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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Fora da caridade não há salvação

 

Fora da caridade não há salvação

por Arnaldo S. Thiago

Reformador (FEB) Maio 1940

                 Tomando por título deste nosso artigo a divisa do Espiritismo, de caráter universal, em contrste com a da “igreja pequena”, de intuitos restritivos e sectaristas, pretendemos chamar a atenção dos nossos confrades para as diferentes nuances da caridade, se é que se pode chamar caridade tanto ao ato meramente convencional de atirar um níquel ao chapéu do mendigo, sem a emoção íntima do sentimento, como ao sublime rasgo de abnegação de quem sacrifica a própria vida, para salvar a do próximo; tanto à ríspida vergastada da crítica que educa intimidando, como à divina delicadeza moral de quem adverte em segredo com os olhos marejados de lágrimas.

            Não confundamos coisas tão díspares. Para nós uma só é a caridade: a que tem origem no sentimento do amor ao próximo, qualquer que seja a sua manifestação externa, mesmo a que fere os preconceitos em voga...

            Contudo, reconhecemos que restrito a mui raros espíritos, desprendidos das tibiezas e dos prejuízos humanos, é esse divino conceito da caridade, exemplificada pelo Cristo, que não desdenhava da companhia das mulheres de má vida e dos publicanos, em quem muitas vezes encontrava mais nobreza de sentimentos e altaneria (capacidade de voar alto) moral, do que nos pretensos mestres da moral e dos bons costumes, fariseus hipócritas, a quem Ele vergastava com as suas palavras e admoestações veementes.

            Queremos falar da caridade, segundo o critério humano do testemunho dos atos. Neste domínio do terra-a-terra o que vemos é a proliferação da caridade material que gostaríamos de qualificar como predisposição ao bem e que consideramos, hoje mais do que nunca, em que o Estado chamou a si todas as funções de assistência social, dever comesinho do poder público, felizmente assim compreendido no atual momento histórico de nossa Pátria, com a assistência econômica ao trabalhador nacional e às respectivas famílias e com a multiplicação dos institutos de assistência – leprozários, hospitais, escolas, etc., etc.

            Essa caridade, porém, temo-lo comprovado frequentemente, envolve o conceito egoístico da retribuição do serviço prestado, seja em vaidade pessoal de haver dado, seja na escravização do beneficiado ao doador generoso, seja na presunção pessoal de se constituir o doador em centro para onde convergem todas as atenções dos mesmos beneficiados. Para esta caridade – infelizmente a mais apreciada até nos meios espíritas – não é necessário o sentimento d'alma; basta dispor de recursos de um coração vaidoso, temperado de altruísmo.

            Esta caridade não é a escola educadora do espírito para a grande renovação social que se prepara desde o advento do Consolador. Urge que se disponham as inteligências para a compreensão do Evangelho – escrínio da caridade moral.

            Tudo na vida do Cristo ressumbra delicadeza e verdade. Divina delicadeza moral em face da mulher adúltera: “Onde estão, mulher, os que te condenavam?... Eu também não te condeno. Vai e não peques mais.” Divina delicadeza moral diante da mulher de mal conceito, que lhe derramava perfume nos pés: “Porque muito amaste, perdoados serão os teus pecados.”

            Divina delicadeza moral para com aquela carinhosa Maria que lhe escutava as palavras, embevecida, ao ser repreendida pela irmã: “Marta, Marta! Que tanto te afadigas com as coisas mundanas! Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.”

            Sublime energia da Verdade, que admoesta os grandes, sem fraquezas perniciosas: “Ide dizer a Herodes, aquela raposa...”, “Nenhum poder terias sobre mim se ele não te viesse do Alto” (retrucando a Pilatos); ou admoesta os discípulos quando se deixam contaminar pelos prejuízos humanos: “Tira-te de diante de mim, Satanás...” (verberando a Pedro um mal conselho que este lhe dava.)

            Pois aí está a caridade do Cristo, a caridade que deve brilhar no coração de todos os seus servos de boa vontade: a caridade moral, que tem delicadezas divinas para com o pecador arrependido, para aquele que se humilha, que sofre e que chora; que é capaz de erguer-se em um ímpeto varonil para expulsar os vendilhões do templo, para profligar a dureza dos corações, arrostando todas as consequências, como o Cristo arrostou, a tal ponto que o único recurso que tiveram os magnatas do seu tempo, para se virem livres dele, foi condena-lo, com astúcia e venalidade, ao suplício da cruz...

            Ainda em deliquescência o caráter, o verdadeiro caráter religioso. O que se está constituindo novamente, a pretexto de renovação moral, é um novo acervo de prejuízos e de formalidades que deixam vazio o coração e estéril o sentimento.

            Mas, os dias próximos desnudarão a verdade. Novos levitas do Evangelho descerão do céu, a reencarnar na Terra; com eles expandir-se-á entre os homens um doce magnetismo que penetrará todas as almas, tornando-as sensíveis a todos os grande movimentos do coração humano: as viragos (mulher de hábitos masculinos) desertarão do planeta para outras estâncias mais condizentes com a sua grosseria inominável, e a mulher, a verdadeira mulher, voltará a ser na sociedade a flor divina da delicadeza moral, aquela que há de saber novamente construir o mundo à sua feição, restituindo ao homem a poesia da vida que essas viragos – elas próprias – destruíram com as suas atitudes contrárias à nobre missão da mulher na sociedade.

            Nesse dia, o homem não se envergonhará de ser delicado e deixará de fazer da sua inteligência apenas um instrumento de ironia... para disfarçar as agruras da vida!


sexta-feira, 9 de abril de 2021

Caridade

 

Caridade

por Arnaldo S. Thiago     Reformador (FEB) Novembro 1921 (trechos)

             “Caridade é nobreza d’alma: somente pode existir associada à máxima pureza de sentimentos. 

                Alma vincada de vícios, de deformidades, de abjeções não pode ter caridade; se algum bem pratica, se a alguma obra pia (ah! essas obras pias da igreja pequena!) se consagra, é por vaidade, ostentação de virtude inexistente... seja lá pelo que for, nunca, porém, por espírito de caridade, a lídima caridade cristã.”

             “Caridade é elevação moral, estritamente ligada à educação da alma, educação que não raras vezes exige dos bons o martírio de assistir à flagelação dos maus, embora lhes custe o espetáculo as lágrimas de mortal angústia.”

             “Ninguém pode ter caridade igual a Deus - e as penitenciárias do infinito enxameiam,  entretanto, de réprobos vergastados pelas dores atrozes da matéria, pelos estigmas horrorosos de todas as deformidades físicas, reflexos das deformidades morais.”

                       “A caridade fora da qual não há salvação é a do Cristo, não esse triste simulacro em que se comprazem os vaidosos e orgulhosos de toda espécie... salvo raras exceções, raríssimas: as exceções sempre confirmam as regras...”

             “... a caridade, em sua legítima acepção evangélica - a ela que serve de lema, ao Espiritismo - deve-se ser sem receio que é de ordem moral, subordinada à virtude.” 

             “Jesus, nas suas últimas advertências aos discípulos, disse-lhes: Ide, curai os enfermos, pregai o Evangelho.

            Curai os enfermos! O imperativo é, este caso, categórico. Para curar enfermos não basta fundar hospitais, casas de saúde, asilos, à moda do clero: lúgubres mansões onde se deposita seres humanos, para servirem à curiosidade uns, ao exame científico de outros: objeto de recreação ou cobaias...

            Curar enfermos, no sentido evangélico, segundo o ensinamento e o exemplo do Mestre, é ter a superioridade espiritual necessária para operar por si mesmo essas curas, como Jesus praticava e o puderam praticar seus discípulos, possuídos daquela virtude da caridade que é a quintessência do amor ao próximo. Essas curas nem mesmo são do as de ordem mediúnica, de que se fazem tantas vaidades e ostentações incabíveis, porquanto o agente de tal curas não é o homem, que aparece, mas o Espirito...”

 


terça-feira, 2 de março de 2021

Falências...

                  

Falências...

por Arnaldo S. Thiago      Reformador (FEB) Março 1943

      Anda presentemente o mundo tão cheio de falências que já ninguém acredita noutra prestabilidade do gênero humano e de suas bizarras instituições, senão para justificar o ceticismo de um Anatole France, ou a ironia de um Voltaire...

            De tal modo se radicou, mesmo, nos ânimos essa ideia de generalizada falência, que um dos mais conspícuos e intrépidos cultores do Espiritismo, o nosso grande amigo Leopoldo Cirne (que, hoje, podendo melhor ouvir-nos e perscrutar o nosso íntimo, bem pode avaliar a estima que lhe consagramos) não trepidou em dar ao seu último trabalho – “O Anti-Cristo, Senhor do Mundo” - aquele subtítulo perfeitamente desastroso e de todo inconsequente – “A Falência do Espiritismo”!

            Regra geral, isto sim, o homem faliu em face do Cristianismo: faliu como intelectual, como estadista e como religioso. Mas, deduzir-se dessa dolorosa constatação que possa ter falido o Espiritismo, que é, sem dúvida, o Cristianismo restaurado em sua pureza, não é possível, nem justo.

            Os ouropéis de uma civilização abastardadora do caráter simples e sincero, que lhe devera ter inspirado a Doutrina do Cristo, é que engendraram a falência dos homens, reduzindo-os a uma situação de cativeiro infamante, de que nem sequer tentam libertar-se, porque a sua libertação implicaria grande esforço para se purificarem e desprenderem de hábitos rotineiros em que se comprazem todos, porque lhes fala mais alto aos sentidos essa modorra da consciência, do que à alma os clamores da mesma consciência, entorpecida por séculos de vida hipócrita e contaminada de abjeções tremendas.

            A ninguém, por isso, é possível prever as consequências do desmoronamento universal desta civilização edificada sobre o alicerce de fórmulas convencionais, tão contrárias à índole do Cristianismo, que aos próprios espíritas é sobremodo difícil vencer as dificuldades que se lhes deparam na prática da vida, para viverem de acordo com os princípios que sinceramente professam! Horresco referens! (tremo ao conta-lo!)

            Mas, por misericórdia de Deus, jamais se verificará a falência do Espiritismo - porque não é ele de estrutura humana e sim espiritual, isto é, os seus mentores são Espíritos livres das convenções sociais, que no momento oportuno sabem dizer as coisas como as coisas são e jamais como as aconselha a exigência do bom-tom e da harmonia fraterna - rotulagem triste com que se disfarçam personalismos presunçosos, a se apresentarem como garantes únicos das boas diretrizes doutrinarias ortodoxas.

            Devemos estar precavidos, pois que não podemos saber de que modo e a que horas chegará aquela justiça, aquele poder que surge subitâneo como o raio, no próprio dizer do Evangelho. O que é verdade é que a Civilização se contorce nas dores de um parto decisivo, de que nascerá para o Mundo ou um ciclo luminoso de conquistas alcandoradas do espírito humano, ou um doloroso ciclo de decadência (que seria simples repetição da História, aliás sempre a repetir-se) para expiação mais longa e profunda dos grandes crimes e dos pecados tremendos que, em geral, os homens estão a praticar destemerosamente, desde que se imaginaram os únicos competentes para lavrarem as suas próprias sentenças condenatórias ou absolutórias. Deus apenas deve assistir, impassível, ao desenrolar dos acontecimentos, dizem eles.

            E o Cristo continua, do alto da cruz, a suplicar: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem.”

            O homem faliu, evidentemente em face da Lei Moral, do eterno Código divino. Mas, o Espiritismo, restaurador do puro Cristianismo, jamais falirá. Por amor do Cristo, irmãos, façamos um supremo esforço: unamo-nos, amando-nos, tolerando-nos, respeitando-nos e procurando amparar-nos reciprocamente, para que as nossas falências sejam reparadas e possamos todos voltar, humildes e arrependidos, ao redil das ovelhas do Mestre, pois que a falência não é somente de um, é de todos.


domingo, 12 de abril de 2020

O caminho das urzes


O caminho de urzes
Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Julho 1941

            Lágrimas derramo sobre as minhas alegrias terrenas: elas foram sempre envenenadas por alguma falsidade.

            Busco as alegrias do céu, onde reina a pura felicidade.

            Mas, para buscar a felicidade no céu é preciso conhecer a falsidade das coisas terrenas - porque sem a experiência destas coisas, aqueles bens celestiais nunca poderão ser obtidos.

            A viagem é longa. Por vezes a jornada parece transmutar-se: em lugar de ascensão - queda. Tem-se a impressão de haver descido muito, depois de muito haver subido. Isto particularmente sucede quando os amigos nos abandonam, quando os íntimos nos repudiam, quando a censura substitui os louvores com que éramos enaltecidos...

            Esta é a hora mais terrível da experimentação, em que o grande e excelso Mestre procura conhecer o valor da nossa própria consciência. Então, o neófito que aspira desvendar os segredos da vida, se não tem princípios e foi apenas um traficante dos gozos terrenos, soçobra e imerge no desconhecido, no caos imenso das dúvidas terríveis, onde o espírito se sente batido por todas as angústias e por um mortal desassossego...

            .........................................................................................

            Conserva o teu próprio caráter, homem sofredor das retortas terrenas; não te deixes vencer pelos julgamentos alheios, nem fascinar pelos triunfos passageiros da tua sensibilidade. Abre-se diante de ti uma estrada juncada de urzes, por onde não gostam os homens de transitar - os teus pobres companheiros de jornada. Investe resolutamente por esse caminho, fere-te nas urzes: viverás sem muito pão, porque esse caminho é quase deserto e ninguém te ajuda, porque por ele - já t'o disse - pouquíssimos transitam.

            Mas ao fim terás a satisfação de saber que foste um homem e sabermos que temos sido homem nos tormentos da terra é melhor do que reconhecermos que fomos apenas, para sermos ditosos, do número daqueles que Panúrgio (personagem de Rabelais. Durante uma viagem de barco no mar, Panúrgio tem uma discussão com um comerciante de carneiros, que viajava com o rebanho. Como vingança, Panúrgio compra-lhe um carneiro por alto preço e atira-o no mar. O exemplo e os balidos deste, levam os outros carneiros a segui-lo e, até o comerciante agarrado ao último, se afogam) tange com o seu bastão, sem dificuldades nem raciocínios...

            Acorda, homem, do teu sono! Já dormiste demasiado. Já entretiveste a alma com os brincos fúteis da terrena vida. Faze deles agora o motivo superior da tua aprendizagem. Não os desdenhes: examina-os como peças curiosas que serviram à recreação da tua infância espiritual, como os artefatos encontrados nas antigas cavernas, servem ao arqueólogo para conhecer a inteligência embrionária do homem primitivo.

            Não te iludas mais com esses brincos infantis. Dá-lhes o valor que merecem e, empregando-os, porventura, algumas vezes, para atrair ao teu convívio as almas cândidas que foram enganadas pelos sorrisos da alegria terrena, procura encaminhá-las sabiamente pela estrada de urzes que têm de perlustrar, se também aspiram às alegrias do céu. Mas, ao passo que caminhas tu sozinho, acompanha solícito alguma alma que dê entrada resolutamente no atalho de urzes - porque essa, que ouvir e compreender o que lhe digas, será tua eterna companheira.

            Vai de fronte erguida, caminheiro da adversidade terrena. Eu te deixo agora, para esperar-te nos pórticos eternos. Sê prudente, sê forte e bendize da mão que te fez sofrer, apontando-te o caminho de urzes, porque nesse instante foste agraciado pela divina misericórdia.

            Bendize das tuas lágrimas. E segue sempre avante, sem recriminações, com resignação e humildade.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Falências...


Falências
Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Março 1943

Anda presentemente o mundo tão cheio de falências, que já ninguém acredita noutra prestabilidade do gênero humano e de suas bizarras instituições, senão para justificar o ceticismo de um Anatole France, ou a ironia de um Voltaire...

De tal modo se radicou, mesmo, nos ânimos essa ideia de generalizada falência, que um dos mais conspícuos e intrépidos cultores do Espiritismo, o nosso grande amigo Leopoldo Cirne (que, hoje, podendo melhor ouvir-nos e perscrutar o nosso íntimo, bem pode avaliar a estima que lhe consagramos) não trepidou em dar ao seu último trabalho - O AntiCristo -Senhor do Mundo - aquele subtítulo perfeitamente desastroso e de todo inconsequente – “A Falência do Espiritismo"!

Regra geral, isto sim, o homem faliu em face do Cristianismo: faliu como intelectual, como estadista e como religioso. Mas, deduzir-se dessa dolorosa constatação que possa ter falido o Espiritismo, que é sem dúvida o Cristianismo restaurado em sua pureza, não é possível, nem justo.

Os ouropéis de uma civilização abastardadora do caráter simples e sincero, que lhe deverá ter inspirado a Doutrina do Cristo, é que engendraram a falência dos homens, reduzindo-os a uma situação de cativeiro infamante, de que nem sequer tentaram libertar-se, porque a sua libertação implicaria grande esforço para se purificarem e desprenderem de hábitos rotineiros em que se comprazem todos, porque lhes fala mais alto aos sentidos essa modorra da consciência, do que á alma os clamores da mesma consciência, entorpecida por séculos de vida hipócrita, e contaminada de abjeções tremendas.

A ninguém, por isso, é possível prever as consequências do desmoronamento universal desta civilização edificada sobre o alicerce de fórmulas convencionais, tão contrárias à índole do Cristianismo, que aos próprios espíritas é sobremodo difícil vencer as dificuldades que se lhes deparam na prática da vida, para viverem de acordo com os princípios que sinceramente professam! Horresco referens!  

Mas, por misericórdia de Deus, jamais se verificará a falência do Espiritismo - porque não é ele de estrutura humana e sim espiritual, isto é, os seus mentores são Espíritos livres das convenções sociais, que no momento oportuno sabem dizer as coisas como as coisas são e jamais como as aconselha a exigência do bom-tom e da harmonia fraterna - rotulagem triste com que se disfarçam personalismos presunçosos, a se apresentarem como garantes únicos das boas diretrizes doutrinarias ortodoxas.

Devemos estar precavidos, pois que não podemos saber de que modo e a que horas chegará aquela justiça, aquele poder que surge subitâneo como o raio, no próprio dizer do Evangelho. O que é verdade é que a Civilização se contorce nas dores de um parto decisivo, de que nascerá para o Mundo ou um ciclo luminoso de conquistas alcandoradas do espírito humano, ou um doloroso ciclo de decadência (que seria simples repetição da História, aliás sempre a repetir-se) para expiação mais longa e profunda dos grandes crimes e dos pecados tremendos que, em geral, os homens estão a praticar destemerosamente, desde que se imaginaram os únicos competentes para lavrarem as suas próprias sentenças condenatórias ou absolutórias. Deus apenas deve assistir, impassível, ao desenrolar dos acontecimentos, dizem eles.

E o Cristo continua, do alto da cruz, a suplicar: "Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem".

O homem faliu, evidentemente, em face da Lei Moral, do eterno Código divino. Mas, o Espiritismo, restaurador do puro Cristianismo, jamais falirá. Por amor do Cristo, irmãos, façamos um supremo esforço: unamo-nos, amando-nos, tolerando-nos, respeitando-nos e procurando amparar-nos reciprocamente, para que as nossas falências sejam repassadas e possamos todos voltar, humildes e arrependidos, ao redil das ovelhas do Mestre, pois que a falência não é somente de um, é de todos.


Do Blog: Leopoldo Cirne substituiu a Bezerra de Menezes na presidência da FEB onde permaneceu por 16 anos. Comandou a construção da sede da FEB na Av. Passos, 32 no Rio de Janeiro. Instituiu a Escola dos Médiuns que trouxe desconforto entre seus pares que articularam a substituição de Cirne na presidência da FEB. Daí à geração de ressentimentos e que tais. Detalhes? Cabe ler o livro citado. Ele está transcrito aqui no Blog até o ponto em que Cirne detalha a celeuma. Não valeria a pena ressuscitar o assunto.   

domingo, 3 de dezembro de 2017

Planos superpostos


Planos Superpostos
Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Janeiro 1941

A lei do progresso é inelutável.

As camadas geológicas se superpõem no curso dos séculos. Se é duvidoso encontrar-se no arqueano um traço primitivo de vida, absurdo não será procurar-se no paleozoico um organismo animal, os restos fósseis de uma árvore que já estivesse enfeitada de flores.

Também o progresso moral se faz gradativamente. Do salteador de estrada ao santo de Assis há toda uma sucessão de degraus a ascender, na torrente dos séculos.

O decálogo nos veio, quando o espírito humano começava apenas a entrever, ainda configurada em férteis pastagens e rios de mel, a Terra da Promissão. Contudo, é um código de moral absoluta, sendo eternos os seus princípios, como eterna é a divina lei do Amor em que se baseia o mesmo decálogo. Constitui a Lei indiscutível, inflexível para as sociedades humanas. Quem quiser ter vida feliz deve submeter-se a esse código.

A advertência que Jesus fez ao mancebo rico enquadrava-se no primeiro mandamento do Decálogo. Entretanto, o mancebo estava convencido de que em toda a sua vida outra coisa não fizera senão cumprir à risca todos os mandamentos. Como se compreende, então, que Jesus não lhe houvesse contestado a declaração, mas apenas advertido de que, para segui-lo, devia vender, primeiro, tudo o que possuía e distribuí-la entre os pobres?

Será, então, que a própria Lei Divina esteja sujeita ao critério da elasticidade, como as leis humanas?

Certamente que não. Apenas, o que se dava era que o mancebo supunha honestamente estar cumprindo a Lei - embora infringindo-a - e Jesus, que lhe reconheceu a honestidade intencional e, portanto, a dificuldade de compreender de outra forma o decálogo, ofereceu-lhe, naquela advertência, uma interpretação mais elevada do primeiro mandamento, sem uma referência expressa a este - o que seria de ordem secundária para o objetivo que o Mestre tinha em mente - e que não era comprometer a relativa felicidade honestamente desfrutada pelo mancebo rico, felicidade decorrente da sua ingênua certeza de que cumpria integralmente a Lei, mas tão só induzi-lo a um modo de viver compatível com o desejo, que nutria, de seguir o Mestre, isto é, de ascender na escala do progresso.

A lição é eloquente e mostra até que ponto chega o delicadíssimo respeito que Jesus vota ao livre arbítrio dos seus irmãos mais moços, ou, seja, das ovelhinhas que o Pai lhe confiou.

Pode, portanto, cada um ser feliz ao seu modo, desde que honestamente pratique o decálogo segundo a interpretação compatível com o seu grau de discernimento.

A questão está em praticá-lo honestamente, embora errado. Agora, o que não pôde dar felicidade é o erro consciente. E nisto é que consiste o pecado: na infração consciente da Lei.

Não há, portanto, elasticidade na Lex legum; o que há são estados conscienciais mais elevados e menos elevados.

Por isso, Jesus disse aos apedrejadores da adúltera: "Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra". E ele, que o estava, longe de atirar-lhe essa primeira pedra, levanta-a carinhosamente, aconselhando-a: "Vai e não peques mais".

Mestre, concede-nos o teu divino perdão, tanto por causa das nossas próprias faltas. como por causa da intolerância que muitas vezes revelamos com relação às faltas dos nossos irmãos!


Aos que sabem interpretar a Lei e a infringem conscientemente - para estes, sobretudo, Mestre, a tua misericórdia!

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Sob o signo de Deus


Sob o signo de DEUS
Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Fevereiro 1943

O servo de Jesus, para vencer o mundo, deve conservar-se fiel aos                compromissos assumidos para com o Divino Pastor, quando lhe pediu para entrar no redil das ovelhas. Sim, porque Jesus espera essa manifestação espontânea da parte daquele a que o Pai lhe confiou. Quantos, porém, depois de obterem o ingresso no redil, se tornam lobos devoradores, obrigando o Mestre a afastá-los, para que não venha o rebanho a lhes sofrer as investidas perturbadoras!

Conhecem-se as ovelhas e distinguem-se pela sua constância no trabalho, que somente pode ser mantida pela assistência do Mestre, através dos seus mensageiros, pois que, em faltando a alguma essa assistência, falecer-lhe-á também a constância no trabalho, porque, sendo este desinteressado de recompensas, não encontra estímulos na organização humana - toda firmada sobre Interesses - e somente com o amparo do alto pode manter-se. Esse amparo é recebido como manifestação de força moral constante, ininterrupta, em forma de dispensação fluídica, provindo das entidades orientadoras do trabalho divino. Como se compreende bem, recebendo essa dispensação fluídica, a que espécie de água que mata a sede para todo o sempre, Jesus se referia quando falou à Samaritana junto ao poço de Jacó!

Constância no trabalho, sejam quais forem as situações de ordem social, econômica, doméstica em que nos encontremos - eis o que importa ao servo fiel do Senhor da seara.

A natureza, arquétipo de todas as perfeições, é um exemplo vivo dessa força que mantém, pelo espírito, a energia da coesão em meio das formas da matéria, sempre tendentes à desagregação. Na sociedade humana, erguem-se monumentos de aparente estabilidade, reunindo-se materiais sólidos sobre os quais as forças dissolventes dessa mesma natureza possam exercer o mínimo de ação. Seduzido por essa forma de construir, de edificar, estritamente humana, o homem não sabe quase arquitetar seja o que for de útil, sem que lhe venha, por analogia, uma sugestão da mesma ordem, esquecendo a advertência do Mestre: "Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo.”

Pioneiros da verdade espírita, nós estamos sob o signo de Deus, lembremo-nos sempre disto! Tal signo é construir no espírito, para o Espírito.

Não podemos desmentir o Mestre que nos determinou: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". As construções humanas tem de corresponder à estrutura moral da sociedade humana. Por mais que apliquemos o nosso esforço em escorar-lhes os muros com o potencial do nosso amor e do nosso desapego as coisas do mundo, fatalmente elas ruirão, se não se adaptarem afinal à maneira de ser das construções humanas: e nessa adaptação é que está o desvirtuamento da doutrina do Mestre e a falência do crente que, afinal, comprovará ter apenas entre as mãos um simulacro material, - um cadáver - de tudo que idealizou e arquitetou com tanto carinho e tanto entusiasmo!

É a verdade, dolorosa sempre, como todas as verdades morais; mas, é a verdade!

Deus permitiu que se conservasse, no mundo governado por leis escritas e formulas convencionais, a inviolabilidade do lar da família: é nesse augusto santuário da sinceridade, cuja organização real deve ser a do amor, que o espírita tem de por à prova os seus sentimentos de caridade, ainda tão mal compreendidos, geralmente, no pobre mundículo em que nos encontramos a expiar faltas do passado.

Quando se percebe a dificuldade que ainda tem o homem terreno de esquecer ofensas, de perdoar, de manter constância no espírito de bem fazer, através da trama insidiosa da vida planetária, é que bem se pode avaliar a extrema ausência de sentimento de caridade, que se verifica no humano coração e a razão de ser da existência desse constante buril das almas, que é a dor!

Longe de nós o intuito de depreciar a ação social de qualquer dos confrades que tem a seu cargo a organização de obras piedosas: essa é uma digna e excelente modalidade de atuação do espírita no meio em que vive. 

Certamente, amparar os necessitados, criar escolas, manter estabelecimentos de ordem hospitalar, creches, abrigos - tudo isso é revelação de bons sentimentos, é agir segundo a orientação mental benfazeja que a doutrina plasma na alma de todo crente sincero: frutos bons de árvores boas.

Mas, tenhamos sempre em vista que a grande obra educativa dos espíritos é a que se processa pelo atrito das almas, no cadinho das provas remissoras a que ninguém poderá fugir, porque não basta adotar bons princípios, é preciso pô-los à prova na luta grandiosa da vida.

Escrevendo estas linhas, somos inspirados pela noção que possuímos da extrema gravidade do assunto aqui ventilado. Precisamos compreender que "orientação espírita" ainda não existe nem adentro dos lares espiritas, quanto mais das organizações espíritas, de qualquer espécie, que não podem pretender mais homogeneidade do que a dos lares...

Que o ardor das realizações externas não invalide o esforço da reforma interna, do exame atento de nós mesmos, das nossas tendências. As pepitas de ouro que o garimpeiro recolhe, no labor diuturno do seu progresso moral, ocultam-se-lhe na palma da mão, ao passo que a ganga dos mil interesses removidos, por encontrá-las, formam em torno montanhas. A sinceridade, o completo desinteresse do amor, apenas constituem, no mundo, ínfimas pelotas, para encontrar as quais tivemos de rejeitar montões de cascalhos de interesses transitórios. O mundo é ainda muito mau, muito enganador, muito insidioso. Todos os que não vivem dissimulando tendências e sentimentos mas arrostam de frente as imensas conveniências, os temerosos pontos de vista pessoais e sabem, por experiência própria, quanto às mais belas organizações terrenas, o próprio brilho de muita organização familiar, que passa por excelente, estão
vinculados a interesses transitórios, pontos de vista  econômicos - reinado de Mamon, em suma, que não aquele Reino de Deus, de que falava o Cristo - esses conhecem a profunda imperfeição que ainda impera na sociedade humana - e bem podem avaliar do profundo sentimento de dor experimentado por Jesus, ao proferir estas palavras, no dia seguinte ao da multiplicação dos pães: "Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comeste dos pães e vos saciastes. Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este selou o Pai, Deus". (João VI, 26 a 27).”

Sim, tudo façamos pelo bem do próximo, mas que o nosso trabalho seja executado sob o signo de Deus.            


terça-feira, 25 de julho de 2017

Moral Espírita


Moral Espírita
por Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Março 1942

Quando, à falta de princípios, a criatura humana desce à prática de todos os atos, contanto que com eles sacie os seus desejos e resguarde os seus interesses, tem atingido ao mais baixo grau de degradação e servilismo, praticando os mais abomináveis crimes de lesa-majestade divina. Infelizmente foi a este horrível estado de degradação moral que chegou a espécie humana: daí a guerra de extermínio.

As células do corpo se renovam e não estereotipam os sinais do pecado; mas (e isto é que convém saber e o Espiritismo -veio demonstrar), conserva-os indelevelmente o corpo perispiritual.

O incesto, o adultério, como o roubo, o assassínio, a calúnia não deixam estigmas nos órgãos materiais: por isso, os que os praticam julgam poder oculta-los secretamente e continuam a viver como se fossem criaturas honradas. Ai deles! - praticado o delito, grava-o o perispírito, para abrir mais tarde, segundo aquele estigma, uma chaga, um câncer, uma deformidade no corpo somático... e, pior do que tudo Isso, as chagas morais que o remorso produz nas almas, paralizando-lhes o surto progressivo, anestesiando-as, insensibilisando-as por longo tempo.

Guardar os princípios é da essência da religião. Ai dos que pensam poder eximir-se ao pesado fardo das mutilações e das grandes dores, porque sabem guardar discrição e conservar em absoluto segredo os seus atos que, conhecidos, seriam reprovados e os envergonhariam! Ai deles! Que valor deram às palavras do Mestre: "Nada há oculto que não venha a saber-se, nem secreto que não venha a descobrir-se"?

Portanto, se a caridade e a humildade são elementos essenciais à salvação, serve-lhes de traço de união a sinceridade, sem a qual não existe virtude alguma no fazer bem, nem no parecer humilde.

Claro que se tem de praticar atos secretos e fazer muita coisa às ocultas. O próprio Mestre recomendou que se praticasse a caridade de modo que a mão esquerda ignore o que faz a direita; mas, são, esses, atos que se justificam, que, em sendo conhecidos, nos dignificam.

Por isso, o bom princípio determina que sempre se pratique, às claras ou às ocultas, aqueles atos que a moral pode justificar - porque a moral é o selo divino, é a voz de Deus que fala em nossa consciência.

Assentemos essa regra de conduta e estaremos sempre com Jesus guardando fidelidade a nosso Pai Celestial e dignificando-nos a nós mesmos.

Não podemos dispor do nosso corpo senão na medida dos princípios morais que nos elevam aos olhos de Deus e nos dignificam. Magdalena bem assim o compreendeu, ao sentir o olhar puríssimo de Jesus penetrar-lhe o íntimo da alma e, porque o amava sinceramente, nunca mais chafurdou no vício e, se outras encarnações teve, foram todas de dor e de renúncia, purificadoras, portanto, daqueles dolorosos estigmas que lhe ficaram no perispírito. Entretanto Jesus lhe disse: "Porque muito amaste, perdoados serão os teus pecados." Jesus falou no futuro: "Perdoados serão os teus pecados". E Magdalena foi obtendo esse perdão, essa redenção, através de outras encarnações de sacrifício e de angústia íntima que culminaram, segundo a revelação, naquela em que, como Tereza de Jesus, pode para sempre ficar livre do pecado.

Estes princípios da moral espírita, longe de terem por esteio a autoridade dos concílios e quejandas convenções dogmáticas, se baseiam em aquisições positivas da ciência da alma, postas em evidência por experimentadores sábios e acima de toda suspeição. O paraíso prometido perdeu o seu caráter fantasmagórico, místico, para adquirir a eloquência da verdade. Longe de sofrer, por esse motivo, qualquer diminuição de valor, ganhou em refuIgência e brilho o que perdeu em superstição e convencionalismo. 


A felicidade, aqui ou em qualquer dos planos do infinito, com o estar Integralmente nas divinas claridades do Amor, subordina-se às leis da moral eterna, que consistem em ter límpida a consciência, puros os costumes. 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Nos Albores da regeneração humana


Nos albores
da regeneração humana

Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Janeiro 1972

            Um dos livros da magnífica série "Chico Xavier", intitulado "A Caminho da Luz", ditado por Emmanuel, em 1938, e nesse mesmo ano dado à publicidade, o autor, em seguida a um notável escorço doutrinário de História Universal, tira as suas acertadas conclusões, nos termos que vamos transcrever:

            "A realidade é que a civilização ocidental não chegou a se cristianizar." E continua, depois de demonstrar com fatos essa descristianização: "Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos "ais" do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a humanidade. O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua história; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos."

            Após observações tão elucidativas, passa Emmanuel a falar profeticamente: "O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do imenso rebanho. O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. Os filhos da Jerusalém de todos os séculos devem chorar, contemplando essas chuvas de lágrimas e de sangue que rebentarão das nuvens pesadas de suas consciências enegrecidas."

            Os horrores da guerra iniciada em 1939, um ano após a publicação das profecias de Emmanuel, justificaram plenamente as previsões desse Espírito Superior - e tal justificação deve assegurar-nos a validade das suas previsões, logo em seguida assim pronunciadas:

            "Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos. Todavia, os operários humildes do Cristo ouçamos a sua voz no âmago de nossa alma: "Bem aventurados os pobres, porque o reino de Deus lhes pertence! Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque serão saciados! Bem -aventurados os aflitos, porque chegará o dia da consolação! Bem-aventurados os pacíficos, porque irão a Deus!"  

            “Sim, porque depois da treva surgirá uma nova aurora", esclarece Emmanuel, exortando-nos a que, em seguida: "trabalhemos por Jesus, ainda que a nossa oficina esteja localizada no deserto das consciências. Todos somos chamados ao grande labor e o nosso mais sublime dever é responder aos apelos do Escolhido".

            E, concluindo: "Quando lá fora se prepara o mundo para as lutas mais dolorosas e rudes (como foram as da guerra de 1939/1945), devemos agradecer a Jesus a felicidade de nos conservarmos em paz em nossa oficina, sob a égide do seu divino amor." (O parêntese é meu.)


            Se o Espiritismo veio para cristianizar esta civilização, que dispõe realmente de tantos instrumentos de progresso e de divulgação, deve o materialismo perder o seu predomínio sobre as Ciências, voltando-se estas para o Criador do Universo, por elas completamente esquecido em suas investigações. É por esse superior motivo que temos especulado, ultimamente, sobre o aparecimento dos primeiros seres vivos na face da Terra. Mais uma vez, porém, repetimos: não pretendemos penetrar nos segredos da origem da vida, como o fazem os sábios materialistas, porquanto essa origem esconde mistério impenetrável, só conhecido por Deus. 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Origens...







            “Mais uma vez vai o homem desperdiçando as oportunidades de legítimo progresso. Mais uma vez a Clemência ilimitada do Senhor começa a se manifestar.

            Em meio ao materialismo devastador, que afasta o coração humano de Deus, erguem-se as ideias desse verdadeiro cristão que foi Jean Jacques Rousseau, com sua iluminada sensibilidade e seu profundo amor e fidelidade aos Evangelhos, em frontal contraste com seus antigos companheiros, a preparar os caminhos para o advento da Terceira Revelação da Lei de Deus. Nas páginas do romance pedagógico ‘Emílio’ estavam gravadas as ideias de luz que iriam influenciar todos os homens realmente sensíveis à obra de redenção humana, à verdadeira religião que é acima de tudo amor. No Contrato Social, Rousseau condena veementemente a intolerância entre os homens e prega o restabelecimento das ideias do Cristo como único meio de serem resolvidos os ingentes problemas sociais, salientando que "a religião do homem, sem templos, sem altares, sem ritos, limitada ao culto puramente interior do Deus Supremo e aos deveres eternos da moral. é a pura e simples religião do Evangelho, o verdadeiro teísmo e o que se pode chamar direito divino natural".

            O pensamento de Rousseau iria cair no coração de João Henrique Pestalozzi e exercer sobre seu espírito, exaltado e sonhador, bom e tolerante, uma extraordinária influência, incentivando-lhe a encetar sua obra revolucionária nos domínios da educação. Introduzindo notáveis modificações nos métodos de ensino, tendo sempre presentes as inspiradas palavras de Rousseau "A única lição de moral que convém à infância, e a mais importante para toda a idade, é a de nunca fazer mal a ninguém", Pestalozzi funda em Yverdun um dos mais notáveis centros de educação de que se tem notícia, abrindo suas portas para alunos do mundo inteiro, sem distinção de língua, raça ou credo religioso, dando logo de início, uma notável lição de universalismo e fraternidade, que iria marcar indelevelmente todos os seus discípulos.

            Convencido de que "a ênfase educativa deve ser posta sobre a espontaneidade natural do ser humano, que convêm preservar contra a corrupção social", ergue as bases da moderna pedagogia, associando severidade e amor, justiça e caridade, como qualidades essenciais ao desempenho das funções magistrais.

            No ambiente fraterno e doce de Yverdun é que vai se formar o espírito de Denizard Rivail, amado discípulo de Pestalozzi, a quem caberia a sacrossanta missão de codificar a doutrina Espírita, tarefa gigantesca que desempenhou com o maior acerto e dignidade, legando ao homem a explicação definitiva para todas as suas dúvidas a respeito do porque da existência e dos sublimes objetivos da vida material.”

por Nilton S. Thiago

trecho do prefácio do livro
 “O Conflito dos Séculos”
de Arnaldo S Thiago
 1ª Ed Lunardelli  1975 (?)


quinta-feira, 14 de junho de 2012

e. (e final) - Dos Princípios Incontroversos às Hipóteses Plausíveis



‘e’e final. “Dos Princípios Incontroversos
às Hipóteses Plausíveis”


2. A Hipótese da Morbidez Perispiritual

            Sendo a enfermidade um elemento de expiação ou de prova para o espírito Dependente de causas anteriores ou de negligências atuais, poder-se-ia admitir, especialmente no primeiro caso, que a sua sede é o perispírito: daí a eficácia da ação magnético-fluídica dos passes que vão constituindo modalidade terapêutica sempre e cada vez mais apreciável.

            A hipótese parece-nos plausível: mas necessário é não exagerarmos o conceito, ao ponto de levá-la a extremos inconsequentes. Sobretudo é preciso diferençar as causas remotas das enfermidades expiatórias, do imediatismo que revestem certos acidentes patológicos.

            ... O que se passa, no caso em apreço, é o seguinte, parece-nos: enquanto o homem permanece na fragilidade do pecado - índice incontestável de imperfeição espiritual - o seu perispírito não dispõe de energia fluídica suficiente para imunizá-lo contra as enfermidades endêmicas ou esporádicas, próprias do ambiente em que se encontre - e o homem tem o seu corpo físico acessível ao assalto dessas enfermidades. Vemos ai o imediatismo do acidente mórbido, condicionado, porém, às causas remotas da imperfeição do espírito, imperfeição que lhe não permite constituir um perispírito capaz de proteger eficazmente o arcabouço contra as doenças.

            Agora, o que se pôde, aceitar como regra geral, é que, quanto mais perfeito o espírito, tanto mais invulnerável o corpo, graças à energia perispiritual, a certas formas de doença, principalmente àquelas que, por sua incurabilidade, revestem caráter expiatório.

            Regra geral, dizemos, porque frequentes são as exceções constatadas. No que concerne à tuberculose, por exemplo, são de tal modo frequentes os casos em que vemos criaturas boníssimas acometidas do mal incurável, que se poderia afirmar constituir a tuberculose - a moléstia das pessoas de bom coração, como se dizia outrora, nos bons tempos em que os poetas cantavam desinteressadamente como os rouxinóis, constituir a moléstia característica dos poetas.

            Em nosso mundo, o aforismo - Mens sana in corpore sano é de aplicação muito relativa.

3. A Hipótese da Memória Perispiritual

            Outra asserção que se encontra nos tratadistas da doutrina, é a de que o perispírito possui a faculdade de conservar, como em um registro, a memória dos acontecimentos que o espírito presenciou ou dos fatos que ocorreram e de que foi ele protagonista, em sua passagem pela Terra, o que lhe permite a própria identificação, através das sucessivas encarnações planetárias e do estado de erraticidade na vida espiritual. Constitui esta hipótese um simples corolário da precedente, sob n." 1, isto é, a do "eterno perispírito".

            A memória é, sem duvida, o quid divino, sem o, qual não existe individuação possível. A perda total e permanente da memória constituiria, fosse tal coisa suscetível de dar-se, o não ser, isto é, a verdadeira morte, o nada para o homem. Conceder esse atributo ao perispírito, seria deslocar para, este o sentido espiritual do ser, a personalidade humana em sua essência eterna, ainda que obscurecida pela matéria, mas de cuja existência pode-se ter perfeito conhecimento, como disseram os espíritos a Allan Kardec, pelo pensamento. (1)

            (1) "Livro dos Espíritos', pág.9, nº 26:
             P. Podemos conceber o espírito sem a matéria e a matéria sem o espírito?
            - R.  Sem dúvida, pelo pensamento",

            Queremos crer que a confusão resulta de se desdenhar, na pesquisa das causas primárias, no que concerne ao homem, o fator sentimental, emotivo, esse imenso repositório da vida espiritual, que o intelectualismo de um lado e, de outro, os prejuízos de toda ordem das diversas escolas e, sobretudo, as exigências do viver carnal, substituem pela existencialidade terra a terra, do homem.

            Entende-se, talvez por isso, que o Espirito, sem matéria alguma, seria uma abstração: daí a permanência eterna do perispírito, como o entendem alguns filósofos e o deslocar-se o atributo essencial da memória para esse revestimento de matéria fluídica, sem o qual pretende-se que o Espirito seja apenas uma abstração. É reduzir muito as faculdades superiores com que Deus dotou o homem!

            Mas, indaguemos, há ou não há o Espirito? A própria teoria que o considera abstração desde que não se ache unido ao perispírito, nada mais estabelece do que a existência da pura personalidade espiritual, pois para que alguma coisa esteja unida a outra, é necessário, fora de dúvida, que tenha existência real.

            Ao nosso ver, o que há é um defeito de conceituação (do Espiritismo dentro do Materialismo). que convém corrigido a tempo de evitar deturpações da Revelação Espírita, por acréscimos contraproducentes ao que nos disseram os mensageiros de Jesus e cuja extemporaneidade retrógrada faz recuar os princípios da Revelação a uma fase de reação psicológica do materialismo científico contra o dogmatismo religioso, fase já vencida e ultrapassada pela humanidade. 

            A incompreensão do que seja um Espírito, em sua essência divina, já não existe mais senão para os que teimam em formar a sua cultura espírita à luz do extremado Racionalismo que ainda em nossos dias predomina nas classes cultas.

            Precisamos, porém, não confundir as épocas. Esse racionalismo foi necessário, para vencer a opressão da fé dogmática,  esse credo quia absurdum que serviu para o cerceamento das consciências. Pode ainda convir aos que se deixaram galvanizar nos princípios da escola que teve por única missão arrancar o domínio das almas das mãos da igreja, tornada incompetente para o ministério sagrado de educadora da humanidade, desde o instante em que deixou de servir ao Cristo para entregar-se ao serviço de Mamon. Mas os que evoluíram com o Espiritismo, os que fizeram a sua educação nos moldes do Espiritismo Evangélico, procurando encontrar o espírito que vivifica, a fim de se nortearem por ele, separando-o da letra que mata, esses não tem dificuldade em sobrepor-se aos dogmas que a ciência sobrepôs aos da igreja e, iluminados pela Fé viva que desperta o sentimento nas almas, conhecem o Espirito, conhecem-se a si mesmos como entidades livres em sua essência espiritual, que as imperfeições morais podem escravizar acidentalmente à matéria, em qualquer dos seus grãos, mas cuja libertação definitiva um dia chegará!  

            Que seria feito, nesse dia, do ser eterno, indestrutível - do Espirito - se a memória constituísse apanágio do perispírito?

            Seria a perda da individualidade, porquanto, extinto o perispírito, sede da memória (conforme a hipótese que estamos contestando), extinguir-se-ia com ele o espírito. Absurdo, arquitetado por um panteísmo de nova espécie, decorrente de um esforço extemporâneo para explicar fenômenos que apenas podem ser, pela inteligência humana, constatados, porque evidentes.

            A memória é atributo exclusivo do Espirito.

            Simples palavras, dirão os nossos irmãos ainda aferrados ao racionalismo. E nós lhes daremos a resposta do Cristo, quando falava a Nicodemos: "Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?" (1)

            (1) João, cap. 3, vers. 12.

            Os espíritas que seguem a Jesus, quer leiam Kardec ou estudem Roustaing; inundem os cérebros de cultura cientifica ou se deixem ficar na penumbra silenciosa da prática da caridade; esses, não têm, entretanto, o direito de dizer que lançamos palavras ao vento.

            Meditem profundamente, sobre o que acaba de ser exposto, os nossos companheiros de lides doutrinarias. Escrevemos depois de haver perlustrado muitas páginas de obras espíritas, de tratados de metapsíquica, de hipnotismo; depois de longos entretenimentos com espíritos de diversas categorias, em um quarto de século de trabalhos humildes em humildes oficinas de Jesus, onde se preza a inteireza da consciência; depois, também, de termos exercido a mediunidade que, além de ser uma porta aberta para o mundo admirável dos fluidos, é uma pequena, minúscula ogiva rasgada no templo da Verdade, acessível ao homem, para o infinito do mundo espiritual.

            Por essa minúscula ogiva tem subido a nossa alma para o seio de Deus, em momentos, para nós memoráveis, de nossa vida humilde - os momentos das supremas eclosões da alma, quando os olhos inundam-se de lágrimas, a prece evola-se do tabernáculo da alma e do complexo humano, em um rápido instante, apenas fica lugar para a vibração íntima e profunda do Espírito.

***

            O que se disse com relação à memória, é aplicável a quaisquer outras faculdades permanentes do Espirito, que possam porventura ser atribuídas ao perispírito.

            A confusão resulta dos estreitos limites em que se confinam estudos concernentes a fenômenos de suma transcendência, como esse de que acabamos de tratar.

            Circunscrever tais estudos ao nosso plano, ao plano material, pela necessidade de lhes aplicar os nossos métodos de indagação objetiva, não é nada recomendável.

            Admitimos que, uma vez constatada a existência do perispírito, a ele se reportem as nossas pesquisas, respeito às manifestações que transcendem o mundo visível, palpável, da carne, em que nos achamos soterrados: como as do mediunismo, por exemplo.

            Essa constitui uma nova etapa, de alvissareiras perspectivas, para as indagações de ordem científica. Mas a razão nos diz, a Fé no-lo afirma, Jesus nos ensinou que não é um término do descortino intelectual.

            "Vós procurais o perispírito, disse certa vez um pensador do plano invisível; nós procuramos o Espírito".

            Este o caminho que nos foi aberto por Jesus. Para percorrê-lo é preciso ter fé. "Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis isto à figueira, mas até se a este monte disserdes: Ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito". E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis. (1)

            (1) Mateus: Cap. 21 – Vers. 21 e 22

            Cultivemos a virtude da Fé e obteremos a certeza da Pura Espiritualidade -- alvo bendito a que todos nos destinamos pela Vontade de Deus.



por Arnaldo S. Thiago

Conferência realizada em 1º de dezembro de 1940
no Centro Espirita "Discípulos de Samuel"

inAo Serviço do Mestre”    (Ed. FEB 1942)

FIM