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sábado, 20 de novembro de 2021

Honra do Evangelho

 

Luciano dos Anjos

‘Honra do Evangelho’

por  Luciano dos Anjos

Reformador (FEB) Outubro 1962

                Não que os fariseus falassem de princípios tão infundados mas porque Jesus não lhes visse sinceridade no procedimento é que os exprobrava. E eles mesmos acabaram, por seus atos, constituindo-se em apropriada sinomínia de hipocrisia e da falsidade. A doutrina não era má nem absurda; eles é que a conspurcavam. Pior do que o irreligioso é o mau religioso; muito pior do que o anticristão é o falso cristão; muitíssimo pior que o anti-espírita é o espírita insincero. Há, naturalmente, dadas as nossas condições mesmas de encarnados, de criaturas falidas e ainda passíveis do erro, ma faixa perdoável de ações terrenas, dentro da qual nos movemos fora da Lei, por´m sem labeu profundo para o nossos destino e a nossa individualidade. Todavia, impossível considerar dentro dessa faixa, principalmente em relação àqueles que já têm o privilégio de conhecer a Doutrina dos Espíritos, determinados comportaentos de ordem moral, muito aquém da Honra do Evangelho. Que se não exija a supressão pronta do fumo aos que del já fizeram arraigado vezo; que se tolere até, sem exagero (numa recepção, por exemplo), o tradicional brinde festivo; consinta-se, ainda, a bem do nível proteico do organismo, a ingestão da carne; mas nunca, em condição alguma, sob nenhum pretexto, e título de nenhuma justificativa, o “hábito” vituperioso da poligamia! O mundo, na sua vertigem de maldade e de loucura – ou, antes, de ignorância e atraso, - aperfeiçoa e requinta dia a dia a técnica do vício e a cada tríquete é menos apto para diferencia-lo da virtude. Pior que isso: a maioria fez um pelo outro e inverte, inconscientee instintivamente, todos os valores espirituais. Hoje, tolo e “superado” é aquele que se mantém puro e vive exclusivamente para o seu lar e a sua família; inteligente e esperto, o que logra sustentar “com habilidade” a poligamia. E antevemos até – com pena, muita pena – o escárnio com que muitos irmãos nossos a estas alturas estarão dizendo, ainda que em voz íntima : - “Coitado... Está muito atrasado... Está fanatizado pela religião. Esse tempo já passou”...

             Entretanto, parece-nos não sobrar dúvida quanto à moral espírita no que concerne a isso. O Espiritismo não tolera o aviltamento do lar. Um espírita, mais do que qualquer outro, não está a altura da Doutrina se não é capaz de ser puro e conservar imaculado o seu lar. Há que se diga com sinceridade: a poligamia desonra o Evangelho.

             O lar – diz André Luiz em “Nosso Lar” – é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável. É templo, onde as criaturas devem unir-se espiritual antes que corporalmente. Há na Terra, agora, grande número de estudiosos das questões sociais, que aventam várias medidas e clamam pela regeneração da vida doméstica. Alguns chegam a asseverar que a instituição da família human está ameaçada. Importa considerar, entretanto, que, a rigor, o lar é conquista sublime que os homens vão realizando vagorosamente.” E, mais adiante: “Lar é instituição essencialmente divina e que se deve viver, dentro de suas portas, com todo o coração e com toda a alma.” Em “Missionários da LuzAndré Luiz é ainda mais contundente: “A esposa infiel aos princípios nobras da vida em comum e o esposo que põe sua casa em ligação com o meret´ricio, não devemesperar que seus atodos afetivos permaneçam coroados de veneração e santidade. Sua relações mais íntimas são objeto de articipação das desvairadas testemunhas que escolheram. Tornam-se vítimas inconsciente de gruposperversos, que lhes partilham as emoções de natureza fisiológica, induzindo-as á mais dolorosa viciação. Ainda que esses conjuges infelizes estejam temporariamente catalogados no pináculo das posições sociais humanas, não poderão trair a miserável condição interior, sequiosos que ivem de prazeres criminosos, dominados de estranha e incoercível volúpia.”

             Mas, não apenas do ponto de vista moral cumpre ao espírita profligar tão torpe viciação. Os que estão mais familiarizados com as recentes obras ditadas do Além conhecem, sem dúvida, as consequências biológicas, psicobiológicas e metapsicobiológicas do ato da poligamia. Em “Ação e Reação”, comenta André Luiz: “O sexo no corpo humno é assim como um altar de amor puro que não podemos relegar a imundície, sob pena de praticar as mais espantosas cruendades mentais, cujos efeitos nos seguem, invariáveis, depois do túmulo.”  Em “Falando à Terra”, ensina-nos Romeu A. Camargo, através da mediunidade de Chico Xavier: “O corpo de sangue e ossos é simplesmente uma sombra da nossa entidade real e todas as nossas virtudes ou vícios a nós se atrelam além da Terra; pelo que, da cada qual depende o caminho aberto ou o desfiladeiro sombrio na sublime romagem para a Luz.”

             E não tentem justificar as traições à família com os exemplos tolos e pífios da incoercível explosão fisiológica das células sexuais! Se não bastasse a sublimação dos instintos sugerida pela escola freudiana, argumentaríamos, ainda com André Luiz, quando afirma em “Missionários da Luz”: “Por isso mesmo, os homens e as mulheres, cujas almas se vão libertando dos cativeiros da forma física, escapam, gradativamente, do império absoluto das sensações carnais. Para eles, a união sexual orgãnica vai deixando de ser uma imposição, porque aprendem a trocar os valores divinos da alma, entre si, alimentando-se reciprocamente através de permutas magnéticas, não menos valiosas para os setore da Criação Infinita, gerando realizações espirituais para a eternidade gloriosa, sem qualquer exigência dos atritos celulares.” Noutros trechos desta mesma obra: “Não seria possível, portanto, reduzir semelhante fundamento da vida universal, cirunscrevendo-o a meras atividades de certos órgãos do aparelho físico.” Finalmente, “No Mundo Maior”, explica o mesmo André Luiz: “A sede do sexo não se acha no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização.”

             Cumpre que se repita com frequência, ênfase e veemência: O Espiritismo nasceu para reformar o Homem. Se houvesse sido codificado apenas para dar novas fórmulas á adoração de Deus, convenhamos que o Catolicismo era bastante; se veio apenas para alargar os horizontes científicos da Terra, a metapsíquica ou a parapsicologia chegavam; se existe tão só para esquadrinhar os ramos da Filosofia, ficássemos com o pensamento socrático e platônico que talvez cumprisse melhor essa finalidade. Ou há quem julgue que tanta preocupação do Alto, tanta luta missionária, tanto sacrifício e tanto martírio permitiu-se para que o Homem saciasse a sua curiosidade pelo prenatural ou simplesmente para que se produzisse algum espetáculo de Deus para os nossos lindos olhos? Contato com os mortos, rapes, efeitos físicos, psicografia, transportes, materializações e um mundo de outras maravilhosas manifestações... apenas para deleite do homem que, em última análise, se tudo não passasse mesmo de um grande ‘show”, nem ao menos dera prova de merecimento, com o bom aluno que se aplica para poder ir ao cinema no fim da semana. Não! O Consolador não veio para isso! O Espiritismo nasceu para remodelar e transmutar o homem, renovado, reformado, remoçado, antítese do homem velho e deformado que aí está. Os princípios do Espiritismo visam a esse escopo, em que pese tudo o mais.  “O Espiritismo – fala Efigênio S. Vitor, em “Vozes do Grande Além”  - é um corpo de principios morais, objetivando a libertação da alma humana para a Vida Maior.” E Irmão X confirma em “Contos e Apólogos”: “Se você estima o Espiritismo prático, não olvide o Espiritismo praticado.” Ensina ainda o mesmo Irmão X em “Luz Acima: “O homem poderá rir com Voltaire, estudar com Darwin, filosofar com Spinoza, conquistar com Napoleão, teorizar com Einstein, ou mesmo fazer teologia com São Tom´s; entretanto, para viver a existência digna, há que alimentar-se intimamente de princípios sanificantes, tanto quanto entretém o corpo à custa do pão.” E dentro desses princípios santificntes, o primado é daquele que diz respeito ao comportamento do homemou da mulher em relação ao próprio lar. As distorções desse comportamento podem até mesmo incidir maleficamente sobre a saúde somática e psicossomática dos cônjuges, se concluirmos que “as raízes morais  são sempre os fatores de maior importãncia, não somente na vida normal, senão também, e em particular, nas horas conturbadas”, no dizer de Miguel Couto, segundo a obra mediúnica de Chico XavierFalando à Terra”. Consequência mais grave, porém, avulta nas variadas obsessões que se revelam na face da Terra. O polígamocria em torno de si um campo de imoralidade e amoralidade cujos caminhos se mantém sempre desimpedidos aos habitantes das trevas, ora para cooperar ativamente na destruição definitiva do seu lar (obra que ele próprio iniciou), ora convertendo-se num bonifrate (fantoche) que manejam desgraçadamente. As trevas agem com perfídia e muito cálculo. Não raro, investem quando menos se espera. Em matéria de atração física impõe-se múltipla vigilância para que não se fascine inguém pelo canto da sereia. “Toda obsessão – comenta o glorioso Emmanuel em “Pensamento e Vida” – começa pelo debuxo (esboço) vago do pensamento alheio que nos visita, oculto. Hoje, é um pingo de sombra, amanhã linha firme, para, depois, fazer-se um painel vigoroso, do qual assimilamos apelos infelizes que nos aprisionam em turbilhões e trevas.”

            O espírita deve ser um exemplo, pelo menos nos quadros mais simples e primários da doutrina que abraçou. Seus atos são duplamente vigiados e não escasseiam os que aguardam nossas quedas para inculpar a Doutrina e tentar desmoraliza-la. Não façamos do Espiritismo uma reedição indesejável do Farisaísmo, a fim de que a exprobação do Mestre não recaia desta vez sobre os adeptos de Allan Kardec, nem venhamos a caber, dentro das enciclopédias do futuro, como mais um sinônimo de hipocrisia e falsidade. Convençamo-nos da mácula da poligamia e, tanto quanto se possa e deva, evitemo-la por amor da Nova Revelação, para redenção de nós próprios, pela honra do Evangelho e para glória do Criador. “O lar digno – afirma André Luiz em “Ação e Reação” -, santuário em que a vida se manifesta na formação de corpos abençoados par a experiência da alma, é uma instituição venerável, sobre  qual se encontram as atenções da Providência Divina.” Apenas para refrescar nossa memória e arrematar este artigo, busquemos para ele u último parágrafo apanhado à obra máxima da Humanidade e dito por quem tinha autoridade para fazê-lo: “Aprendestes que aos antigos foi dito: Não cometerás adultério. E eu te dito que quem quer olhe para uma mulher, cobiçando-a, já cometeu adultério no seu coração.” Jesus (Mat. 5:23,28).


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