Publicanos e excomungados
A Redação Reformador (FEB) 1º Dezembro 1923
Referindo-os, outro intuito não temos senão o de
proporcionar ao leitor um ensino verdadeiro, fácil e proveitoso.
Na era messiânica, a Judeia estava sob o jugo dos Romanos, seus conquistadores. O povo conquistado, se os temia, detestava e desprezava os publicanos, arrecadadores de impostos. Tidos como “pecadores públicos e escandalosos”, o sacerdócio hebraico, orgulhoso e intolerante, vedava-lhes a entrada no templo e nas sinagogas e não recebia as suas oblatas (Oferenda feita a Deus ou aos santos).
Essa proibição não tinha somente um caráter religioso;
estendia-se aos atos da vida civil, às relações privadas, públicas e sociais.
Em Cafarnaum, Mateus, publicano, estava assentado no telônio, (casa ou mesa
onde se recolhiam rendas públicas); mesa
de rendas, exercendo as suas atribuições fiscais, quando Jesus o chamou e ele,
levantando-se, o seguiu. (Mateus IX, 9). (1)
(1) Nos outros
sinóticos, este publicano figura com o nome de Levi. (Marcos, 11, 14, Lucas, v,
27, 28.)
(2) Segundo Lucas, ofereceu Levi, em sua casa, um
grande banquete a Jesus, ao qual concorreu grande número de publicanos, (v.
29.)
O Senhor então sentenciou:
“Os sãos não têm necessidade de médico, mas, sim, os
enfermos.
“Ide, pois, e aprendei o que quer fizer: misericórdia
quero e não sacrifício. Porquanto, eu não vim a chamar os justos, mas os
pecadores.” (Mateus, IX. 12, 13)
Surgiram as costumadas críticas e censuras farisaicas.
Ouçamos a palavra do Cristo:
“Hoje, entrou a salvação nesta casa, porque este também é
filho de Abrahão.
“Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que tinha
pecado – “quoerere et salvum facere quod
perierat” (buscando salvar o perdido) (Lucas, XIX, 9, 10)
Jesus, ainda pôs em confronto, para ensinamento dos seus
ouvintes e das gerações futuras, à oração do fariseu, inchado de soberba, e a
do publicano humilde.
“Este voltou justificado para sua casa e não o outro;
porque todo o que se exalta será humilhado e todo que se humilha será exaltado.”
(Lucas, XVIII, 10-14)
Os fariseus não desapareceram.
Vivem muitos, em nossos dias, dentro e fora das
religiões.
O estudo de coisas novas nos leva ao estudo de coisas velhas e vice-versa.
Sem dúvida, outros são os tempos, outras as ideias: mas,
no seio da humanidade planetária, falida, atrasada e descuidosa, o erro tem
vida persistente e longa, mormente em matéria religiosa.
Apesar da condenação proferida pelo Senhor, vemos pompear
o farisaísmo autoritário, pretendendo dar combate aos legionários da Nova
Revelação.
“Aprendei o que quer dizer: Misericórdia quero e não
sacrifício.”
Convertida em
sacerdotal a religião do Cristo - religião de indulgência e de piedade, de
tolerância e de caridade, de perdão e amor, o sacerdócio, exclusivista e dominador,
não aprendeu, não quis compreender a significação do preceito divino.
Abandonou a misericórdia. Funestos foram os resultados
desse desvio. O sacrifício, que
prevaleceu e predominou, à semelhança do judaísmo, é o denominado culto externo,
em manifesta oposição ao ensino evangélico.
Quero a Misericórdia:
Como foi cumprido o mandamento?
Além das perseguições religiosas, cuja história não pode
ser apagada, lembraremos de relance os efeitos temporais, in humanis (em humano),
da pena de excomunhão maior, expressos no
verso canônico:
Si pro delictis, anathema efficiatur,
Os, orare, vale, communio, mensa
negatur.
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Cratry in “Roma e o Evangelho”(Ed. FEB)
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