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quinta-feira, 9 de maio de 2019

A imortalidade - Uma prece notável



A imortalidade – Uma prece notável
por Sócrates
Reformador (FEB) Jan 1920

            Sócrates, o grande filósofo grego, esta alma pura e cristalina, servida por uma inteligência de escol, pregando aos seus discípulos a existência de um Deus único, criador do universo e da imortalidade da alma, assim como dos nossos imortais destinos, foi acusado de perverter a mocidade grega com prédicas subversivas. Arrastado à barra do tribunal fora condenado à morte, devendo para tal fim beber uma taça de cicuta.

            Longe de retratar-se, continuou com a mais heróica e abnegada convicção a pregar as mesmas ideias que sustentou perante o areópago.

            É um dos quadros mais emocionantes da história vê-lo no seu leito de morte, rodeado dos seus discípulos que, adquirindo a sua fé e a sua coragem, ouvem aos prantos a última preleção do excelso mestre que discorre sobre a imortalidade da alma. Eis que se aproxima o carrasco trazendo-lhe a taça fatal.

            Sócrates, suspendendo a sua preleção e empunhando a taça de cicuta, volve os olhos para o céu e recita a mais bela prece pronunciada com firmeza, doçura e convicção por um condenado à morte:

Ei-la:

            “Ser dos Seres, eu procurei pela razão que me destes elevar-me até à tua presença, tendo por archote a imortalidade da minha alma. Julgo que nunca me apartei da voz severa das deduções legítimas; mas se a minha fraca razão me houvesse enganado, nem mesmo assim eu perderia toda a esperança. Não é mais em nome da minha fraca razão que eu te peço a imortalidade, é em nome da humanidade inteira que sempre sentiu a necessidade desta imortalidade, em nome da ordem social que a reclama; em nome de todos os homens que como eu, sacrificariam ainda sua felicidade e sua vida à lei do dever. Enganarás tu as esperanças do universo que crê em Ti e na imortalidade e que, nunca separou estas duas ideias sublimes?

            Terminada a sua prece ardente, o santo velhinho caiu em estado de torpor, ao qual seguiu-se a agonia franca, uma agonia doce e suave, como foram doces e suaves todos os sentimentos que dominaram, durante toda a sua vida, a grande alma do genial filósofo, que teve a ventura de ser sempre inspirado por um gênio ou mensageiro divino (demônio familiar de Sócrates).

            Quando a morte já se estampava na fisionomia deste mártir de ideias sublimes, quando os últimos lampejos da vida terrena se presentavam, espaçados pelo movimento respiratório cada vez mais débil, um de seus discípulos aproximou-se de seu ouvido perguntando-lhe: “Mestre, em que pensa?”  

            Descerrando-se lentamente os lábios do moribundo e, através o último sopro de vida, ouviu-se distintamente a resposta: “Na imortalidade!”.”


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A pior das escravidões



A pior das escravidões
 Redação 
Reformador (FEB) 16 de Agosto de 1925

  Perguntara Sócrates um dia a Entidemo:

 - Dize-me: qual é a pior das escravidões?

 - A meu ver a que nos submete ao pior do senhores. (Xenofante, Memoráveis, IV, V.)

 Respondera com acerto o amigo do sábio grego, precisando o pensamento do mestre sobre as intemperanças de toda sorte. 
Quisera Sócrates combater no espírito da mocidade ateniense, 
os pendores à impureza, geradores dos vícios 
que degradam o sentimento de dignidade humana;
 daí o motivo da arguição.

            Comparou o vício, o pecado enfim, aos senhores despóticos, que requintam na perversidade dobrando os homens a seu talante, 
acorrentando-o ao tronco da escravidão.

            Ser escravo era a mais terrível das humilhações, 
nada o colocaria acima dos animais.
 Negava-se lhe o direito de possuir uma alma 
e os trabalhos tidos como aviltantes lhes eram destinados. 

            A ideia, pois, da escravidão física devia talar o espírito ateniense para a boa compreensão da escravidão moral, que excede em consequências àquela, bem mais
temível que é, em virtude da semente da corrupção que traz em si, capaz de se alastrar ameaçadoramente pela terra, destruindo as instituições 
mais veneráveis da humanidade.
           
            O filósofo grego, na visão superior de seu espírito, compreendendo a fraqueza do homem e a impetuosidade das paixões, lançou por isso o grito de liberdade, cujos ecos, unindo-se mais tarde à voz do Redentor do mundo, ainda nos chegam cada vez mais nítidos, mercê da luz que se difunde do Cristianismo.
           
            A pior das escravidões é a que nos submete ao pior dos senhores.


sábado, 9 de janeiro de 2016

"Sokrato" de Richet, pelo Rádio

Sócrates bebe a cicuta

             Em 31 de janeiro deste ano (1938), foi irradiada a tragédia em quatro atos, de Charles Richet - "Sokrato" - pela Rádio-Paris, que vem transmitindo regularmente uma peça teatral, em Esperanto, por semana.

            Os estudiosos de Espiritismo conhecem bastante o nome do prof. Charles Richet, sabem da sua bravura na defesa dos médiuns e dos fenômenos espíritas, ao tempo em que esses fenômenos eram sistematicamente negados pela ciência oficial. Alguns lhe conhecem também a fé no futuro do Esperanto e a energia férrea com que defendia a língua internacional contra toda sorte de ataques.       .

            Como médico, metapsiquista, fisiologista, esperantista, o autor de La Grande Espérance é muito conhecido dos leitores do Reformador; talvez não o seja, porém, como poeta e filósofo, qual aparece na tragédia que acaba de ser ouvida por muitos milhares de esperantistas.

            O protagonista da tragédia, Sócrates, nos discursos que faz diante dos juízes e na prisão, expõe nitidamente a doutrina da sobrevivência e da responsabilidade:

            "A morte, para o sábio, é a fonte da vida e os nossos brilhos vaidosos são apenas andrajos, quando do além-túmulo se esperam os raios luminosos. Eis por que não sinto cólera, estou sem ódio algum. Mesmo com suas culpas, amo a Atenas. Se os juízes me puderam levar à morte, não puderam, porém, gerar em mim um sentimento Indigno. Passageiro de um dia pela terra em que estamos, sinto imensa piedade pelos erros dos homens."

            "A morte é somente uma passagem, terrível para o mau; libertadora para o sábio.

            "As almas têm seus destinos secretos; a alma do justo, como a do ímpio. Mas, um ritmo profundo governa o mundo e seria quebrada esta imensa harmonia, se um ficasse sem punição e o outro sem recompensa."

            Belíssimo ensinamento sobre a ilusão do prazer vem no apólogo feito para o carcereiro, no momento da execução. São versos e só um poeta poderá traduzi-los. Vamos limitar-nos a resumir o pensamento:

            "Quando foi aberta a caixa dos bens e dos males destlnados aos homens, todo o seu conteúdo voou para o céu. Só ficou uma coisa - a Esperança. Ricamente vestido, o Prazer subiu para o Olimpo, onde foi festejado, amado, sempre bem recebido, até divinizado! - Mas, bem cedo se descobriu o erro a que induzira o brilho desse desconhecido. Arrogante, falando alto, imperioso, de tudo se apropriando, queria tudo governar. De dia, de noite, à mesa, no leito, ruidoso se fazia ouvir. O tinir dos seus guizos, porém, expulsava do coração a paz serena e implantava a maldição e a tristeza. Por Isso, Zeus o expulsa do Olimpo, projetando-o na terra.

            "Na queda perde ele o luxuoso manto que é encontrado pela Dor, desdentada e feia, sempre repelida e detestada. Vestindo com o belo manto do Prazer a sua repelente carcaça, a Dor orgulhosamente se fez receber até nos luxuosos palácios, porque os homens, seduzidos pelo manto, julgam ver o Prazer e recebem a Dor."

            No momento da execução, quando o Espírito fala pela última vez a Sócrates, manda-o contemplar quadros futuros que se preparam: O martírio de Jesus, os tormentos da Inquisição. 'Sócrates interroga quem são os que tanto sofrem e o Espírito responde: "São os teus irmãos, Sócrates!"

            Durante o julgamento, Sócrates procura esclarecer que a ciência do seu tempo é muito incompleta e não pode encerrar o universo em seus livros. Explica que outros virão revelar domínios desconhecidos e nunca cometerão a loucura de traçar limites humanos ao Universo; mas, seu discurso é tachado de herético e interrompido pelos juízes. Não estão dispostos a ouvir coisas insensatas. Ele próprio confessou que conversa com um Espírito e as leis, os livros e os padres não permitem isso!

            Ordenam aos guardas que retirem o réu e passam logo a votar a sentença.

            A votação é a mais desarmônica: uns votam pela libertação, outros pelo exílio, outros pelo encarceramento e a maioria dos juízes pela morte. Não há convicção alguma. Reina absoluta inconsciência, irresponsabilidade completa no julgamento.
(Transcrito de "Reformador", de maio de 1938, pp. 136 e 137.)

"Sokrato" de Richet, pelo Rádio
Ismael Gomes Braga

Reformador (FEB) Maio 1976


Ismael Gomes Braga