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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Aposentadoria para o demônio

 

Aposentadoria para o demônio

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Março 1961

              Não obstante o carrancismo teológico, certos princípios e doutrinas vão sofrendo modificações impostas pela evolução dos tempos. Não importa a característica de cada um deles, porque, sem consistência nem fundamento, perderam já o poder que lhe outorgou, em outras épocas, o obscurantismo a serviço do clero no seio da grande massa pouco ilustrada.

            Resistindo desesperadamente ao progresso, a Igreja Católica tem, apesar disso, renunciado já a certas posições até então consideradas irremovíveis. Percebendo a grosseria de ideias e conceitos que a ignorância sustentou durante séculos, a Igreja tem procurado contorná-los, recorrendo para isso a toda a habilidade de que se julga capaz.

            Ninguém ignora a posição hostil que o Catolicismo sempre manteve em relação à Ciência. Ninguém pode esquecer as vicissitudes de ilustres sábios, num época em que era castigada com torturas e fogueiras a audácia de avançar uma nova proposição científica, ainda que comprovada pela experiência. Hoje, se não mais se ergam fogueiras, ainda os estudiosos e cientistas são muitas vezes forçados a dissimular seus pontos de vista ou a apresentá-los de forma pouco espírita para não sofrerem restrições ou perseguições da Igreja, feitas por meios indiretos, através do poder político do Estado a ela subjugado.

            O espírito de seita, comum a todos as religiões pouco afeitas ao espírito evangélico, que condena a intolerância, a descaridade, a desarmonia e o intento de represália, continua agindo no mundo, principalmente nos países que ainda não lograram assimilar inteiramente a verdadeira democracia e sentem a influência depressiva dos cleros em todos os setores de sua vida, inclusive, ou principalmente, no setor da educação do povo.

            Os anglicanos, segundo lemos em telegrama de Londres, divulgado no “Correio da Manhã”, do Rio, de 14 de Janeiro de 1961, resolveram aposentar o demônio, fantasma que, durante séculos e séculos, ajudou fraternalmente a conquista do homem inculto, tornando-se, por isso mesmo, colaborador valioso das diferentes igrejas. Diz o telegrama:

             “O novo catecismo anglicano não terá demônios. Ainda em Janeiro, as igrejas anglicanas de Canterbury e de York se reunirão separadamente para examinar importantes questões das trinais sociais e organizativas. Entre as reformas, o que está destinado a levantar memoráveis polêmicas é a do catecismo. No catecismo de 1662, lê-se: “Eu renunciarei ao demônio, e a todas as pompas, aos faustos e às vaidades deste iníquo mundo e ainda aos desejos pecaminosos da carne.” No catecismo de 1961, ler-se-á: “Eu renunciarei a tudo o que é errado e combaterei contra o mal.”

             Evidentemente, os anglicanos evoluíram,  concedendo aposentadori a ao demônio, cujo trabalho extenso e cansativo, durante anos e anos merece a recompensa de um descanso. Jamais o demônio deixou de cumprir a tarefa combinada com as igrejas, de assustar os pacúvios e de se intrometer na mente dos crédulos, de maneira a levá-los ao redil clerical. Sempre o demônio, ou o diabo, cumpria seu dever, ainda que algumas vezes, no afã de não desmentir as igrejas, desse a impressão de ser, em relação a Deus, equipotente.

            O Catolicismo já está farto de saber que a Humanidade não mais acredita nos malabarismos e mágicas atribuídas ao demônio. O “artista”, pela impossibilidade de apresentar novos “números”, acabou desacreditado. Mesmo o demônio católico já está cansado de tanto serviço.  Nunca teve férias, de modo que se torna justo, absolutamente justo, receba o prêmio de uma aposentadoria, ele que deisteressadamente prestou serviços imensos à Igreja e notadamente ao clero, sempre mais exigente e rabujento.

            Já Giovanni Papini, em “O Diabo”, pôs em destaque esse direito incontestável adquirido pelo diabo, Vejamos, por exemplo, este trecho do referido livro desse autor prestigiado pelo Catolicismo:

             “A doutrina da reconciliação total e final de todos os seres em Deus não faz parte do ensino da Igreja de Roma, mas quem conheça a história do pensamento cristão sabe que tem havido, aqui e além, pelos séculos afora, mudanças e enriquecimento em torno dos maiores dogmas da fé. Certas opiniões por muito tempo ensinadas foram, com o andar do tempo, obliteradas, senão condenadas; outras novas as substituíram e uma renovação análoga poderia e deveria repetir-se.

            “Até há alguns séculos, a ideia da chama devoradora dos homens – seja a das fogueiras seja a do inferno – não turbava a sencibilidade e a mente dos bons católicos.

            “Cristo amou os homens, inclusivamente os rebeldes e os corruptos e os bestiais, até ao ponto de morrer por nós de uma morte infame. Não poderá dar-se que Ele tenha querido libertar-nos da escravidão do Demônio na esperança de que os homens, por seu turno, possam libertar o Demônio da sua condenação? Não poderá dar-se que o Cristo tenha redimido os homens a fim de que estes, mediante o divino preceito de amar os inimigos, venham a ser dignos de sonhar um dia a redenção do mais funesto e obstinado Inimigo? Um verdadeiro cristão não deve ser injusto nem com os injustos, não deve ser cruel nem com os cruéis, mas deve ser tentador do bem mesmo com o mesmo tentador do mal. Devemos, pois, avizinhar-nos de Satã com espírito de caridade e justiça, não para nos tornarmos seus admiradores ou imitadores, mas com o propósito e a esperança de o libertarmos de si mesmo e, portanto, nós dele. Talvez ele não aguarde senão um movimento da nossa compaixão para encontrar em si a força de renegar o seu ódio, isto é, para libertar o mundo inteiro do senhorio do mal.”

             Embora dizendo o contrário, Papini defende essa valiosa criação da teologia católica, mas reconhece que, segundo o verdadeiro espírito cristão, ele merece ser tratado melhor... Por isso, escreveu todo um livro sobre o Diabo e sua desventura, ainda que, temeroso do anátema católico, pondera: “A doutrina da reencarnação total e final de todos os servos de Deus não faz parte dos ensinos da Igreja de Roma”... Pretende também amolecer um pouco a resistência dos bons católicos, ao lembrar que “até há alguns séculos a idéia da chama devoradora de homens – seja a das fogueiras, seja a do inferno – não turbava a sensibilidade e a mente dos bons católicos”. Será que os “bons católicos”, que permaneciam insensíveis diante das fogueiras da Inquisição, hoje sentiriam pena do pobre Diabo, anjo de luz decaído? Difícil dizer-se. A verdade, porém, é que tudo se dirige para a hora da reabilitação do “empertigado e peremptório racionalista”, no dizer de Papini.   

             Tanto mais, acrescenta o famoso escritor católico, “um verdadeiro cristão não deve ser malvado nem com os malvados, não deve ser injusto nem com os injustos, não deve ser cruel nem com os cruéis, mas deve ser tentador do bem mesmo com o tentador do ml. Devemos, pois, avizinhar-nos de Satã com espírito de caridade e Satã, não para nos tornarmos seus admiradores ou imitadores, mas com o propósito e a esperança de o libertarmos de si mesmo e, portanto, nós dele. Talvez ele não aguarde senão um movimento da nossa compaixão para encontrar em si a força de renegar o seu ódio, isto é, para libertar o mundo inteiro do senhorio do mal.”

             Se o Demônio, o Diabo, o Lúcifer, o Belzebu, o Satanás ou que outro nome tenha essa ficção da mitologia religiosa, alcançar a carta de indulto, que valerá por uma aposentadoria, com direiro a todos os vencimentos atrasados, poderá vir a ser, no futuro, um santo cheio de devotos, capaz de fazer mais milagre que muitos que erderam há longos anos a habilidade que notabiliza os mágicos teatrais...

            Não há de demorar muito, o Vaticano anunciará também certas medidas de “modernização” sendo, embora difícil, possível, que o demônio venha a receber, senão a aposentadoria integral, pelo menos férias periódicas, que o possibilitem a meditar acerca do inglório serviço realizado por conta da Igreja e risco do próprio diabo. A transigência não é uma virtude atribuível ao Catolicismo, quando seus dogmas ou seus princípios teológicos possam ser afetados. Acontece, porém, que o mundo continua caminhando para a frente. O povo está sendo cada vez mais esclarecido e verifica que as lendas clericais se esboroarão fatalmente, incapazes de suportar as verdades científicas e bem assim os esclarecimentos do Espiritismo.

            Quem quer que examine o catecismo católico, verá, sem esforço, a congérie de absurdos que ali se amontoam. Com o Papa ainda empenhado em realizar a união de todas as igrejas, embora todas elas se mostrem um tanto desconfiadas desse propósito unificador, pode ser que o diabo católico venha, dentro de futuro não muito remoto, a gozar dos benefícios que o Anglicanismo está desejando conceder ao seu demônio.


terça-feira, 2 de novembro de 2021

A luta gloriosa

 

A luta Gloriosa

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Novembro 1964

             Estudar a Doutrina Espírita não é dedicar-se à sua leitura com o mesmo estado de ânimo com que se lê um jornal ou uma revista mundana. Estudar é reter na memória o que se lê, é identificar-se de tal forma com o objeto do estudo, que se decida respeitar através da exemplificação os ensinamentos ali colhidos.

            É muito fácil dizer-se: “Tenho lido muita coisa sobre o Espiritismo, conheço as obras de Fulano e Sicrano. São maravilhosas, lindas e edificantes.” Na realidade, as obras espíritas são assim, mas de nada adiantarão se não forem assimiladas as suas lições, se os seus ensinamentos não se converterem para todos nós em norma de conduta, em roteiro para a nossa vida cotidiana.

            Ninguém melhor do que nós sabe quanto isso é difícil, porque temos ainda a alma sobrecarregada de compromissos cármicos. Mas as dificuldades podem ser atacadas com persistência. Temos de insistir, dia a dia, na prática da Doutrina. Se não pudermos fazer tanto quanto precisamos, que façamos o que pudermos. O essencial é fazer alguma coisa, é não desanimar, não recuar. Para vinte desvios, trinta tentativas de reabilitação; para vinte quedas, outras tantas lutas pelo reerguimento.

            O fato de reconhecermos a nossa incapacidade para avançar depressa não quer dizer que fiquemos parados. Façamos alguma coisa. Se não nos é possível andar um metro, procuremos avançar um centímetro. Iremos mais devagar, mas iremos. O essencial é não parar, ainda que reconheçamos a nossa fraqueza, a nossa falta de disposição para reagir contra os males que nos assaltam, ainda que não tenhamos energia para exemplificar sempre. Tanto seremos beneficiados pelo progresso que alcançarmos, como responsabilizados pelos erros que praticarmos.

            De nós, exclusivamente, depende vencer ou ser derrotados. Poderemos ir vencendo aos poucos, mas também, se formos invigilantes e fracos, não evitaremos a destruição do resto de ânimo que tivermos para reagir. Por isso, não abandonemos nunca a Doutrina, que será um apoio para nós, um estímulo, um encorajamento, se nos resolvermos a fazer sempre algo para melhorar.

            Entretanto, se nenhuma resistência realmente séria e tenaz opusermos a tudo quanto contribua para o nosso enfraquecimento moral, então nada adiantará nossa aparente determinação.

            Na Epístola aos Filipenses, disse Paulo, ao salientar a necessidade “de algum modo atingir à ressureição dentre os mortos”, pois que “mortos” somos todos quantos continuamos a viver sem a iluminação espiritual, somente possível com o progresso moral. “Não digo que eu já o tenha obtido, ou que seja já perfeito, mas vou prosseguindo para ver se também poderei alcançar aquilo para o que igualmente fui toma por Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo ter ainda alcançado; mas alguma coisa faço, esquecendo-me das coisas que ficam para trás, e, avançando para as que estão adiante, prossigo em direção ao alvo, para obter o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus.”

            O Carma, que exprime fielmente a Lei de Causa e Efeito, porque é ela mesma, é a cruz que todos carregamos no dia a dia da vida terrena e espiritual. Irá ficando mais leve à medida que formos reduzindo a parte negativa da nossa personalidade moral e aumentando a parte positiva que nos levará à redenção. Irá ficando mais pesada, entretanto, à proporção que a nossa imprevidência, preguiça, displicência ou invigilância se for multiplicando sem que nos apercebamos do mal que a nós mesmos fazemos.

            Persistamos todos na linha reta e íngreme, mais doce de seguir que os caminhos planos, mais tortuosos de molde a podermos alcançar a porta estreita, pela qual muitos pretendem entrar, mas poucos o conseguem, porque a única condição para transpô-la está na exemplificação do bem, na recusa do mal, na construção do “homem novo” que representará a ressureição do nosso espírito e a morte definitiva do “homem velho”.

            A mais gloriosa luta é a que sustentamos contra nós mesmos. A mais gloriosa e a mais difícil de vencer.


segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O futuro pertence ao Espírito

 

O futuro pertence ao Espírito

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Agosto 1977

           O psicólogo D. G. Jung advertiu, duma feita, “Não há uma Psicologia moderna, porém muitas. Isso é estranho, porque somente há uma Matemática, uma Geologia, uma Botânica, uma Zoologia, etc. Em troca, as psicologias são tantas que uma Universidade norte-americana publica todos os anos um grosso volume intitulado: “Psicologies of 1930”, etc. Creio que há tantas psicologias quanto filosofias e sucede com estas o mesmo que com aqueles: não há uma só, mas muitas.” E mais: “Não existe praticamente uma psicologia científica moderna que explique as coisas do ponto de vista do espírito.”  

            O Espiritismo é o maior repositório de estudo da alma e suas consequências, pois “tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível”, afirmou Kardec. É também “uma ciência que trata da Natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”. Acontece, porém, e isso é uma tendência irresistível do homem, que, às vezes, a Doutrina é adulterada, sofre, de quem não a conhece ou não se identificou com ela, influências de teorias que pretendem igualmente esclarecer e explicar os fenômenos inerentes ao mundo espiritual em suas relações com o mundo material. Por isso mesmo, Kardec advertiu: “Por vender-se vinho falsificado, não se deve concluir que não existe vinho puro” (“O que é o Espiritismo”, 17º ed. FEB, 1976, pág. 58). Cabe-nos, na medida das nossas possibilidades, resguardar a pureza da Doutrina Espírita, pois sabemos que algumas pessoas, ainda não inteiramente desligadas de certas práticas, usuais em outras organizações espiritualistas, procuram, de boa-fé, sem dúvida, com uma candidez surpreendente, introduzir em seus Centros costumes incompatíveis com os princípios doutrinários do Espiritismo, conservados puros e intangíveis pela Casa de Ismael. Esquecem-se, tais “inovadores”, da asserção de Kardec: “Todo espírita é necessariamente espiritualista, mas nem todos os espiritualistas são espíritas.”

            Enquanto as psicologias se multiplicam e mostram certa diferença entre os postulados que adotam, o Espiritismo é uno, indivisível, tendo por estrutura a Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec. Os que negam a alma em suas teorias... psicológicas, são vítimas infelizes da pior das cegueiras, porque tem olhos de ver e não veem. “O futuro pertence ao Espírito!” – exclamou uma entidade desencarnada. As psicologias sem alma são esforços materialistas destinados a aumentar a desorientação do mundo. Alguns procedem sinceramente, de acordo com os ensinamentos que lhe foram “inoculados”. Outros, movidos por preconceitos que serão destruídos pela evolução dos conhecimentos humanos. A verdade negada hoje esplenderá, livre, amanhã. “A vida corpórea é a síntese das irradiações da alma. Não há órgãos em harmonia sem pensamentos equilibrados, como não há ordem sem inteligência” – ponderou André Luiz em “Nos Domínios da Mediunidade”. “O Espírito, encarnado ou desencarnado, na essência, pode ser comparado a um dínamo complexo, em que se verifica a transubstanciação do trabalho psicofísico em forças mento-magnéticas, forças essas que guardam consigo, no laboratório das células em circulam e se harmonizam, a propriedade de agentes emissores  e receptores, conservadores e regeneradores de energia” (André Luiz – “Mecanismos da Mediunidade”, cap. V, edição FEB).

            A importância do estudo do perispírito tem sido subestimada pelos pesquisadores da Psicologia, ou das psicologias. Está ele sempre ligado à alma, durante sua união com o corpo ou depois de separar-se deste Portanto, faz parte integrante do Espírito (ou Alma), do mesmo modo que o corpo o faz do homem – esclarece Kardec. “Porém, o perispírito, só por só, não é o Espírito, do mesmo modo que só o corpo não constitui o homem, porquanto o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento de sua ação” (“O Livro dos Médiuns”, Segunda Parte, cap. I, nº 55). Embora fluídico, “o perispírito não deixa de ser uma espécie de matéria”, pois “o Espírito precisa de matéria para atuar sobre a matéria. Tem por instrumento direto de sua ação o perispírito, como o homem tem o corpo” (ibidem). O estudo do perispírito e de sua indispensável função na atividade da alma, encarnada ou desencarnada, é primordial para o estabelecimento seguro e definitivo, pelos conhecimentos daí derivados, de uma Psicologia legítima. Eis porque Emmanuel, em “Dissertações mediúnicas”, pondera que “a medicina do futuro terá de ser eminentemente espiritual, posição difícil de ser atualmente alcançada, em razão da febre maldita do ouro”. Em suma, “o corpo espiritual é a alma fisiológica, assimilando a matéria ao seu molde, a fim de materializar-se no mundo físico”.


terça-feira, 14 de setembro de 2021

A Imprescinbilidade da Vigilância

 

A Imprescindibilidade da Vigilância

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Março 1966

                 Qual o dever de todos os verdadeiros cristãos – dos cristãos de dentro para fora e não apenas dos cristãos epidérmicos – em face do mandamento do Cristo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” A resposta é clara e simples: esforçar-se cada qual por demonstrar simpatia, pelo menos, a quantos cruzem o seu caminho, principalmente quando divergem os tons da afinidade. O primeiro passo é ter sempre um olhar de cordialidade pelo próximo, uma palavra mansa, um ato de ponderação, conforme às circunstâncias que se apresentem. Foi isso, sem dúvida, o que demonstrou querer o maior mestre que a Humanidade conheceu – Jesus. “Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas.”

            Jesus não fez distinções, não disse que amássemos somente a determinadas pessoas que quiséssemos bem apenas aos nossos correligionários, aos que pensam como nós, aos que nos agradam ou adulam. Não determinou que só amássemos aqueles que nos seguiam e os que, a partir de Antioquia, se chamassem cristãos. Referiu-se o Mestre a toda a Humanidade, sem curar da orientação religiosa ou doutrinária dos homens, sem excluir sequer os judeus, nenhuma raça, nenhum povo. Dirigiu-se aos homens em geral, a todos os homens, porque são estes que estabelecem limites ideológicos entre si, que erguem barreiras doutrinárias e dogmáticas para permanecerem confinados em suas greis, como em compartimentos estanques.

            Para Jesus, o espírito de fraternidade deve ser como o Sol que a todos aquece e ilumina, que a tudo purifica, visitando montes e vales, jardins e pântanos, maus e bons, tigres e cordeiros.

            Ora, se assim é, como compreender-se que elementos de um mesmo credo cristão não sigam sua recomendação? Como podem alguns ter autoridade para levar a outrem o verbo fraterno, realmente sincero, se não põem nele o coração entre aqueles de quem, doutrinariamente, se dizem irmãos? Não importam as divergências de pontos de vista, nem podem estas constituir motivos de maior agravo, porque, se as divergências se originam do intuito sadio de prevenir ou retificar erros, do desejo de esclarecer dúvidas, não podem ser aceitas para instituir o clima de prevenção e desarmonia. O necessário é que tenhamos todo o espírito desarmado de preconceitos e a suficiente humildade para não reagir ao primeiro impulso, a fim de que a reflexão aclare os pontos críticos da divergência.

            Com o culto sincero da fraternidade, tudo se tornará mais fácil, desde que haja realmente fraternidade. Quando ela é apenas aparente, não consegue impedir que a substitua a irritação, a cólera, a ânsia de revide. Divergências, sempre as houve e as haverá enquanto os homens não atingirem mais elevado grau de sabedoria, a par de seguros conhecimentos evangélicos e doutrinários, porque elas nada mais são que fruto de desnivelamento de aquisições morais e intelectuais. Todavia, a divergência é ainda necessária para estimular a vigilância evangélica, principalmente em torno de princípios que o hábito, a rotina, pode debilitar, pois a familiaridade com as coisas muitas vezes induz ao enfraquecimento da vontade e da visão, pela aparência de que tudo vai bem e é imutável. Daí o afrouxamento da vigilância e a invasão sorrateira da imprevidência entre aqueles que se consideram sentinelas atentas e seguras de si mesmas, embora muitas vezes se deixem vencer por cochilos curtos, mas suficientes para que a praça seja violada por sitiantes pertinazes, solertes, audaciosos e mal-intencionados.

            André Luís afirmou que “o espírito de fraternidade funde todas as divergências”. É verdade, porque, havendo de ambas as partes o interesse superior de alcançar o esclarecimento definitivo, sem os entraves da vaidade, que gera o agastamento, e do orgulho, que dificulta a compreensão, o espírito de fraternidade, emergirá ainda mais belo e forte do debate. Não foi à toa que exortou seus discípulos à vigilância: “Estai de sobreaviso, vigiai: porque não sabeis quando será o tempo. É como se um homem em viagem num país estranho, tendo deixado a sua casa e tendo cada um o seu trabalho, tivesse mandado também ao porteiro que vigiasse. Vigiai, pois; porque não sabeis quando virá o dono da casa, se de tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que, vindo de repente, não vos ache dormindo. O que digo a vós, digo a todos: Vigiai!” (Marcos, 13:33-37).

            “O que digo a vós, digo a todos.” Muito bem dito, porque nenhum de nós deve ter a presunção de ser infalível na vigilância. Acontece que somos humanos. Portanto, fracos, falíveis, vencíveis. Nem sempre sabemos resistir ao assédio de inimigos ocultos, mas espertos e tenazes, que se apresentam sob muitos disfarces – o orgulho, a vaidade, o excesso de amor próprio, a ingenuidade imprudente, a superestimação do Eu.

            Eis porque devemos, uns com os outros, fazer o que fazia aquele escravo, que, seguindo de perto o triunfador romano, advertia-o, de quando em quando, com estas palavras: “Cave ne cadas” (Cuidado para não caíres), a fim de que o senhor, tomado de orgulho e vaidade, não se expusesse a surpresas desagradáveis.

            Se realmente não somos mais do que espíritas teóricos, devemos ajudar-nos uns aos outros, fraternalmente, evangelicamente, vigiando nossos pensamentos e atos, mas também alertando reciprocamente a atenção para falhas, omissões, imprudências e erros, numa permanente colaboração mútua, sem melindres tolos que apenas mostram a distância que nos separa da Doutrina Espírita e do Evangelho. Se é que pretendemos mesmo alcançar, não as gloríolas mundanas, os aplausos suspeitos, que não trazem qualquer benefício à nossa posição espiritual. As susceptibilidades à flor da pele denunciam a existência de um espiritismo epidérmico, de um cristianismo de superfície limitada, sem extensão nem profundidade.

            O Espiritismo cristão, o Espiritismo evangélico, colima a reforma íntima da criatura humana, a fim de que cada qual seja espírita organicamente, de dentro para fora e de fora para dentro, não somente em dias de reuniões ou quando em contato com outros espíritas, para exteriorizar conhecimentos nem sempre reais da Doutrina e do Evangelho. Uma coisa é o parecer, outra o ser espírita. Nunca será demasiado o exame de consciência repetido, frequente, feito com sinceridade e humildade. Se não tivermos a coragem de reconhecer os defeitos que os outros nos apontam fundamentalmente, e se não nos esforçarmos por bani-los da nossa personalidade, então não somos espíritas, não somos cristãos: somos apenas mistificadores conscientes que comprometem o avanço seguro do Espiritismo.




sábado, 31 de julho de 2021

Educar para o bem

 

Educar para o Bem

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Julho 1962

             A quem observa o desregramento da vida atual, não há de escapar a presunção de que isso ocorre porque enfraqueceu a educação de família, a chamada “educação de berço”, permitindo-se, por outro lado, que o cinema, o teatro, o rádio, e já agora a TV, em vez de se constituírem elementos preciosos de preservação e consolidação dos princípios  de ordem moral, concorram abertamente para corrompê-los e destruí-los.

            O conceito de liberdade ampliou-se tanto que ficou desfigurado, a ponto de se diluir na licenciosidade. Os jornais, a seu turno, e com eles as revistas, permitiram-se a divulgação de fotografias e textos não conducentes com ao recato, a exploração sensacionalista do crime e do vício como elementos destinados à multiplicação de sua tiragem. Dessa maneira, tem-se verificado alarmante aberração de hábitos e costumes, que, a falta de autoridade dos pais, a indiferença dos mestres nas escolas e a negligência ou comodismo das autoridades incumbidas da defesa da chamada sociedade, estimulam e agravam.

            Ligue-se o rádio e se ouvirão gracejos pesados, de duplo sentido ou de sentido agressivamente imoral. Faça-se o mesmo com a TV e aí, então, a situação piora, porque, além do som, há a imagem a invadir os lares, para lá levando palavras e gestos chocantes, a pretexto de humorismo, envenenando a moralidade, incutindo no espírito  da juventude ideias incompatíveis com a decência, ou deturpando o sentimento infantil com programas de lutas belicosas, de crimes, em que são vistos duelos a pistola, apunhalamentos pelas costas, enfim, cenas que em nada podem melhorar as condições da vida mental dos dias em que vivemos.

            Se ainda não bastassem tantos elementos de corrupção, já encontráveis em certos teatros, nos quais é moda o emprego até de palavras obscenas, e, em determinados filmes nacionais e de procedência estrangeira, em que tudo se sacrifica ao que de mais rasteiro é possível admitir-se nos ambientes do mais baixo estalão moral, a juventude ainda se v~e seduzida por ritmos e danças selvagens.

            Só a educação do sentimento poderá salvar o homem de ruína progressiva, do rebaixamento total. Essa educação terá de ser incrementada dentro do lar, prosseguindo nas escolas. Não é preciso remontar à Idade Média, porque, então, para combater um mal, seria revivido um outro, que deixou marcas indeléveis na mentalidade humana.

            Será necessário confinar a excessiva liberdade que se concede à infância , através da educação evangélica, diremos melhor – através da educação evangélica, ministrada com sentido prático, pela qual os pais concordem em renunciar a prazeres mundanos, que lhes obrigam o relaxamento da vigilância indispensável no lar, e prefiram, em contrapartida, voltar suas atenções aos deveres espirituais, hoje tão abandonados ou cultivados apenas na aparência.

            Quando vemos nos jornais e nas TVs anúncios de brinquedos que imitam armas de fogo, admirando-nos que não haja protestos contra os males introduzidos desde cedo no espírito infantil. E lamentamos a inconsciência dos pais que enchem os filos de cartucheiras, pistolas ou rifles de brinquedo, deliciando-se com o verem todos eles, horas e horas por dia, simulando lutas entre bandidos! Assim se vai, instilando na alma da criança o desamor ao próximo, a noção de que os problemas da vida podem ser resolvidos simplesmente por tiro e facadas. Alguns pais, por não quererem incomodar-se com o disciplinamento dos filhos, permitem essa espécie de brincadeira e ainda sorriem, contentes, quando eles, vestidos de “cowboys” (!), infernam a paciência alheia, fazem pequenas desordens, imitando o que veem no cinema e na televisão.

            Enquanto isso, a fábricas de armas de brinquedo prosperam. Até mesmo em programas elogiáveis, porque buscam estimular o estudo, premiando meninos e meninas, os prêmios são, na maioria das vezes, revólveres e cartucheiras... Há dias, foi lançado até um revólver de repetição e o propagandista salientava o pormenor: parece-se com uma arma de verdade...

            Onde a consciência dos pais? Onde os princípios de formação religiosa que dizem haver recebido e, para comprová-lo comparecem a missas e cerimônias outras de caráter litúrgico? Onde a educação cristã? Onde o amor real aos filhos, se os preparam, com a mais negra inconsciência, para uma vida sem repercussão evangélica? Que esperam dessas crianças, amanhã, se elas, desde agora, aprendem a considerar as armas de destruição como elementos imprescindíveis para a sua defesa ou para atacar o próximo?

            Como poderão esses pais acreditar no futuro de filhos tão mal preparados psicologicamente? As impressões que as crianças fixam, geralmente as influenciam o resto da vida. Por isto, fácil se torna compreender as consequências dessa educação defeituosa, dessa má educação de pais fúteis, materializados, que pensam mais em si mesmos do que nos filhos.

            O que se faz hoje em dia é destruir na alma da criança os sentimentos de paz, substituindo-os pelos sentimentos desfraternos, que não poderão acolher jamais o sublime ensino do Cristo: “Amai-vos uns aos outros”.

            A maior tarefa cabe ás mães na luta pela educação real dos filhos, na recuperação moral da família, no estabelecimento de rumos diferentes, que farão das crianças de hoje homens úteis à família e à Humanidade, ou homens cúpidos, egoístas, desumanos, para os quais os outros homens serão sempre considerados obstáculos que precisam ser destruídos.

            Muitos pais, por excessivo e mal compreendido sentimentalismo, fecham os olhos a erros, hábitos, vícios e defeitos dos filhos. Creem que, com o tempo, hão de melhorar e esquecerão a “bobagens” da infância e da primeira juventude. Mas se esquecem de que a tolerância, a falta de energia, a imperfeita visão das coisas e dos fatos, nada mais fazem que abrir caminho a novos erros, a consolidar hábitos, vícios e defeitos.

            Crianças criadas com muitas vontades, que fazem mais o que querem do que o que devem, tornar-se-ão, quando mas crescidas, difíceis de controlar. Poderão transformar-se, com o tempo, em ditadoras dentro do lar, reservando aos pais as maiores dores-de-cabeça e os maiores desencantos.

            Não se deve, por prudência e por educação, avivar na criança o sentido de interesse pelo dinheiro, nem facilitar-lhe a obtenção deste, para que não venha ela, depois, experimentar verdadeira obsessão pela posse e o orgulho de ter mais dinheiro que outra criança. A influência que essa conduta tem na deformação do caráter é extraordinária.

            Há pais que pensam consistir em rezas decoradas a educação evangélica dos filhos. O que vale é a orientação e a exemplificação. Devem estar vigilantes para que a criança compreenda as lições recebidas e as cumpra, sem o que de nada valerá o dizer frases de feitura religiosa, porque a substância espiritual, de que elas poderão ser o veículo, não conseguirá identificar-se com o seu espírito.

            Num mundo tumultuado como o atual, em que o materialismo domina a vida do lar e a vida externa, a conduta evangelizada é muito importante. Cada manhã e cada noite, antes de levantar-se e antes de deitar-se, os filhos devem conversar com a mãe e esta, com a sutileza comum ao sexo feminino, deve examinar aspectos do dia vivido e comentá-los com critério evangélico. Não será preciso entediar as crianças com muita reza, mas esclarece-las, apontando-lhes o caminho da retificação e dando-lhes normas para seguirem no viver diuturno.

            A mãe do famoso Mahatma Gandhi, a maior expressão espiritual do século costumava fazer os filos repetirem com ela, todas as noites, ao deitar, frases mais ou menos assim: “Serei sempre bom, jamais farei mal a quem quer que seja”. E deles exigia tanto quanto possível a exemplificação dessas promessas. Ora, um trabalho persistente de auto sugestão ia-se desenvolvendo dessa maneira e as ideias do bem como se sedimentavam na alma de cada um deles. E não houve na família Gandhi um único elemento que descambasse para o mal.

            Por isso, Gandhi, reconhecendo que a “educação espiritual das crianças é uma tarefa muito mais árdua do que a educação física ou intelectual”, entendia que, tal como estas duas que só se realizam com a ajuda de exercícios práticos, também a espiritual não pode deixar de ser desenvolvida pela prática cotidiana dos exercícios do espírito.

            Na educação, não se deve abandonar a criança a uma liberdade excessiva. Para o bem dela própria, sua liberdade tem de estar condicionada a normas definidas pela educação. O homem bom é um homem livre. A educação espírita ou evangelizada não tem por fim domesticar o homem, mas prepara-lo convenientemente para uma vida com duplo aspecto, material e espiritual, coma predominância desta sobre aquela.

            O mundo de hoje sofre as consequências da má compreensão da liberdade humana, pois a entendem como a faculdade de permitir que cada qual faça o que entenda, sem respeitar o seu próximo. Isto está longe dos princípios morais baseados nos ensinamentos do Cristo.          

            Educar para o bem é educar para a vida real. Aquele que se habita a proceder bem, cultivando a honestidade, a tolerância, a urbanidade e a fraternidade, encontrará diante de si um caminho em menos tortuoso e áspero do que aquele que, dominado pelo egoísmo, só pensa em si, só faz o que atende a seus interesses, que não vê no mundo senão as suas conveniências. Não é possível que alguém viva rigorosamente para si, apenas, num mundo em que há milhões de seres sofrendo de fome, de sede e de dor, porque cada qual colhe o que planta. Ninguém escapa a esta lei.


terça-feira, 20 de julho de 2021

A perenidade do Espiritismo

 

A perenidade do Espiritismo

por Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Outubro 1962

            O Espiritismo nos deu elementos para aceitarmos as ideias explanadas nas obras de Allan Kardec, onde a lógica anda ao lado da clareza que leva à compreensão. Saímos do ateísmo a que nos levaram arengas de sacerdotes-papagaios, que nos impingiam paradoxos como o chamado “pecado-original”, afora outros, para uma atitude desconfiada e cética, quando fatos espíritas nos feriram profundamente o sentimento, chamando a nossa atenção para problemas seriamente equacionados.

          Durante anos e anos, sem perdermos o nosso hábito inquiridor nem a preocupação do exame, chegamos a convicção da realidade espírita. Achamos graça quando adversários do Espiritismo acumulam “provas” contra ele. Achamos graça porque, na generalidade, esses pretensos monopolizadores da verdade desprezam os elementos evidenciais da realidade espírita, apegando-se aos já velhos e desmoralizados argumentos de fraude, da mistificação, etc. Ora, nenhum espírita que se preze deste nome age desatenta e invigilantemente. Pelo contrário, procura separar o joio do trigo, pois o que a todos nos interessa é o Espiritismo isento de dúvidas, dessas dúvidas que a má-fé e a ignorância costumam espalhar em todos os setores da atividade humana, até mesmo nos científicos.

          Há dias, um desses megafones do clero, com aquela “pose” de auto suficiência eu os donos da verdade possuem, investiu contra Kardec, “destruiu” a reencarnação, contestou a veracidade do mediunismo, enfim, “acabou” com o Espiritismo!  

          Mas não são esses assalariados da mentira que hão de estabelecer normas invencíveis contra o Espiritismo. Quem pode melhor distinguir a “verdade” deles da verdade espírita são aqueles que, tangidos pela dor, sofrem e não encontram lenitivo em outras religiões tradicionais. Esses sim.

          Quantos católicos correm desesperadamente ao encontro do Espiritismo, a fim de ter aliviados os seus sofrimentos físicos ou morais? Por que o fazem? Deixamos de responder, por simples espírito de caridade...

          Não importa que “destruam” o Espiritismo, que digam que tudo no Espiritismo é fraude, mistificação, mentira. Os fatos se encarregam de demonstrar que a verdade está com os espíritas. Portanto, com esta certeza, oriunda da honestidade do nosso trabalho e da indiscutibilidade da evidência que temos encontrado em anos e anos de contato com o Espiritismo, nada nos preocupa, nada abala a nossa convicção e nenhum receio poderá haver da parte de quem, seja quem for, não é néscio nem ingênuo e sabe perfeitamente o que está fazendo, guiado por um critério inteligente e sadio.

          Os melhores defensores do Espiritismo são aqueles que nele encontram remédio para os seus sofrimentos e lenitivo para as suas dores morais. O resto, pouco importa, porque o Espiritismo é hoje para o mundo o que foi, na antiguidade, o Cristianismo do Cristo para a Humanidade, não esse cristianismo que anda por aí na boca de pregadores insinceros, de pseudo herdeiros de Jesus, que traíram a sua humildade, como traem, a cada passo, os legítimos desígnios do Evangelhos.

          Ataquem o Espiritismo, persigam-no, levem-no á cruz, depois de enxovalha-lo com mentiras soezes, tal como os fariseus perseguiam e insultavam o suave rabi da Galileia. Nada alcançarão, porque, contra o Bem e a Verdade, não prevalecerão o Ódio, a Mentira, a Corrupção e o Dolo. A perenidade do Espiritismo está assegurada pela perenidade do Evangelho do Cristo.


quinta-feira, 15 de abril de 2021

Se Bergson ainda vivesse...

 


 Se Bergson ainda vivesse...

por Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Novembro 1963


Indalício Mendes

         Em conferência realizada na Sociedade de Pesquisas Psíquicas, de Londres, em 28 de Maio de 1913, o filósofo Henri Bergson declarou enfatícamente: “Admiro a coragem que tendes tido, sobretudo nos primeiros anos, para lutar contra as prevenções duma boa parte do público e para desafiar as zombarias que amedrontam os mais valentes.” E mais adiante: “Como explicar as prevenções contra as ciências psíquicas, prevenções que muitos ainda conservam?”

            Bergson não era contra o estudo das ciências psíquicas, como certos cientistas que não querem preferir a verdade dos fatos à “verdade” que interessa a grupos dominantes, quer religiosos, quer científicos ou pseudo-científicos. Estes são os que procuram acoroçoar as zombarias, negando a evidência e procurando subordinar os fatos mais verídicos a um vocabulário já velho, onde as palavras “superstição”, “mistificação”, além de outras, são utilizadas para “provarem” que os fenômenos espíritas são coisa muito diferente, tão diferentes que êles, até hoje, não conseguiram dar uma explicação convincente.

               Os verdadeiros estudiosos prosseguem, quietos, no estafante trabalho de coleta e explicação de fatos psíquicos, cada vez mais numerosos e eloquentes. Não importa que a ciência oficial e também a religião oficial se unam contra a Verdade espírita, que, um dia, há-de derrubar todos os preconceitos, todas as prevenções e todas as mentiras, impondo-se de maneira categérica aos povos da Terra.

              O Espiritismo não tem pressa. Os homens é que deveriam estar apressados, a fim de se armarem de elementos para uma vida melhor sobre a Terra. Aqueles que já se beneficiaram no Espiritismo são os melhores propagandistas da verdade espírita. Assim como Jesus se viu vaiado, cuspido, apedrejado, humilhado, perseguido, sangrado, chicoteado e, por fim, crucificado, assim vem o Espiritismo seguindo, calma e corajosamente, o seu Calvário, certo de que está cumprindo sua missão na Terra, determinada pelo Cristo, de modo que encontrará também a sua glorificação, quando seus negadores, confundidos e perturbados, caírem a seus pés, deprecando o perdão de suas perfídias, falsidades e erros. Então, tal como o Cristo, pois lhe segue os princípios, o Espiritismo os receberá fraternamente, perdoando-lhes e levando-os para o banho lustral de uma vida nova e mais fecunda.

             Para os que se deixam levar por más informações ou por errôneas impressões o Espiritismo pode parecer passatempo para quem não tem coisas sérias a fazer. Bastará, entretanto um exame mais detido dos problemas que ele enfrenta e soluciona, para que se verifique logo a importância fundamental da sua doutrina na vida humana. Sem santos nem altares nem rituais, o Espiritismo contribui decisiva e imediatamente para restaurar o equilíbrio em toda a parte. Seus preceitos e conceitos são simples, mas objetivos. Será suficiente segui-los para que tudo se aclare, ainda que se tenha de lutar para vencer. O Espiritismo dá coragem e força, assim como ensina a resistir e a triunfar, sob a proteção de sua Doutrina, humana e acessível a todas as inteligências.

            O espanto de Henri Bergson prova quão rude tem sido o caminho seguido pelo Espiritismo. Mesmo assim, os espiritas avançam, o Espiritismo progride em todos os sentidos e em todo o mundo, porque a sua força vem de Cima, vem do Alto. Ele tem a energia do Amor, da Caridade, do Altruísmo, da Paciência e da Verdade. Por isso, ele subsistirá. Seus negadores passarão mas ele crescerá cada vez mais, esclarecendo a Humanidade, consolando-a, aliviando-a, mostrando-lhe que ninguém jamais será feliz enquanto não começar a sua própria reforma íntima, ao mesmo tempo que olhar para os seus semelhantes com fraternidade, pronto a ajudar, pronto a servir desinteressadamente, procurando de preferência o que cada cada qual tem de bom dentro de si.

            O Espiritismo educa e eleva.  Fortalece e salva. Não se envergonha de ser humilde, mas encontra meios de tornar a sua humildade uma força, porque é uma humildade ativa, que constrói e não teme confrontar com a impiedade, a intolerância, o poder, a calúnia e a intriga. Como a árvore, o Espiritismo dá sombra e frutos a quantos o procuram, sem se preocupar com as ideias, o passado e o caráter dos que a ele recorrem.

            Se Henri Bergson ainda vivesse no mundo dos encarnados, ficaria triste ao ver que a Sociedade de Pesquisas Psíquicas, de Londres, não é hoje o que foi no passado. Invadiram-na elementos sem isenção de ânimo para julgar. Transformaram-na num instrumento de combate às ideias espíritas, fazendo crer que os fenômenos psíquicos inexistem ou dando-lhes interpretações insinceras, sem aquele critério imparcial, rigorosamente científico, que assinalaram, por exemplo, as notáveis experiências de William Crookes.   

 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

O futuro está em nossas mãos

 



O futuro está em nossas mãos

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)   Reformador (FEB) Abril 1963

             Cada ser humano tem de trabalhar pela própria felicidade. Se o seu carma é pesado, poderá amortizá-lo em tantas encarnações quantas sejam necessárias à sua reabilitação. Por sobre a Humanidade paira o Cristo, vigilante, caridoso, terno, que estimula os fracos, encoraja os tíbios, suaviza as dores dos enfermos, acalma os desesperados, iluminando lhes a jornada com a esperança. Nunca, porém, concedendo privilégios a este ou àquele, por ser desta ou daquela religião, por professar este ou aquele credo. Nunca, porém, impedindo que cada qual se levante por si mesmo e por si mesmo busque, à custa de lutas e sacrifícios, se necessário, a redenção final.

            Ninguém ficará eternamente condenado ao sofrimento, ninguém padecerá de penas eternas, porque a todos é dado o ensejo de melhorar, de compreender a diferença que há entre o bem e o mal. As provações representam o compromisso cármico de cada um, compromisso que terá de ser cumprido integralmente, através das encarnações. Portanto, o Espírito terá diante de si, como uma estrada aberta a seus passos, o Tempo. Quanto mais depressa resgatar seus débitos, mais depressa conhecerá a ventura. Dependerá de si próprio o destino que cumprirá em cada estágio reencarnacionista.

            Dizer-se que Jesus morreu para salvar a Humanidade é uma burla, porque nunca a Humanidade sofreu tanto quanto depois do sacrifício brutal imposto ao meigo Nazareno. Se fosse verdade a assertiva, o mundo não conheceria guerras, os homens seriam felizes, viveriam em paz, amar-se-iam sinceramente, abominariam a hipocrisia, a intriga, a falsidade, a felonia, a traição. Jesus veio ao mundo para deixar o seu Evangelho - roteiro de paz, amor e felicidade - e firmar o exemplo grandiloquente de coragem e fé nos ideais que pregou e defendeu. Se todos seguissem esses ideais, com a mesma fé, a mesma coragem, o mesmo entusiasmo e a mesma determinação, o mundo não estaria hoje sofrendo mil e uma torturas. O homem não continuaria sendo escravo do homem e reinaria na Terra a fraternidade aconselhada por Jesus. Ele nos traçou o caminho.

            Nós, no Espiritismo, não ensinamos que Jesus morreu para redimir a Humanidade, porque, decorridos quase dois mil anos da implantação de um cristianismo que não revela a verdadeira estrutura do pensamento do Cristo, não há paz na Terra, nos lares, onde quer que haja agrupamentos humanos. Enche-se a boca de prédicas bonitas, pendura-se Jesus nos lábios, mas os corações nem sempre o admitem lá dentro.

            Os que se afirmam herdeiros do Cristo muitas vezes espalham o fermento da desarmonia, acendendo as fogueiras da intolerância, do desamor e do sectarismo.

            O que ensinamos, no Espiritismo, é o modo de seguir o itinerário traçado pelo Mestre no Evangelho, mas sem fantasia nem mistério. A Doutrina Espírita é um farol que leva ao infinito a luz do conhecimento acerca do destino do homem na Terra e do Espírito no Além. Esse itinerário nos deixará um dia no porto da redenção espiritual, através dos esforços que realizarmos para conquistar, palmo a palmo, o terreno perdido em encarnações mal orientadas, e para expungir do nosso “eu” os vícios e defeitos que retardam a nossa evolução.

            Jesus deu o exemplo de irmos até ao sacrifício, se preciso, na defesa dos ideais de aperfeiçoamento moral, fazendo o bem, exercendo a tolerância e sem nos vingarmos daqueles que nos fazem mal. Só assim alcançaremos a melhoria e o fortalecimento da nossa condição cármica. Temos, pois, de persistir na luta para lhe seguir as pegadas gloriosas, sem lamúrias nem desesperos. É mister, contudo, distinguir o Espiritismo do “espiritismo”. Ninguém pode ser espírita à sua moda. Somente pode ser espírita quem conforma sua conduta pelas normas doutrinárias, procurando delas não se afastar, haja o que houver, reerguendo-se sempre que cair.

            Ser espírita é obedecer à Doutrina codificada por Allan Kardec, fugindo ao sectarismo, à intolerância e a tudo quanto desvirtue o conceito ético do Espiritismo. Ser espírita é manter-se fiel a essa Doutrina, mostrando-se absolutamente isento de influências de outras religiões incompatíveis com os princípios que adotamos. Ou somos peixe ou somos carne. Não podemos ser as duas coisas ao mesmo tempo. Devemos evitar a “miscigenação” que se vai insinuando em nosso meio, sem, entretanto, cairmos na ortodoxia, que é fonte geradora da intolerância. Assim, não teremos mais tarde que lamentar as consequências do descaso e só assim imporemos limites ao mistifório “doutrinário” que está aflorando em Centros mal dirigidos.

            No Espiritismo, o fundamental é sua Doutrina, porque somente através dela, e só com ela, será possível o progresso moral e espiritual do homem. Não interessa aparentar erudição, mas conhecimentos seguros da Doutrina e subordinação a seus princípios. O que interessa é doutrinar, educar, orientando, fazendo que retifiquem seus passos aqueles que se desencaminharam na vida terrena, para que experimentem o reconforto do coração esclarecido. O Espiritismo ensina ao homem o porquê da vida terrena, dos sofrimentos, das desigualdades sociais. Mostra a vida espiritual, feliz, não como um Paraíso destinado aos favorecidos pelo “pistolão” de credos supostamente privilegiados, mas como um direito que cada qual pode conquistar por seu próprio mérito. É um direito que se terá de adquirir pelo trabalho, nunca por dinheiro.

            Até hoje o Espiritismo tem sido coerente com os seus princípios fundamentais, não obstante o esgalhamento que se observa, alheio a essas normas indispensáveis e insubstituíveis. É preciso que continue coerente, embora os obstáculos sejam cada vez maiores, pois, à medida que se aproxima o advento do Terceiro Milênio, mais fundas e demoradas serão as dores do mundo. E os que não estiverem preparados para suportar o que ainda está por vir, demonstrando coragem e resignação valorosa, soçobrarão fatalmente no mar revolto dos entrechoques ideológicos e sociais.

            “O Livro dos Espíritos” contém os "Princípios da Doutrina Espírita.” Estudá-lo sempre e sempre, na ânsia louvável de assimilar-lhe os ensinamentos, é dever de cada um de nós. Só se define como espírita quem saiba exemplificar as normas doutrinárias, pautando suas ações terrenas, na vida íntima do lar e na vida fora do lar, pelas lições prodigiosas da Doutrina codificada por Allan Kardec.


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Doutrinar, intensa e profundamente

 

Doutrinar intensa e profundamente

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)    Reformador (FEB) Março 1963

             Há cada vez maior necessidade de se propagar o estudo metódico e a explicação clara e paciente da Doutrina Espírita, que constitui o instrumento primordial da preparação do homem para compreender a vida no plano material e no plano espiritual.

            De pouco vale a assiduidade no recebimento de passes e no comparecimento fiel a reuniões de trabalhos práticos e de palestras, se a tudo isso não se juntar o conhecimento real da Doutrina e o consequente esforço - continuado e crescente - para exemplificar as lições aprendidas.

            O Espiritismo recebe diariamente novos reforços de elementos que, desiludidos com as religiões que professavam, buscam na Terceira Revelação o que não encontraram nos credos anteriormente abraçados, Esses reforços, por muito bem intencionados que estejam, trazem, quase sempre, com o seu natural entusiasmo pela nova crença, uma bagagem de ideias feitas e de hábitos herdados das antigas religiões em que militavam. Não será exagero acrescentar que alguns jamais conseguem despir-se de costumes sectários e preconceitos mantidos no ambiente religioso de que provieram.

            Então, vamos verificando a infiltração de ideias, pensamentos e hábitos incompatíveis com os princípios tradicionais do Espiritismo. Se um Espírito, se manifesta e transmite ideias tipicamente católicas, há quem as aceite sem exame, sem verificar estarem em antagonismo com o que se ensina e se aconselha em face da Doutrina Espírita. O fato de a ideia provir de um comunicante desencarnado não quer dizer deva ser aceita passivamente, sem análise. Hoje, quanta coisa se diz e se faz em certos centros espíritas, que representam uma mistura de práticas espíritas e ideias católicas! Já ouvimos de um adepto do Espiritismo a expressão “Menino Deus”; de outro, até o vezo muito católico de considerar Jesus como Deus. Leiam “Jesus, nem Deus nem homem”, de Guillon Ribeiro; “O

Cristo de Deus”, de Manuel Quintão; “Elos Doutrinários”, de Ismael Gomes Braga, ou, então, obras de maiores proporções, como “Os Quatro Evangelho”, de Roustaing, e “Elucidações Evangélicas”, de Sayão. Neles, por exemplo, ver-se-á o erro, em que certos espíritas já estão incidindo, de atribuir divindade a Jesus, de aludir ao dogma humano da “santíssima trindade” e outras excrescências que pseudo-espíritas, desconhecedores da Doutrina, acolhem e mantêm, colhidas no mistifório católico.

            Precisamos, pois, ter cuidado como adverte Manuel Quintão, em “0 Cristo de Deus", com o “ensino duvidoso e fragmentário que do Além nos chega, sem visos de iniludível autenticidade”.

            Não deixamos de reconhecer e salientar a elevadíssima hierarquia espiritual de Jesus, um dos Cristos, ou Enviados, que Deus disseminou no Universo, cada qual com a responsabilidade de instruir, educar e orientar o Planeta sob a sua imediata direção.

            Não vemos Jesus inerte, eternamente pregado à cruz, o corpo dilacerado e ensanguentado. Vemos Jesus vivo, envolto num manto radiante de luz, a amenizar as dores da Humanidade com a sua ternura inexcedível. Para nós, espíritas, Jesus está vivo, presente aos destinos da Terra, atento aos problemas humanos, mas também fiel à observância purificadora do Carma, que, através das reencarnações, prepara cada Espírito para os serviços de assistência aos sofredores e desorientados,

            Não amamos o cadáver de Jesus, mas o Jesus-Espírito, o Jesus-vivo, derramando pelo mundo a sua bondade, o seu altruísmo, a sua extraordinária capacidade de amar o próximo, a sua fecunda tolerância, o seu intenso labor em favor dos fracos e oprimidos, a sua luta incessante pela recuperação dos maus, para que, um dia, nesta ou em outras reencarnações, se tornem eles também devotados e exemplares trabalhadores efetivos da sua abençoada Seara.

            Para evitar todas as infiltrações prejudiciais à unidade do pensamento espírita, é indispensável o estudo público, com a respectiva explicação de cada período, de toda a Doutrina Espírita.

            Abramos os braços a quantos nos procurem e busquem conforto em nossa religião, mas não os deixemos ficar sem os ensinamentos indispensáveis a que se tornem realmente espíritas, conhecedores da Doutrina, para que possam desfazer-se definitivamente da bagagem de hábitos, ideias e preconceitos que, involuntariamente, tragam das religiões de onde promanem.


domingo, 8 de novembro de 2020

Titânica Tarefa

 

     Antônio Wantuil
                                                                         O Presidente mais longevo da FEB 1(943-1965)

Titânica Tarefa

por Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Fevereiro 1962

             A literatura espírita tem progredido extraordinariamente no Brasil graças, em grande parte, aos esforços despendidos pela Federação Espírita Brasileira. Obras de caráter científico, religioso, doutrinário e literário tem saído das oficinas do Departamento Editorial da FEB, oficinas que já não dão conta dos trabalhos que se acumulam, aguardando impressão. Isto quer dizer que o movimento espírita continua crescendo e crescendo muito depressa. Tão depressa que os recursos materiais da Federação Espírita Brasileira, requisitados para a ampliação do Departamento Editorial, não bastam para satisfazer as exigências normais do movimento.

            Muitas vezes a FEB se vê impossibilitada de reeditar obras importantes, de cunho científico, doutrinário ou literário, por não haver espaço e máquinas disponíveis. Em certos casos urgentes, a FEB tem recorrido a tipografias particulares mas semelhante providência encarece sobremaneira as obras, dificultando o programa estabelecido pela FEB.  

            Não obstante isso, conseguiu o Departamento Editorial liberar uma grande obra que aguardava sua vez de reedição. Referimo-nos ao monumental trabalho de Epes Sargeant intitulado “Bases Científicas do Espiritismo”, cuja primeira edição em nosso idioma foi impressa em Paris há muitos anos, e estava completamente esgotada.

            A nova edição foi cuidadosamente revista, segundo a edição original norte-americana. Traz esclarecimentos oportunos além de informações biográficas a respeito do insigne Epes Sargent, tão pouco conhecido nos meios espíritas de hoje.

            É preciso que os espíritas levem em conta os esforços e os sacrifícios da Federação Espírita Brasileira em reeditar obras antigas, indispensáveis à sobrevivência da cultura espírita, como tem feito e continuam fazendo. Estão, nesse caso, além de “Bases Científicas do Espiritismo”, estes livros: “Animismo e Espiritismo”, de Alexandre Aksakof: “O Espiritismo”, de Paul Gibier, “O Fenômeno Espírita”, de Gabriel Delanne; “Um caso de desmaterialização”, de Alexandre Aksakof; “A Morte e seu Mistério” (3 volumes) “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos” de Camille Flammarion, etc. Isto sem se falar em outras de cunho doutrinário e evangélico como “'No Invisível”, “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, “Cristianismo e Espiritismo”, essas e outras de Léon Denis: “A Psicografia ante os Tribunais” de Miguel Timponi, cuja primeira edição se intitulava “O Caso Humberto de Campos”; “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing, etc. 

            Muitas obras de feitura e conteúdo científicos têm de sobreviver em reedições periódicas para que as novas gerações se ponham a par dos fatos e das ideias discutidos e comprovados no pretérito. Um livro como “Física Transcendental”, de Frederico Zöllner, ou estas de Delanne: “O Espiritismo perante a Ciência”, “A Evolução Anímica” e “Reencarnação” têm de fazer obrigatoriamente parte da biblioteca dos estudiosos, daqueles que, além dos conhecimentos doutrinários e evangélicos do Espiritismo, queiram estimular sua cultura com as obras de divulgação científica.

 

Do blog: O esforço da FEB vem desde sempre...