de outubro de 2019

O objetivo


“O objetivo da vida é conquistar a perfeição. Nosso campo de operações, por agora, é a Terra e as armas que temos de esgrimir o amor e a sua filha, a caridade. A lei que nos deve regular a vida está no Evangelho. Cristalizar na prática a sua santa doutrina é estar no caminho reto. Chegar ao termo deste, sem nos desviarmos, deve ser a nossa mira. Quem isso consegue corresponde perfeitamente ao objeto da vida.” 

A. Aguarod in “Práticas paternais”.
Reformador (FEB) Fevereiro 1942

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Inspirações - 17



Inspirações – 17
por Angel Aquarod
Reformador (FEB)  Fevereiro 1924

                                O ESPIRITISMO E AS FORÇAS ARMADAS

Prossigamos na nossa tarefa.

Dizei-me: se se conseguisse que o Espiritismo exercesse influência nos meios a que nos temos referido nos ditados anteriores e não fizesse o mesmo no seio dos exércitos, poder-se-ia considerar resolvido o problema da ordem, da paz e do progresso regular da humanidade? Certamente que não. Ao menos, assim me parece. Julgo, pois, de igual modo indispensável que ele penetre também no seio das instituições armadas, de todas as naturezas. Talvez mesmo seja mais necessário que o Espiritismo influa nos meios militares do que em qualquer outra classe social.

Ante o que acabo de dizer, já estou vendo a cara de poucos amigos que fazem os espíritas pacifistas a todo transe, que tomam ao pé da letra as palavras de Jesus profligando a violência.  A sentença –“quem com ferro fere com ferro será ferido” - virá a exemplo como uma condenação explícita do divino Mestre ao uso de toda e qualquer ama.

E não será descabida essa alegação porque o futuro há de ser de paz e pela paz deverá esta conquistar-se, ou, melhor, pela paz a todo transe é que se há de consolidar a paz. Esta expressão é mais apropriada do que a primeira, porque se bem que a paz se haja de consolidar por meio da paz, ela irá sendo conquistada, ainda que de modo indireto, por meio da guerra.

Bem é que quem sinta horror invencível por toda violência firme o propósito de jamais esgrimir qualquer arma fratricida e de negar em absoluto seu concurso a toda empresa, ação ou intento que não se inspirem na paz e à paz não conduzam. Bem aventurado aquele que já alcançou tal estado de consciência e nele se pode manter contra tudo o que porventura o assedie e assalte.

Preciso é, porém, que esse tenha em conta que não se acham no mesmo nível todos os Espíritos encarnados na Terra; que, portanto, não se pode exigir, daquele cujo estado de consciência é outro, que proceda do mesmo modo.

Quando o inspiram o amor do bem e um desejo elevado, o sentimento guerreiro não é sinônimo de crueldade. É, em tal caso, um sentimento cuja expressão leva aquele que o possui a atos de alta nobreza e heroicidade.

Um espírita pode ser soldado e adepto fiel, porque o homem pode ser soldado e colimar o ideal espírita, como qualquer outro fervoroso crente, do mesmo modo que se pode ser cristão e militar. Duvidais? Notai quantos guerreiros ilustres, que demonstraram possuir um coração gigante e imenso amor à humanidade, a história vos dá a conhecer e quantos se acham incluídos no rol dos santos católicos.

Aí, tendes, para não citar mais que um; o ínclito mártir Sebastião, para quem o ser soldado não foi obstáculo a que se abraçasse à Cruz do Redentor e se submete-se ao martírio para manter sua fé. Ele se mostrou sempre fiel, até aos próprios inimigos da sua crença, sem renegar a profissão das armas.

Não sabeis também de muitos militares que hão professado o Espiritismo e outros não conheceis que o professam atualmente, que honram o exército e o credo em que militam? Eu de mim conheço muitos.

Digo isto para mostrar não ser a profissão das armas incompatível com a crença espírita.

Até entre os grandes Enviados, fundadores de religiões, se contam guerreiros. E eles não foram repudiados pelos Espíritos mais excelsos que hão descido à Terra. Não ignorais que Jesus não negou autoridade aos ensinos de Moisés, não obstante haver sido este um guerreiro. Porque hão de Espíritos nobilíssimos e até enviados celestes achar-se impedidos de pertencer às corporações armadas?

Os diretores da evolução a tudo atendem, dando a cada época, a cada situação e a cada circunstância o que lhe corresponde. Quando são precisos Espíritos de grande elevação e pureza no seio de uma instituição, seja ela qual for, aqueles diretores para lá os mandam e os enviados não desdenham de ocupar qualquer posto, conforme convenha aos elevados planos dos celestes mensageiros. Assim é que Moisés, sendo um grande Espírito, um profeta de Deus, desceu à Terra e foi guerreiro e fundador de religião. De igual modo, desceu Maomé e fez o mesmo. E, como esses, tantos e tantos outros que a história menciona.

Sendo assim e não tendo chegado ainda o tempo de se poderem suprimir as guerras nem as revoluções; não estando ainda a humanidade, em geral, preparada para caminhar pela estrada conveniente, se sobre ela não pesar a ameaça permanente da força armada, para chama-la a contas todas as vezes que se desmanda claro é que as instituições armadas, os exércitos, são necessários.

Porém, sendo necessárias essas instituições, que ainda o serão por alguns séculos dadas a sua natureza e os elementos de força de que dispõem; considerando-se os resultados funestos que podem originar-se da má aplicação desses elementos, as crueldades que essa força, manejadas por sentimentos perversos, pode cometer; atento o perigo que há em que exerçam a profissão das armas seres desalmados, homens degenerados, vede-se não é conveniente que as fileiras dos exércitos e de todas as instituições militares sejam invadidas por homens que professem o Espiritismo, sobretudo nos lugares de chefes.

Em verdade, concebe-se que um Espírito que já alcançou a perfeição moral não se alistará em exército algum. Esse, sim, se acha incompatibilizado com a carreira das armas, como com as do comércio, da advocacia, da magistratura e mesmo com a função de governante, nas condições em que presentemente se encontra a humanidade. Por isso, dizia Jesus que seu reino não era deste mundo.

Mas, entre os que perlustram o caminho do aperfeiçoamento, entre os que buscam com afinco aperfeiçoar-se, que se esforçam por ser cada dia melhores e por melhor servir, em todas as ocasiões a Deus e à humanidade, os há de todos os graus e esses, sem abdicarem de suas ideias, sem delinquirem perante Deus, antes servindo-o fielmente, se sentirem vocação pela carreira militar farão bem seguindo-a, impondo a si mesmos uma missão de sacrifício.

Talvez não haja outra carreira em que o homem bom encontre mais ocasiões de sacrificar-se pelo bem alheio e de fazer maior soma de bem, como a carreira das armas.

Figurai um militar, sobretudo de alta graduação, dotado de nobres sentimentos, como os há muitos, e professando o Espiritismo cristão. Quantas oportunidades se lhe não apresentarão de praticar o bem! Contemplai-o nas culminâncias do poder, no desempenho de uma missão diplomática, ou na direção das forças armadas; observai-o na vida de quartel, na vida de campanha, onde quer que lhe possais seguir os passos; observai-o, esquadrinhai lhe os mínimos detalhes do viver e notai as ocasiões que se lhe oferecem de beneficiar, pela sua ação, os povos, os soldados e mesmo os seus companheiros de graduação inferior à sua. Mas, para que prosseguir?

E quando, por motivo de disciplina e por obediência às leis, se vê obrigado a exercer a função de juiz, ao militar espírita não será mais fácil do que a qualquer outro fazer que a balança da justiça penda para o lado da equidade?

São tantas as circunstâncias possíveis de invocar-se, que favorecem ao militar a prática do bem e nas quais, igualmente, pode ele fazer o contrário, com grave dano para os indivíduos e para as sociedades, que isto basta a tornar palpável a necessidade de que o Espiritismo penetre nos exércitos e se assenhoreie da consciência de chefes, oficiais e soldados.

Quando se haja conseguido esse desideratum, poderá considerar-se extinta a guerra. Se alguma vez as hostilidades se romperem entre bandos adversos, as lutas serão mais humanas.

Em contraposição, atentai por um instante no que tem acontecido em todos os tempos e acontece ainda hoje com os corpos armados de onde se acha proscrito o Espiritismo, sobretudo com aqueles cujos chefes carecem de tão bendita crença.

Ainda se não vos apagou certamente da vista a recente hecatombe mundial, a guerra de há poucos anos. Se os ministros da guerra das diferentes nações beligerantes fossem espíritas, teria a guerra tomado as proporções de crueldade que assumiu? Se a oficialidade dos diversos exércitos fosse espírita, ter-se-iam dado tantos casos de brutal selvageria, como se deram? Professassem uns e outros o Espiritismo e, seguramente, se a guerra houvesse estalado, menos funestas teriam sido suas consequências e, feita a paz, um espírito de mais justiça e de maior equidade teria animado os vencedores para com os vencidos.

Estudai bem o problema e vereis ser de suma conveniência, de absoluta necessidade que o exército e todas as corporações armadas se achem bem abastecidas de espíritas. Ora, sendo isto uma condição essencial ao bem estar dos povos, é certo que se dará. Portanto, não vos alarmeis se, não obstante as vossas doutrinas de paz, virdes surgir nas vossas fileiras muitos candidatos à carreira das armas. Tal coisa terá que suceder. Esses, sem que eles mesmos o saibam, serão delegados e submissos servidores dos diretores da evolução, os quais do plano invisível dispõem as coisas da maneira mais conveniente e não de conformidade com os vossos gostos e tendências.

Não vos alarmeis, pois, quando tal fato se der, porque será o sinal do próximo reinado da fraternidade universal, da paz mundial que nunca se mostrará mais firme do que quando os exércitos se componham, na sua maioria, de fervorosos cristãos, iluminados pela luz radiosa do Espiritismo.


sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Aproveitamento de forças



Aproveitamento das forças
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Dezembro 1925

O estudo da economia é indispensável ao Espírito em evolução na Terra, a fim de que possa utilizar bem as forças e elementos de que disponha para sua atuação no planeta.

Falando, porém, aqui, de economia, não nos referimos à que se ensina nas instituições docentes da Terra. Aludimos à que o espírita precisa conhecer para o máximo aproveitamento das forças com que conte.

É de simples bom senso que, ao tentar-se a realização de um empreendimento, depois de concebido o projeto, depois de estudado por todas as faces e de pesadas as vantagens ou desvantagens que possa trazer o empreendimento, importa se reúnam os elementos indispensáveis à sua execução.  Sem que se faça isso, o fracasso é inevitável.

E não é senão por descurarem desse trabalho prévio que os espíritas militantes tão grande número de fracassos contam no desenvolvimento da obra a que se consagraram.  

O Espiritismo oferece pasto abundante às imaginações ardorosas, que facilmente se deixam seduzir pelos encantos da realização prática de empreendimentos de maior ou menor importância. São excelentes, não há negar, os seus propósitos e abençoadas as suas intenções. Isso, porém, não é suficiente para o êxito. Não basta que um projeto seja bom. Preciso é também que seja viável, que por bem empregado se possam dar os esforços que o empreendimento exija ou melhor, que fique plenamente demonstrado haver mais vantagem na execução da obra intentada do que no seu adiamento para outros tempos.

Não é raro esquecerem-se os espíritas de que a doutrina de que são adeptos ainda não adquiriu desenvolvimento bastante para que à sua sombra se empreendam certas obras, como raro não é que simultaneamente e sem que os respectivos projetos tenham passado por amadurecido estudo, vários núcleos se lancem à realização de empreendimentos idênticos ou semelhantes, descurados dos elementos indispensáveis ao êxito.

Em geral, apressam-se demais, levados por louvado zelo pelo engrandecimento da doutrina, traduzindo-se em obras visíveis de maior ou menor vulto. Logo, porém, surgem os inconvenientes da ideia propugnada e abandonando-se os intentos anunciados com entusiasmo. Com isso, está claro, nada lucra a doutrina.

Sem dúvida, o Espiritismo dará nascimento a obras de grande importância e vulto, com o cunho da elevação que lhe é própria, mas a seu tempo.

Quais, entretanto, as obras visíveis, de caráter social que já podem se realizar sob a égide do Espiritismo? Indubitavelmente as de beneficência e de instrução. Assim o têm entendido os adeptos mais entusiastas da Nova Revelação, tanto que desses gêneros são as instituições que projetam fundar.

Bom é que assim aconteça. Cumpre, todavia, que tais propósitos se não generalizem e que os poucos núcleos que se acham em condições de tornar realidade esse objetivo não ultrapassem os limites do possível e do razoável.

Não é, contudo, o que se observa. São em grande número os núcleos que se mostram inclinados a realizar os mesmos intentos, contando, não com recursos próprios, mas com os que terceiros lhe ofereçam. Ora, manifesto parece o inconveniente de semelhante método, cujo resultado é fatigarem-se com exigências contínuas a maiores esforços, os que podem dar alguma coisa, oferecendo-se lhes por prêmio se seus sacrifícios uma série de fracassos.

E, enquanto isso, deveres outros que a doutrina impõe a todos os seus adeptos e aos núcleos de crentes, deveres a cuja observância importa que uns e outros se consagrem escrupulosamente, ficaram esquecidos. Esses deveres são os de contribuírem, todos, por seus esforços e meios que lhe estejam ao alcance, para aumentar, em si e nos outros, a cultura doutrinária, assentando sobre bases indestrutíveis os elementos componentes do organismo espírita para que a toda parte sejam levados os ensinos dos Espíritos, de modo que ninguém fique ignorante do que ela proclama, do que dela podem que é a Nova Revelação, dos princípios esperar os indivíduos e as sociedades e dos benefícios que proporciona aos que a conhecem, sentem e praticam.

Distrair para outros efeitos as forças, de que disponham, é desperdiçá-las.

Para a propaganda doutrinária dispõem os núcleos espíritas das copiosas obras a que o Espiritismo tem dado origem, para oferece-las aos que queriam instruir-se das sessões de estudo: para a prática da beneficência dispõem das faculdades mediúnicas de alguns de seus membros, mediante as quais podem restituir a saúde aos que a perderam e dispõem das contribuições pecuniárias com que essa obra possam concorrer os que a compõem.

Para a instrução da infância e mocidade, dispõem do recurso do instituírem aulas especiais, onde se ensine a doutrina espírita, sob seus aspectos, filosóficos e moral religiosos. Essas aulas não reclamam grandes dispêndios para serem criadas e podem sempre funcionar em dias e horas que não obstem ao comparecimento dos que as ajam de frequentar, nas escolas oficiais ou particulares, onde vão beber os conhecimentos que nelas se ministram.

Desse modo de praticar a beneficência ou a caridade podem lançar mão, com relativa facilidade, todos os núcleos espíritas visto que ao alcance de todos estão os meios indispensáveis para isso, acrescendo que o desempenho dessa  tarefa não impede o cumprimento dos outros deveres que a doutrina prescreve a seus adeptos e às agremiações por eles formadas.

Embora ainda não sejam tantas quantos se desejam, já por toda parte há escolas que facilitam às crianças e aos jovens instruírem-se nas matérias que formam o curso elementar de ensino, pondo-as em condições de mais tarde ampliarem seus conhecimentos, de acordo com as suas vocações. As escolas espíritas, portanto, deverão ter por fim apenas ministrar a essas mesmas crianças e jovens a instrução moral cristã, na conformidade da doutrina dos Espíritos, o conhecimento do ideal que lhes inspirou a fundação. As de outro gênero só deverão cuidar de fundá-las os núcleos espíritas que o possam fazer, tão somente para atender à necessidade da instrução nos bairros e nas povoações que não as possuam e onde, conseguintemente, as crianças não podem sair das trevas da ignorância completa.

Fora destes casos especiais, afigura-se nos não haver motivo para que todos os núcleos espíritas se preocupem com a fundação de escolas para instrução primária e secundária. Basta se preocupem com oferecer às crianças o pão do Espírito e isto todos o podem fazer abundantemente.

No tocante a instituições de beneficência, certo não se contam ainda tantas quantas são precisas e nem todas as que existem correspondem ao ideal cristão, a que se acha vinculada a verdadeira caridade. Muitas instituições desse gênero, porém, já existem que, melhoradas, aperfeiçoadas, satisfariam, em escala bastante considerável, à necessidade da assistência aos indigentes e sofredores. Incontestavelmente, mais fácil seria para os espíritas a tarefa de amparar e melhorar as instituições já fundadas com esse caráter, ou que venham a fundar-se, do que criar outras, responsabilizando por elas, ante o mundo, o Espiritismo. 


Sabe-se que não é com os filantropos abastados, com os que empregam grandes capitais na fundação e manutenção de instituições de beneficência, que as fileiras espíritas se engrossam. Ao contrário, em geral são pobres de bens materiais os adeptos da Nova Revelação. Assim sendo, claro é que todos os empreendimentos, da natureza das instituições de que tratamos, por eles tentados se ressentirão sempre da falta de recursos para sua manifestação. Para sua manutenção, quando cheguem a efetivar-se do que resulta estarem de princípio condenados a fracassos comprometedores do prestígio da doutrina.

De tais fracassos não há duvidar, desde que somente de boa vontade disponham os núcleos que se abalancem, assim no campo do ensino, como no da
beneficência, a semelhantes empresas que, ainda quando sejam suficientes os recursos financeiros, exigem trabalhadores em grande número, devotados
e capazes, além de extrema atenção e cuidado com enorme dispêndio de energias.

Ao fracasso se juntará uma perda imensa de forças que, bem empregadas, na medida do possível, a favor do ideal, teriam produzido efeitos importantíssimos.

A observação dos fatos já ocorridos mostra que toda vez que entidades
Espíritas hão tentado a realização de empreendimentos da ordem dos que tratamos, tudo quanto a doutrina mais reclama de seus adeptos foi posto de lado, pela necessidade de fazer convergir todas as atenções e todos os esforços para a obra tentada.

Em sobrevindo o fracasso, que é o com que as mais das vezes deve contar, enormemente sofrerá o núcleo, se não chegar mesmo a dissolver-se, por efeito dos desgostos e decepções decorrentes do malogro. Se este não se der, quase sempre mesquinha será a instituição resultante dos ingentes esforços empregados, instituição que, por conseguinte, em nada contribuirá para o prestígio de uma causa da importância do Espiritismo, redundando mesmo a sua manutenção em prejuízo da ideia que este consubstancia, porquanto ele ficará desatendido nos seus mais importantes aspectos.

            Quer parecer que ainda não chegou o tempo dos espíritas consagrarem seus esforços à fundação de instituições de ensino, que devem continuar principalmente a cargos dos poderes públicos, nem de instituições de beneficência nos moldes das que já existem com caráter oficial ou sob o patronato de confissões religiosas. A situação em que se encontra o Espiritismo não permite que seus adeptos empreguem as forças de que disponham em empresas de tal natureza.

Por enquanto, o que há de mais aconselhável, para o melhor aproveitamento dessas forças, é que os núcleos espíritas, em geral, se limitem, ao cultivo da doutrina, à sua difusão, ao fortalecimento dos mesmos núcleos para lhe assegurar a inextinguibilidade.  

Dentro desses limites, cabe perfeitamente o que dissemos acima relativamente à assistência moral e à instrução espírita das crianças e dos jovens.

Faz-se mister o aproveitamento de todas as forças existentes no campo do
Espiritismo, para que o ideal espírita cada vez mais esplendente se mostre e em condições de exercer a influência social que lhe compete.

           Haja em tudo o bom senso necessário e os espíritas evitarão o mínimo desperdício das forças de que necessitam e os fracassos, que acarretam, pelo menos, lamentável e prejudicialíssimo estacionamento na marcha da ideia.


terça-feira, 27 de agosto de 2019

Inspirações - 16



Inspirações – 16
por Angel Aquarod
Reformador (FEB)  Fevereiro 1924


O ESPIRITISMO E AS ALTURAS HUMANAS


Cumpre-me, na presente ocasião, levar o Espiritismo às alturas humanas, as cumiadas do poder deste mundo, pois não devem ser unicamente as classes chamadas deserdadas as que mereçam a nossa simpatia e atenção, já no meu último ditado meti-me com a Magistratura, com essa instituição social tão temida por alguns e encarada sem receio por muitos, delinquentes, que supõem encontrar nela uma capa com que cobrir seus delitos.

Cabe, pois, a vez aos poderes constituídos e muito principalmente aos de
maior categoria.

Se nas classes mais inferiores exerce o Espiritismo imensa influência, que há de refletir-se na ordem social, podeis imaginar quanto mais de notar-se não será, em todas as ordens de relações, a influência benéfica que ele exercerá nas culminâncias do Poder, isto é, nos indivíduos que ocupam os postos de maior categoria no governo dos povos e que atuam nas diferentes esferas em que se desdobram as coisas de ordem governamental.

Se escabrosa é a missão do magistrado, se perigoso é o ofício do juiz, não
menos difícil é a missão do governante e não menos arriscado o ofício dos que se acham investidos de autoridade, seja esta qual for.

Deve-se, pois, procurar, com verdadeiro empenho que o Espiritismo penetra no palácio dos reis, na consciência de todo chefe de Estado e de todo governante, qualquer que seja sua denominação e hierarquia.

Difícil é, não que o Espiritismo penetre onde acabo de indicar, porém que os homens que ocupam tais alturas lhe prestem atenção. Mas, não suponhais que seja por má vontade, nem porque eles sejam refratários a admitir novas doutrinas, não. Deve-se, mais do que a qualquer outra causa, o fracasso que se sofre no intento de levar o Espiritismo às alturas mencionadas, à dificuldade que encontram os homens públicos em distrair sua atenção dos assuntos que lhes estão confiados e em furtar-se às exigências partidárias que os distanciam muito do objetivo que tendes, vós, os espíritas.

Verdadeiramente, os homens que se entregam de corpo e alma à política e, principalmente, os que chegaram aos mais elevados postos carecem do tempo e, ainda mais, de inclinação para estudos como os vossos. Não os recrimineis pelos desvios em que incorram com respeito aos vossos ideais. Credes que as doutrinas que professais, como vos interessam, devam interessar aos demais e que, com a mesma facilidade com que as abraçastes, têm os outros que as abraçar. Nisto, andais equivocados. Nem sempre os indivíduos que chegam a ouvir falar de Espiritismo estão em condições de prestar a atenção devida ao que significa esse nome glorioso. Muitas vezes, não é porque os indivíduos não possuam a inteligência e o descortino moral suficientes para compreender a redentora doutrina e honra-la com sua exemplar conduta, mas porque muitos dos que ocupam os altos postos governamentais, ou aspiram ocupa-los a seu turno, cabem missões a que o estudo e a aceitação de vossas ideias os impediriam de dar cumprimento satisfatório, acordemente com os compromissos assumidos não só com a própria consciência, como também com os diretores da evolução humana, os quais distribuem pelos espíritos encarnados, suficientemente capazes, os encargos de ordem pública que hão de desempenhar na Terra. A muitos desses homens o conhecimento e a aceitação da doutrina espírita levariam a abandonar os postos que ocupam. Não insistem por isso seus guias espirituais em lhes inspirar a ideia de se dedicarem a tais estudos.

Mas, que importa isso?

Não desempenha o homem público, honesto, uma função social de importância e benéfica, ainda que não seja espírita? Se a desempenha, se cumpre bem o seu dever, deixai que continue, pois assim também progride e contribui para o progresso geral.

São em grande número os homens públicos de primeira ordem que se aceitassem o Espiritismo, abandonariam seus postos, por muito espinhosos e porque certas funções inerentes aos cargos que ocupam, eles não quereriam exerce-las. Nada se perde e o que não se aproveita hoje será utilizado amanhã. Não compete aos adeptos do Espiritismo saber quais as consequências que terá o que lhes seja dado fazer na divulgação da doutrina.
           
Divulgando-a, terão cumprido seu dever e poderão ficar satisfeitos.

Não obstante o que venho de dizer com respeito aos homens públicos que não podem, ou aqueles a quem não é conveniente se tornem atualmente espíritas, bom é lhes dirijais muito especialmente a vossa ação de propagandistas, porque se aproximam os tempos em que será uma vergonha que entre eles não haja muitos que professem as novas ideias. Aproxima-se o dia em que para quem quer que ocupe as alturas mencionadas, será um vexame ignorar quanto se refere ao Espiritismo, mormente quando se generalizam por toda parte os progressos da ciência no sentido dos vossos ideais, com a penetração do estudo de sua fenomenologia nas esferas científicas. Assim, nem a politica nem a religião poderão deixar de interessar-se pelos vossos estudos, dando-lhes a importância que merecem.
           
Refleti um pouco sobre o enorme passo que terá dado a humanidade, quando o Espiritismo seja aceito e professado pelos mais altos poderes do Estado, pelas personalidades mais eminentes da política e seguramente as conclusões a que chegareis vos decidirão a dar um grande impulso à propaganda, a toda manifestação espírita, dirigindo-a às altitudes indicadas.

Quando a vossa doutrina encontre aí um forte baluarte, podeis considerar que o triunfo do Espiritismo é fato consumado. Preparai o terreno aos espíritos encarnados, que hão de ocupar os elevados postos governamentais e de banhar-se no espírito puro das vossas doutrinas. Sede seus precursores.
           
            A invasão deverá começar pelos partidos oposicionistas de assinalada feição progressista. Seus homens contrairão compromissos solenes na oposição, que se verão obrigados a cumprir quando cheguem ao poder. Daí também o motivo por que vos deve interessar manter muito boas relações com os elementos adiantados da política, que são os que amanhã governarão e introduzirão, nas leis e nos atos do governo, o espírito dos vossos ideais, com o que já vos podereis dar por satisfeitos, porque o espírito é tudo.

À obra, pois! Ao labor, para que o mais breve possível, desde o alto do Capitólio se proclame a bondade e o triunfo do Espiritismo.



sábado, 24 de agosto de 2019

Inspirações - 15



Inspirações – 15
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Janeiro 1924

O ESPIRITISMO E A MAGISTRATURA

Se o Espiritismo deve influir, como já influi, em todas as ordens de manifestação do espírito humano, em todas as idealizações e nas instituições de toda natureza, não podia ficar excluída da sua influência a instituição jurídica. Na magistratura não é menos necessária tal influência, como em quantas outras temos apreciado. Seguramente seu influxo tem mais importância nesta ordem de funções, por se tratar de justiça e nada acarreta mais responsabilidades ao espírito, em suas ações, do que a justiça ou a injustiça que as preside.

Escabrosa é em verdade a missão do magistrado a quem, chamado a fazer justiça, muitas vezes dificílimo se torna discernir de que lado ela está.

Há muitos magistrados que fracassam no desempenho de suas funções, patrocinando causas ignóbeis ou pela carência de um ideal de que se achem perfeitamente compenetrados e que lhes dê a fórmula precisa para não cometerem injustiça e não incorrerem em responsabilidade. E se já o funcionário de justiça pode ocasionar muito mal, por falta de consciência para a boa aplicação das leis, sobretudo das leis divinas, a sociedade fica profundamente lesada pela ação injusta dos magistrados pouco escrupulosos.

Claro está, não obstante, que um juízo injusto o é somente com referência ao ato ou questão em litígio, posto que sempre as sentenças que parecem injustas e que injustamente foram pronunciadas, não o são ante a justiça divina, que sempre emenda a dos homens, fazendo que as condenações e absolvições venham a solucionar pleitos e processos antigos, que estavam pendentes e desconhecidos do magistrado e do réu.

Porém, essa equidade que a Providência divina, sempre vigilante pelos seus filhos, estabelece em todas as ocorrências, retificando, quando é conveniente, o juízo humano, não exime os juízes das responsabilidades que lhes advêm do seu mau proceder. Bem deveis compreender que a reta justiça de Deus não mede a responsabilidade da criatura humana pelas consequências ou resultados imediatos ou remotos de suas ações, mas pelo pensamento que as gerou e impulsionou. Daí a necessidade que tem a magistratura de conhecer o Espiritismo; porque este conhecimento a coloca na plena consciência de sua responsabilidade e isso a obrigará, no seu próprio interesse, a procurar o império da reta justiça em todas as suas decisões.

A magistratura humana, porém, sofre de excesso de rigorismo, quando não se deixa dominar pela cobiça, traindo a sua própria consciência, pelo desejo de lucro.

Esse instinto rigorista da justiça humana, tendendo antes a buscar nos acusados as causas agravantes do que as atenuantes, se modificará com o conhecimento do Espiritismo.

Por isso, os juízes espíritas são clementes, procurando sempre, nos casos bem provados de delinquência, aplicar o mínimo da pena fixada no código e, sempre que a lei lhes permite, interpretando-a sob um critério de máxima benevolência, absolver o réu, eles o absolvem, pois têm a consciência de que é muito difícil, senão impossível, descobrir os graus de culpabilidade que pode ter um delinquente no delito pelo qual sofre processo.

Dificílimo é isso e os juízes que conhecem o Espiritismo sentem profundo pesar quando, por força da lei, são obrigados a condenar alguém.

São muitos os motivos que podem intervir na execução de um delito, alheios à vontade do delinquente!...

Atuam tantos fatores externos da vida do indivíduo, impelindo-o à realização de determinados atos, bons ou maus, que, ante a justiça divina, ele se torna quase, senão de todo, irresponsável nos atos delituosos, e sem mérito para participar dos bons frutos de suas boas obras, por não haver tomado nelas parte principal a sua vontade.

O papel de juiz, na Terra, é dos de mais difícil desempenho, desde que não se faça emudecer a consciência, pelo que os juízes espíritas tremem quando se veem constrangidos a ditar sentenças condenatórias.      

E como, sofrendo violência a consciência humana, violência sofre a justiça, para estabelecer-se um equilibrado estado social, em que devidamente se respeite a criatura humana e se lhe garantam todos os direitos, preciso é que na sociedade se estabeleça uma corrente de maior piedade e benevolência. Daí a necessidade de que o Espiritismo penetre e influa consideravelmente na magistratura de todas as nações. É necessário que aumente o número dos magistrados espíritas, para que se reformem as leis no sentido de maior humanidade, piedade e justiça, porque elas só serão justas quando forem piedosas.

As leis penais que atualmente existem são arcaicas e não correspondem aos tempos presentes. Repele os códigos humanos atuais toda consciência bem equilibrada.

É preciso que muitos magistrados conheçam o Espiritismo e o sintam para que influam na reforma da legislação penal, em todas as suas ramificações. E, se quiserem atuar de conformidade com seu próprio interesse espiritual, os juízes espíritas se terão de negar à aplicação de certas leis anti humanas e, portanto, injustas, devendo suas consciências repeli-las.

Deve a magistratura chegar ao extremo de, se não conseguir do poder legislativo a reforma das leis penais, de conformidade com as exigências do moderno espiritualismo, declarar-se em greve, como o fazem os obreiros, quando não podem conseguir por boas maneiras o que solicitam.

Assim, longe de aconselhar aos espíritas que não ocupem lugares na magistratura, deve-se desejar que sejam muitos os que abracem essa carreira; que ingressem nela muitos espíritas, sobretudo conscientes de suas obrigações morais. A isso se deverá a reforma penal e que se saneie o corpo de funcionários judiciais, desde os simples procuradores e advogados, até os magistrados da Alta Corte de Justiça.

Saneada a instituição da justiça, terá conseguido a sociedade um triunfo colossal.

É este um aspecto do labor espírita que cumpre não se olvide, para que as coisas tomem o seu verdadeiro curso.

Talvez achem que me meti em funduras que estavam fora do meu alcance. Quem sabe! Se assim for, o que não creio, sirvam-me de escusa a boa vontade e a intenção e do exposto aproveitai o que julgueis útil.

Pareceu-me o assunto digno de atenção, dei-lha.

Agora, venha outro que faça melhor ou complete meu pensamento.