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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Publicanos e excomungados

 


   Publicanos e excomungados

    A Redação     Reformador (FEB) 1º Dezembro 1923

             Nos episódios evangélicos, relativos a Mateus e a Zaqueu, publicanos, vamos encontrar, como em outros, o antagonismo patente, perpetuado até aos nossos dias, entre a doutrina de Jesus, exemplificada por seus atos, e o procedimento dos representantes da religião oficial.

            Referindo-os, outro intuito não temos senão o de proporcionar ao leitor um ensino verdadeiro, fácil e proveitoso.

            Na era messiânica, a Judeia estava sob o jugo dos Romanos, seus conquistadores. O povo conquistado, se os temia, detestava e desprezava os publicanos, arrecadadores de impostos. Tidos como “pecadores públicos e escandalosos”, o sacerdócio hebraico, orgulhoso e intolerante, vedava-lhes a entrada no templo e nas sinagogas e não recebia as suas oblatas (Oferenda feita a Deus ou aos santos).  

            Essa proibição não tinha somente um caráter religioso; estendia-se aos atos da vida civil, às relações privadas, públicas e sociais.

            Em Cafarnaum, Mateus, publicano, estava assentado no telônio, (casa ou mesa onde se recolhiam rendas públicas); mesa de rendas, exercendo as suas atribuições fiscais, quando Jesus o chamou e ele, levantando-se, o seguiu. (Mateus IX, 9). (1)

            (1) Nos outros sinóticos, este publicano figura com o nome de Levi. (Marcos, 11, 14, Lucas, v, 27, 28.)

             Depois da vocação de Mateus, Jesus assistiu a um banquete em companhia de seus discípulos, de publicanos e pecadores (2).

            (2) Segundo Lucas, ofereceu Levi, em sua casa, um grande banquete a Jesus, ao qual concorreu grande número de publicanos, (v. 29.)

             Escandalizados, os escribas e fariseus murmuravam; porque come e bebe o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?

            O Senhor então sentenciou:

            “Os sãos não têm necessidade de médico, mas, sim, os enfermos.

            “Ide, pois, e aprendei o que quer fizer: misericórdia quero e não sacrifício. Porquanto, eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores.” (Mateus, IX. 12, 13)

           De outra feita, na cidade de Jericó, Jesus foi hospedar-se em casa de Zaqueu, pertencente também à classe odiada dos publicanos.

            Surgiram as costumadas críticas e censuras farisaicas.

            Ouçamos a palavra do Cristo:

            “Hoje, entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abrahão.

            “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que tinha pecado – “quoerere et salvum facere quod perierat(buscando salvar o perdido) (Lucas, XIX, 9, 10)

            Jesus, ainda pôs em confronto, para ensinamento dos seus ouvintes e das gerações futuras, à oração do fariseu, inchado de soberba, e a do publicano humilde.

            “Este voltou justificado para sua casa e não o outro; porque todo o que se exalta será humilhado e todo que se humilha será exaltado.” (Lucas, XVIII, 10-14)

            Os fariseus não desapareceram.

            Vivem muitos, em nossos dias, dentro e fora das religiões.

 *

             O estudo de coisas novas nos leva ao estudo de coisas velhas e vice-versa.

            Sem dúvida, outros são os tempos, outras as ideias: mas, no seio da humanidade planetária, falida, atrasada e descuidosa, o erro tem vida persistente e longa, mormente em matéria religiosa.

            Apesar da condenação proferida pelo Senhor, vemos pompear o farisaísmo autoritário, pretendendo dar combate aos legionários da Nova Revelação.

            “Aprendei o que quer dizer: Misericórdia quero e não sacrifício.”

            Convertida em sacerdotal a religião do Cristo - religião de indulgência e de piedade, de tolerância e de caridade, de perdão e amor, o sacerdócio, exclusivista e dominador, não aprendeu, não quis compreender a significação do preceito divino.

            Abandonou a misericórdia. Funestos foram os resultados desse desvio. O sacrifício, que prevaleceu e predominou, à semelhança do judaísmo, é o denominado culto externo, em manifesta oposição ao ensino evangélico.

            Quero a Misericórdia: Como foi cumprido o mandamento?

            Além das perseguições religiosas, cuja história não pode ser apagada, lembraremos de relance os efeitos temporais, in humanis (em humano), da pena de excomunhão maior, expressos no verso canônico:

           Si pro delictis, anathema efficiatur,

            Os, orare, vale, communio, mensa negatur.

             Assim, pois, segundo as prescrições da igreja, é proibido falar ao excomungado, dirigir-lhe cumprimentos ou corresponder às suas saudações e, em comum, orar, trabalhar, habitar, comer, ou ter com ele quaisquer outras relações.

             O leitor poderá fazer os comentários.

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             “A religião é um laço de atração e de aproximação entre Deus e a criatura; atração da parte do Criador, que é a vontade absoluta e eterna; aproximação por parte da criatura racional, que é a vontade relativa, subordinada à ordem harmoniosa, estabelecida pela sabedoria suprema, que tudo dirige e estimula.”

         Cratry in “Roma e o Evangelho”(Ed. FEB)

 


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