Falências...
por Arnaldo S. Thiago Reformador (FEB) Março 1943
De tal modo se radicou, mesmo, nos ânimos
essa ideia de generalizada falência, que um dos mais conspícuos e intrépidos
cultores do Espiritismo, o nosso grande amigo Leopoldo Cirne (que, hoje, podendo
melhor ouvir-nos e perscrutar o nosso íntimo, bem pode avaliar a estima que lhe
consagramos) não trepidou em dar ao seu último trabalho – “O Anti-Cristo, Senhor
do Mundo” - aquele subtítulo perfeitamente desastroso e de todo inconsequente –
“A Falência do Espiritismo”!
Regra geral, isto sim, o homem faliu
em face do Cristianismo: faliu como intelectual, como estadista e como
religioso. Mas, deduzir-se dessa dolorosa constatação que possa ter falido o
Espiritismo, que é, sem dúvida, o Cristianismo restaurado em sua pureza, não é
possível, nem justo.
Os ouropéis de uma civilização
abastardadora do caráter simples e sincero, que lhe devera ter inspirado a
Doutrina do Cristo, é que engendraram a falência dos homens, reduzindo-os a uma
situação de cativeiro infamante, de que nem sequer tentam libertar-se, porque a
sua libertação implicaria grande esforço para se purificarem e desprenderem de hábitos
rotineiros em que se comprazem todos, porque lhes fala mais alto aos sentidos
essa modorra da consciência, do que à alma os clamores da mesma consciência,
entorpecida por séculos de vida hipócrita e contaminada de abjeções tremendas.
A ninguém, por isso, é possível
prever as consequências do desmoronamento universal desta civilização edificada
sobre o alicerce de fórmulas convencionais, tão contrárias à índole do Cristianismo,
que aos próprios espíritas é sobremodo difícil vencer as dificuldades que se lhes
deparam na prática da vida, para viverem de acordo com os princípios que
sinceramente professam! Horresco referens! (tremo ao conta-lo!)
Mas, por misericórdia de Deus,
jamais se verificará a falência do Espiritismo - porque não é ele de estrutura
humana e sim espiritual, isto é, os seus mentores são Espíritos livres das
convenções sociais, que no momento oportuno sabem dizer as coisas como as
coisas são e jamais como as aconselha a exigência do bom-tom e da harmonia fraterna
- rotulagem triste com que se disfarçam personalismos presunçosos, a se
apresentarem como garantes únicos das boas diretrizes doutrinarias ortodoxas.
Devemos estar precavidos, pois que
não podemos saber de que modo e a que horas chegará aquela justiça, aquele
poder que surge subitâneo como o raio, no próprio dizer do Evangelho. O que é verdade
é que a Civilização se contorce nas dores de um parto decisivo, de que nascerá
para o Mundo ou um ciclo luminoso de conquistas alcandoradas do espírito
humano, ou um doloroso ciclo de decadência (que seria simples repetição da História,
aliás sempre a repetir-se) para expiação mais longa e profunda dos grandes
crimes e dos pecados tremendos que, em geral, os homens estão a praticar destemerosamente,
desde que se imaginaram os únicos competentes para lavrarem as suas próprias sentenças
condenatórias ou absolutórias. Deus apenas deve assistir, impassível, ao desenrolar
dos acontecimentos, dizem eles.
E o Cristo continua, do alto da cruz, a suplicar: “Pai,
perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem.”
O homem faliu, evidentemente em face
da Lei Moral, do eterno Código divino. Mas, o Espiritismo, restaurador do puro
Cristianismo, jamais falirá. Por amor do Cristo, irmãos, façamos um supremo esforço:
unamo-nos, amando-nos, tolerando-nos, respeitando-nos e procurando amparar-nos
reciprocamente, para que as nossas falências sejam reparadas e possamos todos
voltar, humildes e arrependidos, ao redil das ovelhas do Mestre, pois que a falência
não é somente de um, é de todos.
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