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segunda-feira, 5 de abril de 2021

Dia de Finados

 

Dia de Finados ?

Alberto Nogueira Gama (Passos Lírio)

Reformador (FEB) Novembro 1993

             O Cristianismo é, por excelência, a Doutrina do Espírito, fundada em fatos que demonstram, à evidência, a sua presença e atuação, em qualquer circunstância, sempre que necessário.

            Seus ensinamentos primam pela tese comprobatória da realidade da existência da alma e de sua dificuldade de entrar em relação conosco, em estado de vigília ou durante o sono, como que a mostrar-nos à saciedade que há entre os dois planos, material e espiritual, corpóreo e incorpóreo, estreito entrosamento.

            Maria de Nazaré recebe a visita do Anjo Gabriel, que lhe anuncia a maternidade de agraciada do Senhor.

            José, em se propondo deixar a esposa secretamente, é avisado em sonho de que não faça tal, porque o que nela fora gerado era do Espírito Santo.

            Isabel, visitada pela gestante eleita, recebe o impacto de poderoso influxo magnético, que faz que a criança - ela também estava para ser mãe -, lhe estremeça no ventre.

            Os magos visualizam no Oriente uma estrela que os guia em dois estafantes anos de viagem e os conduz, não à gruta mas à casa onde se achavam José e Maria e, de regresso, são “por divina advertência prevenidos em sonho para não voltarem à presença de Herodes”.

            Em sonho ainda, “eis que aparece um anjo do Senhor a José”, induzindo-o à fuga para o Egito a fim de salvar o menino da sanha sanguinária de Herodes, ordenando-lhe que retornasse à “terra de Israel” e aconselhando-o a que se retirasse “para as regiões da Galileia”.

            Uma entidade angelical, na calada da noite, aparece aos pastores dando-lhes a boa nova do Nascimento do Salvador.

            “Movido pelo Espírito”, Simeão foi ao templo, onde tomou nos braços o Filho de Deus, bendizendo ao Pai pela bênção de tê-Lo visto antes de partir e profetizando acerca do Seu messianato.

            Ana, a profetiza, mediunizada, “chegando naquela hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”.

            Antes do nascimento de Jesus, houve o de João, caracterizado também por manifestações espirituais ostensivas.

            Quando Zacarias oficiava no templo, “na ordem do seu turno”, surge-lhe um Emissário Celestial que lhe prediz o nascimento do Precursor.

            No Jordão, ao se processar o batismo de Jesus, uma voz reboa pelo ar, dizendo: - “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo.”

            Este mesmo fenômeno de Pneumatofonia, isto é, de voz direta, repete-se quando da transfiguração do Mestre no Monte Tabor, presentes os Espíritos de Moisés e Elias, profetas da antiga dispensação.

            Na parábola do rico e Lázaro, infunde-nos Ele a convicção na realidade da comunicação dos Espíritos com os homens, fazendo que Abraão ponderasse ao rico, que queria falar a cinco irmãos seus, ser inútil aparecer-lhes porque eles não lhe dariam crédito e não porque fosse impossível fazer-se lhes visível para adverti-los.

            Liberta endemoinhados, cujos Espíritos impuros e obsessores confessam conhecê-Lo e reconhecer-Lhe a autoridade de Filho do Altíssimo.

            - “Porque buscais entre os mortos ao que vive?” Foi a pergunta que “dois varões com vestes resplandescentes” fizeram às mulheres que levavam aromas e bálsamos para depositar no túmulo de Jesus, cuja pedra encontraram removida, sem o corpo no seu interior.

            - “O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão! Assim se expressavam os dois discípulos que, a caminho de Emaus, tiveram a companhia do Mestre, com quem confabularam durante toda a viagem e a quem pediram, ao término da jornada: - “Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina.”

            E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém onde acharam reunidos os onze e outros com eles. Então os dois contaram o que lhes acontecera no caminho, e como fora por eles reconhecido no partir do pão.”

            - “Paz seja convosco” - “Porque estais perturbados? e por que sobem dúvidas aos vossos corações?” Foram palavras de Jesus, na Sua primeira aparição aos Discípulos, no Cenáculo de Jerusalém.

            - “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” Outras palavras de Jesus, em Sua segunda aparição aos Discípulos, dirigidas especialmente a Tomé, que, por não estar presente na primeira, não dera crédito à versão divulgada pelos seus companheiros, de que o Senhor lhes aparecera.

            “Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos Discípulos junto do mar de Tiberíades”, onde se desenrolam acontecimentos de assinalada importância que culminam com o famoso diálogo entre Ele e Simão Pedro, o Pescador de Cafarnaum.

            Finalmente, apareceu o Nazareno, ao monte, aos quinhentos da Galileia, a quem endereça, pela última vez, a Sua Palavra de Vida Eterna, após o que ocorre a Ascensão definitiva.

            Isto sem falar de aparições, no cenário de Jerusalém, a Maria Madalena, a Maria de Nazaré, em Éfeso, na casa de João Evangelista; a Pedro, por algumas vezes; a Saulo de Tarso, às portas de Damasco.

            Onde, em tudo isso, a ideia de morte? Antes não ressumbra, de todos esses sucessos, a noção de “vida abundante”, de pensamento e ação por parte daqueles que formam o mundo incorpóreo?

            O Espiritismo, que se funda estruturalmente no Cristianismo, cuja pureza primitiva restaura em toda a plenitude, desfralda também a bandeira da imortalidade da alma, de eternidade do ser no Infinito do Tempo e do Espaço.

            Não há mortos e vivos, nem do lado de lá, nem do lado de cá, embora possa haver, tanto num quando noutro plano, mortos-vivos e vivos-mortos. Ninguém vai, ninguém fica, apenas alguns chegam e outros voltam, na longa caminhada de poder subir para saber descer, ajudando os outros a fim de ajudar-se a si próprio.

            A mediunidade, disciplinada espiriticamente, nos descortinou novas dimensões de vida, revelando ao mundo a existência de outros mundos e à Humanidade a presença de outras Humanidades disseminadas no turbilhão de astros que gravitam nos arcanos do Universo.

            2 de Novembro... Como os demais, dia de todos nós, encarnados e desencarnados, que buscamos na Terra ou na Erraticidade os valores do Espírito, a gloriosa realização de nós mesmos em Deus, libertos e purificados por todo o sempre, para empunharmos na destra a palma da vitória e cingirmos à frente a coroa de louros de almas redimidas e ressurrectas, integradas nas sublimes claridades dos cimos.


quinta-feira, 8 de março de 2018

Dia de Finados?


Dia de Finados?
Alberto Nogueira Gama (Passos Lírio)
Reformador (FEB) Novembro 1993

            O Cristianismo é, por excelência, a Doutrina do Espírito, fundada em fatos que demonstram, à evidência, a sua presença e atuação, em qualquer circunstância, sempre que necessário.
            Seus ensinamentos primam pela tese comprobatória da realidade  da existência da alma e de sua dificuldade de entrar em relação conosco, em estado de vigília ou durante o sono, como que a mostrar-nos à saciedade que há entre os dois planos, material e espiritual, corpóreo e incorpóreo, estreito entrosamento.
            Maria de Nazaré recebe a visita do Anjo Gabriel, que lhe anuncia a maternidade de agraciada do Senhor.
            José, em se propondo deixar a esposa secretamente, é avisado em sonho de que não faça tal, porque o que nela fora gerado era do Espírito Santo.
            Isabel, visitada pela gestante eleita, recebe o impacto de poderoso influxo magnético, que faz que a criança - ela também estava para ser mãe -, lhe estremeça no ventre.
            Os magos visualizam no Oriente uma estrela que os guia em dois estafantes anos de viagem e os conduz, não à gruta mas à casa onde se achavam José e Maria e, de regresso, são “por divina advertência prevenidos em sonho para não voltarem à presença de Herodes”.
            Em sonho ainda, “eis que aparece um anjo do Senhor a José”, induzindo-o à fuga para o Egito a fim de salvar o menino da sanha sangüinária de Herodes, ordenando-lhe que retornasse à “terra de Israel” e aconselhando-o a que se retirasse “para as regiões da Galiléia”.
            Uma entidade angelical, na calada da noite, aparece aos pastores dando-lhes a boa nova do Nascimento do Salvador.
            “Movido pelo Espírito”, Simeão foi ao templo, onde tomou nos braços o Filho de Deus, bendizendo ao Pai pela bênção de tê-Lo visto antes de partir e profetizando acerca do Seu messianato.
            Ana, a profetiza, mediunizada, “chegando naquela hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”.
            Antes do nascimento de Jesus, houve o de João, caracterizado também por manifestações espirituais ostensivas.
            Quando Zacarias oficiava no templo, “na ordem do seu turno”, surge-lhe um Emissário Celestial que lhe prediz o nascimento do Precursor.
            No Jordão, ao se processar o batismo de Jesus, uma voz reboa pelo ar, dizendo: - “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo.”
            Este mesmo fenômeno de Pneumatofonia, isto é, de voz direta, repete-se quando da transfiguração do Mestre no Monte Tabor, presentes os Espíritos de Moisés e Elias, profetas da antiga dispensação.
            Na parábola do rico e Lázaro, infunde-nos Ele a convicção na realidade da comunicação dos Espíritos com os homens, fazendo que Abraão ponderasse ao rico, que queria falar a cinco irmãos seus, ser inútil aparecer-lhes porque eles não lhe dariam crédito e não porque fosse impossível fazer-se-lhes visível para adverti-los.
            Liberta endemoinhados, cujos Espíritos impuros e obsessores confessam conhecê-Lo e reconhecer-Lhe a autoridade de Filho do Altíssimo.
            - “Porque buscais entre os mortos ao que vive?” Foi a pergunta que “dois varões com vestes resplandescentes” fizeram às mulheres que levavam aromas e bálsamos para depositar no túmulo de Jesus, cuja pedra encontraram removida, sem o corpo no seu interior.
            - “O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão! Assim se expressavam os dois discípulos que, a caminho de Emaús, tiveram a companhia do Mestre, com quem confabularam durante toda a viagem e a quem pediram, ao término da jornada: - “Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina.”
            E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém onde acharam reunidos os onze e outros com eles. Então os dois contaram o que lhes acontecera no caminho, e como fora por eles reconhecido no partir do pão.”
            - “Paz seja convosco” - “Por que estais perturbados? e por que sobem dúvidas aos vossos corações?” Foram palavras de Jesus, na Sua primeira aparição aos Discípulos, no Cenáculo de Jerusalém.
            - “Por que me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” Outras palavras de Jesus, em Sua segunda aparição aos Discípulos, dirigidas especialmente a Tomé, que, por não estar presente na primeira, não dera crédito à versão divulgada pelos seus companheiros, de que o Senhor lhes aparecera.
            “Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos Discípulos junto do mar de Tiberíades”, onde se desenrolam acontecimentos de assinalada importância que culminam com o famoso diálogo entre Ele e Simão Pedro, o Pescador de Cafarnaum.
            Finalmente, apareceu o Nazareno, ao monte, aos quinhentos da Galiléia, a quem endereça, pela última vez, a Sua Palavra de Vida Eterna, após o que ocorre a Ascensão definitiva.
            Isto sem falar de aparições, no cenário de Jerusalém, a Maria Madalena, a Maria de Nazaré, em Éfeso, na casa de João Evangelista; a Pedro, por algumas vezes; a Saulo de Tarso, às portas de Damasco.
            Onde, em tudo isso, a idéia de morte? Antes não ressumbra, de todos esses sucessos, a noção de “vida abundante”, de pensamento e ação por parte daqueles que formam o mundo incorpóreo?
            O Espiritismo, que se funda estruturalmente no Cristianismo, cuja pureza primitiva restaura em toda a plenitude, desfralda também a bandeira da imortalidade da alma, de eternidade do ser no Infinito do Tempo e do Espaço.
            Não há mortos e vivos, nem do lado de lá, nem do lado de cá, embora possa haver, tanto num quando noutro plano, mortos-vivos e vivos-mortos. Ninguém vai, ninguém fica, apenas alguns chegam e outros voltam, na longa caminhada de poder subir para saber descer, ajudando os outros a fim de ajudar-se a si próprio.
            A mediunidade, disciplinada espiriticamente, nos descortinou novas dimensões de vida, revelando ao mundo a existência de outros mundos e à Humanidade a presença de outras Humanidades disseminadas no turbilhão de astros que gravitam nos arcanos do Universo.
            2 de Novembro... Como os demais, dia de todos nós, encarnados e desencarnados, que buscamos na Terra ou na Erraticidade os valores do Espírito, a gloriosa realização de nós mesmos em Deus, libertos e purificados por todo o sempre, para empunharmos na destra a palma da vitória e cingirmos à frente a coroa de louros de almas redimidas e ressurrectas, integradas nas sublimes claridades dos cimos.


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Libertação

        O gesto de Bartimeu, o cego mendigo de Jericó, «lançando de si a sua capa», ao ir ter com Jesus, nos sugere a ideia de ação premeditada para desembaraçar-se de algo que lhe atrapalharia a liberdade de movimento.

            Para o filho de Timeu, o uso daquela peça teria grande serventia. Provavelmente, seria com ela que ele se protegeria das intempéries do tempo. Nem por isso, ao atender ao chamado do Mestre, pensou em levá-la consigo. Atirou-a para um lado, lépido e resoluto.
            Capa arremessada, por importuna e supérflua, é o que cabe considerar.

            Quem de nós não terá alguma coisa de que desvencilhar-se para sair ao encontro de Jesus? Conhecer nossas inibições, para atirá-las bem longe de nós - tal o indeclinável desiderato que nos compete concretizar em benefício próprio.

            Realizar esta ingente tarefa, é solucionar gloriosamente o nosso problema de liberação espiritual.

            Bartimeu, depois de arremessar fora a capa, levanta-se, segue em direção ao Excelso Benfeitor, dele obtém a dádiva da recuperação da vista e permanece em Sua companhia. Deixa um acessório, até então utilizado, por um bem genuíno, essencial, que seria a razão de ser de sua felicidade.

            Quantas vezes, pela nossa posição espiritual, fazemos lembrar o cego mendigo de Jericó, também, como ele, carregando alguma carga incomodativa e inconveniente!

            E como é penoso este nosso fardo e esmagador o seu peso!

            Quase sempre o que nos dificulta a marcha ascensional e gloriosa, para o Calvário de nossa redenção, está representado em pequenas coisas que se nos afiguram de somenos importância e, por assim entender, aparentemente insignificantes.

            O empecilho aparece quando queremos que ele desapareça. Muita vez, vamos surpreendê-lo, incrustado em nossos hábitos, como ostras grudadas à pedra, em situações de que mal suspeitamos.

            Em trivialidades domésticas, a que nos entregamos desapercebidamente. Numa pronunciada tendência à desconfiança de tudo e de todos. Num pendor à crítica demolidora. Numa inclinação à malquerença, congelando amizades por insignificâncias que vimos e ouvimos, exagerando lhes a importância.

            Na adesão a atitudes íntimas, veladas a olhos alheios, mas patentes à nossa consciência, de cujas algemas nos fazemos prisioneiros voluntários.

            Ao nos levantarmos em busca do Celeste Enviado, sejam quais forem as nossas cargas sobressalentes, arremessemo-las fora; deixemo-las, depois de arrebanhados para o Redil do Senhor, como trastes desprezados e desprezíveis . Serão no caso:

- a obcecação pela posse inescrupulosa das posições sociais de evidência e dos bens materiais;
- a obsessão pelos prazeres malsãos do mundo;
- o atrativo pelos assuntos, falados ou escritos, de essência venenosa;
- o fascínio por situações escabrosas, ainda que habilmente aparentadas com as melhores intenções;
- a subjugação à intemperança mental e verbal;
- a escravidão aos desequilíbrios emotivos e sentimentais.

            Seja neutralizando a resistência daqueles que se nos opõem à caminhada para Deus, seja superando impedimentos próprios, seja vencendo relutâncias íntimas ou circunstanciais, seja transpondo obstáculos buscados por nós ,ou atirados à nossa frente por outrem, seja a força de suores e lágrimas, necessariamente teremos que consumar o nosso trabalho liberativo. 

            E não há tempo a perder; e hoje ainda; e agora mesmo.

            Desvencilhemo-nos do desperdício do tempo e da saúde, do abuso do poder e da autoridade, da aplicação desajustada do talento e da cultura, da ação imposicionista dos nossos dons físicos e espirituais, de nossa desalmada exploração do próximo, que tudo isto são capas tremendas que poderão asfixiar-nos sob o seu peso.

            Amigos, desembaracemo-nos da inibições, para não virmos a terminar a existência amortalhados por elas.
Libertação
por Passos Lírio

Reformador (FEB) Setembro 1970

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Bens da Vida

              Embora possamos conceituar os bens da Vida segundo as nossas concepções pessoais, definindo-os a nosso modo, a verdade é que eles têm qualificações e classificações próprias.

            Sob a forma de patrimônio comum, encontramo-los espalhados por toda a parte, como expressão dadivosa da Natureza.

            Tudo quanto existe vale por manifestação de sua presença .
            O ar que respiramos.
            A água que bebemos.
            O Sol que nos aquece e vivifica.
            O dia que nos favorece com as suas horas.
            A noite que nos enleva com a magia do seu cenário e nos felicita com a bênção do repouso.
            O perfume que balsamiza a atmosfera.
            A flor que engalana o jardim.
            A árvore que enfeita a paisagem.
            O fruto que se ostenta na árvore.
            A brisa que ameniza o calor.
            O orvalho que se espalha na relva e resvala nas folhas e flores das plantas.
            O corpo de que se reveste o Espírito.
            As substâncias que vitalizam o organismo.
            O vento, a chuva, as riquezas do solo e do subsolo os minerais e vegetais, a força hidráulica o magnetismo terrestre, as ondas hertzianas: as correntes marinhas, a eletricidade, as fontes térmicas e minerais, a fauna e a flora tudo isto forma o majestoso conjunto de dádivas que o Pai Celestial põe à disposição de todos, sem que coisa alguma custe alguma coisa a alguém.

            Estas são as naturais dotações da Criação ao Homem.

            A par delas, porém, necessariamente deve haver as doações do Homem à Vida, que, ao contrário das primeiras, têm origem na natureza espiritual da criatura, procedem de dentro para fora.  

            Toda e qualquer exteriorização construtiva, significando esforço de realização a bem do próximo, equivale a uma projeção do espirito humano, no sentido da ampliação de suas possibilidades, mediante a aquisição de maiores bens e valores eternos, definindo-se e positivando-se cada vez mais para melhor.

            Portanto, não é só o que nos beneficia que são bens da Vida, mas também e principalmente quanto de benefício pudermos proporcionar aos outros, procurando fazê-los felizes para sermos felizes com eles, isto é, fazendo nossa a própria felicidade alheia.

            Poderemos caracterizar atitudes e situações que se enquadram nesta ordem de coisas,. aferidas assim por um outro critério de valorização.

            O silêncio que fazemos em torno de acontecimentos isolados do conjunto, para não levarmos ao pelourinho da vergonha e da desonra seus protagonistas.

            A palavra que pomos a serviço da complacência, sempre pronta a defender e a amparar.

            A mensagem de estímulo e conforto que endereçamos aos flagelados do corpo e da alma.

            A prece que formulamos em favor de alguém.

            O passe que aplicamos com o sincero desejo de colaborar na recuperação do enfermo.

            O lar que fundamos em bases cristãs.

            A família que educamos nos princípios enobrecedores do pudor e da compostura, do trabalho e do estudo, da honradez e da dignidade.

            A escola que ajudamos a manter com o nosso esforço.

            Os favores desinteressados que prestamos a quem quer que seja.

            Os ensinos que ministramos aos menos favorecidos de conhecimentos.

            A mão que estendemos aos que precisam de levantar-se e caminhar.
            O aproveitamento das provas e expiações.

            Sob o aspecto de inspiração própria, de iniciativa individual, de cunho essencialmente íntimo, muita coisa podemos fazer e deixar de fazer, que resultará em bênçãos e luzes do nosso caminho, com tanto mais proveito para nos mesmos quanto maior for o benefício que pudermos proporcionar a outrem.

            Estes outros bens da Vida formam o patrimônio próprio de cada um de nós e perduram conosco por todo o sempre, porque são o tesouro que o ladrão não rouba, a traça não rói, a ferrugem não destrói e o tempo não consome.

Bens da Vida
Passos Lírio

Reformador (FEB) Junho 1970