Incompreendidos
por Ismael Gomes Braga Reformador (FEB) Janeiro 1964
Sobre a vida e a obra de William Shakespeare têm-se escrito bibliotecas em diversas línguas de cultura. Elevam-no hoje à culminância dos maiores filósofos e moralistas de todos os tempos. Ninguém soube pintar em cores tão vivas os vícios, as virtudes, as paixões e emoções humanas. Suas personagens têm vida vigorosa e arrebatadora.
Dentre os famosos escritores que escreveram
biografias de Shakespeare destaca-se Victor Hugo, que lhe consagrou alentado
volume de 350 páginas de formato grande, escrito em 1864, há quase cem anos,
portanto. Desse livro de Victor Hugo colhemos preciosas informações sobre a
campanha da ignorância e do ódio que foi movida durante mais de um século contra
o poeta inglês que morreu em 23 de Abril de 1616, deixando sua obra em manuscritos,
somente representada no teatro de seu tempo. O único livro que fora impresso
nos últimos dias de vida do poeta, numa edição de trezentos exemplares, não
teve aceitação. Dele só se venderam em 50 anos 48 exemplares e um incêndio em
1666 devorou os excedentes 252.
Só mais de um século depois de sua
morte, Shakespeare começou a ser compreendido e desde então vem crescendo
sempre no conceito de todos os povos e suas personagens, semelhantes ao deus da
mitologia entraram para todas as literaturas como símbolos das paixões humanas,
boas e más, como ideais a se alcançarem ou defeitos a serem corrigidos. Recentemente
corria os grandes cinemas do Brasil uma de suas tragédias - “Otelo” - em
grandiosa montagem feita na União Soviética.
Porque três gerações de intelectuais
combateram Shakespeare, conseguindo deixá-lo no olvido universal por mais de
cem anos? E porque a Inglaterra foi o último país a compreendê-la? Pois que ele
só ressurgiu na Inglaterra quando já era cultivado em outros países.
Seu êxito no palco desencadeou
contra ele a inveja dos intelectuais de sua
terra, e a geração seguinte, que não o conhecia, porque seus livros não haviam
sido publicados, continuou o combate, por ouvir dizer, porque era moda combater
sem conhecer. Foram apenas aqueles 48 exemplares salvos do incêndio que o
revelaram ao mundo, porque chegaram a gerações mais adiantadas e sem
preconceitos e despertaram o interesse pelos velhos manuscritos esquecidos, mas
providencialmente conservados.
Fato semelhante está acontecendo com Kardec.
Combatido pelos intelectuais das
igrejas e pela arrogância do materialismo universitário, Kardec é desconhecido
em quase todas as grandes línguas do mundo, e nas três línguas em que são
impressos seus livros – francês, português e espanhol (*) – não teve ainda o apoio das igrejas
e das universidades.
O Espiritismo é tratado – sem conhecimento algum, senão
o de ouvir dizer – como simples superstição; mas isso não importa, porque as
mesas girantes, que impressionaram a Kardec, já no ano de 371 (1433 anos antes
do nascimento de Kardec!) levaram à barra do Tribunal um médium chamado
Hilário, que foi solenemente decapitado por como feiticeiro. Devemos esta
informação ao livro de Victor Hugo – “William Shakespeare” – página 94 da
edição brasileira de 1944, da EPASA.
Os fenômenos em que se baseia Kardec
são de todos os tempos e é inevitável que terão de impor-se a toda a Humanidade
e virá o dia em que a obra de Allan Kardec será estudada por toda a gente com o
amor e o respeito com que se estuda a Bíblia.
Por mercê de Deus, existem mais de
48 exemplares aguardando amadurecimento das inteligências para a
universalização de Allan Kardec.
Por enquanto, o materialismo está
dominando, mas virá afinal o desencantamento pelas conquistas puramente
espirituais, porque “nem só de pão vive o
homem”. Ele tem anseios puramente espirituais, intuição de uma vida fora da
matéria, e ressurgirão sempre as inquietantes interrogações sobre “o problema
do ser, do destino e da dor”.
Kardec pode esperar pacientemente,
como está esperando o Evangelho, igualmente ainda incompreendido pelos
“grandes” da Terra. Igrejas e universidades passarão, mas a Verdade eterna não
passará.
(*) Da equipe do Blog: Estamos encantados com o contínuo crescimento dos acessos ao blog com origem nos USA. Isso, se considerarmos que, conforme escreveu o autor deste artigo, há pouco mais de 50 anos não tínhamos exemplares da Codificação Kardequiana traduzidos para o inglês.
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