Por quê ?
por Cristiano Agarido(Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Outubro 1946
Bem simples
e por isso mesmo muito difícil de aceitar-se a explicação.
A
universalidade da língua francesa deu à França uma supremacia cultural indiscutível
no século XIX e desencadeou os ciúmes nacionais dos imperialismos diversos e
cada povo tentou elevar seu próprio idioma às culminâncias que havia atingido o
francês. A língua única dadiplomacia foi violentamente afastada e todos os povos
tentaram introduzir o seu idioma, chegando-se rapidamente a plena Babel nas relações internacionais que por mais de um
século haviam gosado os benefícios da unidade linguística com o francês como língua diplomática
mundial. Chegou-se ao absurdo de redigir tratados internacionais em tantas
línguas quantos fossem os contratantes e todas elas como originais.
Inglês,
alemão, italiano, russo, espanhol, todas as línguas da Europa, foram impostas pelos
diferentes povos como possuindo direitos
iguais ao francês e este caiu rapidamente das funções de língua de cultura
mundial para o lugar de simples língua nacional de minorias.
O
Espiritismo sofreu toda a desarticulação da falta de uma língua comum. As
mensagens descidas do Alto ficaram limitadas
a regiões linguísticas, a verdadeiras ilhas inabordáveis para os outros povos. A Revelação continua sendo mundial,
porque os Espíritos falam em todas as línguas do planeta, mas os homens estão
privados da universalidade das comunicações e limitados exclusivamente às suas
fronteiras linguísticas. Em vez de um Espiritimo mundial único, como ao tempo
de Kardec, elaboram-se centenas de pequenos movimentos espíritas desligados uns
dos outros e ignorantes até da
existência de outros núcleos. Surgem grandes médiuns, maiores do que existiam
ao tempo de Kardec, mas sua obra provisoriamente permanece fechada em cada região lingística. Quem
conhece na França a obra de Rosemary ou de Francisco Cândido Xavier? Nem os
brasileiros conhecem as obras da grande
médium inglesa, nem os ingleses conhecem a dos nossos médiuns, e assim sucede a
todos os povos. Falta a língua comum que reúna todo esse imenso tesouro, que,
realmente, quando ligado em um todo, venceria o mundo em poucos anos, como previa Kardec sem poder
imaginar a falência da língua francesa, queda inteiramente imprevisível em 1864,
mas totalmente consumada em 1919, quando, pela primeira vez, numa conferência
de diversas Potências, o francês foi excluído, porque os estadistas declararam
que não sabiam francês.
A falta de
um língua mundial de cultura que reuna tudo quanto recebem os médiuns
espalhados pelo mundo, para restituir tudo a todos como patrimônio comum de
todos e de cada um, retardou de modo impressionante o movimento espírita
mundial; mas o que perdemos em um século reconquistaremos em outro para toda a
eternidade futura.
Já
os espíritas iniciaram em escala mundial a obra do futuro. O Congresso Espírita
Panamericano adotou o Esperanto como uma de suas línguas oficiais; na
Inglaterra, fundou-se a Londona Esperanto-Spiritista Societo; no Egito, está-se
trabalhando com ardor pelo Esperanto entre os Espíritas; no Brasil, a Federação
Espírita Brasileira iniciou o duplo trabalho de divulgar o Esperanto entre os
espíritas e o Espiritismo entre os Esperantistas, e neste sentido já publicou vinte e
poucos livros.
Não sabemos quando,
mas sabemos que um dia a situação será
muito melhor do que no tempo de Kardec; porque o Espiritismo terá uma língua
mundial de todos e nela reunirá essa imponente biblioteca descida do Alto; são obras
que se completam pela diversidade dos aspectos tratados pelos Espíritos e,
quando reunidas, terão a força necessária para se imporem irresistivelmente a
todos os pensadores do mundo.
Trabalhemos,
pois, com a certeza de que o grande ideal está em marcha e seu eclipse será
muto passageiro.
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