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sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Vigilância e União

Vigilância e União

A Redação

Reformador (FEB) 1º de Fevereiro de 1920

                 Nada perspicazes ou muito desatentos seríamos se, notando a marcha prodigiosa em que se vai pelo mundo o Espiritismo, não percebêssemos que a esse fato incontestável corresponde um outro de natureza a reclamar o maior cuidado, a máxima atenção de todos os que sinceramente desejam e procuram caminhar pelas novas veredas que os mensageiros celestes vieram abrir à humanidade, facultando-lhe sair dos escuros subterrâneos morais onde, desorientada, se perdera.

                A medida que essa doutrina de salvação se difunde, à proporção que sob a ação desvelada dos enviados de Jesus revivesce pujante a árvore portentosa do Cristianismo, à medida que a sua fronde luminosa emerge da floresta intrincada de erros, de falseamentos, de deturpações que em torno dela de eriçou, fazendo-a quase de todo desaparecer, redobram de esforços aqueles cujas energias e atividades espirituais se aplicam constantemente em fazer mais e mais densas, ao nosso derredor, as trevas em que eles se comprazem.

                Sentindo-se fracos para a luta franca, a peito aberto, contra as falanges do bem, por lhes faltar um broquel, impossível de encontrarem que os protejam contra os raios fulgurantes da verdade, que é luz porque é divina, eles se atiram contra as pobres ovelhas desgarradas que, na Terra, ensaiam os primeiros passos em direção ao redil santo. Socorrem-se então dos ardis mais engenhosos, das tramas mais sutis para a consecução de seus fins, seguros de poderem contar a seu favor com as nossas imensas fraquezas, com as paixões que ainda em nós fervilham e, sobretudo, com a vaidade, produto do orgulho e do egoísmo, que ainda, com verdadeira insânia, tanto cultivamos.

                Certo daí nenhum prejuízo advirá para causa excelsa contra a qual, cegos e desvairados, eles se levantam. Corremo-lo, porém, e grande, enorme, nós outros, todos quantos, acudindo ao convite dos servos dedicados do Senhor da vinha, nos termos alistado entre os trabalhadores dela.

               Quão triste será para os nossos espíritos, despertando no Além, verificarem que, por culpa exclusivamente  própria, cegaram com a luz  que lhes era dada para que se ques  lhes era dada para que esclaresse; quando reconhecerem que mais uma vez colocaram debaixo do alqueire a luz verdadeira, para se deixarem guiar por uma  luz falsa que, apagando-se, tornou mais profunda as sombras que já os envolviam; quando observarem que mais distanciados  se encontram da meta que deviam colimar e esmagados ao peso de resonsabilidades grandemente acrescidas!

            De que não divagamos poderão certificar-se os que se decidama atentar, e são felizmente muitos os que se decidem a atentar, e são felizmente muitos os que o fazem, em fatos que se vão produzindo com uma frequência por si só bastante para que  não passem despercebidas, embora aapresentem modalidades diversíssimas.

            Citemos por agora, como dos mais salientes, como dos que melhor caracterizam a sutileza dos ardis a que acima nos referimos, o das inovações doutrinárias. De toda parte surgem, a miúde, comunicações ou séries de comuicações mediúnicas em que, de par com a confirmação de alguns dos postos capitais da Doutrina Espírita, se deparam ao leitor, numa linguagem por vezes capiciosamente elevada, vestida com uma roupagem de sofismas bem urdidos, as proposições mais perigosas e irraccionais das inovações doutrinárias.

            Sob a relva desses vergéis prenhes de encantos, onde os incautos se estasiam com os matizes e o perfume das flores, onde a leveza e luminosidade do ar entontecem, se esconde a venenosa serpente. Ai dos que por ela se deixarem picar.

            Não é, está claro, pelo temor do mal que possam causar as pastorais, os sermões e as ladainhas contra o Espiritismo, que de contínuo, com assistência notória, os bons espíritos, os nossos guias  abnegados, os nossos amigos e protetores invisíveis nos clamam: Vigiai! Vigiai! É que de lá do alto veem todas as armadilhas e conhecendo, como conhecem, os nossos compromissos se sentem tomados de aflição ao verem-nos, trazendo nos olhos do espírito a venda da vaidade, avançar descuidosos pelo relvado onde pululam os réptis.

            A luta cresce, dizem-nos eles, e crescerá ainda mais. É preciso, para que não sejamos vencidos, que em nós cresça também a vigilância; cumpre nos compenetremos cada vez melhor das tremendas responsabilidades que nos pesam, a fim de nos dispormos a combater sem tréguas aquela víbora que se aninha nos corações e nos imunizarmos pela prece contra as de de fora nos assaltem. Pela prece, porque a prece é o complemento da vigilância e é ao mesmo tempo meio indispensável de a exercermos com eficácia. A prece esclarece a razão.

            Tanto assim, que as vozes amigas que, do além, nos chegam não nos advertem dizendo apenas: vigiai, mas: Vigiai e orai, repetindo o que a seus discípulos recomendou Jesus, sem o qual o Espiritismo absolutamente não será a palavra do Espírito da Verdade.

            Pelos processos de que se valem o que antes de tudo procuram os inimigos da verdade é cavar sem pre e sempre mais funda a desunião em que, por mal seu, vive a família espírita. Já se faz tempo, se não quizermos ser os piores obreiros do aml, de nos constituirmos emrealidade, cônscios das responsabilidades que assumimos e dos deveres que nos correm, fatores do advento da frternidade no mundo. Essa a obra que nos está confiada no plano naterial, obra em que não cooperaremos de fato enquanto nos não tornarmos solidários, unidos pelo amor do pastor divino.

            Isso, porém, só lograremos quando, em vez de propugnarmos ideias ou epiniões pessoais, alcancemos que todas se apaguem aos nossos olhos sob a refulgência da personalidade sublime do Mestre dos mestres, tendo por escopo principal, senão único, praticar e pregar os ensinamentos que ele pregou e exemplificou.

            A luta cresce: cresça igualmente em nós o amor e a fraternidade, para triunfarmos com o Cristo que, esse, conosco ou sem nós, triunfará sempre.



segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Que é a morte?

 

Que é a morte?

A Redação

Reformador (FEB) Outubro 1945

             A “Revue Spirite”, de Paris, recebeu de seu correspondente particular em Nova-York, e inseriu em sua edição de agosto, de 1908, o seguinte despacho telegráfico, referente a um caso que, acreditamos, não será destituído de interesse para os nossos leitores:

             “Nova York, 15 de julho. - Uma senhora acaba de escapar à mais horrível das mortes. Esteve, com efeito, por um triz a ser enterrada viva. Trata-se da Sra. William Moulty, de New Brítain, no Connecticut.

             “Seu coração cessara de bater, por mais de uma hora. Os médicos a haviam considerado morta, e a família fazia os aprestos habituais para o enterro, quando um dos assistentes notou certas ligeiras crispações dos músculos da face. Foram de novo e imediatamente chamados os médicos, que entraram a prodigalizar todos os cuidados à paciente. Procederam à eletrização ligeira e progressiva da região do coração, e a enferma foi pouco a pouco voltando a si.

            “Declarou ela então que, durante a sua prolongada catalepsia, tivera um sonho estranho. Tinha visto extensos espaços iluminados de mil claridades e sentira a impressão de realizar uma longa viagem, através de regiões etéreas, de inimaginável beleza.

            “Havia encontrado muitas pessoas, moças e velhas, que outrora conhecera, em particular sua mãe e um outro parente, falecido há trinta anos.

            “A idosa senhora, que - convém notar - conta sessenta anos, não dera mostras até ao presente de possuir uma imaginação exaltada. Declarou além de tudo que a morte é uma sensação deliciosa.”

            De resto - ocorre-nos, por nossa parte, agora comentar - já S. Paulo dizia que não devêramos temer a morte, pois que - referia-se ao sono - todos os dias nós morremos, isto é, penetramos no mundo espiritual.

            E que é a morte natural, realmente, senão o sono definitivo, agradável, reparador, acompanhado do despertar na verdadeira vida!


O dia da fraternidade

 

O dia da fraternidade

A Redação

Reformador (FEB) 1º de Janeiro de 1929

             Embora violentada ainda por paixões e sentimentos que são fontes de ódio e geram os desejos irreprimíveis da vindita; embora ainda sofrendo em larga escala a supremacia do sentimento daninho do egoísmo; malgrado a todas as filosofias incrementadoras desse sentimento, com o encerrarem, para a criatura humana, nos limites estreitos de uma só existência terrena o ciclo de sua evolução, a humanidade, como a quer demonstrar a firmeza com que espera galgar uma posição superior, onde viva liberta do ódio e do egoísmo, consagrou um dia, o primeiro de cada ano, à comemoração da fraternidade.

            Terá ela assim consgrado, como ideal irrealizável, uma utopia, cedendo aos atrativos de miragens que sempre e sempre mais distantes se colocam? Afirmá-lo só poderão os que se obstinam em negar a existência do Espírito, em desconhecer a infinita sabedoria do Criador n obra infinita do universo.

            Não: o homem é levado a crer firmemente na realização do ideal da fraternidade, pela intuição profund que nele reside, como fruto de aquisições indestrutíveis do seu longo passado espiritual, através da via ascendente da evolução dos seres.

            E a lhe rebustecer essa crença inata, bem como a lhe encorajar os esforços por alcançar tão elevada meta, tem o homem as promessas do Divino Mestre, cujas palavras, declarou-o ele próprio, jamais passarão, o que quer dize: não deixarão de ser confirmadas pela efetivação de tudo quanto anunciaram e ensinaram.

            E foi ainda Ele quem, depois de dizer: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco”, acrescentou: “Elas também ouvirão a minha voz e haverá um único rebanho, com um só pastor.”

            Anunciou assim, aquele a quem o Pai confiou o governo do nosso mundo, que, com o decorrer dos séculos, os homens de todos os pontos da Terra se submeterão à lei que lhes Ele veio trazer – a lei da humildade, do perdão, do bem, da caridade, do amor. Por essa submissão é que todas, todas as ovelhas moetrarão ter-lhe ouvido a voz.

            Claro está que, quando os homens todos chegarem a tão elevado grau de perfeição, que lhes permita submeter-se integralmente à lei de Jesus, todos constituirão “um só rebanho”. É que uma única será entre eles a fé e esta em Jesus repousará. Ora, desde que Ele haja reunido no aprisco todas as ovelhas, nenhuma havendo surda à sua voz, será Ele, de fato, o pastor único do armento.

            Estará assim realizada a fraternidade universal, porquanto a humanidade só terá atingido tão grande altura na senda do seu aperfeiçoamento moral, quando for capaz de cumprir sem falhas o mandamento que, segundo o mesmo Jesus, “encerra toda a lei e os profetas”. Amando os homens a Deus acima de tudo e amando-se uns aos outros, como verdadeiros irmãos, perfeita fraternidade reinará.

            É certo que nossa visão acanhada de criaturas materiais não nos permite divisar esse futuro, talvez não por demais distante. Procuremos, porém, entrevê-lo com os olhos do Espírito e, através da lei das reencarnações, da multiplicidade das vidas sucessivas, ele esplenderá diante de nós, mostrando-nos a Terra qual verdadeiro paraíso, onde não mais terá entrada a serpente da tentação, porque nela reinará o Cristo.

            Do homem, pois, depende o advento mais próximo ou mais remoto dessa era de paz real, que não poderá ser definitiva, enquanto não assentar-se no amor e na fraternidade. Depende, sim, do homem, porque ele é livre e Deus não lhe força o livre arbítrio. Livre, entretanto, não o é ao ponto de impedir que um só iota deixe de cumprir´se. Mais fácil seria, disse-o o Divino Mestre, que o céu e a Terra passassem, isto é, que o céu e a Terra desaparecessem, a nada se reduzissem. A lei, conseguintemente, se cumprirá, sem violência ao livre arbítrio humano, antes de completa harmonia com ele.

            Assim, todos, mais cedo ou mais tarde, entrarão livremente no caminho que leva ao aprisco do Pastor Divino e concorrerão para que se execute integralmente a vontade do Pai, contida nas promessas do Filho.

            Desvie o homem as vistas do presente de sombras que tem diante dos olhos e lance-as para esse futuro que os Evangelhos lhe anunciam; procure esquadrinhá-lo sob os raios luminosos da Nova Revelação, que ao mundo manda o seu Salvador, a Revelação Espírita, e sentirá que ganha alento para objetivá-lo com o ânimo resoluto de merecer as promessas que ele guarda, que se enche de forças para cumprir, como meio de alcançá-lo, o maior dos mandamentos.

            Essa a maneira mais meritória e eficaz, para Ele, de comemorar a data consagrada à fraternidade e de atrair sobre si, nesse dia em que a efêmeras e falazes esperanças costuma abrir o coração, as bençãos do Alto que, sinceramente e em fraterna comunhão com os nossos maiores da espiritualidade, desejamos a pedimos para todos os nossos irmãos em Deus, deste plano e do outro.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Na fase do entendimento

 

Na fase do entendimento

A Redação

Reformador (FEB) Março 1977

            Seriam três, segundo “O Livro dos Espíritos”, os períodos distintos que balizariam o desenvolvimento das ideias espíritas. O da curiosidade, nascido da fenomenologia dos raps ou das mesas girantes, passara rápido, mas, o segundo, do raciocínio e da filosofia, da meditação séria, apenas começara. Viria, depois, inevitavelmente, o terceiro período, da aplicação e das consequências.

            Ultrapassado o primeiro, e substanciado o período seguinte na monumental Codificação do Espiritismo, o Mestre Allan Kardec, sabiamente, à base do raciocínio e da filosofia, pois, daí em diante, a fé seria raciocinada – para poder “encarar face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade -, expõe algo do que caracterizaria a Doutrina: “O essencial está em que o ensino dos Espíritos é eminentemente cristão; apoia-se na imortalidade da alma, nas penas e recompensas futuras, na justiça de Deus, no livre-arbítrio do homem, na moral do Cristo.” (Ob. cit. questão 222.) “O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião.”  “Os que dizem que as crenças espíritas ameaçam invadir o mundo proclamam, ipso facto, a força do Espiritismo, porque jamais poderia tornar-se universal uma ideia sem fundamento e destituída de lógica.” “Não vos espanteis da rapidez com que as ideias espíritas se propagam. A causa dessa celeridade reside na satisfação que trazem a todos os que se aprofundam e que nelas veem alguma coisa mais do que fútil passatempo.” “(...) as consequências do Espiritismo são tornar melhor o homem e, portanto, mais feliz, pela prática da mais pura moral evangélica ...” (Ob. Cit., Conclusão.)

            Superiormente sistematizada a Doutrina dos Espíritos, concluído o segundo período de maturação das ideias que o futuro complementaria continuamente, surgia o 31 de março de 1869. E, cessada a atividade do Missionário lionês, na crosta planetária, abria-se o último dos períodos apontados, definitivo, o da aplicação e das consequências, da vivência dos ensinamentos de Jesus Cristo, em espírito e verdade, que ele soube tão bem antever e perlustrar, na sua condição de lúcido vanguardeiro de uma Nova Era. Tornar-se-ia melhor o homem e mais feliz, seguindo o roteiro das almas para a gloriosa imortalidade.

            Allan Kardec não deixou de esclarecer que o segredo da força que faria triunfar o Espiritismo, a causa de sua propagação residem no fato que ele, melhor compreendido na sai essência íntima e no seu alcance, “tanger a corda mais sensível do homem: a da sua felicidade, mesmo neste mundo. Enquanto a sua influência não atinge as massas, ele vai felicitando os que o compreendem”. (Id. ib.)  

            No estudo da questão 160 de “O Livro dos Espíritos”, Emmanuel distinguiu os mesmos períodos como de aviso, chegada e entendimento. Considera que Allan Kardec estabeleceu rumos, criando obrigações e definindo responsabilidades, ao encetar a obra do entendimento, “que esclarece a posição da Doutrina e do fenômeno, como quem separa o trigo da vestimenta de palha”. Reporta-se, em seguida, ao fato de que a edificação espiritual obedece “à cronologia da mente”, motivo por que se veem, ainda hoje, tantos que permanecem na faze do aviso, a par de muitos que estacionam na da chegada, entre a esperança e a convicção. E pondera, finalizando, que nos achamos na fase do entendimento, na qual precisamos saber concretizar os princípios da fraternidade, esparzir o socorro moral às consciências e levar a luz ao coração do povo, pois o Plano Espiritual atinge o Plano Físico, visando a reunir todas as criaturas e habilitá-las “para a continuidade do serviço de hoje, no grande futuro ou no grande além”... (“Seara dos Médiuns”) , 2ª Ed., pp. 95-96, FEB).

            Os espíritas, portanto, no derradeiro quartel do século XX, não ignorarão o grande desafio de tornar o Consolador mais e mais acessível às massas, em toda a parte, fazendo eco à palavra do Alto. Se o “conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres” (João 5:32) interessa a cada adepto do Espiritismo, como ser eterno, não interessará menos a quantos mais aspirem pela mensagem da Codificação Kardequiana.  


segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Divina advertência

 

Divina Advertência

A Redação

Reformador (FEB) 16 Outubro 1925

             Não digo isto de todos vós, sei quem são os que escolhi mas é preciso que se cumpra estas palavras da Escrituras: aquele que comigo come o pão, contra mim levantará o pé. Em verdade, em verdade vos digo: quem quer que receba aquele que eu houver enviado, a mim me recebe e quem me recebe a mim recebe aquele que me enviou. Tendo dito estas coisas, Jesus se turbou em seu espírito e falou abertamente, dizendo: em verdade, em verdade vos digo: um de vós me trairá. (1)

            Estas palavras de Jesus podem ser entendidas, por extensão, como advertência aos seus discípulos de todas as épocas; devem tocar vivamente os espíritas, porque estes são os depositários da revelação do Espírito da Verdade e os incumbidos de apostolizarem o Cristianismo Espírita.

            Se, em verdade, o Espírito tem a liberdade de escolher as suas provas e missões, que muits vezes lhe ultrapassm as possibilidades, vindo a falir no desempenho delas porque não foi submisso aos conselhos dos guias amorosos e somente atendeu à sua desmedida ambição de progredir rapidamente, certo é também que atraiçoaremos a doutrina do Divino Mestre, se não tivermos forças e coragem para fundi-la nos nossos atos.

            Em todos os tempos sempre houve discípulos fiéis, almas sinceras e valorosas, mas, do mesmo passo, existiram osfalsos apóstolos. Estes crucificavam o Evangelho, escabujando (debatendo-se em desespero) no lodo das paixões grosseiras; trocavam o direito da progenitura pelo fatal prato de lentilhas, que lhes envenenavam a alma; deixavam enfim de ser o bom levedo, para se transformarem em fermento de pecado.       (1) João, XIII  

             Tais Espíritos, antes de se humanizarem, rogaram, é certo, lhes fosse permitido seguir a trilha apostólica. Ora, a missão dos apóstolos dera frutos de amor e fé, masa daqueles somente oferecera ao mundo frutos de orgulho, vaidade, cobiça, inveja e discórdia. Desastrosa queda, tremenda responsabilidade! A humanidade sofreu fundos golpes, porque os falsos discípulos se tornaram uma calamidade moral. Se um pouco de fermento corrompe toda a massa, os maus atos se alastram como o fogo no matagal ressequido, levando a desolação e a ruína a toda parte.

            Outrora, aquele que negociara a venda do seu Mestre, antes de consumado o nefando crime, profundo arrependimento tivera de tamanho delito. Depois de ter sido ingrato, fora rebelde. A fraqueza humana, porém, dos que vendem e crucificam a Jesus a toda hora, negando-o pelos atos, e pior, porque contumaz.

            De tantas mostras de fragilidade os novos seguidores da obra apostólica deverão lembrar-se de contínuo, buscando compreender o sentido profundo dessa opima (rica) esmola de Jesus, jamais esquecidos de que muitos são os chamados e bem poucos os escolhidos.

            O homem não pode fiar-se em suas forças, porque o Espírito que há nele ainda está cheio de muitas fraquezas. Quando menos espera, vê-se de rastro, caído e vencido. Porque ser arrogante e confiar nas convicções que julga ter, se ao menor descuido, a um choque mais violento, tudo se esbarronda (desmorona) e vai ter ao lamaçal? A firmeza do discípulo não está senão no escudo que o Mestre nas mãos lhes pôs; oração e vigilância. Seu valor não está nas palavras que profere, mas no sentimento que voa aos pés do Senhor.

            Não sofra o servo a paixão do temor de não poder alvejar de súbito a túnica que arrasta; basta-lhe a dor do publicano que, ao lado do fariseu orgulhoso e hipócrita, gemia plangente (triste) súplica, ao Deus de misericórdia, que não quer a morte do ímpio, mas a salvação do pecador. Seja humilde o servo e, quando houver de erguer a fronte para fitar o céu, inundado esteja o seu rosto do pranto de seus olhos, a tranluzir arrependimento, gratidão e fé.

            Saiba o discípulo que o homem só fala do que o coração possui. Quando este guarda avaramente o amor de Jesus, de sua boca se aparta o pão molhado, símbolo da negra ingratidão. Então, quem quer que receba, recebe aquele que o enviou, porque, como disse Jesus a Filipe, quem vê a mim, ao Pai vê. Assim ver-se-á no servo a sacrossanta imagem do Senhor.

            Oxalá que a humanidade veja nos cristãos, através dos seus atos, a doce imagem do Filho de Maria. Ter-se-á  nesse instante a parábola da figueira: quando seus ramos estão tenros e as folhas brotam, sabeis que vem próximo o estio (o verão). Assim também quando virdes todas essas coisas (os sinais do advento espiritual de Jesus), sabeis que o Filho do Homem está próximo, está à porta. (2) 

 (2) Mt, 32 v.32-33

           


segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A razoura da fé


 A razoura (*) da fé

A Redação

Reformador (FEB) 16 de Fevereiro de 1937

 (*) Razoura: Por metonímia: medida de madeira para cereais e legumes.

Metonínia: figura de retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal.

 

            Não pode o crente espírita, por servir à causa da humanidade, que é de Jesus, eximir-se a contingências de tempo e meio, jamais adequadas ao seu testemunho.

            Dessarte, por mais ásperas que se antolhem as provas, individuais ou coletivas, não haverá como iludi-las para conceitua-las oriundas de um cego arbítrio humano.

            Os males que afligem a alma contemporânea, negrejando-lhe todas as clareiras de esperança, representam simplemente o patrimônio de erros acumilados por sucessiva gerações e que precisam, podem e devem ser retificados e resgatados.

            E para que o sejam, de direito e de fato, não valem idealismos de pura ficção, incapazes de abranger a vida no sentido de uma realidade imanente, por elevar o homem acima do mundo e de si mesmo.

            Porque, prefixar valores de harmonia e felicidade temporais, na só concepção mecânica-biológica da criatura racional, é desconhecer-lhe a natureza íntima e negar a própria história de su evolução planetária.

            De parte o ascendente de uma origem extra-terrena, que nos não propomos aqui alegar em abono de tese, mesmo considerando instrumento automático de forças cegas e fatalistas, ainda assim, não pode relegar-se o ser pensante à condição de elemento plástico, suscetível de padronizações sistemadas.

            Ainda que conceituada a alma epifenômeno (produto acidental, acessório, de um processo, de um fenômeno essencial, sobre o qual não tem efeitos próprios) de funções orgânicas, tão rica, fecunda e multifária (que se diz ou se exprime de muitos modos) se nos apresenta ela em seu complexo de atividades e imperativos morais, que impossível, senão intulto, fora o pretender imprimir-lhe rumos lineares definitivos e definidos.

            A história da humanidade em flutuação permanente de idéias e conquistas, a repelir hoje o que afagou ontem, para desprezar amanhã o que hoje consagra por melhor, é de modo a convencer os ideólogos e teóricos de uma sociologia premonitória que a criatura de Deus não é pão de fornada por dosar-se, conformar-se e cozer-se por termometrias (ciência e tecnologia da medição de temperaturas e do estabelecimento de padrões para essa medição) mais ou menos abstrusas e fantasistas.

            Vem daí, em grande parte, o maior mal que nos assoberba, partindo não tanto de materialistas agnósticos (ateus), quanto de espiritualistas gnósticos (teístas), que, estimando na criatura humana um princípio abmaterial, lhe negam, contudo, todo um patrimônio psíquico de preformação orgânica, ou seja anterior e transcendente ao corpo.

            Segundo a doutrina da Igeja, a alma é criada com o corpo, destinados uma e outro a uma existência única, quanto efêmera e decisiva, na Terra.

            Lógico, então, se lhes figura facetar almas a seu nuto (consentimento), porque em todas estima um cabedal primário original e substamncialmente idêntico, tal como veem os mecanicistas fatlists, para os quais o cosmos não passa de grande usina de energias cegas, despercebidos, todos, de que não concorrem na natureza dois seres específica e absolutamente iguais, na essência como na forma.

            Uma diferença, contudo, é de justiça assinalar a prol dos fatalistas, qual a de pretenderem violentr a consciência alheia, reconhecendo-lhe prerrogtivas de liberdade natural.

            O grande caso, porém, é que uns e outros não se forram de ilusionismo, supondo-se agentes quando, na verdade, não passam de pacientes, incapazes de abranger as consequências, não diremos remotas, mas até imediatas de seus planos e convenções.

            Admitamos, também nós, o fator educativo, a infância mesológica (mesologia - estudo das relações entre os seres e o meio ou ambiente.), tudo enfim que possa contribuir para dignificar a espéie e felicitar a existência material; mas, tenhamos em vista e de perto que os meios não podem, jamais, superar os finsde ordem divina, providenciais.  

            A felicidade humana não é progrm de um escola, de uma seita, para ser fixado e resolvido em uma nem em dez gerações. Essa felicidade, fruto da evolução do Espírito, antes que se possa definir-se em graus coletivos, tem que ser individual e parcial ou relativamente realizada, pois ninguém concebe uma sociedade sã, composta de indivíduos doentes.

            Orientar, esclarecer, sintonizar as criaturas de Deus em função de seus destinos é dever que incumbe, não apenas aos genitores e pedagogos, mas a todo homem de ação e consciência, no sentido de que o mundo é uma escola ativa e permanente, na qual todos vivemos e morremos aprendendo, não para morrer, mas para viver eternamente.

            Cada época acarreta os seus fatores seriais e providenciais.

            Compreender a sua época, pismatizar esses fatores contando com o só arbítrio humano, é o que nos parece estultícia (estupidez) só justificável pela imprecisa noção de nossos destinos.

            Abstrair (não levar em conta) esse objetivo congenial (conforme o gênio, a natureza, a essência da) da vida é iludir o conceito de felicidade humana, que se não prende à conquista de efêmeros tesouros, de instintivos e precários, quão frequentes regalos, tão certo é que presto degeneram se suicidam as civilizações mais refinadas.

            Outra não é a milenar lição da História.

            Hoje, entretanto, novas clareiras se rasgam à marcha dos povos, à proporçãao que se generaliza um novo sentido de vida eterna, consciente, solidária e responsável.

            A Providência divina já nãp é uma simples expressão anfigurista (desordenada) ao serviço de doutrinas mais ou menos metafísicas e oportunistas, de vez que se impõe como fato palpável e tangível, inconteste, nas mínimas como nas máximas soluções e diretivas mundanas.

            Dir-se-ia que a razoura da fé vai nivelando as consciências. O Cristo de Deus reivindica o sei cetro, e não há escolas filosóficas, nem parlamentos, nem ágoras, nem exércitos que possam abalar as vozes do Além, modificando de uma linha, para retardar de um minuto, o rítmo dos seus desígnios.

            Deixemos, pois, aos cegos a presunção de senhorear o mundo, e não queiramos revidar no tumulto das paixões que se entrechocam, nelas intermitindo-nos quando, em boa espécie, só podemos considerá-las aquele levedo que fermenta toda a massa.

            Aos mortos é que importa o cuidado de enterrar seus mortos.

            Nosso combate, nossa atitude, nosso papel à face do mundo em derrocada só pode ser reparador e construtivo.

            Tem de circunscrever-se e aferir-se na lei do amor, única força ativa no plano das realidades eternas.

            Haverá quem nos julgue anódina e até ridícula a nossa tática...

            Mas, que nos importa o juízo apaixonado do mundo em convulsões, quando temos por nós a voz da consciência, a voz dos nossos Guias e o juízo de Deus?


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

A família Fox

 

A família Fox

A Redação

Reformador (FEB) Outubro 1944

             Um dos exemplos mais admiráveis da brusca invasão dos fenômenos espíritas e da maneira pela qual se impõe a força em atividade, apesar de todas as oposições e da resistência dos médoiuns, apresentou-se no começo do movimento espírita. Trata-se da mediunidade dos filhos da família Fox, em 1848. É inútil recordar todos os episódios dessa série de manifestações, pois qye estão narradas circunstanciadamente nas obras especiais: “Modern Spiritualism”, its Facts and Fanaticisms”.pelo Sr. Capron, Boston, 1885; “The Missing Link in Modern Spiritualism”, por Lea Underhill, “Uma das irmãs Fox”, New York, 1885. Farei, apenas, ligeira exposição cronológica dos principais incidentes dessa curiosa série de fenômenos.

            Foi em 1848, em Hydesville, que se ouviram as pancadas pela primeira vez; elas se repetiam todos os dias, não deixando a família descansar e intimidando as crianças. Como não se pudessem conservar em segredo essas manifestações, os vizinhos vão presencia-las, e as perseguições começam. Pouco depois, os Fox são denunciados como impostores e por fazerem comércio com o diabo. A igreja episcopal metodista, da qual os Fox eram adeptos notáveis, os excomunga. Descobre-se a natureza inteligente das pancadas, visto revelarem que um assassinato fora cometido na casa e que a vítima fora sepultada na adega, o que foi verificado mais tarde.

            Em abril de 1848, a família Fox transporta-se para Rochester, para a casa da Sra. Fish, filha mais velha do Sr. E da Sra. Fox, que era professora de música. Os fenômenos reproduzem-se e mesmo se desenvolvem consideravelmente. Às pancadas juntam-se o deslocamento e  a projeção de toda espécie de objetos, aparições, contatos de mãos, etc. Curiosos invadem a casa de manhã à noite e são testemunhas desses fenômenos. A desordem  torna-se tão grande que a Sra. Fish não pode continuar a dar lições de música e tornou-se impossível se ocuparem com o serviço doméstico.” (Capron, pág. 63). “Um ministro metodista propôs-se a exorcisar os espíritos” (pág. 60), mas isso nada adiantou. Finalmente, o acaso fez descobrir a possibilidadede se comunicarem com os Espíritos, pelo alfabeto. Depois de ter declarado, com grande surpresa da família “que eles eram amigos e parentes” (Capron, pág. 64), os Espíritos exigiram que o estudo dos fenômenos se tornassem público. “Deveis proclamar estas verdades ao mundo”. Tal foi a primeira comunicação (Missing Link, pág. 48). Ao que a família Fox se recusou obstinadamente.

            Para que o leitor possa capacitar-se da situação em que a família se achava naquela época, vou reproduzir uma parte da narração de Mrs. Lea Underhill:

         Desejaria por em evidência que os sentimentos de toda a família, de todos nós, eram hostis a essas coisas bizarras e incongruentes; nós as considerávamos uma desgraça, uma espécie de calamidade que caía sobre nós, sem saber donde, nem porquê! De acordo com as opiniões que no chegavam de fora, nossas próprias inclinações e as ideias que nos tinham sido inoculadas na infância nos levavam a atribuir aqueles acontecimentos ao “Espírito maligno”; eles nos tornavam perplexos e nos atormentavam ; de mais, lançavam sobre nós um certo descrédito na localidade. Tínhamos resistido àquela obsessão e lutado contra ela, fazendo preces fervorosas para a nossa libertação, entretanto, estávamos como que fascinados por essas maravilhosas manifestações, que nos faziam suportar, contra a nossa vontade, forças e agentes invisíveis, aos quais érqmos impotentes para resistir e que não podíamos dominar ou compreender. Se nossas vontade, nossos mais sinceros desejos e nossas preces tivessem preponderância, todas essas coisas teriam terminado naquela mesma ocasião, e ninguém, além da nossa vizinhança mais próxima, jamai teria ouvido falar dos “Espíritos batedores” de Rochester, nem da desventurada família Fox. Mas não estava em nosso poder deter ou dominar os acontecimentos.” (Pág. 55)

             “Em novembro de 1848, os “Espíritos” informaram a família de que não podiam lutar contra a resistência que lhes opunhm, e que, em consequência da insubmissão dos médiuns às perguntas dos Espíritos, estes seriam obrigados a deixá-los. Os médiuns responderam que não tinham objeção alguma a fazer, e que nada lhes poderia ser mais agradável e até mesmo só desejavam que os Espíritos os deixassem.” (Capron, pág. 88). Efetivamente, as manifestações detiveram-se e durante doze dias manifestações detiveram-se e durante doze dias não se ouviu uma só pancada. Mas, nesse ínterim, produziu-se uma brusca mudança nas ideias dos membros da família. Tiverm profundo pesar por sacrificarem às considerações mundanas um dever que lhes tinha sido imposto em nome da verdade, e, a pedido de um amigo, as pancadas soaram de novo, e foram saudadas com alegria.

             “Parecia que recebíamos antigos amigos, escreve Lea Underhill; amigos que não tínhamos sabido apreciar dantes, como era preciso” (página 60). Entretanto, do mesmo modo que outrora, as pancadas não deixavam de repetir, imperiosamente: “Tendes um dever a cumprir; queremos que torneis públicas as coisas de que sois testemunhas” (Capron, pág. 90). Os interlocutores invisíveis traçaram o plano de operações que devíamos adotar, com minuciosos pormenores; era preciso alugar a grande sala pública “Corinthian Hall”; os médiuns deviam subir ao estrado em companhia de alguns amigos; as pessoas designadas para ler a conferência foram G. Willets e C. W. Capron (autor do livro citado acima); este último devia fazer o histórico das manifestações; uma junta composta de cinco pessoas, deisgnadas pela assistência, devia fazer uma investigação nessa matéria e redigir um relatório que seria lido na sessão seguinte. Os Espíritos prometiam patentear-se de maneira a serem ouvidos em todas as partes da sala. Essa proposta teve a nossa recusa categórica.” Não tínhamos, de maneira alguma, o desejo, diz o Sr. Capron, de nos expor ao riso público e não queríamos angariar uma celebridade desse gênero... Mas, garantiram-nos que era o melhor meio de impor silêncio às calúnias e de mostra a verdade, e que prepararíamos, desse modo, o terreno para o desnvolvimento das comunicações espirituais, que se efetuariam em futuro próximo.” (Páginas 90 e 91).

             Mas o temor da opinião pública preponderava sempre, e ninguém se decidir a tomar a iniciativa dessas sessões. Então, os “Espíritos” propuseram estabelecer audiências em casas particulares, em grandes salas, para que se convencessem de sua faculdade de dar pancadas, perante um público mui diverso. Decorreu um ano inteiro, antes que as instâncias e as exortações de uns triunfassem das escusas dos outros. Finalmente, fez-se o ensaio, e o Sr. Capron começou as experiências em casas particulares; “elas deram bom resultado, e as manifestações foram sempre interessantes e distintas” (página 91). Foi, só então, após numerosos ensaios, que decidiram tentar a grande prova, e um “meeting” público foi anunciado para a noite de 14 de novembro de 1849, no “Corinthian Hall”, em Rochester. O êxito foi completo. Três “meetings” consecutivos deram os mesmos resultados, e o movimento espirítico nasceu!..   





Hydesville

De Leôncio Correia por W. Vieira

Reformador (FEB) Março 1977

 

“Recordas a Belém de nossa fé. Mangedoura feliz do Espiritismo!”

 

Na telas sucessivas da verdade,

Brilharás como estrela para os povos

Na alegria recôndita que invade

A existência ideal dos homens novos!

 

Todo o roteiro espírita cristão

Algo de teu caminho nos descerra;

Concha acústica da Revelação,

Teus raps ecoaram pela Terra!

 

Contigo, um lar humilde e ignorado

Trouxe o verbo do Além. Serenoe forte

Revelando às Nações, em grande brado,

Para a glória da vida que há na morte.

 

Três jovens médiuns contra os preconceitos

Venceram emboscadas e sofismas,

Mostrando aos olhos cegos e imperfeitos

Lições da Antiguidade noutros prismas.

 

Fulguras como excelsa encruzilhada

Aos destinos humanos sofredores,

E és ainda a baliza iluminada

Por doce lenitivo às nosss dores.

 

Hydesville! Saudamo-te de pé,

Na luta contra as sombras do ateísmo!

Recordas a Belém de nossa fé,

Manjedoura feliz do Espiritismo!



quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Reeducação evangélica

 

Reeducação Evangélica

A Redação

Reformador (FEB) Abril 1940

             “É mister reeducar religiosa e espiritualmente a humanidade, segundo os ensinamentos do Evangelho, com o coração voltado para o reino de Deus.”

            Lendo este trecho, talvez se surpreenda ou espante o leitor, ao saber que com ele deparamos na mesma encíclica papal de onde extraímos o que comentamos pelo Reformador de março último, a encíclica “Summi Pontificatus”. Também nós nos surpreendemos, porque logo nos acudiu à mente que, se a humanidade se ressente da falta de educação evangélica, como realmente acontece, a culpa de semelhante falta cabe a quem monopolizou a ministração dos ensinos do Evangelho, subtraindo-os ao conhecimento direto dos homens, para que estes os recebessem exclusivamente sob certos prismas muito especiais e particularistas.

            Mas, dado este fato, que desafia toda e qualquer contestação, e não podendo supor, pelos mesmos motivos que aduzimos em nosso precedente artigo, que estas palavras do atual pontífice queiram traduzir propósitos de salutar mudança de orientação ou de diretriz, por parte da Igreja romana, no desempenho da tarefa em que ela própria se investiu, constituindo-se herdeira única da missão dos apóstolos, outra razão e outro significado tivemos que buscar para o tópico que serve de objeto a estes ligeiros comentários.

            Encontramo-los, considerando aquelas palavras como um dos mais expressivos sinais dos tempos cuja vinda o próprio Evangelho anuncia há perto de 2000 anos, como sendo os do advento do Consolador, para a transformação do mundo, mediante a restauração dos veros ensinos do Novo Testamento e a completação deles por meio de novas revelações, para reconstituição das bases sobre que se erguerá definitivamente a legítima Igreja Cristã, a Igreja Universal do Cristo de Deus.

            É de tal magnitude esse acontecimento, de tão prodigioso alcance e exprime de tal modo o cumprimento inelutável dos sábios e providenciais desígnios do Senhor, que até mesmo pelo órgão dos que mais fortemente se insurgem contra a obra do Consolador e a combatem de todas as maneiras, a imprescinbilidade da sua execução imediata é proclamada. Tão sábio e misercordioso é Deus, que faz proclamem a verdade que corresponda, no momento, ao que se acha prescrito nas suas leis, mesmo os que mais a aborreçam e hostilizem.

            Sim, a verdade, a grande verdade da hora atual. Verdade que nenhuma força humana ou extra humana logrará impedir prevaleça é a de que somente pela cristianização das almas poderá a mísera humanidade transviada salvar-se do funesnto embrutescimento espiritual a que a levaram as miserandas paixões que a dominam.

            Ora, essa cristianização das almas somente poderá operar-se por meio do afeiçoamento delas aos ensinamentos evangélicos, para a formação do sentimento cristão, sem o qual não haverá fraternidade nos corações e não haverá paz no seio da coletividade humana, pois que a fraternidade é o único alicerce capaz de suportar o edifício da verdadeira paz, da paz indesctrutível, da paz universal.

            E outra não é a missão do Consolador, concretizado na Doutrina Espírita e na palavra dos Espíritos de luz e de misericórdia que incessantemente falam aos homens, desde que essa doutrina se constituiu, e que acaba de falar-lhe de maneira vibrante e com profunda sabedoria na Grande Síntese.

            Entretanto, ao mesmo tempo que encarece a necessidade do cumprimento dessa missão grandiosa, que, afinal, outra não é senão a da reeducação da humanidade segundo os ensinamentos do Evangelho, a Igreja se esforça por lhe criar toda sorte de embaraços, por impedi-la em absoluto, colocando-se assim em flagrante contradição consigo mesm, evidenciando a pasmosa incoerência da sua atitude com as palavras do seu chefe supremo.

            Semelhante incoerência, todavia, não existe para ela, bem o sabemos, porque, ao ver de uma e outro, a reeducação evangélica que o último preconiza é segundo o Evangelho sotoposto (substituído) a seus dogmas intencionalmente abstrusos, o Evangelho interpretado à sua maneira, acordemente com a sua teologia e com os volumes, ricos de teorias tão engenhosas e eruditas quão vazias de sentido cristão, escritos pelos seus geniais doutores.

            Dar-se-á porém, que o Evangelho, para ser assimilado e praticado, necessite de interpretações difíceis, só ao alcance de inteligências agudíssimas, de espíritos de excepcional penetração, capazes de escrever volumosos tratados sobre cada um de seus pontos? Se assim fora o divino Mestre não houvera escolhido ignorantes e incultos pescadores para disseminá-lo pelas nações do globo e não houver rendido graças ao Pai, por ter dado a conhecer aos pequeninos e humildes aquelas coisas que Ele ensinava e por ter ocultado aos doutos e poderosos.

            É que o Evangelho, o Evangelho de Jesus, não é obra para ser entendida e assimilada pela inteligência, mas pelo coração, pois que é obra toda de sentimento, para ser sentid, que não apenas compreendida. Efetivamente, depois dos apóstolos, só foram até agora verdadeiros cristãos os que o sentiram, porque só esses o praticaram; só o foram os que hão tido para entende-lo o dom precioso e ainda raro da humildade, que gera a lídima sabedoria.

            Aliás, que é em síntese e substãncia o Evangelho? Ele, em verdade, se resume num único mandamento, conforme o declarou o próprio Jesus, naquele que reza: amar a Deus acima de todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo, mandamento para cuja observância nada mais é necessário do que “não fazer ninguém ao próximo o que não queira que lhe façam e fazer-lhe tudo quano desejaria que lhe fosse feito”. Somente aquele que assim procede é humildemente cristão ou cristãmente humilde, é cristão verdadeiro.

            Fora, pois, da exemplificação desse mandamento, que é o eixo principal do Espiritismo, pela  razão mesma de ser ele o próprio Cristianismo redivivo, não haverá nenhuma reeducação evangélica do homem, que, então, continuará a afastar-se do reino de Deus, com o praticar às avessas o aludido mandamento, sob o influxo do egoísmo e do orgulho que lhe devastam a alma, isto é, fazendo cada um aos outros o que não admite que estes lhe façam e não lhes fazendo nada do que exige lhe seja feito.

            Sem, portanto, se despojar das suas grandezas, do seu fausto, das suntuosidades e riquezas com que se ostenta perante o mundo, sem se desfazer da sua ambição de poderio material e de predomínio sobre as consciências, sem se desprender dos interesses que lhe não consentem perceber onde está ou onde pode encontrar o reino de Deus, baldado verá a Igreja todo o esforço que envide por atender à necessidade, que o seu pontífice proclama, de ser a humanidade, religiosa e espiritualmente, reeducada segundo os ensinamentos do Evangelho. Este permanecerá letra morta, como há sido até agora em suas mãos.

            Ninguém pode dar o que não tem. Espiritualize-se a Igreja, para fazer-se verdadeiramente religiosa e poder espiritualizar as crenças dos seus fiéis. Faça-o e, penetrada então do Espírito do Cristo, fácil se lhe tornará a tarefa reeducativa e tanto mais fácil quanto já encontrará o caminho grandemente desbravado pelo Consolador prometido, o Espiritismo, onde tudo é luz e sabedoria, porque tudo é humildade, caridade e amor, sentimentos e virtudes sem os quais nenhum coração se achará efetivamente voltado para o reino de Deus, visto que nenhum o encontrará, sem que o haja realizado em si mesmo.

            O reino de Deus não está aqui, ou ali, porquanto o reino de Deus está dentro de vós”, disse-o Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme se lê no Evangelho de Mateus (cap. 17, v.21).