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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Tarefas

Tarefas 
Guillon Ribeiro
por Júlio César Grandi Ribeiro
Reformador (FEB) Dezembro 1976

            Estamos convictos de que a Doutrina Espírita, se nos favorece o engrandecimento do coração no cadinho das experiências vividas, igualmente nos enseja a exaltação da inteligência, situando-nos entre o estudo e a meditação a fim de que a sabedoria nos inspire a seleção dos valores morais que iluminem o Espírito.

            Assim, mobilizemos razão e bom senso, verificando nosso posicionamento nas lides espiritistas, de forma a valorizar o tempo em nós, ante as realizações que realmente nos competem.

            A acomodação ao empirismo entremeado de êxtases do sentimento não se coaduna com a hora presente, a exigir reflexão e amadurecimento que estabelecem transformação de base.

            O coração que se identificou com a grandiosidade do vero Cristianismo, recolhendo os favores da Boa Nova, convocará, de imediato, o concurso do cérebro para que a razão, trabalhando, venha contribuir com a argamassa do bom senso nas estruturas sólidas das convicções legítimas.

            Não podemos compreender Doutrina Espírita sem estudo continuado e perseverante, como jamais entenderemos espiritistas sem tarefas determinadas no grande movimento de renovação de almas.

            Trabalho é a senha abençoada dos que efetivamente escancaram as portas do coração a Jesus, desejosos de perpetuar em si mesmos as claridades esfuziantes da fé. E fé sem obras representa caos, estagnação, fragilidade.

            Estamos, na vida, convocados a aprender e ensinar, simultaneamente, abraçando responsabilidades do dia-a-dia a fim de participarmos das imperecíveis conquistas da sabedoria e do amor.

            Repara, contudo, que a obra da natureza, refletindo a sabedoria do Pai, nos convoca à especialização de tarefas, tendo em vista a ampliação dos resultados.

            O Sol encarregou-se da luz e da energia, conduzindo-se ao trabalho de sustentar a vida com o calor de seus raios fecundantes.

            O solo aquiesceu aos encargos de nutrição da semente, para que o vegetal se dirigisse à produção do alimento.

            E as árvores se agruparam em espécies distintas, trazendo seus frutos sazonados ao grande celeiro da existência comum.

            Há ordem nos céus e disciplina na Terra, favorecendo a mensagem do equilíbrio nas leis da natureza.

            Posicionemo-nos como servidores leais do Cristo na seara da Terceira Revelação, abraçando responsabilidades nossas, certos de que não há tarefas maiores ou menores. Todas dignificam o obreiro do bem e da luz ante a sublime essência com que se revelam.

            O movimento espiritista, que cresce para vantagens do mundo, está a exigir cooperação especializada, objetivando os fins desejados na evangelização do Homem.

            Depois da primeira hora, aquela do despertamento para as realidades do existir, será indispensável vivermos a cooperação enobrecedora, evitando esbarrar com os impedimentos do fanatismo ou da contemplação extasiada.

            Produziremos efetivamente melhor, segundo os potenciais de nossas especializações. A mediunidade reclamará disciplina e adestramento, matriculando o servidor legítimo nos campos de sua especialidade fenomênica.

            O esclarecimento doutrinário eficiente requisitará o concurso da palavra enobrecida no vernáculo escorreito e iluminada pelo sentimento nobre que jamais se omite de reforçar o que ensina pelos potenciais do exemplo.

            A evangelização de crianças e jovens contará com a participação de servidores adestrados na arte de ensinar e transmitir, que buscarão atualizar-se, permanentemente, reconhecidos de que a obra de orientação humana exigirá devotamento e circunspecção.

            Os serviços de auxílio espiritual, seja na tarefa do passe ou na distribuição de água fluidificada, preconizarão o concurso dos doadores do magnetismo curativo.

            A obra da divulgação da Doutrina, seja por qual veículo se expresse, exigirá colaboração dedicada e eficaz, quer pela palavra falada, quer pela mensagem escrita, objetivando os fins a que se propõe.

            O serviço social, mobilizado em nome da caridade, convocará especialistas da assistência fraterna para as oficinas do socorro justo, onde mãos diligentes refulgirão por estrelas de fraternidade e devotamento .

            Não se agaste ante o tempo que jamais ousaremos ludibriar.

            Recorde que a tarefa nobilitante será, agora e sempre, o melhor antídoto contra as aflições que enxameiam o mundo.

            Bater às portas da Instituição Espírita para receber é ocorrência da primeira hora de nosso despertamento. Porque somente o trabalho cooperativo será o incansável buril, restaurando-nos o equilíbrio interior.


            Identifiquemo-nos com a tarefa individual que nos compete desenvolver, enquanto o Mestre Excelso estará dirigindo as realizações coletivas, que demarcarão na Terra os alicerces indefectíveis do almejado Reino do Senhor. 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Devotos de Superfície



                                   "E eu rogarei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco." Jesus (João, 14:16).

            A Doutrina Espírita, em sua destinação de Consolador Prometido, apresta-se, diante da Humanidade, em atendimento ao seu desiderato, abraçando a responsabilidade histórica na marcha da civilização.

            Não se detém unicamente particularizando conforto e consolo, socorro e estímulo aos encarcerados nas dores dos resgates indispensáveis. Descerra às criaturas os infindáveis campos  da renovação interior, na lavoura do apoio recíproco e da fraternidade verdadeira, promovendo, intensamente, o conúbio de forças dos dois planos da vida, num sintomático e decisivo apelo ao Amor.

            Paulatinamente, a Revelação Espírita desdobra-se em informações e ensinamentos dosados e adequados aos nossos níveis de compreensão e maturidade.

            Instrutores do Infinito Bem, apóstolos da perfeição moral, benfeitores da luz divina integram-se no mesmo afã evangélico de lastrear os caminhos humanos com a palavra do bom ânimo e da transformação para melhor.

            O ensino espírita faz-se respeitado no seio das comunidades, pela contínua atualidade de seus conceitos quanto pelo acervo inalienável de seu patrimônio educacional.

            Lamentavelmente, entretanto, temos observado que dilatado número de corações abeira-se da fonte conservando os odres vazios...

            Impulsionados, muitos deles, pelos dolorosos acicates do sofrimento, encontraram o bálsamo para suas chagas íntimas, postando-se, ainda hoje, de mãos estendidas e corações súplices, quais indigentes da viciação sistemática, que abarrotam os saguões de instituições socorristas terrestres. Mostram-se incapazes de refletir e raciocinar; porém, são ávidos em receber.

            Outros, quais frágeis avezinhas pressentindo o sopro das adversidades, pousaram suas esperanças nos troncos robustecidos do amparo moral que a Doutrina a todos proporciona e aquietaram-se, quais filhotes implumes, à espera do alimento pronto, sem a mais leve intenção de reanimarem-se para as realidades do esforço próprio. Louvam a excelência do amparo dos Benfeitores Celestes, embora não se distanciem da inércia espiritual onde se acotovelam.

            Outros mais, que se achegaram aos esteios luminosos do Espiritismo, quais cigarras estonteantes de entusiasmo e gratidão ante a fenomenologia abundante e convincente, experimentam as vacilações da fé passageira que não recebeu senão as insuflações das primeiras horas, satisfazendo-se, tão-só, à tepidez do arrebol, em observações de superfície, sonegando o imprescindível apoio à fornalha da razão pelo exercício do estudo sistematizado. Cantaram louvores à imortalidade comprovada, contudo, deixaram-se cair, exangues, incapazes de pressentir, na ação do tempo, as vizinhanças do inverno na alma.

            Quantos espíritas ainda não se dignaram adentrar o vasto campo do conhecimento que a Doutrina lhes oferece, pervagando, indiferentes ou tumultuosos, entre as superficialidades do trivial e do passageiro! Há de lhes chegar o momento grave, quando difícil abatimento ou decepção lhes espicaçará a tibiez espiritual que os impediu à boa marcha, sob o império da vontade resoluta, no estudo e no conhecimento das verdades superiores.

            São eles os devotos de superfície, desejosos de se repletarem nos favores imediatistas.

            Os celeiros do Espiritismo estão abarrotados, sim, de consolo e de esperança, de estímulo e de bom ânimo, trazendo, igualmente, as advertências em torno do valor do tempo e das oportunidades que a vida nos confere, para que nos fortaleçamos no conhecimento e na sabedoria que nos equilibrarão, frente ao amor, para os Cimos da Vida.

            Quem adia o esforço pessoal na dinâmica das horas não assimilou, por enquanto, a verdadeira noção do tempo.

            Temos os espíritos ainda tão carentes de entendimento e disciplina, quanto reconhecemos nossas organizações somáticas necessitadas de pão.

            Aprofundemo-nos na Doutrina Espírita, valorizando, em nós, as bênçãos do livre-arbítrio em nome do estudo enobrecedor que nos alimenta os espíritos.

            O passe ser-nos-á valioso auxílio de refazimento e alívio; a água fluidificada será o veículo propício aos benefícios suscitados em preces; as notícias dos familiares ou amigos domiciliados no além arregimentar-nos-ão júbilos espirituais e trégua às saudades lancinantes; a orientação medicamentosa nos proporcionará justo alívio à enfermidade pertinaz; o núcleo assistencial surgira a nossa frente como indispensável oficina de adestramento de corações; mas, tudo isto não passará de recursos de superfície, se o espiritista, cônscio de seus deveres fundamentais diante da vida, não enriquecer o mundo íntimo no conhecimento indispensável e sustentador.

            Não se pode substituir a cirurgia enérgica por paliativo de barbitúricos intoxicantes, quando a extirpação do mal é indispensável ao equilíbrio físico. O bisturi fará a assepsia definitiva onde a droga é impotente para agir. De igual modo, não poderemos adiar o aprofundamento na instrução espírita, reconhecidos de que somente o esforço próprio, despendido no estudo e na meditação eficaz, nos removerá os óbices à nossa saúde integral... E o Livro Espírita aí está, como instrumento oportuno do Consolador Prometido, qual fórceps sublime, desentranhando-nos das sombras de nossa mediocridade evolutiva para os luzeiros da consciência esclarecida, sob a escolta do coração operoso.

Devotos de superfície
Guillon Ribeiro
por Júlio Cezar Grandi Ribeiro

Reformador (FEB) Março de 1977

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

E Depois!?!



E depois?!..

Guillon Ribeiro (Espírito)
por Júlio Cezar Grandi Ribeiro
Reformador (FEB) Fevereiro 1978
  
            Em diversas oportunidades, temo-nos referido ao esforço solidário dos componentes da Instituição Espírita, como prerrogativa de êxito e crescimento de realizações.

            De fato, quando predomina o espírito de equipe estruturado, fundamentalmente, na fraternidade e na compreensão, na tolerância e na renúncia, a união de todos presidirá o trabalho progressivo e enobrecedor.

            O Grupo, então, caminhará em suas destinações, indene de embaraços e desencontros, personalismos e melindres.

            Enfatizamos, desta feita, o funcionamento do Centro Espírita com base na formação de grupos de tarefeiros que se especializem, com tempo e perseverança, nas diversas atividades inerentes aos objetivos precípuos da comunidade religiosa.

            A descentralização administrativa proporciona, decerto, o surgimento de novos valores nos domínios da cooperação fraternal.

            Alertamos, assim, nossos companheiros de fé quanto à crise iminente das Instituições apoiadas tão só no devotamento e dedicação de equipe reduzida de operários idealistas, principalmente quando chegam ao extremo de se firmarem sobre um único elemento condutor.

            Seja o médium com apostolado no Bem, seja o administrador com fidelidade ao ideal, seja o pregador com exuberância de luz na palavra, seja o líder do serviço social com ampla folha de serviços, jamais o Grupo Espírita deve caminhar sob o comando de um único elemento, ainda que excelente distribuidor de tarefas com os diversos aprendizes do Evangelho, conservados tíbios e inseguros ante o excesso de diretividade.

            As surpresas do inevitável, muita vez, têm proporcionado a núcleos bastante operosos, quão prósperos, o definhamento de suas realizações, a paralisação da marcha, o esvaziamento da célula produtiva, ombreando-se com o total despreparo dos que permanecem na retaguarda das comunidades cristãs.

            Não devemos favorecer a solução de continuidade em nossas realizações espíritas.

            Imprescindível reconhecermos que nem mesmo Jesus se exonerou do concurso de colaboradores prestimosos na divulgação da Boa Nova.

            Convocou participantes solidários com a renúncia e o devotamento ao próximo, instituindo o colegiado apostólico que abraçaria, com êxito e fidelidade, os compromissos evangélicos.

            Acentuou, junto a cada servidor de perto, tarefas específicas segundo as potencialidades de seus corações.

            Em diversas ocasiões, ocupou-se o Mestre em convocar Simão Pedro, Tiago e João a maiores observações e aprendizado, conclamando-os a escutar e entender, ver e sentir para servir com êxito dentre o grupo dos doze.

            Paulo, o cooperador póstumo, vislumbrou a Luz Divina, na estrada de Damasco, para, em seguida, ser encaminhado a responsabilidades e testemunhos na comunidade evangélica, ao lado de outros corações não menos enobrecidos no amor. A partir de então, de tempos em tempos, os séculos receberam a visita dos auxiliares de Jesus na obra de defesa e perpetuação de seu Evangelho no mundo.

            Observando o precioso exemplo do Mestre por excelência, defendamos as Instituições Espíritas do aniquilamento de suas mais nobres destinações perante a ausência de seus pilares de responsabilidade e desvelo, convocados, subitamente, ao regresso à Pátria Espiritual.

            Muitos dirigentes e diretores de Centros Espíritas têm amargado remorso e arrependimento no retorno ao mundo das realidades essenciais contemplando, a distância, seus continuadores na Causa desertando, ante os encargos que lhes ficaram, por incapacidade de servir ou por inexperiência na adoção de compromissos maiores junto ao movimento renovador.

            Alertemo-nos, assim, preservando nossos núcleos espiritistas da condenação peremptória ao estiolamento ou destruição por falta de cooperadores ciosos de seus encargos.

            Tarefeiros do Bem não se improvisam de hora para outra. Surgem ao longo da experiência e participação, sob o apoio afetivo e estimulador da equipe enobrecida no trabalho fiel.

            Defender o patrimônio espírita é ação que principia na fraternidade universal para ampliar-se no reconhecimento de que o dono legítimo da obra é Nosso Senhor Jesus-Cristo.

            Cada um de nós, no aprendizado eficiente, simples servidor do Mestre, matriculado na escola da Terra, sob as vistas do Tempo, que, de momento para outro, nos convocará ao retorno Pátria Verdadeira.

            Sem plasmar trabalhadores para a obra erigida agora, que sucederá com ela depois?


Resultado de imagem para guillon ribeiro espiritismo imagens Guillon Ribeiro
Júlio César Grandi     Resultado de imagem para julio Grandi espiritismo imagens



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Grupos Mediúnicos



Grupos mediúnicos

Guillon Ribeiro (Espírito)
por Júlio Cezar Grandi Ribeiro
Reformador (FEB) Junho 1977

            A mediunidade é comparável a sublime talento que o Senhor concede às criaturas no mundo, responsabilizando-as com o dom de auxiliar e servir, amar e compreender.
           
            Não se trata de privilégios dos espíritas, nem apanágio do Espiritismo, conquanto, na atualidade, somente a Doutrina Espírita se veja melhor capacitada para compreender a mediunidade em suas sublimes destinações de porta-voz dos céus na orientação dos destinos humanos. Por isto mesmo, prescreve lhe todo um roteiro de atividades enobrecedoras pela cristianização do homem e redenção do mundo.

            Obviamente, a organização de grupos mediúnicos é desiderato natural das Instituições Espíritas, voltadas para a ação integral de seus deveres precípuos nas comunidades onde se acham implantadas.

            O intercâmbio salutar com o mundo espiritual representa célula de inestimáveis realizações onde a caridade, pontificando, vivifica o "amai-vos uns aos outros".

            Ampliar os recursos mediúnicos, sob a inspiração de Jesus, congregando cooperadores para o socorro justo aos semelhantes em dificuldades, significa, por certo, dilatar, nos corações, os anseios espontâneos de servir.

            Importa considerar, entretanto, que se o Grupo Mediúnico funciona qual campo de pouso dos Emissários da Luz, não deixa de ser, também, o pronto-socorro para atendimento fraterno a Espíritos aflitos e sofredores requisitando auxílio de urgência. Se estes comparecem às reuniões específicas à feição de indigentes espirituais, inadaptados que se encontram às novas condições de vida, os primeiros nos visitam por amor, inspirados nos mais amplos misteres da caridade.

            São eles os pastores incansáveis do Bem, arrebanhando ovelhas tresmalhadas do divino aprisco e conclamando os encarnados ao zelo e vigilância imprescindíveis aos serviços com o mundo espiritual.

            Certo, os espíritas conscientes não desconhecem que a mediunidade traduz exaustiva oficina de provação e renúncia para os que a recebem em favor de sua redenção. Mas, via de regra, negligenciam, sonegando à tarefa aquela contribuição equilibrada e diligente.

            Aos grupos mediúnicos não bastam horários rígidos, estabelecidos a portas fechadas em nome da disciplina, demarcando início e término dos encontros regulares com o plano espiritual. Também, não são suficientes as regras de conduta, impostas aos seus frequentadores, como garantias de eficiência no relacionamento salutar entre os dois planos da vida.

            Disciplina e estudo, vigilância e equilíbrio, moralidade e devotamento estarão, naturalmente, nas bases de toda realização da mediunidade. Imprescindível, porém, será promover no grupo a verdadeira consciência espiritista, esta que determina sem constranger, alerta sem magoar, convoca sem oprimir, esclarece sem melindrar responsabiliza sem cercear a liberdade que favorece a seleção de nossos caminhos segundo os ditames do livre-arbítrio que direciona destinos.

            Quando o agrupamento mediúnico prossegue às expensas da vigilância de reduzidos companheiros inclinados, por circunstâncias várias, a policiar comportamentos dos demais cooperadores encarnados desprovidos de suficiente maturidade para os encargos do serviço nobre, desgasta-se no tempo, cresta-se entre azedumes, mostra-se incapacitado para as tarefas do auxílio eficaz, minguando as esperanças de devotados Obreiros do Mundo Além que se avizinham dele para a colaboração indispensável do êxito do programa assistencial.

            Rompe-se, então, quase sempre o equilíbrio do conjunto, deturpando-se a fé por incapacidade de raciocinar, enquanto medram enredamentos perniciosos do fanatismo comprometedor.

            Somos carentes do sustento da ordem e da força da oração quando nos entregamos aos serviços mediúnicos. Desta forma, podemos entender que a rotulagem espírita da Instituição não nos preservará do assédio dos "falsos profetas da erraticidade" sempre dispostos a confundir e boicotar os leais servidores da Terceira Revelação.

            O grupo mediúnico, departamento de amor ao próximo, não poderá, como os demais de uma Sociedade Espírita, ser dinamizado sobre improvisações de rotina ou arroubos do entusiasmo exuberante.

            Exigir-se-á, de quantos lhe partilhem a escola do devotamento ao próximo, esforço consciente e espírito de renúncia que a todos gratifiquem com a excelência das boas obras em nome de Jesus.

            Do contrário, com enorme desapontamento e indisfarçável insatisfação, encontraremos os grupos mediúnicos, ao longo do tempo, transformados em destilarias de sombras e subjugações maléficas, agindo quais cupins na seara incauta, forjando o aniquilamento da crença ou a desmoralização dos próprios núcleos espíritas aos quais se veiculam.

            Consideramos, assim, de atual interesse para todo grupo mediúnico afinado com estudo e trabalho, disciplina e prudência, as recomendações de vigilância que o apóstolo João preceitua em sua Primeira Epístola (cap. IV, v. 1):

            - "Meus bem-amados, não creiais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se tem levantado no mundo."



quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A palavra de Guillon Ribeiro




Guillon Ribeiro (Espírito)

por Júlio Cezar Grandi Ribeiro
Reformador (FEB)  Setembro 1976


             Espíritas!

            Conscientizemo-nos de que a Doutrina Espírita é obra de restauração do Cristianismo em favor do mundo, descortinando-nos iluminado porvir.

            Em sua missão de Consolador, permanecerá entre os homens, brunindo mentes e corações para que a ciência e o sentimento, equilibrados, impulsionem, de fato, o progresso da Humanidade.

            Não nos amesquinhemos na pretensão de que seu âmbito de benefícios circunscrever-se-á mais diretamente à Pátria do Cruzeiro categorizando-nos, deste modo, em povo-eleito da Terra. Longe disto, somos Espíritos devedores, ajustados à gleba comum de nosso aperfeiçoamento e convocados a cooperar na sementeira do Bem, onde os favores recíprocos nos reunirão esforços em prol da evolução de nosso orbe.

            Em face, pois, de nossas responsabilidades maiores, providenciemos, sobre o lastro da fé legítima, a obra de cristianização das criaturas, principiando de nós mesmos o glorioso apostolado do Amor.       

            Evangelizar o Homem é garantir o equilíbrio do mundo!

            Longe a segregação de ungidos; fora as conceituações separatistas; rejeição ao individualismo no jogo de opiniões facciosas que nada dizem respeito à missão do Paracleto na seara de nossos corações.

            Os Mensageiros da Verdade, formando legiões de luz e de amor, de justiça e liberdade, postaram-se junto a Kardec, propiciando-nos a Codificação Espírita que, desde seus albores, traz as marcas da união e do cooperativismo, da fidelidade ao Pai e da disciplina nos círculos da existência, como senhas de sublimadas aspirações.

            O Espiritismo, desde suas origens, é congraçamento de muitos visando a uma confraternização de todos pelo Reino do Senhor. Daí enraizar-se, veementemente, os imperativos da Unificação no Movimento Espírita como fortalecimento de objetivos comuns em torno do Cristo.

            Mas, a Unificação de fato não será alcançada sem os preparativos que se impõem. Torna-se imprescindível estabelecer novos padrões de fraternidade e de entendimento semeando-se no terreno propício, acolhedor, indene de preconceitos e imaculado de viciações qual o coração infantil. Aí a fase mais propícia do espírito encarnado para receber as sementes da união que, com justos motivos, anelamos para a Causa Espírita.

            A cumeeira do edifício jamais antecederá as efetivações dos alicerces.

            Pretender integração de vontades de adultos, diversificadas em experiências já vividas, será, talvez, acalentar sonhos dourados em ninhos de quimeras. Porém, educar o homem com vistas à união e à fraternidade será despender esforço valioso e bem conduzido levando a criança pelos trilhos do equilíbrio em cuja luz o moço divisará as veredas da paz que tranquilizará seu prosseguimento da madureza à velhice.

            A Criança é promessa.

            O Jovem é esperança.

            Para que as construções do Cristianismo Redivivo se desenvolvam, grandiloquentes, em favor do mundo, não prescindiremos dos alicerces opimos, construídos a partir do coração infantil e da mente jovem.

            Divulguemos a mensagem consoladora que as vozes Celestes nos prodigalizam por sustentáculo às provações.

            Popularizemos, junto aos romeiros da dor, nos cenários das humanas experiências, a Mensagem do Cristo, confortadora e luminosa.

            Contudo, marchemos sustentando a tarefa da Evangelização, com base na criança e no jovem, a fim de diminuir o surto de sombra e delinquência que assola a Humanidade.

            Se reconhecemos no Brasil o Celeiro de esperanças dos Céus destinado a garantir o avanço porvindouro do mundo; se nos conscientizamos que que fomos conclamados a partilhar a oficina da cooperação no abençoado fulcro da redenção da Terra onde a Terceira Revelação tem assentados seus pilares, colaboremos na obra da Evangelização das criaturas.

            Cristianizar é o mesmo que educar preparando a Humanidade para o alvorecer de uma nova civilização.

            Como toda ação educativa se desenvolve do berço à sepultura, mobilizemos a Revelação Espírita, cônscios de que não estamos arregimentando alfaias de conhecimento nos campos da cultura. Antes, porém, estamos construindo em nós a estrutura indispensável ao raciocínio da fé, autenticando em nossa intimidade os pilares da vera sabedoria e do amor legítimo, capazes de nos reerguer do lodo da Terra às culminâncias da luz de Deus.

            Sustentar a obra da Doutrina Espírita no burilamento moral do indivíduo será garantir a presença da Luz do Evangelho que iluminará o mundo a partir de cada um de nos.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

E Depois?!..



E Depois?!..

Guillon Ribeiro
por Julio Cezar Grandi
in Reformador (FEB) 1978

            Em diversas oportunidades, temo-nos referido ao esforço solidário dos componentes da Instituição Espírita, como prerrogativa de êxito e crescimento de realizações.

            De fato, quando predomina o espírito de equipe estruturado, fundamentalmente, na fraternidade e na compreensão, na tolerância e na renúncia, a união de todos presidirá o trabalho progressivo e enobrece dor.

            O Grupo, então, caminhará em suas destinações, indene de embaraços e desencontros, personalismos e melindres.

            Enfatizamos, desta feita, o funcionamento do Centro Espírita com base na formação de grupos de tarefeiros que se especializem, com tempo e perseverança, nas diversas atividades inerentes aos objetivos precípuos da comunidade religiosa.

            A descentralização administrativa proporciona, decerto, o surgimento de novos valores nos domínios da cooperação fraternal.

            Alertamos, assim, nossos companheiros de fé quanto à crise iminente das Instituições apoiadas tão-só no devotamento e dedicação de equipe reduzida de operários idealistas, principalmente quando chegam ao extremo de se firmarem sobre um único elemento condutor.

            Seja o médium com apostolado no Bem, seja o administrador com fidelidade ao ideal, seja o pregador com exuberância de luz na palavra, seja o líder do serviço social com ampla folha de serviços, jamais o Grupo Espírita deve caminhar sob o comando de um único elemento, ainda que excelente distribuidor de tarefas com os diversos aprendizes do Evangelho, conservados tíbios e inseguros ante o excesso de diretividade.

            As surpresas do inevitável, muita vez, têm proporcionado a núcleos bastante operosos, quão prósperos, o definhamento de suas realizações, a paralisação da marcha, o esvaziamento da célula produtiva, ombreando-se com o total despreparo dos que permanecem na retaguarda das comunidades cristãs.

            Não devemos favorecer a solução de continuidade em nossas realizações espíritas.

            Imprescindível reconhecermos que nem mesmo Jesus se exonerou do concurso de colaboradores prestimosos na divulgação da Boa Nova.

            Convocou participantes solidários com a renúncia e o devotamento ao próximo, instituindo o colegiado apostólico que abraçaria, com êxito e fidelidade, os compromissos evangélicos.

            Acentuou, junto a cada servidor de perto, tarefas específicas segundo as potencialidades de seus corações.

            Em diversas ocasiões, ocupou-se o Mestre em convocar Simão Pedro, Tiago e João a maiores observações e aprendizado, conclamando-os a escutar e entender, ver e sentir para servir com êxito dentre o grupo dos doze.

            Paulo, o cooperador póstumo, vislumbrou a Luz Divina, na estrada de Damasco, para, em seguida, ser encaminhado a responsabilidades e testemunhos na comunidade evangélica, ao lado de outros corações não menos enobrecidos no amor. A partir de então, de tempos em tempos, os séculos receberam a visita dos auxiliares de Jesus na obra de defesa e perpetuação de seu Evangelho no mundo.

            Observando o precioso exemplo do Mestre por excelência, defendamos as Instituições Espíritas do aniquilamento de suas mais nobres destinações perante a ausência de seus pilares de responsabilidade e desvelo, convocados, subitamente, ao regresso à Pátria Espiritual.

            Muitos dirigentes e diretores de Centros Espíritas têm amargado remorso e arrependimento no retorno ao mundo das realidades essenciais contemplando, a distância, seus continuadores na Causa desertando, ante os encargos que lhes ficaram, por incapacidade de servir ou por inexperiência na adoção de compromissos maiores junto ao movimento renovador.

            Alertemo-nos, assim, preservando nossos núcleos espiritistas da condenação peremptória ao estiolamento ou destruição por falta de cooperadores ciosos de seus encargos.

            Tarefeiros do Bem não se improvisam de hora para outra. Surgem ao longo da experiência e participação, sob o apoio afetivo e estimulador da equipe enobrecida no trabalho fiel.

            Defender o patrimônio espírita é ação que principia na fraternidade universal para ampliar-se no reconhecimento de que o dono legítimo da obra é Nosso Senhor Jesus-Cristo.

            Cada um de nós, no aprendizado eficiente, simples servidor do Mestre, matriculado na escola da Terra, sob as vistas do Tempo, que, de momento para outro, nos convocará ao retorno Pátria Verdadeira.


            Sem plasmar trabalhadores para a obra erigida agora, que sucederá com ela depois? 

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Encontro com Léon Denis


Encontro com Léon Denis


            Mais uma vez, adentrávamos o admirável “Père-Lachaise”, um dos alvos turísticos mais destacados de Paris.

            A famosa necrópole exibia cenários de inconfundíveis contornos, sob intensa movimentação de Espíritos já desligados das lutas carnais.

            Experimentávamos, assim, a mesma sensação de respeitoso misticismo, que de outras oportunidades, percorrendo, com reverência espiritual, as alamedas circunspectas da conhecida mansão dos desencarnados. Desfilavam, à nossa contemplação, joias da criatividade artística, nos mármores raríssimos e nos bronzes custosos, habilmente erigidos em túmulos de inestimável valor para a transitoriedade física.

            Conquanto reconhecêssemos, de nossa parte, com a formação espiritista a se nos fortalecer na consciência ativa, o nada em que se resumem estas cidades de cinzas para os que perambulam no mundo, em repertórios de amargas saudades, não pudemos fugir à circunspecção da Caravana, composta, em quase sua totalidade, de companheiros espirituais do Brasil em excursão de estudos ao famoso cemitério francês.

            Sem qualquer espanto, observávamos como em outros redutos da mesma destinação, o vaivém de formas translúcidas, suavíssimas quão diáfanas, à feição de abelhas operárias de sublime colmeia, adejando, em nome do celeste auxílio, as cidadelas espirituais de muitos hóspedes, da gigantesca comunidade dos mortos, em dificuldades dolorosas ou carências inenarráveis, desenvolvendo tarefas do amparo legítimo cuja extensão não podemos, ainda, avaliar.

            Nossa Caravana deslizava silenciosa, muito pouco notada, por entre aquela multidão de espíritos em atividades socorristas no “Pére-Lachaise” , corno um comboio de destino definido.

            Nosso objetivo era o dólmen para onde foram trasladados os despojos fúnebres de
Allan Kardec.  

            A suavidade do luar derramava banhos de prata sobre a nostálgica ambiência de arquitetura variadíssima que, ainda hoje, retém as cinzas de notáveis personalidades da civilização europeia.

            Guardávamos a impressão de um sonho em delicado tecnicolor, fruto da emoção que, decerto, se generalizava em todos os participantes da agradável excursão.

            Em tempo mínimo, vislumbramos a composição granítica, singularíssima, bem ao estilo druida, demarcando, com certa austeridade, o local onde repousam os restos mortais do insigne Codificador do Espiritismo.

            Protegida sob maciça e pesada lápide, a figura. de Allan Kardec, esculpida em bronze,
parecia emitir radiações especiais, qual se refletisse, de modo estranhamente belo, as carícias do luar.

            Perfume suave balsamizava o ambiente emoldurado, a certa distância, por vegetais esguios como braços erguidos em súplicas ardentes aos céus.

            Agradável fragrância de flores diversas, ali depositadas, frequentemente. por mãos generosas, evolava pelo ar qual se turíbulos invisíveis movidos por mãos divinas espargissem, em derredor, delicada homenagem de louvor e carinho à memória do Mestre lionês.

            Convidados por nossos Mentores, estacamos a caminhada a alguns passos do dólmen portentoso, em respeitosa atenção à entidade espiritual que ali se postava em atitude que resumia, a um só tempo, êxtase da prece e introspecção meditativa.

            Quem seria o Benfeitor de reconhecida envergadura espiritual, cuja radiosidade da túnica simples se completava, em harmoniosa - composição, com a alvura apreciável dos cabelos rasos?

            Contemplávamos, acaso, uma joia escultórica de talentoso Fídias do além, que ali plasmara, em matéria tenuíssima, o porte sereno e enérgico de um sacerdote druida em perene reverência ao inesquecível Professor Rivail?

            Destacando-se do grupo, o Orientador da Caravana aproximou-se respeitosamente da figura singular que, tão logo nos percebendo a presença, voltou-se em delicada acolhida, pondo-se-nos em evidência as linhas fisionômicas de vulto bastante conhecido nos cenários espíritas, dedicado operário da Terceira Revelação.

            Tratava-se, sem sombra de dúvidas, de Léon Denis.

            O espanto natural nos teria mantido sob impacto de surpreendente expectativa, não fosse a imediata gesticulação carinhosa com que o fecundo apóstolo das letras consoladoras buscou a direção de nosso grupo, entremostrando ênfase de fraternidade.

            Apagando-se, quase de imediato, talvez para não nos espicaçar as sombras das vestes espirituais, Denis, qual se saísse de neblina radiosa, foi assumindo o aspecto simpático de seu porte octogenário, envergando pesado capote à moda francesa do início deste século, surgindo, assim, à nossa proximidade, como uma réplica humanizada de seus últimos dias no estágio terreno. Saudou-nos com satisfação:

            - Sejam bem-vindos, irmãos de ideal! Orava, ainda agora, pela semeadura espírita nas plagas brasileiras. .. Não desconheço as sublimes responsabilidades do Brasil com vistas ao futuro espiritual de nosso orbe, acolhendo e divulgando o Espiritismo em sua missão de elevar as almas para o Criador ...

            À inflexão paternal de sua voz e diante da agradável recepção do venerável patriarca do Espiritismo, a emoção se nos desgovernou o controle das lágrimas que rolaram, teimosas. Estávamos,de fato, à frente do discípulo fiel de AlIan Kardec!

            Findas palavras breves de saudação e apreço, nosso Orientador deixou-nos à vontade junto ao festejado tribuno espírita, autor de tantas obras de reconhecidos méritos nos alicerces da Codificação, a fim de que a conversa se generalizasse entre todos, descontraída, espontânea e natural.

            Daí a instantes, encorajados por vários irmãos do grupo e valendo-nos da especialidade de falante das letras para os periódicos da Terra, ousamos propor uma questão, à guisa de entrevista-relâmpago: 

            - Venerável Instrutor... temos observado muita luta religiosa na gleba humana. Divisões,
guerras, extermínios e ódios em nome da fé ... Sacerdotes de todas as crenças, lembrando a figura de Jesus, estão esquecidos de que as virtudes do Reino Divino não estão circunscritas ao domínio das organizações estatais do mundo. Os espíritas, achamos de nossa parte, muita vez se jactanciam de detentores da Verdade, assumindo íntima posição de liderança religiosa como se pensassem no comando das massas populares. Que falar aos nossos irmãos em torno da perecibilidade das igrejas instituídas e do perigoso trilho dos triunfos ilusórios, capaz de despojar o Consolador Prometido, pela incúria de seus próprios tarefeiros, de sua láurea de divino ideal?

            - Tendes, por templo, o Universo... sentenciou o querido entrevistado, em surpreendente
laconismo.

            - Sim, de fato, mas o personalismo humano é um gigante dementado. Emissários Celestes buscam, incessantemente, orientar os caminhos da civilização; mas as dificuldades parecem aumentar. Os encarnados, quase todos, olvidam o esforço indispensável da própria regeneração para os abençoados serviços da luz. Muitos espíritas, em nossa opinião, ainda não se aperceberam das informações do Cristianismo Restaurado, e evocam a construção de cenáculos para albergar multidões, de grande valor nas expressões arquitetônicas, caminhando para recapitular experiências do passado. Que dizer das polêmicas, nos bastidores do movimento que abraçamos, com vistas à definição de uma arquitetura própria identificadora de nossas instituições cristãs?

            - Tendes, por altar, a consciência... atalhou brando e reticencioso o ancião respeitável.

            Após breve pausa, com que aguardamos "algo mais da palavra instrutora, e que não veio, obtemperamos, retomando o diálogo:

            - E quanto à rebeldia dos religiosos, idolatrando imagens? Abolidos os ícones tradicionais da igreja anciã, os velhos hábitos permanecem arraigados nas consciências dos devotos. Reconheço que mesmo nos arraiais espíritas há os que não abandonam certas posições desastrosas; Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco e muitos outros respeitáveis representantes da causa cristã no Brasil, até mesmo Kardec, são retratados, quase sempre, com destaques do carinho que os transforma, de certa maneira, em ídolos venerados nos grupos de orações. Que sugerir aos companheiros espíritas como alertamento oportuno?

            - Tendes, por imagem, Deus! respondeu o «druida de Lorena», ensimesmando-se em ilações mentais longe de nosso alcance.

            Percebendo que o ilustre entrevistado nada mais fazia que repetir conhecidas construções de sua lavra filosófica, que muitos espíritas guardam de memória, ousamos encaminhar a conversa para outra direção:

            - Pois bem, nobre amigo, as pesquisas científicas crescem, dia a dia, e muitos espiritistas, com receios lamentáveis, julgam que em breve tempo as ciências do mundo ensombrarão a Doutrina dos Espíritos. Fala-se muito em parapsicologia e psicotrônica para rotular velhos fenômenos da lavoura mediúnica tão bem caracterizada por Kardec. Há quem considere o Espiritismo ultrapassado, fadado a desaparecer no final do século como mais uma escola religiosa frustrada aos embates da ciência. Que argumentar com os companheiros da crosta? .

            - Acredito poder repetir que o Espiritismo foi chamado a tornar-se o grande libertador do pensamento escravizado há tantos séculos.

            - Muitos temem o fim do mundo, acrescentamos ligeiro, imaginando não haver mais tempo para a liberdade almejada. Pensam no Terceiro Milênio como o caos da civilização, o império da cibernética e da eletrônica, o reencontro do homem com o próprio homem, dementado nos avanços da sabedoria, um semideus .descrente e desatencioso ante a Criação. Que falar aos devotos de fé insólita, balouçantes às investidas do pragmatismo do século, submissos ao materialismo que intenta destruir, nas criaturas, a ideia de Deus - Pai e Criador?

            - Não podeis separar o efeito da causa, não podeis separar o homem de Deus! O homem não pode estudar-se e conhecer-se sem estudar Deus, não em si, mas nas relações que entretemos com Ele. E quanto mais O conhecemos mais queremos servi-Lo!

            Silenciamos, ante o impacto das respostas, abraçando certo constrangimento ou frustração interior, observando nos conceitos emitidos, até ali, por nosso venerável Denis, meras repetições do que podemos encontrar nos fastos de sua laboriosa presença na divulgação espírita.

            Um encontro àquela hora, pensamos, não poderia ser casual. Imaginamos, de pronto, alguma intencionalidade de nosso Orientador, proporcionando-nos os proveitosos instantes de convívio com o inolvidável líder espírita, remoendo-nos, por dentro, ante nossa evidente debilidade de inquiridor, incapaz de estimular, no entrevistado, algumas conceituações novas para traze-Ias aos espiritas.

            Mesmo assim; cobrando ânimo, pudemos, ainda, argumentar:

            - Mestre Amigo... nossos companheiros da Terra anseiam por assuntos originais das fontes do Além; algumas informações que lhes possam saciar a curiosidade benfazeja. Narrar-lhes este encontro sem respigar as anotações com alguma novidade seria, para muitos, um desperdício da mediunidade no serviço das letras. Que nos poderia oferecer, o estimado Irmão, em termos novos, para o noticiário espírita, quando há tanto carinho reverenciando seu glorioso esforço de continuador de Kardec?

            Pousando nos meus seus olhos atenciosos, evidenciados no semblante calmo, conquanto levemente contristado, Léon Denis, quase solene, respondeu de modo a que todos lhe registrássemos a inflexão da voz:

            - Você me pede novidades? surpresas para os irmãos espíritas?! Ah! meu filho, meu filho ... Recomende aos amigos da Terra a leitura das obras básicas do Espiritismo, junto às quais nossos livros são pálidas contribuições ...

            - Pode ter certeza de que para a grande maioria dos espíritas com responsabilidades no Movimento e interesse nos informes do Além, os livros básicos da Codificação, ainda agora, se apresentam com o sabor de absoluta novidade! 

O Repórter

(Página pslcografada pelo médium Júlio Cezar Grandi Ribeiro,
na reunião pública da Casa EspíritaCristã,
na noite da 25 de abril de 1977.)


Léon Denis

Gênio Celta entre célticas trincheiras,
Na França valorosa e missionária,
Sustentastes, com força multifária,
O legado das luzes verdadeiras.

Prosseguistes na rota voluntária
De defensor das sublimadas leiras,
Onde Kardec, em fainas timoneiras,
Fez da Verdade a liça necessária.

Discípulo do amor no mundo agreste,
Difundistes a luz do lar celeste
No turbilhão sombrio em tredo abismo ...

Qual consolidador do Paracleto,
Sois nobre e inolvidável arquiteto,
Apóstolo fiel do Espiritismo!

Luiz de Oliveira

(Soneto pslcografado pelo médium Júlio Cezar Grandl Ribeiro, na reunião pública da
Casa Espírlta Cristã - IBES - Vila Velha {ES), em que se comemorava o Clnquentenárlo
de Desencarnação de Léon Denis., na noite de 25-4-1977.)



in  Reformador  (Setembro 1977)