A Seiva do Cristianismo – Parte 01
por José Amigó y Pellicer
Reformador (FEB)
Fevereiro 1955
A República Romana, ferida de morte
sob o domínio de Júlio César, o vencedor de Pompeu, acabava de sucumbir afogada
nos vigorosos braços de Augusto, o vencedor dos republicanos Bruto e Cássio e
dos triúnviros Lépido e Marco Antônio.
A nação soberana, que havia jungido
ao carro de seus triunfos e imposto o seu jugo a todos
os povos da Terra, prostrava-se a seu turno, como uma escrava humilde, aos pés
de um
mancebo, submisso, na aparência, às mais leves insinuações do Senado.
Uma mudança radical se operava na
organização política do grande povo, e sobre as velhas instituições de uma
república tirânica e invasora se erigia um império robusto e varonil desde os
seus primeiros dias. Júlio César com a sua espada tinha feito de todo o antigo
continente uma só província, cuja metrópole era Roma; e Augusto, com a sua
moderação e gênio organizador, pacificara os países conquistados, inaugurando
neles um período de bem-estar e prosperidade que os seus sucessores não
souberam conservar.
Essa mudança de instituições
políticas, porém, se bem que essencial na forma, não alterava no fundo o modo
de ser daqueles povos. Haviam levantado um edifício novo sobre alicerces
deteriorados, Era um enxerto jovem e pujante em um trono vetusto e carcomido.
O mundo precisava de alguma coisa
mais que mera transformação na organização dos poderes públicos, porque o mal
que o minava e corroía estava antes no sangue que na superfície, nas entranhas
daquela geração corrupta e depravada.
Em vão o jovem Império apanhará no
lodo a autoridade prostituída; em vão fundirá todas as ambições em uma só
ambição; todos os poderes em um só poder, todas as vontades em uma só vontade,
todas as tiranias em uma só tirania; em vão cerceará os direitos e foros
populares e as cabeças turbulentas; e em vão também levará aos mais remotos
climas suas aguerridas legiões, para que o ruído das armas faça esquecer a
perda da liberdade, e a fama apregoe aos quatro ventos a glória da orgulhosa
Roma; tudo em vão,
porque a grande família humana tinha o coração gangrenado e o Império
continuava as tradições e os vícios sociais que vinham de longe minando os sentimentos,
os hábitos e as crenças.
A civilização romana, imperfeita
desde o seu nascimento e princípio, e corruptora depois, ao passo que alargava
as suas fronteiras conquistando cada dia novos países, precipitava com a lepra
de seus vícios a decadência da antiga sociedade.
Era uma civilização ruidosa pelo
fragor dos combates, brilhante pela eloquência de seus oradores e o fausto dos
cidadãos, dominadora pelo direito do mais forte, e sensual pelo epicurismo que
encontrou as portas abertas, graças ao politeísmo brutal. A imoralidade e a
dissolução reinavam no Olimpo entre os deuses, não menos que nas províncias
romanas, entre os senhores, os libertos e os escravos, Cada apetite tinha um altar,
cada paixão um templo; e se um resto de pudor levantava altares a uma que outra
deidade protetora das virtudes, a corrupção geral os profanava, ou eles
permaneciam esquecidos e solitários.
O fanatismo oferecia holocaustos
humanos nos templos e as donzelas e matronas se divertiam nos circos vendo a
arena avermelhada com o sangue do gladiador, ou os restos ainda palpitantes de
algum miserável escravo entregue e em bárbaro espetáculo à voracidade dos leões
e ferocidade popular.
E que princípio regenerador podia
opor a antiga sociedade a essas coisas dissolventes, essas enfermidades morais
que lhe enervavam as forças e lhe aceleravam a decomposição e morte? Havia em
suas entranhas algum gérmen ainda latente, com a virtualidade necessária para
estabelecer e vigorizar as aptidões morais daquelas gerações? Ardia em sua mente
alguma ideia salvadora entre as tantas aberrações que a envileciam e
perturbavam? Existia um povo virgem no meio da prostituição, crente ao meio do
ceticismo e do fanatismo, virtuoso no centro da relaxação universal dos costumes,
forte e robusto no seio de uma sociedade impotente e decrépita, povo donde
pudesse sair o princípio de uma nova era de luz, de prosperidade e de glória?
Lá na Ásia, berço da humanidade
histórica, na parte ocidental, na Palestina, vivia um povo que, não obstante
estar submetido ao jugo dos Césares, se regia e governava por suas próprias leis,
tendo sabido preservar seus hábitos e crenças da influência invasora que a
capital do mundo exercia sobre todas as nações, até onde alcançava o seu poder.
Aquele povo era o judeu, com seus costumes, suas tradições, sua teologia, seu
templo, seu Deus, em uma palavra, com a sua civilização de quinze séculos,
refratária completamente à civilização pagã que ameaçava absorvê-la. Provado na
prosperidade e na desgraça triunfante
hoje de seus inimigos e amanhã subjugado por estes; tiranizado pelos Egípcios,
humilhado pelos medianistas e filisteus, levado de um para outro ponto em
servidão, oprimido pelos assírios, babilônios, caldeus, persas e gregos, havia
demonstrado ao mundo que, se podia ser vencido e encadeado, possuía
inquebrantável força de caráter, em virtude da qual via decorrerem os séculos
de servidão, conservando suas tradições e esperanças, sem decompor-se com os do
desterro nem jamais confundir-se com os seus dominadores.
Seria, pois, a civilização hebreia a
chamada a triunfar das nações; o rito moisaico, a seiva regeneradora das
sociedades, e o povo judeu o povo típico da Terra para a renovação moral dos outros?
Certamente, não. Ainda que baseada na unidade de Deus e, por isso, superior às
práticas politeístas dos outros povos, a civilização hebraica era, como a
romana, a civilização do orgulho, do fausto, da conquista, do ódio, da servidão
e da volúpia. Jeová é o Júpiter tonante dos pagãos, e o Deus dos exércitos de Israel
o Marte da teogonia grega. Os holocaustos humanos aplacavam as iras do Deus da
casa de Judá, como detinham o braço das divindades do Olimpo.
O povo judeu, na longa e trabalhosa
série de suas invasões e conquistas, havia tratado com ferocidade os vencidos,
apagando da face terrena nações inteiras pelo ferro e pelo fogo, saciado seu
furor contra velhos, mulheres e crianças, não menos que contra os soldados inimigos.
Dirigido por seus Juízes, acaudilhado por seus Reis e impelido pelos seus
Sacerdotes que lhe pregavam a matança e o extermínio como deveres iniludíveis e
sagrados, julgava-se o instrumento das divinas vinganças e o eleito de Deus
para subjugar e possuir a Terra.
Só cessou de invadir e exterminar,
quando ficou débil e seus inimigos poderosos.
Quando chegou o Império, o povo
judeu era senão o esqueleto de um gigante e a
sorte das nações que entraram no período crítico de humilhação e decadência.
Sua importância
social e política era nula; e, se subsistia como nação, até certo ponto indedente,
só o devia, antes que à virilidade de sua organização, à munificência ou ao
orgulho dos Césares, que gostavam de ter reis como vassalos e nações como
províncias.
Só inspiravam lástima os
descendentes de Jacó, cujo poderio
estava reduzido a vergonhosa impotência. Nem suas leis nem suas crenças transpunham
os estreitos limites da Judeia. Povo saído
do nada, volve aceleradamente ao nada depois de esgotada sua fecunda atividade e
cumprida sua missão providencial.
Não, não é também a civilização
hebreia a que podia dar melhor direção às correntes humanas, que vertiginosas
se precipitavam nos abismos da idolatria, do ódio, da hipocrisia e da vaidade.
O povo judeu era, como o romano, um
povo flutuante, aparentemente rígido observador de suas tradições religiosas e
na realidade falto de fé e apegado à sensualidade e ao egoísmo. Belicoso nos
tempos de pujança, mas, quando não podia disputar aos romanos suas conquistas esgotava
suas próprias forças em querelas estéreis de caráter religioso acerca da interpretação
das Escrituras, promovendo cismas e seitas que cada dia lhe iam aumentando a
debilidade interna.
Trabalhado pelo farisaísmo, cujos
numerosos prosélitos faziam consistir, como os modernos ultramontanos, toda a
perfeição espiritual em vãs exterioridades, ao mesmo tempo em que se acreditava
o escolhido entre os povos, empregava a religião como capa de suas abominações
e meio de manter sua influência pessoal.
Como poderia tal povo servir de
ponto de partida à regeneração do mundo, estando exausto de todo gérmen de
virilidade e virtude?
Não esperemos também que venha de
outras civilizações e de mais longínquos confins o primeiro impulso regenerador
e salvador.
A África, em sua vasta extensão não
sujeita à espada do Império, agita-se na obscuridade da barbaria; e se uma
outra centelha de civilização brilha na Ásia, perde-se sob a espessa bruma
levantada pelo fanatismo e pela ignorância.
Em toda parte o fragor das armas e o
sacrifício do homem pelo homem. A América dormirá ainda um sono de quinze
séculos, até que nasça o gênio chamado a arrancá-la aos segredos do oceano.
Estará, pois, a Humanidade condenada a ser, por sua corrupção, riscada da
superfície terrena?
Os povos desaparecem, as sociedades
fundam-se, as civilizações têm o seu orto e o seu ocaso; mas a Humanidade
subsiste perpetuamente, entregue à lei das transformações, que são o crisol de
sua depuração e de seus necessários desenvolvimentos. Das ruínas de um povo,
dos resíduos de uma sociedade, das cinzas de uma civilização, surgem uma nova
civilização, uma nova sociedade ou um novo povo, com toda a virtualidade
necessária para o cumprimento de mais elevados fins.
O gênero humano, no primeiro período
de sua existência terrenal, teve de arrastar como a larva uma vida trabalhosa,
de instinto grosseiro e material, para converter-se, chegado o segundo período,
em inexperta crisálida, afogado por suas paixões e encerrado no cárcere de sua
ignorância e na miserável servidão de seus vícios. Mas a obscura crisálida se
converterá por sua vez em ligeira mariposa, que, emancipada de seu asfixiante
casulo, elevará seu voo às regiões da liberdade e da luz, ganhando em formosura
e felicidade em cada uma de suas fases.
A Humanidade, no momento histórico
do nascimento do Império, havia chegado ao último período da segunda de suas
essenciais metamorfoses. Presa no grosseiro casulo de suas leviandades, filhas
de sua ignorância e orgulho, ela precisa de ar e luz, ar para, respirando,
renovar as suas forças, e luz para poder conhecer seus funestos extravios.
Ainda os homens não compreenderam que pelo caminho das invasões se chega à
escravidão, e se esforçam para traiçoeiramente usurpar uns aos outros os seus
mais sagrados
direitos. Ainda não compreendem que a comunidade de origem fá-los todos iguais
por natureza; e lutam para se destruir raça contra raça, seita contra seita,
povo contra povo, como se o destino do homem neste mundo fosse devorar ou ser
devorado, e a Humanidade uma horrível confusão de vítimas e algozes. Ainda não
pressentiram as doçuras do amor, nem adivinharam que todos, sem exceção de um
só, são irmãos; e o egoísmo e o prazer, são os reguladores das ações
individuais e dos movimentos coletivos. Para adivinhar os puros gozos da
fraternidade universal, para conhecer a grande justiça da igualdade de direitos
e para aprender que a
liberdade é a saúde do corpo e a vida do espírito, falta um raio de sol que,
com a pureza de seu brilho e a suavidade de seu calor, desperte os
entendimentos e fecunde os corações. Rompa as trevas o benéfico sol da verdade
e do sentimento, e a ninfa escura abrirá suas asas, ditosamente transformada em
alegre e ativa mariposa.
Adoradores de divindades obscenas e
brutais, lançai no fogo sagrado de seus altares os últimos grãos do vosso
nauseabundo incenso; discípulos de Epicuro, apurai em lúbricas orgias as fezes
da moral do prazer; fariseus hipócritas, envolvei-vos bem no manto de vossas
exterioridades para seduzir o povo e ainda explorar por mais um dia suas
crenças religiosas; escribas, doutores e levitas, dai a última interpretação ao
sentido da Escritura, ainda quando se levante uma seita mais, um novo motivo de
discórdia e divisão no seio da sociedade judaica; apressai-vos todos em
corromper e perturbar, porque vai soar a hora em que a Humanidade há de sacudir
o jugo de vossas fementidas práticas e corruptores ensinos.
É preciso que a linhagem humana se
salve, e se salvará; porque o que é necessário irrevogavelmente acontecerá.
A Humanidade é filha de Deus, e Deus
não há de permitir, dentro do seu amor onipotente, a perdição de sua filha. Do
Céu baixará a verdade ao entendimento humano e o orvalho do amor suavizará a
dureza do sentimento.
Querendo Augusto conhecer o número
dos homens submetidos à sua autoridade, no Império e nas províncias
tributárias, mandou proceder a uma recenseamento geral.
E em cumprimento do imperial edito
um homem e uma mulher, aparentemente de condição modesta, foram de Nazaré da
Galileia inscrever seu nome na cidade de Belém; antes, porém, de chegarem ao
termo de sua viagem, sobrevieram à mulher as dores do parto e em humilde
palhoça, sem mais auxílio que o do seu esposo e sem outro amparo que o de Deus,
deu à luz um formosíssimo menino.
Uma estrela, precursora da
regeneração da linhagem humana, brilhou naquele instante para o lado do
Oriente. Acabava de nascer o predestinado dos tempos, o redentor dos homens:
Jesus-Cristo.
A Seiva do Cristianismo – Parte 02
por José Amigó y Pellicer
Reformador (FEB) Março
1955
Trinta anos permaneceu Jesus oculto
antes de dar princípio à santa prédica de uma doutrina nova, que havia de
derrubar os altares dos antigos deuses, para substitui-los por outro altar, não
de mármores e preciosas madeiras, mas de puríssimo sentimento espiritual.
Filho de pais humildes, de pobres
operários que precisavam do fruto de seu trabalho manual para obterem honrada
subsistência, ele compartia com eles os suores de seu ofício obscuro, enquanto
amadurecia o vastíssimo plano de mudar radicalmente a face do mundo e salvar a
Humanidade da dissolução e da ignorância que pesavam sobre ela como uma dupla
lousa esmagadora. Naquele esquecido recanto de Nazaré germinava a semente da
regeneração humana, e dali havia de sair a faísca destinada a produzir purificador
incêndio universal entre todos os povos da Terra.
A luz das lâmpadas sagradas que
ardiam junto as aras das divindades helênicas, que eram as divindades do
colossal império dos Césares romanos, começava a vacilar e empalidecer ante o
brilho cada dia mais intenso de outra luz mais poderosa, a do entendimento, a
da razão humana que se emancipava aos poucos das brumas espessas do fanatismo e
do erro. E, enquanto os ídolos eram em seus gastos pedestais abalados pelo
choque da filosofia invasora e o farisaísmo judaico pugnava inutilmente por
sustentar-se e prevalecer
sobre as ruínas da tradição moisaica, todas as crenças soçobravam nas
turbulentas ondas das paixões desordenadas, do utilitarismo, da dissolução e
dos vícios da época.
Fundia-se a civilização antiga,
desmoronava a velha sociedade sem estrépito e sem glória, como um edifício
arruinado e escorado que cai lentamente, roído pela ação demolidora do século.
Ermas as consciências, exaustos os
corações de virtudes e de fé, a religião não era mais que um conjunto aparatoso
de formas artificiais, com que se buscava dissimular a falta pouco menos que
absoluta de moral.
Já cinco séculos antes havia notado
esse vazio e entrevisto os meios de cumulá-lo em bem da Humanidade o ilustre
Sócrates, filósofo grego de quem receberam essa ideia todas as escolas
filosóficas e todos os filósofos moralistas. Ele e seu discípulo Platão,
profundos conhecedores dos males do seu tempo, vendo que a religião era, em vez
de um tributo de adoração da criatura ao Criador, uma simples máscara hipócrita
com que se pretendia encobrir a corrupção e o sensualismo, quiseram
espiritualizar as crenças, fazendo da
alma humana o princípio e o objeto de toda a filosofia e da Divindade o termo
de toda a aspiração humana.
O terreno, porém, não estava
preparado para receber a semente salvadora , A Humanidade tinha ainda de
rebolcar-se por largo tempo na lama de suas leviandades, na imundície de seu
grosseiros deleites, a fim de que se fizesse mais sensível a necessidade da
regeneração, e os povos abrissem os ouvidos à verdade e os olhos à luz. Sócrates
foi condenado a beber cicuta, em desagravo das absurdas crenças dominantes, e
Platão em
vão esperou a aurora do novo dia.
À chegada de Jesus-Cristo o mundo
não estava em disposição de dar frutos de verdade mas sim de receber a semente.
Pelo fato de todas as crenças vacilarem e a confusão religiosa agitar os ânimos
inquietos, estes haviam de voltar-se facilmente para o ponto em que se visse
nascer um raio de sol, que iluminasse os desertos da consciência.
A nova ideia ia tropeçar em
obstáculos aparentemente insuperáveis, em sua passagem iam suscitar-se
tempestades de perseguição e de ira; ia ver-se um dia ou outro obrigada a dar
batalhas contra as tradições, contra os costumes, contra os interesses
seculares criados à sombra dos antigos princípios; mas como sobre aqueles interesses,
costumes e tradições está a necessidade de conservação, e todas as sociedades a
sentem, e por ela, providencial ou instintivamente, sacrificam qualquer outra
necessidade, afinal havia de chegar o dia em que a nossa ideia, triunfante de
todos os seus inimigos, se apoderasse
dos entendimentos mais refratários às inovações e ao progresso.
Não se ocultava à claríssima
inteligência de Jesus, descido à Terra em cumprimento das profecias para remir
com sua doutrina à Humanidade extraviada, o estado moral das sociedades de seu
tempo.
Do seu obscuro retiro de Nazaré ele
seguia o movimento do mundo, e, cheio de amor por seus irmãos, chorava em
silêncio as veleidades dos homens; contudo ele não quis aventurar por
precipitação ou leviandade o resultado da grande obra, cuja pedra fundamental
tinha de assentar com os seus ensinos. Não menos de trinta anos gastou em
meditar e preparar-se para a luta, como se quisesse mostrar que tinha
necessidade de todas as forças que a idade viril presta ao espírito e ao corpo.
Soou afinal a hora assinalada nos
supremos conselhos para a reabilitação da linhagem dos homens. Sai Jesus de
Nazaré, da obscuridade, do silêncio, da meditação, do sossego e dos afetos da
lar, para se entregar totalmente ao ministério da palavra, ao ensino público da
redentora doutrina, ao desenvolvimento prático do divino plano que há de
transformar o mundo, à agitação e perigos que traz consigo a luta franca da
verdade contra o erro, ao sacrifício de si próprio nas aras do amor aos outros
e da salvação de todos. Cruzará a cena dá vida pública como um meteoro fugaz,
desapercebido para a quase totalidade dos homens de seu tempo; alguns dos do
povo, poucos em número, adivinhando-lhe a missão, acreditaram-no Profeta e lhe
chamaram Messias; os sábios do século e os cépticos o incluíram no número dos
loucos e visionários, apenas se dignando conceder-lhe um olhar de humilhante
compaixão; os sacerdotes o apelidaram de instrumento de Belzebu, e todos os condenados
pela severidade de suas doutrinas o tacharam
de impostor, mago, corruptor dos costumes e das antigas crenças e agente
sedicioso dos inimigos de César. Não lograra reunir em redor de si, para
divulgar a Boa-Nova, mais que a dúzia de filhos do povo, pobres e humildes
quanto ele, sem nome, sem instrução, sem influência, e ainda desses mesmos doze
o maior e mais crente o negará três vezes, outro o venderá aos sacerdotes, seus
mortais inimigos, e todos se dispersarão ao sopro da perseguição, deixando-o
abandonado no dia da tormenta. Mas não importa. Nada disso escapa à previsão de
Jesus; ele sabe quão ineficazes iam ser de presente a sua abnegação e
sacrifícios; que nem mesmo os seus o conhecerão e receberão; que seus ensinos
irão concitar as iras da hipocrisia e do orgulho; que o veleidoso povo há de
sauda-lo hoje como a um salvador, para levá-lo amanhã à ignomínia da cruz; mas
também não ignora que um é o tempo da semeadura e outro o da colheita, e que
para fazer copiosamente fecunda a semente da nova fé era preciso regá-la com sangue.
Eis aí porque desde a sua saída de
Nazaré nem uma só vez um sorriso lhe assomou aos lábios. Seu semblante e suas
palavras revelam de contínuo a tristeza que lhe enche o coração. A nuvem de seu
rosto só se dissipa, quando seu espírito venturosamente arroubado se desprende
da Terra para voar ao Céu, donde, dominando os tempos e apressando o porvir,
conta as gerações e os séculos e vê a árvore da vida estendendo a sua grata e
salvadora sombra sobre todos os povos, confundidos em um só, pela ado ração e o amor.
Nessas horas de inefável e divino
êxtase, de doce e amoroso delíquio, em que o sentimento o domina todo, sua alma
transpõe rapidamente as distâncias que o separam daquela feliz idade, o remoto
de seus presentes desejos, em que não mais somente se adore a Deus na montanha ou
em Jerusalém, mas com a verdadeira adoração do espírito, em que reinem entre os
homens a fraternidade e a virtude. O que são naqueles momentos para Jesus as amarguras
de sua vida? Gloriosas recordações de uma abnegação heroica, harmoniosos
ecos de uma existência toda consagrada ao amor, doces memórias de um passado de
redenção e sacrifício, plácidos aromas de uma flor, em cujo cálice bebeu a
Humanidade delicioso néctar da vida. Mas se durante esses parênteses de
arroubamento e profecia se debuxa seu rosto e brilha em seus olhos a felicidade
do triunfo, de novo as lágrimas empanam o brilho de seus olhos e a tristeza lhe
anuvia a divina face, quando, voltando das esperanças e intuições do porvir à
desconsoladora realidade que o rodeia, prevê as dificuldades com que sua doutrina
vai lutar, e os muitos séculos e gerações se
hão de suceder, antes que chegue a hora da sega e a Humanidade se aposse por
seus merecimentos da venturosa terra prometida.
De modo que a missão reformadora, a
que Jesus consagrou todas as forças vivas de seu espírito nos três anos de
ensino público do Evangelho, e que foram os últimos de sua vida, procede de um
ato de incomparável abnegação, consumado no segredo de sua vontade, no
santuário de sua alma, na arca selada de suas concepções celestiais e na
puríssima fonte de seus amorosos sentimentos. Porque sabeis que toda a energia
de suas palavras e de seus desejos ia quebrar-se de encontro ao ridículo, à
hipocrisia, ao cepticismo e à ignorância; que ia ser o alvo da mofa e das iras
dos mesmos a quem se propunha regenerar e salvar, e apesar disso arrostar com
tudo, ridículo, mofas, perseguição e martírio, para que em tempos remotíssimos
frutificasse a semente evangélica e a Humanidade saísse do Egito de sua
obcecação e misérias; é abnegação, e tão grande que só pode conceber-se em
quem, como Jesus, se esquecia completamente de si para só se lembrar da
felicidade dos outros.
A abnegação é o primeiro princípio da semente cristã; nos parágrafos
sucessivos vê-la-emos alimentar-se do amor e criar fundas raízes pela virtude
do sacrifício, três palavras que, como os três atributos de Deus, se
interpenetram e se explicam, constituindo juntos e em separado a seiva do
Cristianismo primitivo, a única que possui a virtualidade necessária para que a
árvore eleve majestosamente sua copa sobre o firmamento azulado e guarde, sob
sua esplêndida ramagem, todos os povos terrenos.
A Seiva do Cristianismo – Parte 03
por José Amigó y Pellicer
Reformador (FEB) Abril
1955
Em cumprimento das profecias, para
preparar a abolição de uma prática repugnante da lei e predispor os ânimos à
aceitação da moral evangélica, apareceu, antes de Jesus, João, filho de Zacarias,
batizando na água e pregando o arrependimento ao povo. Tinha de ficar cancelada
a lei antiga em todos os seus preceitos nascidos da grosseria e ignorância
daqueles tempos, e João para isso aplainava os caminhos, apagando suavemente
com a água do Jordão a mancha da circuncisão, que era, se o podemos dizer, o selo
da igreja de Moisés.
O próprio Jesus, fazendo-se batizar,
autorizou a nova cerimônia, e desde aquele instante a circuncisão ficou abolida
e reconhecido o batismo como o selo próprio da igreja que ia estabelecer-se sobre
o alicerce dos ensinos do Cristo.
Mas o batismo de água do Precursor
não era mais que uma figura do batismo de redenção, resumo do Evangelho.
"Eu, em verdade, batizo com água, dizia João; mas virá um outro que há de batizar
com o Espírito Santo e com o fogo”, isto é, em virtudes e amor (Mateus, III,
11). João, com o batismo do corpo por meio da água, abolia vergonhosa prática;
e Jesus, com o batismo espiritual, vinha substituir as exterioridades do culto
moisaico pelo verdadeiro culto do coração, pela adoração íntima do espírito, alheia
à toda vaidade e hipocrisia. Já era tempo; todos os cultos da Terra propendiam
a mistificar a consciência e a moral, a perpetuar a ignorância, a embrutecer a
Humanidade, a matar o escasso sentimento religioso, que com lentidão germinava
no coração dos povos. Urgia abater
as cerimonias e levantar a religião; destruir o fanatismo e dar base firme às
crenças; abolir
os sinais exteriores, que materializavam a adoração, e ensinar às gentes que
não é a ostentação
aparatosa a homenagem mais grata ao criador, mas o exercício constante da
virtude e da prática do bem. Eis aí porque não veremos Jesus pregando o culto
moisaico, nem estabelecendo outro novo; ele não curava das fórmulas externas e,
se alguma vez se lembrava delas, era fazer aparecer a sua insuficiência e a necessidade
da religião verdadeiramente espiritual.
Ouçamo-lo no admirável Sermão da Montanha
que foi como que o celeiro de todos os seus ensinos posteriores, e acharemos
confirmada essa verdade. Nele tudo é espírito, tudo é sentimento, tudo é
coração, nada de sacrifícios, nada de oferendas, nada de demonstrações externas.
Jesus não exige, para alcançar-se a perfeição cristã, outro sacrifício que o do
orgulho e más paixões, outra oferenda além da bondade do sentimento, outra
demonstração visível além da justiça das obras. Como se vê irradiar em cada uma
de suas palavras a inspiração divina! Quão bela, quão doce, quão espiritual é a
religião que brota de seus lábios!
Ao ler o sermão das
Bem-aventuranças, parece-nos ver Jesus no cimo do monte estendendo seus braços,
como que desejando abraçar toda a Humanidade regenerada. Dali ele domina com a
sua vista profética o presente e o porvir dos povos; mede os tempos, lê a
história das gerações, percebe o estridor dos combates, obra da ambição, do
fanatismo ou do ódio; penetra nos alcáçares (palácios) dos poderosos, regista as suntuosas
basílicas em que o povo esgotou seus tesouros, o gênio seus desejos, e a arte
suas belezas e suas formas; vê a grande família humana dividida em raças, em
igrejas, em sociedades inimigas umas das outras; e, descendo por último aos
indivíduos, observa seus caminhos, descobre suas misérias
e suas virtudes, e exclama:
Bem-aventurados
os pobres de espirito; os que não assentam seus sentidos nas riquezas
terrenas; os que são pobres com resignação ou ricos com humildade; os que se
consideram como administradores, em benefício de seus irmãos, dos bens que em suas
mãos depôs a Providência; os que se julgam com severidade e se confessam pobres
de virtudes em presença de Deus; porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados
os mansos; os que não dão entrada em seu ânimo às sugestões da ira; os que
sofrem com paciência os golpes da injustiça; os que tratam com doçura e amor,
mesmo os seus inimigos; porque eles possuirão a terra dos vivos.
Bem-aventurados
os que choram; os que derramam lágrimas pelas faltas próprias e pelos
extravios dos outros, e imploram contritos e humilhados o perdão; porque eles
serão consolados.
Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça; aqueles que buscam com ardor a
justificação de seu espírito na reforma de seus costumes e suspiram por ver
afastados da Terra o dolo e a iniquidade; porque eles serão fartos.
Bem-aventurados
os misericordiosos; os que, podendo devolver golpe por golpe, injúria por
injúria, esquecem as ofensas recebidas, perdoando cordialmente a seus irmãos;
aqueles que compartilham a dor e o infortúnio alheios, sentindo-os corno
próprios, e procuram aliviá-los na medida de suas forças; porque eles
alcançarão de Deus a misericórdia que tiveram para com os homens.
Bem-aventurados
os de coração limpo; aqueles que albergam em sua alma a simplicidade e a
pureza de sentimentos da inocente criança, nunca nela dando entrada à dobrez (fingimento) , ao orgulho ou ao
egoísmo; porque eles verão a Deus.
Bem-aventurados
os pacíficos; os que procuram, mesmo à custa dos maiores sacrifícios,
conservar a paz interior da consciência, pelo escrupuloso cumprimento do dever,
e a concórdia entre os seus irmãos por meio do bom conselho; porque serão
chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados
os que padecem perseguições por causa da justiça; os que são injustamente
vexados, caluniados e oprimidos, e sofrem com paciência os insultos e
perseguições de que são vítimas por causa da justiça de suas obras; porque
deles é o reino dos céus. (Mateus, V.)
Assim, começa Jesus falando ao povo
no incomparável Sermão da Montanha, com aquela eloquência popular, ingênua, cheia
de naturalidade e graça, que constitui o caráter de suas prédicas. Suas
palavras são o novo ensino religioso, a cuja sombra se podem abrigar todos os
homens, todas as nações, todas as igrejas terrenas, que buscam sinceramente a
Deus pelo caminho do sentimento, da virtude e do dever. São a seiva
regeneradora do mundo, a nova ideia que há de transformar as sociedades; a
fórmula do princípio e do sentimento de amor e de justiça, que há de suavizar e
purificar as asperezas e manchas da consciência; a linguagem simples da
religião e do espírito, que há de substituir os cultos cheios de hipocrisia e
soberba; o belíssimo ideal da perfeição, ao qual se devem dirigir, para atingir
a felicidade, as aspirações dos homens. Para Jesus toda a religião se estriba
na doçura do sentimento, no gosto do bem, nas harmonias da consciência, na
prática da justiça e do amor. Seu código religioso é a bondade da alma e a
moral em exercício. Não é a adoração exterior o laço místico, a homenagem, a força
misteriosa que nos eleva às divinas alturas, mas o culto íntimo da alma
sancionado pela virtude das obras. Jesus promete a bem-aventurança, não ao
circunciso, apesar de se haver ele submetido a essa prática da lei moisaica,
nem ao batizado na água, apesar de haver também recebido o batismo no Jordão,
nem ao que queima incenso no altar, nem ao que se prostra de joelhos no templo,
nem ao que jejua, nem ao que se abstém de comer certos manjares em dias
determinados, nem
ao que lega grandes bens à Igreja em sufrágio de sua alma; é aos mansos, a que
ele chama bem-aventurados, aos que choram, aos pacíficos, aos misericordiosos,
aos limpos de coração, em uma palavra, aos que sentem os estímulos do bem e
constantemente o praticam. Ele respeita todas as fórmulas, todas as cerimônias
racionais, mas nenhuma prescreve como essencial para a perfeição e o
merecimento do espírito. Nessa parte Jesus foi tão explícito que não deixou à
ignorância um lugar para a dúvida, nem à malícia espaço para interpretações
arbitrárias ou interessadas. Se é certo que à malícia nunca falta pretexto para
torcer o sentido dos conceitos que se opõem aos seus propósitos; também não
o é menos que basta ler o Evangelho para confundir os que, talvez com fins um
tanto mundanos, pretendem mistificar o Cristianismo, fazendo dele uma religião
cheia de cerimônias. O Sermão da Montanha será em todos os tempos um testemunho
que em vão intentarão desvirtuar ou fazer servir aos seus propósitos. Quereis
formas, quereis exterioridades, quereis oferendas? Pois bem, o Evangelho não as
condena, e pudestes estabelecê-las sem contrariar os ensinos do Cristo; mas
apresentai-as somente como figuras
do culto verdadeiramente espiritual e incentivos da adoração íntima, e não como
condições essenciais para a salvação das almas porque, neste caso, vos pondes
em flagrante contradição com os ensinos do Enviado. Porventura pronuncia o
Mestre uma só promessa de recompensa aos que cumprirem as práticas exterior do
culto? Lembra-se sequer deles ao chamar justos para a sua direita, isto é, para
a felicidade imortal? Porque destes de comer
ao faminto e de beber ao sedento; hospedastes o peregrino, vestistes os nus; visitastes
o enfermo e encarcerado; vinde, benditos de meu Pai! - disse Jesus (Mateus
XXV.)
Importa em alto grau não olvidar,
mas, ao contrário, deve ter-se muito em conta esse caráter especial, de que
aparece revestido o Cristianismo em suas origens e que o distingue todas
as outras religiões conhecidas, pelo majestoso cunho de universalidade que
apresenta. Jesus Cristo levanta uma bandeira, a cuja sombra se podem abrigar
todos os homens, mesmo aqueles a quem não chegou a irradiante luz do Evangelho.
A seiva da doutrina redentora está destinada a dar vida a todos os ramos da
árvore da Humanidade. O Filho do homem não chama bem-aventurado nem coloca à
sua direita ao que se intitula católico, judeu, cristão ou gentio, àquele em
cujo coração germinou a semente da virtude e em cujas obras resplandecem a justiça
e o amor. E não podia ser de outro modo. Seria monstruosa
blasfêmia supor que Deus absolva ou condene por motivos puramente acidentais, independentes
em tudo da liberdade individual. Será voluntário e livre o ato de nascer neste
em outro país, nesta ou em outra igreja? E, não sendo, em que fundamento de
justiça se apoiaria o prêmio ou o castigo do judeu ou do maometano, por
exemplo, só pelo fato de ser maometano ou judeu? Indubitavelmente em nenhum; e por
essa razão ninguém é interrogado no tribunal da justiça infalível por sua
filiação religiosa, mas pela
filiação de suas obras e sentimentos.
Alguns exclusivistas interessados,
infelizmente ainda muitos, pretendem que isso é igualar todas as religiões e
rebaixar o Cristianismo ao nível das outras. Que mesquinha é a ideia que
formaram do Cristianismo! Ou melhor, como exploram a ignorância de uns, a boa
fé de outros e a aquiescência cega ou maliciosa de todos. Seremos nós, os que
tomamos e aceitamos o Cristianismo, como Jesus o pregou, que o rebaixamos ao
nível das outras religiões, ou aqueles que despojando-o da universalidade, que
é o seu caráter ou cunho peculiar, o amesquinham até fazer dele não uma
religião, mas um culto, não a Igreja universal, mas um miserável templo de pedra,
onde só cabem algumas dúzias de sectários?
O Catolicismo oficial, o islamismo e
o judaísmo são cultos instituídos pelos homens, dentro
deles só cabem os católicos, os maometanos ou os judeus; o Cristianismo é a
religião eterna, instituída por Deus desde o princípio dos tempos, e nela cabem
todos os homens de boa vontade, seja qual for a pátria ou o culto a pertençam
por circunstâncias acidentais. Por isso disse Jesus (Mateus, VIII, 11) que muitos
viriam do Oriente e do Ocidente, e com Abraão, Isaac e Jacob se assentariam no
reino dos céus.
A Seiva do Cristianismo – Parte 04
por José Amigó y Pellicer
Reformador (FEB) Junho
1955
O Sermão da Montanha está repleto de
espírito democrático; é a expressão mais pura da igualdade, derramando-se como
um bálsamo consolador sobre todos os deserdados, sobre todos os aflitos e
oprimidos, é a condenação mais terminante de todos os privilégios e de todas as
tiranias.
A palingenesia cristã aparece em sua
origem, rompendo a cadeia do escravo e devolvendo ao homem, com a sua
liberdade, os foros inalienáveis da dignidade humana, conculcados (espezinhados) e escarnecidos
desde o nascimento das primeiras sociedades, em prejuízo dos fracos e humildes.
Os que tinham os olhos cravados na
terra de seus suores, de suas penas e de suas lágrimas, erguem-nos ao céu das
promessas do Cristo; e os que os tinham postos no céu do seu orgulho, dobram,
confusos, a cerviz, e caem ao solo de suas leviandades e misérias.
Ouviu-se uma voz modulando as
esquecidas harmonias do sentimento e despertando as consciências, suave para
uns como o doce sopro da brisa, e terrível para outros como o ameaçador sibilo (assovio agudo) do aquilão (vento do norte -
poético).
Jesus não vai buscar a divina
inspiração sob a arqueada e majestosa abóbada do templo. Ele só vai ali para
confundir os doutores e os sábios ou para daí expulsar os mercadores; mas, para
pregar a palavra de Deus e mostrar às gentes os caminhos da vida, o templo de
sua escolha é o universo, a abóbada o firmamento, a cátedra, o monte, o altar o coração do povo simples que o escuta
absorto e alvorotado. Quanto há que meditar em tudo isso! Que de reflexões, que
de comentários, que de inquietações e tristes pressentimentos não surgem na
mente e no coração, ao retroceder ao berço do Cristianismo para vir estudá-lo
em seus desenvolvimentos posteriores.
Dezenove séculos de luz e trevas, de
virtudes e vícios, de verdades e erros, nos separam de Jesus e do monte da
Galileia, onde aquele começou a derramar os tesouros de amor, de sabedoria e de
fé, que lhe confiara a paternal solicitude de seu Pai e nosso Pai, de seu Deus
e nosso Deus. Se quisermos voltar ao Evangelho, que é o Cristianismo original,
será necessário que bebamos as cristalinas pérolas da revelação divina no
manancial regenerador dos lábios de Jesus. A quem melhor que ao Cristo podemos
recorrer para inquirir da sanção das crenças cristãs?
Os sagrados ecos de suas prédicas
deslizam ainda pelas vertentes do monte da Galileia.
Depois de mostrar ao povo, nas
Bem-aventuranças, o puríssimo ideal da perfeição do espírito, ele continua a
instruí-lo nas verdades morais ou religiosas indispensáveis para obter-se a
salvação.
Não basta, disse o Mestre, o
preceito que vos foi dado na lei antiga: Não
matarás, eu, porém,
vos digo que todo aquele que se enoje, ou
zombe de seu irmão, ou que o injurie por palavras, não verá o reino de Deus,
até que tenha reparado a falta e devolvido ao seu irmão o sentimento de amor
que deve reinar entre os homens. Portanto, se fores oferecer tua oferenda ao
altar e te recordares que alguma inimizade te separa de teu próximo, deixa a
oferenda e corre a reconciliar-te com ele; pois a melhor das oferendas, na
presença do Pai, é o abraço fraterno proveniente do perdão ou da reparação das ofensas.
Não demores o perdão ou a reparação das injúrias; pois se desgraçadamente para
ti a morte te surpreender nas veredas do ódio ou da má vontade, o teu castigo
será terrível e durará tanto
quanto o teu iníquo sentimento e suas abomináveis consequências. Aos antigos
foi dito por Moisés: Olho por olho e
dente por dente; eu, porém, vos digo que isso não é nem a perfeição nem o
dever. O dever consiste em apagar do entendimento a memória do agravo, e a perfeição,
em amar os nossos inimigos, fazer bem aos que nos aborrecem e orar pelos que
nos perseguem e caluniam. Dai ao que vos pedir, e ao que vos quiser tomar
emprestado não volteis as costas. Não ponhais os olhos em uma mulher para
cobiçá-la, porque todo aquele que a cobiça torpemente, em seu coração cometeu
adultério infringiu
a lei de caridade atentando com o desejo contra a pureza, que é o mais precioso
ornamento do amor. Até hoje vos foi dito: Não
perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor; - eu, porém, vos digo
que de nenhum modo jureis, nem pelo Céu, nem pela Terra, nem por qualquer coisa
que haja acima ou abaixo; antes vosso falar seja sim, sim, não, não, pois tudo o que disserdes de mais, é princípio
de desconfiança ou má fé. Quem infringir ou fizer que infrinjam algum desses
mandamentos, muito pequeno será chamado no reino dos céus; e grande será
chamado aquele que os cumprir e ensinar. (Mateus V.)
Assim se ia realizando o que o
Batista havia predito sobre Jesus, que batizaria as gentes, não na água, mas em
espírito e em fogo, em virtudes e em amor. Suas palavras são o Sol dos entendimentos
e o Jordão das almas, iluminam a inteligência e fecundam o coração. Sobre a
justiça estéril e egoísta dos antigos, baseada no olho por olho, dente por dente, de Moisés, levanta-se justiça
expansiva e generosa da caridade, baseada no perdão das ofensas; e sobre os
ritos, exterioridades e as cerimônias dos hebreus, a religião do sentimento e
das obras, a humildade, a ingenuidade, a pureza e o amor. Jesus encaminhava
todas as suas máximas para fazer da Humanidade uma só família, sem exclusão de povos,
de raças ou de cultos, exigindo como únicos títulos necessários, para pertencer
a ela, a bondade do sentimento e a moralidade das ações. Por isso o
Cristianismo se eleva muito acima de todos os cultos conhecidos, porque é o
único culto verdadeiramente do espírito, pelo bem lhe corresponde o título de
universal, pois ampara e protege todos os homens de boa vontade; por isso os
sacerdotes de todos os tempos rechaçaram ou mistificaram a palavra do Cristo,
por conceder ela um lugar muito secundário às oferendas e fazer depender o
sacerdócio da palavra e do exemplo.
Os sacerdotes não perdoaram a Jesus
o Sermão da Montanha, que lhes arrebatava o monopólio da adoração, pois que
esta deixava de ser cerimônia aparatosa, em que necessariamente eles tivessem
de intervir, e se volvia para o solitário altar da consciência. Não
lhe perdoaram o haver ele revelado ao povo ignorante a oração mais grata a Deus
não é a que se faz à vista das gentes, na praça ou nos templos, como costumam
fazer os fariseus e hipócritas (Mateus, VI); mas a que se levanta no segredo do
mais retirado aposento do lar, sóbria de palavras e rica de sentimento. Nem lhe
perdoaram também o haver ensinado que cada um pode alcançar por si mesmo, sem
mediação estranha, as graças espirituais, e que não basta intitular-se profeta
ou ministro da palavra para sê-lo realmente. (Mateus VII, 7 a 11, 21 a 23.) Como
haviam de perdoar-lhe isso, a que podemos chamar um atrevimento divino, eles, tão
ciosos guardas das práticas externas, tão exigentes no cumprimento dos ritos e
cerimônias do culto, tão satisfeitos com a sua oficiosa mediação entre a
criatura e o Criador, tão enamorados de sua intervenção nos negócios espirituais,
origem de sua poderosíssima influência nos negócios do mundo.
Sublevaram as turbas e com elas
pediram a morte do inocente.
Jesus Cristo despojou o sacerdócio
do caráter oficial de que vinha revestido desde os tempos de Moisés e,
fazendo-o extensivo a todas as classes sociais, como missão individual, compatível
com o exercício de qualquer outro ministro ou profissão, fê-lo não ser mais o
monopólio de uma classe privilegiada. Com o tempo, o verdadeiro, o legítimo
sacerdote será aquele que difunda a luz do Evangelho com a sua palavra e a
prática das virtudes, com o seu exemplo digno de imitação e aplauso, sejam
quais forem o seu estado e condições sociais. De que meio o Mestre tomou seus
discípulos, seus apóstolos e sacerdotes? Do templo, porventura, onde exerce
completa jurisdição o sacerdócio oficial?
Da tribo de Levi? Da lei? Não, por certo; ele prescinde da lei,
esquece-se da tribo que Moisés dedicava ao serviço do altar; deixa no templo os
sacerdotes oficiais que, segundo disse São Jerônimo, nele exerciam vergonhoso
tráfico; e escolhe seus apóstolos do meio do povo, de entre classes mais
humildes, de entre os célibes (celibatários) e os pais de família, de entre os
desconhecedores da ciência teológica que tanta confusão havia introduzido nas
consciências e tanta divisão nos ânimos. Unicamente a prédica e a bondade das
obras imprimirão
o caráter sacerdotal. Virão dias tristes, dias de confusão e opróbrio, em que o orgulho
e os interesses mundanos, com a capa de Cristianismo e prevalecendo-se da
ignorância comum, se introduzirão no ensino das máximas salutares do Cristo
para adulterá-las e explorá-las. Já o havia profetizado o Messias, no mesmo
Sermão da Montanha, ao recomendar ao povo que se guardasse dos falsos profetas,
mansas ovelhas na aparência, mas realmente lobos rapaces. (Mateus, VII, 15.)
Esses falsos profetas são aqueles a quem Jesus mais adiante (Mateus, XXIII, 27)
chama sepulcros branqueados, por fora formosos e por dentro cheios de imundície
e corrupção. Virão os tempos e sobre os fundamentos do Cristianismo primitivo se
levantará o ultramontanismo, que usurpará o
título de cristão, tão grande pelo número de seus adeptos e tão pequeno em suas
vistas e egoísmo;
mas a solidez da base não salvará da ruína a obra falsamente edificada. A base
subsistirá eternamente, mas o resto do edifício virá ao chão com estrondo.
Porque desceram as chuvas, cresceram os rios, sopraram os ventos e, batendo com
ímpeto nas frágeis obras dos homens, arrastaram-nas em sua corrente e foram apagadas
da memória dos séculos.
A Seiva do Cristianismo – Parte 05
por José Amigó y Pellicer
Reformador (FEB) Julho
1955
Precisamos insistir ainda no estudo da instituição
do sacerdócio cristão, pela eficaz influência que o sacerdote estava chamado a
exercer na direção do feliz movimento iniciado por Jesus. Para que a seiva do
Cristianismo, a moral do Evangelho, pudesse circular pelo tronco e chegar até
os ramos mais afastados da árvore da Humanidade, tornava-se necessária uma
força impulsora constante, um apostolado que, guardador fiel da palavra e do
testamento do Mestre, chamasse os homens à luz em toda a sucessão dos tempos,
até chegar ao reinado do espírito, ao triunfo completo sobre as más paixões que
separam uns dos outros os membros da grande família humana, ao estabelecimento
da Igreja universal sobre os escombros das pequenas igrejas estabelecidas na
ignorância e no orgulho. Era uma empresa de tal magnitude, que precisava
da sucessão de mil gerações para vencer todas as dificuldades amontoadas em seu
caminho. Dezenove séculos se passaram desde que o Céu desceu a Boa Nova, e em que estado se acha a
redenção da Humanidade terrena? Ainda não saiu, podemos dizê-lo, do primeiro
dia de sua gênesis.
Bom
é que os cristãos, emancipando-nos de caducas preocupações e elevando-nos acima
da atmosfera do presente, que nos comprime e asfixia, volvamos de vez em quando
os olhos e a contemplação ao passado, ao Cristianismo original, que há de ser a
sanção do nosso Cristianismo; como o experto navegante que, ao avançar em
direção ao austro, dirige para o setentrião frequentes vistas para não
desviar-se do meridiano que há de conduzi-lo ao termo de sua viagem.
Seja
o Evangelho a estrela polar do céu de nossas almas, a bússola de nossa fé nos
borrascosos mares da vida. Porque o fogo sagrado das crenças cristãs está a
ponto de extinguir-se? Porque em todos os corações se erigem altares ao sórdido
positivismo sobre as cinzas do sentimento religioso? Ah! Invocamos a Jesus e
não conhecemos o seu Evangelho; chamamo-nos povo cristão e são contados os que
se dão ao trabalho de estudar os ensinos do Cristo. Por isso nos achamos sem
forças para resistir aos assaltos da impiedade. Esquecendo que o trânsito do
homem pela Terra é um combate, desprezamos aqueles meios de defesa, sem os quais
é inevitável a derrota. A fé cega que recebemos da tradição, sucedem as vacilações da
dúvida, à dúvida segue a indiferença, à indiferença o sensualismo e ao
sensualismo a negação; e tudo por não termos edificado a nossa fé sobre o fundamento
racional e sólido da comparação e do estudo.
Já
vimos que o Mestre não tirou seus discípulos, seus apóstolos e seus sacerdotes
nem do templo, nem da lei, nem da tribo consagrada, desde Moisés, ao serviço do
Alto; pouca confiança podia merecer-lhe para a prédica das máximas evangélicas,
que eram máximas de liberdade, aquele sacerdócio oficial que fanatizava o povo
para arrojá-lo, como uma fera sedenta de sangue, sobre o primeiro que ousasse
erguer a voz contra a opressão teocrática estabelecida à sombra do antigo
Tabernáculo.
O
fundador da nova Igreja, da grande Igreja que há de ter por templo o universo,
não admite sacerdotes escravos da tradição e da letra, egoístas, intransigentes,
amantes das exterioridades do culto e propensos à efeminação e ao comodismo; os
sacerdotes de sua preferência são os laboriosos filhos do povo, os homens
virtuosos e simples que sacrificam seu bem-estar em prol da redenção de todos,
os varões justos, bondosos, tolerantes, inimigos da suntuosidade e da hierarquia,
que edificam com a unção da palavra a santidade do exemplo. Estes, ele os chama
para formar o seu apostolado, convoca-os ao redor de si para enviá-los aos
quatro ventos e anunciar a Boa Nova; mas
antes de despedi-los, a fim de que não ignorassem as condições e os
deveres que o cumprimento da missão sacerdotal traz consigo, lhes fala e
instrui nos seguintes termos:
Ide e pregai, dizendo que o reino dos céus se
aproxima; que a salvação vem do Alto e a verdade brilha esplendorosa para
todos os entendimentos. Curai os enfermos;
vigorizai com a seiva regeneradora do Evangelho esses espíritos que desfalecem
e enfermam por causa dos vícios e erros religiosos em que se agitam e asfixiam
suas vacilantes crenças. Ressuscitai
os mortos; restituí a vida da fé a essas almas que pereceram por falta de
alimento, e renegaram seu Pai e seu Deus, porque viram a iniquidade e a falácia
onde não deviam ter assento senão a justiça e a verdade. Limpai os leprosos; purificai, circuncidai com a circuncisão da
alma as consciências danificadas pela sensualidade e pelo egoísmo; e expeli os demônios, os ídolos da paixão
e desenfreamento, em cuja honra erigiu altares a concupiscência humana e cujo culto
podereis arrancar dos corações, neles inoculando o puríssimo e vivificante
espírito da caridade, da esperança e da fé. Dai
graciosamente o que graciosamente recebestes; a vós vieram a graça e a
revelação, não para que monopolizeis em utilidade própria esses dons, mas para
que os façais frutificar em benefício da Humanidade, filha de Deus, como administradores
que sois de uns bens que não ganhastes e dos quais deveis fazer partícipes
todos os vossos irmãos. (Mateus, X, 7 e 8.)
Não possuais ouro, nem prata, nem dinheiro, nem
leveis alforjes, nem bastão, nem duas túnicas; porque aquele que tem os
seus sentidos postos nas riquezas, nas comodidades e no fausto, dá claros
indícios de que não é a salvação dos outros o móvel de seus desejos.
Sacerdócio
é vocação, e não mercancia; abnegação, e não sensualidade; simplicidade, e não
preponderância; o sacerdócio termina onde começam a preponderância, a
ostentação, a sensualidade e o comércio. Aquele que ama o ouro ou a prata, não
é um sacerdote; o que vende os bens da alma pelos temporais, não é um sacerdote;
o que não sabe fazer o sacrifício de suas comodidades terrenas, sempre que se
ofereçam aos seus olhos a nudez e a fome, ou insulta com a sua abundância a
miséria dos filhos do povo, aos quais recomenda o desprendimento das
coisas da vida, não é um sacerdote modelado no Evangelho e nutrido com a seiva
dos ensinos do Cristo. O trabalhador é
digno do seu alimento e bem assim o ministro da palavra; mas esse ministério
é de delegação providencial, e se profana, quando aquele que pretende exercê-lo
se fia mais na eficácia dos bens terrenos que na maternal solicitude da
Providência. (Mateus, X, 9 e l0).
Não sete vezes mas até setenta vezes sete perdoareis
a vossos irmãos. Se eles são devedores, também vós o sois, porque sois
homens como os outros. Tendes o dever de perdoar e não o direito de julgar e
condenar. Sobre vós e sobre todos os homens um só está estabelecido como juiz;
a justiça está nas mãos de Deus, não nas vossas, pecadoras e falíveis. Por isso
o reino dos céus é comparado a um rei que quis tomar contas aos seus servos e
que, havendo perdoado a um deles uma dívida de dez mil talentos, entregou-o
depois ao cárcere e ao tormento, por não se compadecer ele de outro que lhe
devia cem dinheiros. Do mesmo modo obrará
convosco o Pai celestial, se não perdoardes de coração. Aquele que pronunciar palavras de maldição,
de ira ou de vingança, não é sacerdote, mas
o mau servo da parábola, indigno de lhe serem perdoadas as suas dívidas e
merecedor do tormento até que pague o último ceitil. (Mateus XVIII, 21 e seguintes)
Sabeis
que os príncipes das gentes avassaladoras seus povos e que os grandes exercem poder
e oprimem os fracos e os humildes? Não se dará assim entre vós; entre vós,
o que quiser ser maior, faça-se o servo dos outros, e o que pretender ser o
primeiro, faça-se o último.
No sacerdócio não cabem
preeminências nem hierarquias; as distinções e privilégios nasceram da soberba
e se arraigaram nas repúblicas ao calor
das concupiscências humanas; mas a milícia espiritual, o sacerdócio cristão, há
de ser um exemplo perpétuo de igualdade, humildade e abnegação, onde os poderes
terrenos aprendam constantemente a reformar e melhorar suas instituições até
que elas alcancem a perfeição cristã, que há de ser o triunfo da igualdade e, por
conseguinte, a morte das distinções hierárquicas. O Filho do homem não veio
estabelecer a hierarquia, mas aboli-la na ordem espiritual e dar a sua vida em
redenção e holocausto (Mateus, XX, 25 e seguintes)
Como
o Pai me enviou, assim também vos envio. (João, XX, 19.) Eu recebi do Pai a altíssima
investidura do sacerdócio, a divina missão de remir com a prédica e o exemplo das
virtudes a pobre Humanidade terrena, que vaga perdida nas sendas da iniquidade
e do erro, capaz de empreender, sem despertamentos providenciais, o caminho
reto da perfeição e progresso; missão gloriosa e santa, mas eriçada de fadigas;
perseguições, ingratidões e perigos. Subo
para meu Pai e vosso Pai, para meu e vosso
Deus (João, XX, 17); em vós delego continuação do ministério celestial,
para cujo estabelecimento desci das moradas da felicidade imortal e tomei corpo
entre os homens da Terra. Transmito-vos o meu poder, meu encargo sacerdotal,
mas com a condição (João, XX nota do Pe. Scio) de serdes, como eu, o caminho, verdade
e a vida das almas. Nisto consiste o sacerdócio, na prédica e no exemplo, na humildade
e no amor, na abnegação e no sacrifício. Quem não seguir essas minhas pegadas e
apartar de meus caminhos não é, não pode ser sacerdote da Igreja que eu vim
estabelecer. Ide, pois, e ensinai a todas
as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, isto é,
ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei. (Mateus, XXVIII,19
E 20) de cuja observação depende o verdadeiro batismo do espírito, o batismo
essencial para a purificação e salvação.
Nestes termos Jesus institui o
ministério sacerdotal, o corpo docente chamado a continuar a obra de redenção
pelos ensinos evangélicos. O retrato do sacerdote cristão está feito por mão de
mestre, pela mão do próprio fundador do Cristianismo. Ponde nesse retrato os
olhos do entendimento, estudemos o sacerdócio do nosso século e meditemos. Não
terá ainda soado para os cristãos a hora de meditar?