Trabalhos do
Grupo "Ismael"
Dois ditados
(psicografias) de Bittencourt
Sampaio.
Reformador (FEB)
Janeiro 1941
Com a que publicamos em o Reformador
de dezembro ultimo, ficou encerrada a série de manifestações através das quais
puderam os leitores acompanhar, em suas fases sucessivas, a transformação
radical que se operou nas três entidades espirituais que as produziram: Miguel,
maioral da Inquisição, conforme ele próprio se qualificou, Espírito de
portentosa inteligência, de vasta e variadíssima cultura científica e filosófica,
orador de formidável eloquência, que arrebatava e dominava as massas, dos púlpitos das
catedrais; o Padre Ascêncio, seu lugar-tenente e substituto eventual no comando
das falanges numerosíssimas a cuja frente combatiam, no espaço, pela igreja de
que foram servidores na Terra; e o outro, cujo nome não chegou a ser declinado, executor
fiel das ordens que recebia dos dois primeiros, fanático de ambos, querido
destes e temido em toda parte, pela impassibilidade e frieza com que praticava
as violências que aqueles lhe ordenassem. Os três, empenhados sempre em
perseguir, tenaz e implacavelmente, a quantos se não submetiam ao jugo da
igreja em cujo seio ainda militavam no infinito, esforçando-se por ampliar-lhe
na Terra, o poderio e a dominação, perseguidores, sobretudo, dos que, desde o
advento do Espiritismo, se fizeram profitentes do Evangelho em espírito e
verdade; os três, dizíamos, abateram, como se há visto, ao influxo do amor puríssimo
da Virgem, as armas com que manobrando as suas legiões, guerreavam a Igreja do
Cristo de Deus e encetaram, no Colégio de Ismael, sob as vistas e o amparo
desse glorioso Anjo, que até ali os encaminhara, o aprendizado necessário a se
tornarem servidores fieis dessa Igreja, a verdadeira Igreja Cristã.
Do valor, da importância, da significação
e do alcance de tão notável obra de conversão espiritual, que certamente
acarretou a de uma multidão dos legionários que acompanhavam os três chefes
vencidos pela misericórdia do Senhor, disseram sobejamente os grandes Espíritos
de Bittencourt Sampaio e Pedro Richard, falando após cada uma das manifestações em apreço, para que precisemos encarece-Ia nesta breve nota com
que apenas assinalamos o término dos trabalhos em que foram protagonistas os
Espíritos a que vimos de aludir, trabalhos esses que se prolongaram por perto
de três meses.
Assim, sem mais sobre eles
acrescentarmos coisa alguma, passaremos a publicar as resenhas de outros
trabalhos análogos, tão interessantes e elucidativos quanto os de que tratamos
e que também giraram em torno de personalidades espirituais que, depois de
terem sido aqui figuras proeminentes da igreja romana, continuaram no Além a sustenta-Ia, propugnando
à sua definitiva predominância material no mundo e combatendo, logicamente, os que se hão posto ao serviço da de que é Pontífice único e
eterno, Jesus, o Cristo Salvador.
Antes, porém, da publicação desses
novos trabalhos, inseriremos dois ditados, altamente instrutivos e extremamente
oportunos na atualidade, de Blttencourt Sampaio, transmitidos no final de duas
sessões em que não se manifestara nenhum Espírito sofredor ou obscurecido e
obstinado no combate à Verdade.
Primeiro Ditado
A conquista da paz, como efetuá-Ia - Os
temores que assaltam a igreja. - Assombro das falanges do mal. - A dor: diversidade
nas maneiras de interpretá-la. - A do Cristo,
neste momento. - Em que naçõcs preferencialmente se originam as guerras. - À que
causa estas se filiam. – Advertências aos praticantes do Cristianismo à luz da
nova Revelação. - O eco das paixões que se exteriorizam por palavras levianas e
insensatas. - Atitude que compete aos espíritas em face dos acontecimentos que se desenrolam no mundo. Os
heroísmos, as gloríolas terrenas, ante a majestade do Criador.
Meus companheiros, Deus vos abençoe
e vos conceda a sua doce Paz!...
Quanto a desejam as criaturas,
filhas de um mesmo Pai, colhidas inesperadamente no torvelinho de sofrimentos inenarráveis!
É tão fácil, entretanto, a conquista
desse bem supremo, desde que o Espírito se dispõe a realiza-Ia, mediante um
trabalho Íntimo, no sentido de crIar dentro de si um estado de serenidade e
confiança!
Todo aquele que crê no Supremo
Poder, na Suprema Caridade, no Supremo Amor aguarda tranquilo, firmado na sua
fé, que se cumpra a vontade de Deus, expressa imutavelmente na sua Lei, sábia e
justa, Esse o ‘x’ do problema que, como se vê, é de fácil solução, mas que, no
entanto, se conserva afastado das cogitações humanas neste século de idolatria
e de perversão.
Aquela, que devera ser o baluarte da
mansidão e da autoridade moral, vê, atemorizada. as chamas a lhe envolverem as
muralhas e seus servos, estarrecidos, perguntam: Onde está o Cristo? O sacerdos magnus inquire, sobressaltado:
o defensor da Igreja abandona o seu vigário ao descrédito e às chacotas das
massas pagãs?
Não é menor, deste lado, o assombro
entre as falanges aguerridas do mal, que pensavam restaurar, no seio da
humanidade, as práticas do passado, concretizadas no "crê ou morre".
Há pouco, acompanhei o vosso estudo.
Ouvi a leitura e os comentários que cada um de vós fez, sobre a maneira de
interpretar-se a dor. É difícil a questão, porque os sentimentos se
diferenciam, segundo a elevação dos Espíritos. Há quem sofra por ver malogrado
o seu anseio de dominação; há quem sofra por não poder praticar o bem; há quem
sofra por não poder impedir as hecatombes que devastam o mundo e assim por
diante.
Figurai-vos, então, o que deverá
sentir, neste momento, o Cristo de Deus, contemplando, na amplidão dos campos
ensanguentados, os quadros que Ele debuxou para Jerusalém!
A História como que se repete, em
suas fases e períodos. É que o Espírito, quando na carne, quase sempre se compraz na prática dos vícios e dos crimes. Olvida
facilmente as resoluções que tomou na Espiritualidade, de acordo com o grau do
seu progresso, e deixa-se dominar pelas tendências do homem velho.
Poderemos acaso, medir a extensão do
sofrimento do Cristo, vendo, após vinte séculos da implantação da sua doutrina
de amor, trucidar-se reciprocamente os homens que se dizem cristãos? Porque,
atentai bem, nas nações de onde se originam as guerras, a religião professada é
uma das variantes do Cristianismo. Naquelas onde se praticam o Xintoísmo, o
Budismo, o Esoterismo e outras seitas religiosas semelhantes a essas em sua
substancia, os povos vivem mais ou menos aquietados e conformados com as suas condições. Não é
sintomático? Será por defeito do Cristianismo? Não; é por efeito dos
desvirtuamentos que o homem lhe infligiu aos ensinos, através dos tempos.
Aí tendes a razão das nossas
constantes e férvidas advertências, a vós outros que praticais o mesmo
Cristianismo, porém à luz da Nova Revelação. Comedimento nas palavras e
exteriorização de sentimentos cristãos, eis o
caminho a seguir, porque é o que conduz à regeneração do mundo e a livrá-lo de
futuras hecatombes. Homens houve que anteviram os acontecimentos cujos primórdios
se estão desenrolando.
Chegam até nós os ecos das paixões
que se exteriorizam por palavras levianas e insensatas, porque as criaturas, em
vez de se recolherem dentro de si mesmas, para orar e meditar, discutem o poderio
destes ou daqueles valentões que se atiram à arena para se entredevorarem como feras bravias. Ouvimos a
repercussão de tais palavras e lastimamos a insensatez do homem, a sua nenhuma
preparação para compreender o que se passa, para enfrentar as consequências que
se seguirão.
Será possível que também aos
espíritas precisemos ainda advertir, para que se abstenham desses comentários
insensatos? Um único é o dever que lhes corre: o de implorarem a misericórdia
do Altíssimo para os infelizes instrumentos do mal necessário; o de rogar ao
Pai que lhes ilumine a inteligência e o coração, a fim de compreenderem que não
só de pão vive o homem.
De que serve a posse de imensos
campos para a semeadura do grão, se a inclemência da Natureza pode devastar
toda a cultura e reduzir à fome as populações, que se lançaram na conquista
deles com violência e fúria? Que valem os heroísmos, as condecorações, as gloríolas
terrenas, símbolos do orgulho, ante a Majestade do Pai Criador, que ordena a
seus filhos se amem como irmãos?
Oremos, meus caros companheiros, á
nossa excelsa Mãe. Para as grandes dores, os grandes remédios. Como símbolo da
doçura, só o sentimento de Maria. Que Ela, pois, purificando com a sua virtude
a prece do pecador, a conduza ao seio de Jesus, advogando a causa da
humanidade, que se deixou empolgar pelo espírito do mal, que tudo subverte.
Que Ela acoberte com o seu manto de
piedade o Colégio de Ismael e não consinta que no coração de nenhum de seus
membros penetre o vírus das paixões maléficas, que o levem, sequer em
pensamento fugaz, a armar o braço
fratricida para o assassínio de seu irmão.
Que a Mãe Santíssima defenda o
eventual detentor do poder na Terra de Santa Cruz, para que não se interrompa o
trabalho preparatório dos prepostos de
lsmael à obra da sua missão.
Meus companheiros, cuidado! O tempo
atual é o predito, como bem o sentis.
Apegai-vos à Virgem, para poderdes, sem falir,
chegar gloriosamente ao fim da jornada, satisfeitos por haverdes cumprido o
vosso dever
Paz fique convosco. - Bittencourt.
Segundo Ditado
O pavor sucedendo à estupefação,
nos mundos visível e invisível. - Estado de ânimo da igreja nos dois planos. -
Situação em que se encontra o papa. - A confusão entre os sacerdotes do espaço.
- O grande educador do homem. - Papel da caridade nessa educação. - A seleção natural
dos Espíritos, no Além. - Enquanto isso, o que fazem os homens. - O timoneiro
da barca como lhe contempla a singradura. - Os marinheiros da nau como devem
proceder. - O turbilhão processando a separação dos bodes e das 8 ovelhas. -
Como devem viver nesta hora os discípulos do Cristo. - Mais do que nunca necessárias
a vigilância e a oração.
Companheiros caros, paz seja convosco.
A estupefação sucedeu o pavor nos
dois mundos que se completam. A igreja da Terra e a igreja do espaço, porque
desprezaram o Cristo espírito, sentem-se embotadas e cegas para divisar as
clareiras do futuro e o que aguarda a humanidade terrena, após vinte séculos de
civilização supostamente moldada nos ensinos do carpinteiro.
O papa, prisioneiro dos instrumentos
de caldeamento das massas, é uma figura sem expressão. Sua palavra só ecoa na
consciência dos potentados, quando se exprime de acordo com os interesses
deles. Na consciência das massas, nulo é o seu efeito, porque não se firma na essência
da palavra revelada pelo Verbo de Deus aos simples, de coração puro.
Os sacerdotes do espaço não menos confusos
se encontram nesta hora trágica, porque, colocados num plano que lhes
proporciona maiores elementos de apreciação, anteveem a derrocada de suas
idéias, a nulidade de sua ação e o destino que lhes está reservado, nas trevas
exteriores, onde há choro e ranger de dentes.
Sempre entendi, nos meus estudos do
Evangelho, quando aí estive burilando, calcinando o meu espírito, também
necessitado de progresso, que nada valem fórmulas, nem ritos, nem palavras eloquentes
na predicação da Verdade, simples e pura.
Sempre entendi que o coração é e
deve ser o grande educador do homem. A caridade é a mensageira dessa verdade, a
propagadora dessa educação. E, por assim entender e sentir, pude encerrar a última
página do livro da minha vida na carne e encontrar nos cursos superiores do
Infinito elementos para confirmação desse sentir e desse pensar.
Vejo aqui a seleção natural dos Espíritos.
Eles vêm como que destinados a seus núcleos, segundo o grau de progresso que
trazem. Estudam, debatem idéias, atraem sumidades das mais altas regiões do
Infinito, para lhes esclarecerem as dúvidas na interpretação da ciência divina.
Que fazem os homens? Cogitam,
porventura, de conhecer as causas dos acontecimentos que os envolvem? Não.
Atentam mais para o futuro imediato das condições terrenas, preocupados com a satisfação
dos gozos, do século. Por isso, quando das grandes hecatombes, ou por eles
mesmos provocadas, na sua cegueira e maldade, ou provenientes dos cataclismos
naturais do planeta, quedam-se apavorados, sem norte e sem bússola.
A igreja pequena, da Terra e do
Espaço, começa a vislumbrar as suas tremendas responsabilidades nesse caos que
domina a mente do homem moderno, no planeta.
Mas, é o Filho do Homem, quer dizer:
o Espírito não nascido do conúbio dos sexos, o timoneiro da barca. Ele sente a fúria dos mares encapelados e percebe os
escolhos à frente de sua singradura. Contempla, porém, sereno, o deslizar da nau
por sobre o furor das ondas, porque vê além, muito além o plácido porto que a
espera.
Assim é que deveis pensar e sentir;
já que sois marinheiros dessa nau. Nela embarcastes por vontade própria e
assentimento do Mestre. Confiai que, depois da tempestade, chegareis com Ele ao
bonançoso porto.
Mas, precisais enfrentar a fúria dos
elementos, vencer as paixões humanas e as vossas próprias paixões, antes que
possais realizar dentro de vós mesmos os festins da paz, da esperança, do amor
com o nosso Cristo e nosso Mestre.
Meus companheiros, nunca foi mais
oportuno o conselho da oração e da vigilância, e turbilhão envolve a humanidade. É bem a separação dos bodes e das ovelhas o que
se processa. Os discípulos do Cristo devem viver em silêncio e em prece, porque
sobre suas cabeças pairam as legiões do mal, prontas a atender aos chamamentos
dos corações humanos. Assim, aqueles que quiserem servir ao Cristo e a sua obra
precisam imunizar-se contra a lepra das paixões que degradam as criaturas
humanas, levando-as à categoria das feras.
Nunca foram tão necessárias a vigilância
e a oração para os que quiserem viver uma vida plácida. apegados à sua crença em espírito
e verdade, dentro do torvelhinho dessas lutas pavorosas, mas indispensáveis,
para salvação da humanidade.
Maria, Mãe carinhosa, obrigado, por
mais esta hora de labor, que concedeste ao servo de teu Filho. Volvo os olhos para o passado de séculos e vejo
as mãos ensangüentadas e o cérebro encandecido por ideias de vingança e maldades.
Vejo também o marco da nova estrada que o meu Espírito, na companhia destes,
vem percorrendo, em busca de teu Filho, da sua pureza, da sua moral.
Ajuda-nos, a estes que ainda se
acham na carne e a nós libertos dela, para a realização desta obra que redime séculos
de crimes, obra de purificação, de fraternidade, de amor, prescrita pelo teu
Filho divino.
Ajuda-nos; sê para nós outros o que
o Cirineu foi para o teu Filho na sua via-sacra de redenção dos homens. Lustra os nossos corações, para que possamos sentir e
guardar a essência do Evangelho santo. Defende com a coorte dos teus servidores
as portas da Casa de Ismael e os lares dos seus fieis trabalhadores, a fim de
que eles dêem tudo o que esteja nas suas possibilidades ao serviço da
humanidade.
Obrigado. Faze que o olhar de Nosso
Senhor Jesus Cristo não se afaste deles um só instante.
Paz, meus companheiros. Recomendo-vos
muita concentração na reunião próxima. Possivelmente os nossos rogos serão ouvidos
e merecemos uma graça maior.
Ide em paz para os vossos lares e até
breve. - Bittencourt.