A luta Gloriosa
Tasso
Porciúncula
(Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Novembro 1964
É muito fácil dizer-se: “Tenho lido
muita coisa sobre o Espiritismo, conheço as obras de Fulano e Sicrano. São
maravilhosas, lindas e edificantes.” Na realidade, as obras espíritas são
assim, mas de nada adiantarão se não forem assimiladas as suas lições, se os
seus ensinamentos não se converterem para todos nós em norma de conduta, em
roteiro para a nossa vida cotidiana.
Ninguém melhor do que nós sabe
quanto isso é difícil, porque temos ainda a alma sobrecarregada de compromissos
cármicos. Mas as dificuldades podem ser atacadas com persistência. Temos de
insistir, dia a dia, na prática da Doutrina. Se não pudermos fazer tanto quanto
precisamos, que façamos o que pudermos. O essencial é fazer alguma coisa, é não
desanimar, não recuar. Para vinte desvios, trinta tentativas de reabilitação;
para vinte quedas, outras tantas lutas pelo reerguimento.
O fato de reconhecermos a nossa
incapacidade para avançar depressa não quer dizer que fiquemos parados. Façamos
alguma coisa. Se não nos é possível andar um metro, procuremos avançar um
centímetro. Iremos mais devagar, mas iremos. O essencial é não parar, ainda que
reconheçamos a nossa fraqueza, a nossa falta de disposição para reagir contra
os males que nos assaltam, ainda que não tenhamos energia para exemplificar
sempre. Tanto seremos beneficiados pelo progresso que alcançarmos, como
responsabilizados pelos erros que praticarmos.
De nós, exclusivamente, depende
vencer ou ser derrotados. Poderemos ir vencendo aos poucos, mas também, se
formos invigilantes e fracos, não evitaremos a destruição do resto de ânimo que
tivermos para reagir. Por isso, não abandonemos nunca a Doutrina, que será um apoio
para nós, um estímulo, um encorajamento, se nos resolvermos a fazer sempre algo
para melhorar.
Entretanto, se nenhuma resistência realmente
séria e tenaz opusermos a tudo quanto contribua para o nosso enfraquecimento
moral, então nada adiantará nossa aparente determinação.
Na Epístola aos Filipenses, disse
Paulo, ao salientar a necessidade “de algum modo atingir à ressureição
dentre os mortos”, pois que “mortos” somos todos quantos continuamos
a viver sem a iluminação espiritual, somente possível com o progresso moral. “Não
digo que eu já o tenha obtido, ou que seja já perfeito, mas vou prosseguindo
para ver se também poderei alcançar aquilo para o que igualmente fui toma por
Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo ter ainda alcançado; mas alguma coisa faço,
esquecendo-me das coisas que ficam para trás, e, avançando para as que estão
adiante, prossigo em direção ao alvo, para obter o prêmio da vocação celestial
de Deus em Cristo Jesus.”
O Carma, que exprime fielmente a Lei
de Causa e Efeito, porque é ela mesma, é a cruz que todos carregamos no dia a
dia da vida terrena e espiritual. Irá ficando mais leve à medida que formos
reduzindo a parte negativa da nossa personalidade moral e aumentando a parte
positiva que nos levará à redenção. Irá ficando mais pesada, entretanto, à
proporção que a nossa imprevidência, preguiça, displicência ou invigilância se
for multiplicando sem que nos apercebamos do mal que a nós mesmos fazemos.
Persistamos todos na linha reta e
íngreme, mais doce de seguir que os caminhos planos, mais tortuosos de molde a
podermos alcançar a porta estreita, pela qual muitos pretendem entrar, mas
poucos o conseguem, porque a única condição para transpô-la está na exemplificação
do bem, na recusa do mal, na construção do “homem novo” que representará a
ressureição do nosso espírito e a morte definitiva do “homem velho”.
A mais gloriosa luta é a que
sustentamos contra nós mesmos. A mais gloriosa e a mais difícil de vencer.
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