Emmanuel por Porto Carreiro Neto
Reformador
(FEB) Março 1949
Amigo,
Não estejamos a ingerir-nos em o que
não nos toca, mas empenhemo-nos em o que nos concerne. Muitos problemas há, que
não nos cabe resolver. São transcendências para nós, que mal enxergamos no
grande oceano de nossas poucas faculdades e muita ignorância. Busquemos estudar
o círculo em que nos debatemos, antes de procurar ultrapassá-lo; baste-nos esse
círculo, que já é imenso para nossa pequenez. Olhemos em torno, e veremos
quanto há que fazer. Sobram-nos problemas de como havemos de vencer a nós
mesmos. Lutamos nas canseiras do desespero e da incompreensão, ansiados por
libertar-nos desse círculo de ferro em que nos aprisionamos, enclausurados numa
cegueira que nos furta a visão de maiores grandiosidades. Reconheçamos nossa
mesquinhez dentro dum Universo infinito. Vejamos nossa miséria olhando a nós
mesmos, empecidos
(dificultados)
os passos na áspera via
do progresso, enquanto nos é fácil o torvo caminho das paixões. No altar divino, do Senhor Nosso que é
longanimidade, sacrifiquemos a jactância (arrogância) e toda sofreguidão de transcender
nosso minúsculo âmbito de conhecimentos. Repito-te: pesquisemos esse círculo,
que muito já estudaremos e muito alcançaremos. Saibamos compreendê-lo, que ele
se dilatará; e então, sem dele sairmos, verificaremos que os horizontes recuam.
A Natureza é infinita; a cada qual é concedida uma parte, e a parte primeira é o nosso mundo interior. Quem somos? É o indivíduo um complexo tão grande, que pudéramos dizer ser ele uma Obra-prima da Criação de Deus. Nele se enfeixa tudo quanto o Senhor criou de belo. Mas o homem se incorpora as mais negras vilanias (mesquinharias), que empanam (dificultam) a virtude maior - O Amor; tece em torno do raio divino a névoa mais densa e caliginosa (tenebrosa). Onde exuberaria a grandeza, reina a sordícia (sordidez); onde estrugiria (ecoaria) a sublimidade, dorme pesado sono um abismo asqueroso. Como há de, então, embevecê-lo o fulgor das estrelas, se vive na sombra; como enlevá-lo a harmonia, quando é paradoxo e contraste em si mesmo; como extasiá-lo a maviosa linguagem das aves, quando a sufocam os sinistros urros de fera?
Estudemo-nos a nós mesmos, na maravilha da Criação. As
leis universais em nós mesmos se enquadram e a nós próprios se aplicam. O
equilíbrio que governa o Universo em nós se faça, para não negarmos que somos
realmente obra do Arquiteto insuperável. Então, expungir-se-ão (desaparecerão) de nós o egoísmo e a megalomania:
viveremos em nós, mas não para nós; e, não ultrapassando a nós, encerraremos,
por isto mesmo, a grandeza da Criação.
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