Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador Victor Hugo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Victor Hugo. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Pensamento de Victor Hugo sobre a Vida Futura

 

Pensamento de Victor Hugo sobre a Vida Futura

             “A borboleta é a lagarta metamorfoseada. Tanto é a lagarta, que, pela análise, vamos encontrar uma parte do ser rasteiro no alado animal; mas a metamorfose é tão completa que se julga ver uma nova criatura. Assim, em nossa existência de além túmulo, não seremos puros espíritos, porque isso é um termo vazio de sentido tanto para a razão quanto para a imaginação. Que é uma vida sem órgãos da vida? Que é uma personalidade sem a forma que a define e que a fixa? Mas teremos verosimilhantemente um outro corpo irradiante, divino e por assim dizer espiritual, que será a transformação do nosso corpo terrestre.”

            (Extraído dos ‘Anais Políticos e Literários’, Junho de 1885.)  

             Carta publicada na Revue Spirite de 1859.


quinta-feira, 26 de março de 2020

O Corpo de Jesus




O Corpo de Jesus
Victor Hugo por Zilda Gama
Reformador (FEB) Maio 1946

            Jesus não possuía o organismo tangível ou carnal - sujeito às contingências fisiológicas - mas um organismo sideral, de sensibilidade quintessenciada, no qual os pensamentos cruéis de seus adversários atuavam maleficamente ocasionando-lhe sofrimentos e torturas morais indefinidos. Como, porém, já estava de posse de todos os atributos, Ele os exteriorizava como se, realmente, os seus tecidos fossem materiais: apresentava equimoses, chagas, perfurações nos membros superiores e inferiores. Tudo isso, que não passava de reprodução psíquica, Ele o padeceu, porque seu corpo tangível estava em contato com o ambiente terreno. Se Ele o quisesse, não sofreria nenhuma dor, insulando-o pelo poder da volição, que, logo, eliminou todos os vestígios dos martírios por que passou, novamente patenteados na presença do incrédulo Tomé; mas a sua missão era bem outra, não a de convencer pelos olhos, qual se fora um mago, mas pelo coração e pela Fé; e, ao mesmo tempo, deixou o eterno exemplo de como se pode conquistar a redenção: praticando o bem, padecendo injustiças, calúnias, traições, tendo na alma piedade infinita por todos os delinquentes; e, em permuta, receber escárnios e bofetadas, sem ter, no plano material, dedicados amigos que com Ele sofressem e que ficassem vigilantes nos momentos de dor infinita... Tudo isso, Pedro, se passou diante de teus olhos... E não ouviste: Também tu o abandonaste e lhe foste infiel... o que ora relembro, não para te censurar, mas apenas avivando o passado e a realidade. Não te comovas assim, até às lágrimas, irmão! Escuta-me: de Jesus foi encerrado no sepulcro apenas seu corpo condensado ou materializado, amortecido voluntariamente, e, mal se achou insulado, logo despertou.

            Jesus não era um ser igual aos entes humanos, porquanto, quando baixou ao Planeta de Sofrimento, já possuía todos os atributos espirituais, muitos dos quais ainda ignorados pelos que o conheceram. Mais tarde, porém, todos os sucessos relativos ao nascimento e à morte, isto é, ao início e ao termo da missão do Nazareno, serão elucidados plenamente, na Terra. Algo direi sobre o que tanta admiração te causa: a derradeira cena do Calvário.

            Não conheces, Pedro, a vida do pequeno inseto que fabrica a seda, a maravilha dos tecidos feitos com elementos gerados nas entranhas de uma das espécies do bombyx-mori? (O bicho-da-seda é a larva ou lagarta da mariposa doméstica Bombyx mori). Pois bem, não fica ele entorpecido, durante algum tempo, no próprio estojo que engenhou, e os homens mais cultos e inteligentes procuram vãmente imitar? Onde se ocultam as suas asas que, durante a letargia, se desagregam de seu próprio organismo, pétalas que desabrochassem em um cálice de flor, para, então, a falena (mariposa) já desperta, ansiosa por liberdade, ébria de amplidão, corroendo o envoltório que a constringia, expandir os seus adejos (o bater de asas ligeiros para manter-se no ar) sobre as mais encantadoras filhas dos jardins e dos prados?..

            Assim, Pedro, no paralelo do mágico produtor da seda, calcula o que se passou
com o Mestre bem-amado que já era um dos Emissários divinos.

            Tomado o seu corpo de um torpor ou de um esmorecimento que Lhe deu a aparência de rígido cadáver, foi levado ao sepulcro. Mas realizado seu despertar, dissolveu-se o envoltório materializado, recobrando o Espírito todas as suas portentosas faculdades.

            (Extraído da obra Dor Suprema - Livro VIII, capítulo VIII, obra essa recebida de Victor Hugo, Espírito, pela médium brasileira -- Zilda Gama, a quem os espíritas devemos inúmeros trabalhos recebidos mediunicamente, todos de grande valor doutrinário e literário).


sexta-feira, 23 de agosto de 2019

De Victor Hugo



De Victor Hugo
a Redação
Reformador (FEB) Janeiro 1951

Victor Hugo, uma das maiores glórias literárias que o Mundo já possuiu, foi espírita. Sua conversão à Doutrina dos Espíritos começou pelas experiências realizadas com a médium Sra. Emile de Girardin, às quais ele assistiu em Jersey, a partir 1853.

Em muitas outras ocasiões, e com diferentes médiuns, Victor Hugo teve a feliz oportunidade de comprovar a comunicação dos chamados "mortos" com os vivos daqui da Terra.

Há dele um lindo discurso pronunciado em Guernsey, junto ao túmulo da jovem Emilly Putron, o qual, por sua beleza, por sua simplicidade e pelo conforto e resignação que traz, de novo registraremos em nossas páginas, transcrevendo do nosso número de 15 de Novembro de 1886, em tradução feita do ‘Spiritisme’ de Setembro de 1886. Ei-lo:

“Com o intervalo de algumas semanas temo-nos ocupado de duas irmãs. Ontem, casávamos uma; hoje, aqui estamos para sepultar a outra. Eis o perpétuo palpitar da vida: Inclinemo-nos, irmãos, ante o severo destino.

Inclinemo-nos com esperança. Nossos olhos são feitos para chorar, e também para ver; nosso coração para sentir, e também para crer.

A fé em uma outra vida é oriunda de nossa faculdade de amar. Não o esqueçamos, em nossa vida inquieta e só fortalecida pelo amor: é o coração quem crê. O filho conta tornar a ver seu pai; a mãe não admite que o filho lhe seja
arrebatado para sempre.

É nesta repulsa ao nada que está a grandeza do homem. O coração não pode errar. A carne é um sonho e, como tal, se dissipa; esse desaparecimento, se fosse o fim do homem, tiraria à nossa existência toda a sanção. Não nos podemos  contentar com esse fumo, chamado matéria: precisamos de uma certeza.

Aquele que ama, sabe que na Terra lhe falecem pontos de apoio; amar é viver além da vida; sem esta fé, nenhum dom profundo do coração seria possível. Amar, que é o fim do homem, seria então o seu suplício; o paraíso seria um inferno. Não, digamo-la bem alto, a criatura amante exige a imortalidade; o coração tem necessidade da alma.

Há um coração neste esquife, e esse coração está vivo, e neste momento escuta as minhas palavras.

            ...................................................

Desde o berço, todos os mimos a cercavam; cresceu feliz, e repartia com os outros a sua felicidade. Amada, ela amava; e agora foi-se!

Partiu, mas para onde? para a sombra? Não. Nós é que estamos na sombra. Ela, ela está na aurora.

Ela está na luz da verdade, na realidade, na recompensa. Os que morrem jovens, sem ter na vida feito mal algum, são os bem-vindos da tumba; suas cabeças se elevam docemente do fosso para receber misteriosa coroa. Emily de Putron foi buscar lá em cima a serenidade suprema, o complemento das existências inocentes. Mocidade, ela partiu para a eternidade: beleza, para o ideal; esperança, para a certeza; amor, para o infinito; pérola, para o oceano: espírito, para Deus.

Vai, alma!

O prodígio dessa grande partida, a que chamamos morte, está em se não afastarem de nós aqueles que partem.

Eles se acham em um mundo de luz, mas assistem, testemunhas enternecidas, no nosso de trevas. Eles estão no alto, e estão junto de nós. Oh! quem quer que sejais, que já vistes desaparecer na tumba um ente querido, não vos acrediteis abandonados por ele. Ele está sempre aí ao vosso lado mais que nunca. A beleza da morte é a presença, presença inexprimível das almas amadas, sorrindo aos nossos olhos lacrimosos.

O ser chorado desapareceu, mas não partiu.

Não vemos mais seu belo semblante, mas nos sentimos sob suas asas. Os mortos se tornam invisíveis, mas não se ausentam.

Façamos justiça à morte; não lhe sejamos ingratos. Ela não é, como se diz, um desmoronamento, uma traição. É um erro crer-se que na obscuridade do túmulo tudo se perde. Aí, ao contrário, tudo se acha. A tumba é um lugar de restituição. Aí, a alma reconquista o infinito, recobra a sua plenitude. Aí, ela reentra na posse de toda a sua misteriosa natureza, libertada do corpo, das necessidades, do pesado fardo e da fatalidade, A morte é a maior das liberdades, e também o maior dos progressos. A morte é a elevação de tudo o que viveu, a um grau superior, ascensão deslumbrante e sagrada em que cada um recebe o seu aumento. Tudo que s transfigure na terra, aí se torna belo; o que foi belo, se torna sublime; o que foi sublime, torna-se bom.

Eu abençoo ao ente nobre e gracioso que descansa neste fosso. Emily foi uma dessas almas encantadoras reentradas. Eu a abençoo na profundeza sombria, em nome das aflições sobre as quais ela espargiu seus doces raios, em nome das provas do destino, acabadas para ela e continuadas para nós, em nome de tudo o que ela esperava outrora e que hoje obtém, em nome de tudo que ela amou; eu a abençoo em sua beleza, em sua mocidade, em sua doçura, em sua vida e em sua morte; eu a abençoo em suas alvas roupas mortuárias, em sua casa que ela deixa desolada, em seu esquife que sua mãe encheu de flores e que Deus vai encher de estrelas...”


sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A fé espírita de Victor Hugo



A fé Espírita de Victor Hugo
Flávio Luz
Reformador (FEB) Novembro 1919

            Não só os céticos sistemáticos, mas particularmente os adversários ferrenhos do Espiritismo, os padres, fazem timbre em alardear a fé profundamente católica do grande Victor Hugo. Entretanto, é do domínio público a resposta significativa que o poeta, já moribundo, mandou dar a um alto dignatário do clero francês que se apresentara em sua casa para uma visita de inegáveis proveitos para a Religião.

            Aos 2 de Agosto de 1883, Victor Hugo depositava nas mãos de Agusto Vacquerie um envelope aberto contendo as suas últimas vontades, concebidas nestas poucas linhas expressivas palavras:

            “Lego cinquenta mil francos aos pobres.
            “Desejo ser conduzido ao cemitério em coche fúnebre.
            “Recuso o sufrágio de todas as igrejas; aceito uma prece de todas as almas.
            “Creio em Deus.
                                                                       Victor Hugo.

            Um grande debate vem de se ferir pelas colunas do “Figaro” de Paris, entre literatos, jornalistas e pensadores franceses, sobre a possibilidade de comunicação entre os vivos e os Espíritos dos mortos. Provocou esse debate uma publicação feita por M. Luiz Barthou, antigo Presidente do Conselho e membro da Academia Francesa, na Revue des Deux Mondes, de vários trabalhos inéditos de Victor Hugo.

            Vieram à baila vários documentos que documentos que atestam a fé inabalável do príncipe dos poetas na doutrina da vida futura. Surgiram os relatos feitos por Agusto Vacquerie nas Migalhas da Histeria (Miettes de l' Histoire) das interessantes sessões de Espiritismo a que assistiu Victor Hugo em casa de Mme. Emilia de Girardin. No decurso dessas memoráveis experiências, a que o grande pensador foi arrastado por Mme. Girardin, teve ele provas inegáveis de que se comunicava com Voltaire e com sua falecida filha Leopoldina.

            Mas, alegarão os incrédulos, os interesseiros que o testemunho de Vacquerie
é gracioso; que Victor Hugo não acreditava nos Espíritos e na vida futura. As provas iniludíveis da fé espírita do poeta, das Contemplações, escritas pelo seu próprio punho, felizmente existem e o Sr. Barthou publicou-as no Figaro, de 15 de Janeiro último.

            M. Léon Bérard, deputado pelos Baixos Pirineus, em artigos do mesmo jornal, lembrou o capítulo dos Miseráveis “Uno Tempête sons un crâne”, em que Jean Valjean, então maire de Montreuil-sur-Mer, estando certa noite fechado em seu quarto, sentiu distintamente passos. Voltou-se, assombrado, e não viu pessoa alguma.

            -Quem está aí? Perguntou em voz alta e todo espantado. Depois, esboçando um sorriso que mais parecia o sorriso de um idiota, continuou:

            - Que animal sou eu! Quem poderá estar aqui? Alguém deveria existir, mas
aquele que aqui estava não era dos que a vista humana pode ver...”

            Aqueles que não leram a obra de Victor Hugo, ou que as leram mas não a
compreenderam, o escritor espírita Kermario oferece um documento claro, decisivo, que não deixa dúvida alguma acerca das convicções do grande poeta. Trata-se de uma carta que o autor da “Legenda dos séculos” enviou a Lamartine, quando este perdeu a esposa:

                                                           Hauteville-House, 23 de Maio,

            “Caro Lamartine,

            “Acabais de passar por uma grande desgraça; sinto a necessidade de levar o meu coração para junto do vosso. Eu venerava aquela que amáveis. O vosso elevado espírito vê além do horizonte; percebeis distintamente a vida futura.  

            “Não é preciso dizer-vos: Tende esperança. Sois daqueles que sabem o que esperam.  

            “Ela é sempre a vossa companheira, invisível, mas presente. Perdestes a esposa, mas não a alma. Caro amigo, vivamos nos mortos.

                                                                                  Victor Hugo”

            Nenhuma inteligência, por mais modesta que seja, poderá compreender nessas palavras outra coisa que não seja uma arraigada convicção espírita.

            M. Lesseps deu à publicidade alguns pensamentos espíritas escritos por Victor Hugo após a morte de seus filhos:

            “Morre-se esperando, e aqueles que morrem deixam após si aqueles que choram.

            “Paciência, pois nós somos apenas precedidos. É justo que a noite chegue para todos.

            “É justo que todos subam, um após outro, para receber a sua paga. As injustiças, as preterições são apenas aparentes.

            “O túmulo a ninguém esquece. Um dia, talvez bem logo, a hora que soou para os filhos há de soar também para o pai.

            “A jornada do trabalho estará terminada; terá chegado a sua vez; então ele terá aparência de um adormecido; metê-lo-ão entre quatro tábuas, a esse alguém desconhecido que dizem chamar-se um morto, e conduzi-lo-ao à grande e sombria abertura.

            “Lá se encontra o limiar impossível de adivinhar. Aquele que chega é esperado por aqueles que já chegaram. Aqueles que chega é bem vindo. Aquilo que parece ser a saída é para ele a entrada.          

            “Então, ele percebe distintamente o que havia obscuramente aceito: os olhos da carne se fecham, os olhos do espírito se abrem e o invisível se torna visível. Aquilo que para os homens é o mundo, para ele se eclipsa. Enquanto o silêncio se faz em torno da vala aberta, enquanto pás de terra, de poeira lançada por sobre a cinza futura, caem sobre o esquife surdo e sonoro, a alma misteriosa abandona essa vestimenta, o corpo, e sai toda vestida de luz daquele montão de trevas. É quando para essa alma os desaparecidos tornam a aparecer, e os “verdadeiros vivos” que na sombra terrestre se chamam os mortos, enchem o horizonte ignorado, se comprimem, radiantes, em uma profundeza de nuvem e de aurora, chamam docemente pelo recém-chegado, e se lhe inclinam sobre o rosto resplandecente com aquele belo sorriso tão próprio das estrelas!

            “Assim partirá o batalhador carregado de anos, deixando, se procedeu bem,
alguns pesares após si, seguido até a beira do túmulo por olhos molhados - quem sabe! e por graves frontes descobertas; enquanto isso, recebê-lo-ão com indizível satisfação na eterna claridade; e se não sois luto neste mundo, ó meus amados, lá em cima sereia festa!

                                                                                                                      Victor Hugo”

            Em um discurso que proferiu em Guernesey, diante do túmulo de uma moça, disse Victor Hugo: “Os mortos são invisíveis, mas não ausentes.”

            Em outro trecho: “Nada mais sublime do que a amplidão do túmulo: sobe-se espantado de haver pensado que se descia.”

            Ainda poderíamos pôr em evidência o despeito dos jesuítas ante a cerimônia civil dos funerais de Victor Hugo, transcrevendo estas palavras publicadas pelo jornal clerical “LA CROIX”, de 4 de Junho de 1885, a propósito das homenagens prestadas pela Sociedade dos Espíritas, de Paris, ao grande morto:

            “Ninguém ligou importância, no dia da procissão sacrílega (expressão que põe em relevo o despeito dos padres ante a declaração expressa do poeta - de que dispensava o sufrágio de todas as religiões), uma sociedade satânica que teve a despudorada audácia de nele tomar parte.

            “Ia também oferecer a sua coroa, em que se lia: Sociedade dos Espíritas.

            São essas as tais pessoas que pretendem manter relações habituais com Satanás e que fazem profissão de entreter sobre a terra um comércio ilícito com maus espíritos.

            “É a primeira vez que se vê semelhante exibição tolerada em uma cerimônia pública e oficial.

            “É mister remontar ao tempo dos Maniqueus que pretendiam houvesse dois deuses, o do bom e do mal, para admitir semelhantes insânias a par de tamanha audácia.

            “Expulsai Jesus Cristo; ficareis com Satanás.
                                                                                  "Le Fr.”

            M. Augusto Dide, senador pelo Gard, em um discurso que pronunciou no
“Cercle Parisien pour la propagande de I'Instruction dans les départements”, de que Victor Hugo era presidente, narra um fato inédito, um episódio quase trágico da agonia do grande   pensador:

            “No momento da morte, viram-no endireitar-se no leito; estavam presentes, ao lado do moribundo, Mme. Loekroy e uma filha. Eis que ele se embrulha no lençol e diz à jovem senhora e à filha: “É um morto que vos fala; volto do túmulo para anunciar-vos a boa nova!” E isso dizendo, cai sobre o leito, fulminado”.

            Tudo isso é por demais eloquente para que nos detenhamos em comentários sobre as convicções plenamente espíritas de Victor Hugo. Tudo quanto aí fica exprime verdades que ninguém jamais contestou. Passados 34 anos, eis que a mácula do clericalismo ameaça sujar a memória sublimada do grande poeta, assoalhando aos quatro ventos que aquela alma elevada e liberta professava as velharias do catolicismo e que antes do morrer se reconciliara com a Igreja, recebendo o conforto de um sacerdote que fora visita-lo!

            Mentira! Victor Hugo fez despedir da porta um graduado de batina que procurava explorar as condições precárias de saúde, visando arrancar-lhe declarações que revogassem o seu passado de homem crente, mas liberto dos dogmas carunchosos da Igreja.

            Victor Hugo fez-se espírita, procedeu como espírita e morreu como espírita.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Retrato de uma época


Retrato de uma época
Vitor Hugo
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

Trechos de um discurso de Vítor Hugo pronunciado junto ao túmulo de Jean Bousquet, proscrito francês, no cemitério de Saint-Jean, em Jersey, a 20 de Abril de 1853:

... os homens do progresso, os homens da democracia, os homens da revolução sabem que o destino da alma é duplo, e a abnegação que eles mostram nesta vida prova quanto eles esperam profundamente na outra. Sua fé nesse grande e misterioso futuro resiste mesmo ao espetáculo vergonhoso que nos dá, desde 2 de Dezembro, o clero católico aviltado. O papismo romano neste momento assusta a consciência humana. Ah! é cheio de amargor que contemplo tanta abjeção e tanta vergonha, que vejo esses sacerdotes, que por dinheiro, palácios, mitras e báculos, que por amor aos bens temporais abençoam e glorificam o perjúrio, o assassínio e a traição nas igrejas onde se cantam Te-Deus ao crime coroado; e esse espetáculo bastaria de per si só, sim, de per si só, para abalar as mais firmes convicções nas almas profundas, se não se visse acima da Igreja o Céu, e acima do padre, Deus."

"Cidadãos, neste momento, momento fatal, e que será contado nos séculos, o princípio absolutista, o velho princípio do passado, triunfa em toda a Europa; triunfa como lhe convém triunfar, pela espada, pelo cutelo, peja corda e pelo cepo, pelos massacres, pelos fuzilamentos, pelas torturas, pelos suplícios. O despotismo, esse Moloque cercado de ossadas, celebra à face do Sol seus terríveis mistérios sob o pontificado sangrento dos Haynau, dos Bonapartes e dos Radtzky, Forcas na Hungria, forcas na Sicília; em França a guilhotina, a deportação e o desterro. Só nos estados do Papa (e cito o papa que se intitula rei da doçura), só nos estados do Papa, em três anos, mil seiscentos e quarenta e quatro patriotas morreram fuzilados ou enforcados; O número é autêntico, sem contar as inúmeras vítimas enterradas vivas nos calabouços e nas masmorras. No momento em que falo, o continente, como nos piores tempos da História, está coberto de cadafalsos e cadáveres."



("Actes et Paroles – Pendant l’Exil”, vol 1)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Natureza Fluídica do Corpo de Jesus





Natureza Fluídica
do corpo de Jesus
Victor Hugo, no livro ‘Les Vérités Eternelles.’
Tradução de Antônio Lima
in Reformador (FEB) Abril 1947.


Supondes que Jesus, ao descer sobre a Terra,
Se envolvesse em matéria igual à em que se encerra
O vosso corpo? Não, isso é inadmissível,
Pois viver entre vós assim fora impossível.
Era sua matéria o fluido imponderável,
Do corpo a natureza era leve e mutável,
E para se tornar entre vós aparente,
Ele, que ocupa Além um lugar eminente,
Teve de lançar mão de meios inauditos
Cujo segredo está lá nos céus infinitos.

Não suponhais também que, por ser diferente
Do vosso o corpo seu, a agonia pungente
Não lhe fosse cruel nem a morte. A amargura
Tanto a alma fere mais quanto mais ela é pura
E menos material, porque dos sofrimentos
O efeito é mais cruel, maiores os tormentos.
E eis porque Jesus de uma só vez sofria
Mais do que todos nós uma mesma agonia.
Seja Ele abençoado e Deus lhe dê a glória!
Nunca seja seu nome esquecido na História!
Para tanto sofrer era mister no mundo
Que n'Ele fosse o amor eternal e profundo!

Bendito amigo que és de toda a Humanidade,
Ó Cristo amado, em quem o farol da verdade
Resplende em toda a parte apontando as estradas
Por onde hão de passar as almas adiantadas
Para alcançar do Pai o poder e o direito
À gratidão de todo o Universo perfeito!
Amados querubins, que no espaço ilimitado
Tendes sofrido assim quanto eis-nos estimado,
Que nunca vos cansais de guiar-nos generosos
E tão esforçadamente aos cimos gloriosos,
Que já haveis atingido, ó Espíritos nobres,
Recebei dos que são vossos irmãos mais pobres
A mais terna expressão, a mais santa e solene,
Da nossa gratidão, que é profunda e perene!


sábado, 23 de junho de 2012

Reencarnações




Reencarnações 
  
            "Quem nos diz que eu não me encontro novamente na sucessão dos séculos? Shakespeare escreveu: "A vida é um conto de fadas que se lê pela segunda vez." Poderia ter dito: "pela milésima vez;" porque não há século em que eu não veja passar a minha sombra.

            "Não acreditais nas personalidades movediças (isto é, nas reencarnações) , a pretexto de que vós não vos recordais de coisa alguma de vossas anteriores existências. Mas como guardaríeis impressa a recordação dos séculos que se foram, quando já vos não lembrais das mil e uma cenas de vossa vida atual? De 1802 para cá têm havido em mim dez Victor Hugo. Imaginais contudo que eu me lembre de todas as suas ações e pensamentos?

            "Quando eu houver transposto o túmulo, para de novo encontrar uma outra luz, todos esses Victor Hugo me serão de alguma sorte estranhos; a alma, porém, será sempre a mesma.

            "Sinto em mim toda uma vida nova, toda uma vida futura. Assemelho-me à floresta que foi repetidas vezes derrubada; os novos rebentos são cada vez mais fortes e vivazes. Sinto-me subir, subir para o infinito. Tudo é radioso em minha fronte. A terra me fornece a seiva generosa, mas o céu me ilumina com o esplendor dos mundos entre vistos.          

            "Dizeis que a alma não é mais que a expressão das forças corporais. Por que então minha alma é mais luminosa, quando as forças corporais me vão dentro em breve abandonar? O inverno se ostenta em minha fronte, mas a primavera eterna me reside na alma. Aspiro nesta idade os lilases, as violetas e as rosas como aos vinte anos.

            "Quanto mais me aproximo do fim tanto mais escuto em torno as inextinguíveis sinfonias dos mundos que me atraem.

            "Venho há meio século escrevendo meu pensamento em prosa e verso : história, filosofia, drama, romance, legenda, ode, sátira, canção, etc.: tudo tenho experimentado; sinto, porém, que não disse a milésima parte do que está em mim. Quando repousar no túmulo, não direi como tantos outros: terminei meu dia. Não, porque meu dia recomeçará na manhã seguinte. O túmulo não é uma viela fechada, é uma alameda;  e torna-se a abrir-se ao repontar da aurora." Quando você conseguir superar graves problemas de relacionamentos, não se detenha na lembrança dos momentos difíceis, mas na alegria de haver atravessado mais essa prova em sua vida.

Victor Hugo

como citado por Leopoldo Cirne
à página 155 de seu livro  ‘Doutrina e Prática do Espiritismo’  
(Tipografia do Jornal do Commercio, 1920)


domingo, 3 de julho de 2011

'Suprema Certeza'



Certeza
Suprema
 
Reformador (FEB)  15.5.1909

            O que alivia o sofrimento, o que santifica o trabalho, faz o homem bom, forte, sábio, paciente, benévolo, justo, ao mesmo tempo humilde e grande, digno da inteligência, digno de liberdade, é ter diante de si a perpétua visão de um mundo melhor, irradiando através das trevas desta vida. Quanto a mim, creio profundamente nesse mundo melhor. E aqui o declaro. É a certeza suprema de minha alma.                          Victor Hugo

quarta-feira, 23 de março de 2011

O bem morrer...




“Bem morrer, é morrer como Leônidas pela
pátria, como Sócrates pela razão, como Jesus pela
fraternidade. Sócrates morre por inteligência e
Jesus por amor: não há nada maior e mais doce:
Felizes, entre todos, aqueles cuja morte é bela!”

Reformador (FEB) Victor Hugo, Junho 1903