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sexta-feira, 30 de junho de 2017

Justiça e Amor


Justiça e Amor
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

            Enquanto alimentamos o mal em nossos pensamentos, palavras e ações, estamos sob os choques de retorno das nossas próprias criações, dentro da vida.

            As dores que recebemos são a colheita dos espinhos que arremessamos.

            Agora ou amanhã, recolheremos sempre o fruto vivo de nossa sementeira. Há plantas que nascem para o serviço de um dia, quais os legumes que aparecem para o serviço da mesa, enquanto que outras surgem para as obras importantes do tempo, quais as grandes árvores, nutridas pelos séculos, destinadas à solução dos nossos problemas de moradia. Assim também praticamos atos cujos reflexos nos atingem, de imediato, e mobilizamos outros, cujos efeitos nos alcançarão, no campo de grande futuro.

            Em razão disso, enquanto falhamos para com as Leis que nos regem, estamos sujeitos ao tacão da justiça.

            Só o amor é bastante forte para libertar-nos do cativeiro de nossos delitos.

            A justiça edifica a penitenciária.

            O amor levanta a escola.

            A justiça tece o grilhão.

            O amor traz a bênção.

            Quem fere a outrem encarcera-se nas consequências lamentáveis da própria atitude.

            Quem ajuda adquire o tesouro da simpatia.

            Quem perdoa, eleva-se.

            Quem se vinga desce aos despenhadeiros da sombra.

            Tudo é fácil para aquele que cultiva a verdadeira fraternidade, porque o amor pensa, fala e age, estabelecendo o caminho em que se arrojará, livre e feliz, à glória da vida eterna.

            Quem deseje, pois, avançar para a Luz, aprenda a desculpar, infinitamente, porque o céu da liberdade ou o inferno da condenação residem na intimidade de nossa própria consciência. Por isso mesmo, o Mestre Divino ensinou-nos a pedir na oração dominical: - "Pai, perdoa as nossas dívidas, assim como devemos perdoar aos nossos devedores".


Benzedores e Curadores


Benzedores e Curadores
por José Monteiro Lima
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

            O “dom de curar" de que nos fala Paulo de Tarso, o insigne apóstolo de Jesus, independe do indivíduo que o possui. Só determinadas pessoas têm a faculdade de curar. Muitos desejariam possuí-la e não conseguem, enquanto outras a possuem bem a contra-gosto. Ainda mais: é um dom intransferível. Dizia um curador: “De muitos irmãos que tive, só eu saí curador. Debalde ensinou aos outros meu pai, que também era benzedor”.

            É desnecessário dizer que os benzedores e curadores do interior não são mais que médiuns curadores. As causas que promovem a cura são as mesmas em todos os médiuns dessa espécie. Os eflúvios magnético-mediúnicos emitidos pelo curador, sobretudo das mãos, contribuem de maneira decisiva para os resultados. Doenças dificilmente curáveis ou mesmo consideradas incuráveis com os recursos da Medicina clássica, cedem rapidamente com os eflúvios ódicos de determinados indivíduos. As palavras propriamente, as rezas, têm naturalmente valor secundário em todos os casos. Servem apenas para fixar a atenção e a vontade do curador durante a operação.

            Os processos, entretanto, variam de um para outro. Cada um tem o seu sistema. Alguns fazem determinada oração em voz baixa e não revelam o segredo das suas palavras a ninguém. Outros não fazem mistério disso e ensinam as suas rezas a quem quiser aprendê-las. Um detalhe mais ou menos comum a todos é que “rezam” fazendo cruz com a mão aberta sobre a parte afetada, o que corresponde à aplicação do passe mediúnico. Alguns há que utilizam um ramo de determinado arbusto, na crença de que o mal se transfere para a planta.

            No interior contam-se os mais extraordinários feitos dos curadores. O Dr. H, de Irajá, no seu livro “Feitiços e Crendices”, pág. 68, refere que em Santa Maria, Rio Grande do Sul, o Dr. Astrogildo teve em sua casa alguém com grave dermatose, a que o vulgo chama “cobreiro” .

            Como médico, fez tudo que a Medicina recomenda, sem resultados. Vieram os colegas, e nada de melhora. Dizia a criada da casa:

            - Se o doutor deixasse, eu trazia um benzedor.

            - Qual benzedor, qual nada! Acredito lá nessas asneiras... - dizia o doutor.

            Os remédios sobravam. Era remédio para pingar, remédio para tomar, remédio para passar. Mas o cobreiro aumentava cada dia. A criada continuava a dizer:

            - Se o patrão deixasse, eu trazia o “seu” Pedro, benzedor, e o cobreiro “morria”.
            Uma noite o DI', Astrogildo, já desanimado, depois de examinar a doente com febre alta, gritou para os de casa:

            - E porque não experimentam esse tal de benzedor?

            No dia seguinte o homem veio e “rezou”.

            Quiseram dar-lhe dinheiro. Não quis e saiu rindo.

            Nessa noite a febre não voltou; na manhã seguinte as bolhas tinham secado, e, dois dias depois, a doente estava boa. Mas o Dr. Astrogildo nunca acreditou em benzeduras.

            As façanhas dos benzedores e curadores de vários matizes correm mundo. Os curadores de bicheiras de animais, os curadores-de-cobra, etc. são outras variantes de médiuns curadores. Quem não ouviu falar dos curadores de bicheiras, tão conhecidos nos sertões? É verdadeiramente extraordinário o efeito magnético-mediúnico de certos curadores . As larvas que se alimentam das carnes caem aos punhados, inanimadas, mortas, logo após a "reza" do curador.

            Contam-se coisas extraordinárias de curadores de picada de cobra. No Crato (Ceará) havia um curador-de-cobra famoso. Certa vez (obra citada, pág. 71) um cavalo puro-sangue, propriedade de um abastado chefe local, foi mordido por uma cobra venenosa. Só depois de muita procura encontraram o curador bebericando com alguns amigos.

            - Ainda respira bem o animal? Perguntou ele.
           
            - Ainda – responderam-lhe.
           
            - Bem, levem o meu chapéu e ponham sobre ele, que irei daqui a pouco.

            O curandeiro, apesar da insistência do dono do animal, demorou ainda duas horas. Quando ele chegou, o animal, com os olhos injetados de sangue, respirava com dificuldade. Dir-se-ia que pouco tempo tinha de vida. O curandeiro aproximou-se do cavalo, abriu-lhe a boca, murmurou algumas palavras e deu-lhe uma cusparada no fundo da garganta. Tirou o chapéu que estava sobre o animal, deu-lhe um ponta-pé na barriga, e disse:

            - Levanta-te, bruto!

            O animal levantou-se quase de um salto.

            - Dêem-lhe água e deixem-no descansar hoje. Amanhã já pode ser montado!

            Os estudiosos de Psiquismo sabem o que significa a providência inicial do curador, mandando colocar em cima do animal o próprio chapéu. Eles sabem, por experiência própria, que os objetos de uso pessoal do curador acumulam fluidos altamente curadores, e no caso acima o chapéu serviu de neutralizador do veneno ofídico.

            Para bem compreendermos tais fatos teremos de nos valer dos estudos do Barão de Reichenbach, do Coronel De Rochas, Durville, Luys, Baraduc e tantos outros que se ocuparam das radiações e dos eflúvios magnético-mediúnicos que, sem dúvida, serão um campo vastíssimo de observações da medicina espiritualista.


Carta aos Novos Crentes


Carta aos Novos Crentes 
Casimiro Cunha por Chico Xavier
Reformador (FEB) Dezembro 1938

Amigo, chegas agora,
Do mundo de sombra e dor
Para o banquete sublime
De luz do Consolador.

Já sei que sentes o fogo
Da crença e da devoção,
Desejando desdobrar
O esforço de salvação.

Vibra na paz de tua alma
O desejo superior
De espalhar em longos jorros
A fonte de teu amor.

Mas, ouve. Acalma a ansiedade,
Porque no mundo infeliz,
Cada qual tem sua chaga
em vias de cicatriz.

Nesse número de enfermos,
Não te esqueças de contar
Os próprios irmãos do sangue
Que o céu te manda ajudar.

Todo esse fogo da fé
Não desperdices a esmo,
Busca aplicar-lhe o calor
Na perfeição de ti mesmo.

Tão grande é o penoso esforço
Da última redenção,
Que não basta uma só vida
Pela própria conversão.

Acham muitos que a doutrina,
Para ensinar ou vencer,
Precisa de certos homens
Dos galarins do poder.

Mas, eu suponho o contrário.
Em seu anseio de luz,
O homem é que precisa
Da doutrina de Jesus.

Em se tratando de crenças,
Nunca venhas a olvidar
Que o sol nunca precisou
Dos homens para brilhar.

Fala pouco. Pensa muito.
Sobretudo, faze o bem.
A palavra sem a ação
Não esclarece a ninguém.

Não guardes muita ansiedade,
Se o Evangelho te conduz.
Lembra que dura há milênios
A esperança de Jesus.


Temas e Notas


Cultiva a misericórdia
Perdoa e triunfarás;
A verdade sem amor
Cria a justiça sem paz.

*

Despeito - um tirano oculto
Que faz vítimas sem fim.
Nos símbolos da Escritura,
A inveja matou Caim.

*

Dá de teu campo de amor,
Tanto aos santos quanto aos brutos;
As árvores não conhecem
Quem lhes colhe os próprios frutos.

*

Dores da Terra!... Quem ama
Sofre um conflito ao vencê-las:
Arrosta os pés sobre a lama
De fronte erguida às estrelas.

*

Ampara que Deus te ampara,
Não penses na ingratidão;
Por três que te desajudem,
Cinquenta te ajudarão.



 Temas e Notas
Fidélis Alves
por Chico Xavier

Reformador (FEB) Janeiro 1970

Vida Social


Vida Social
por Lucas Pardal (Alberto Nogueira da Gama)
Reformador (FEB)  Janeiro 1970

            P. - Podemos recrear o espírito? Ser-nos-á facultado participar de algum grêmio recreativo, literário, esportivo? Haverá inconveniente em integrarmos uma entidade de classe, desempenharmos atividades políticas, pertencermos a qualquer dos nossos partidos democráticos, devidamente legalizados?

            R. - Coisa alguma nos faz mal, desde que não seja má alguma coisa que tenhamos em vista fazer. Nada nos prejudica, quando não pensamos em causar prejuízos a outrem, ou compactuar com os maus, agindo por eles e como eles.
            Declaradamente, necessitamos de recreação para espairecer o espírito.
            Um bom filme tem seu lugar. (Ainda os há assim, embora em pequeno número, de nós depende saber e poder encontrá-los.) Uma boa peça teatral vale a pena ser vista. (Hoje em dia, as representações cênicas geralmente deixam muito a desejar; acham-se muito entremeadas de pornografias e, por vezes, de obscenidades mesmo, com toda a complacência da censura que as tolera e aprova.
            Mas, procurando-se bem, sempre se encontra alguma que preste e se recomende à nossa escolha. 
            Uma festa de aniversário, de casamento, de formatura, de bodas de prata ou de ouro, em regozijo à promoção de algum amigo, em comemoração a um acontecimento justo e digno, também tem sua razão de ser e merece a nossa solidariedade.
            Outros atos sociais, públicos ou privados, notadamente de cunho associativo, decorrentes de nossa posição na vida, em que prestigiamos vultos e empreendimentos, comportam nossa participação direta e ativa, a bem de alguém ou de alguma coisa que nos merece acatamento.
            Passeios e excursões a lugares pitorescos, banhos de mar, exercícios ao ar livre, são outras tantas coisas que nos proporcionam grande bem-estar ao corpo e à alma.
            Todavia, devemos observar todo o escrúpulo e a máxima precaução no sentido de que os divertimentos dessa ordem, ordinariamente benéficos, não degenerem em desvirtuamentos contrários aos fins por nós pretendidos alcançar, passando a influir perniciosamente em nosso âmago e sobre o nosso ânimo.
            O Cristianismo não é doutrina de almas tristes e penadas.
            “- Não tenhais medo, pois venho trazer-vos uma notícia, que, para vós, como para todo o povo, será motivo de alegria - é que hoje, na cidade de David, vos nasceu um Salvador que é o Cristo, o Senhor."
            Assim anunciava, o anjo, aos pastores o nascimento do Senhor.
            Depois, já com doze anos, Jesus, por iniciativa própria, comparece à Sinagoga para entreter palestra com os doutores da lei.
            Como conviva, vamos encontrá-Lo, no início do Seu messianato, nas Bodas de Caná, transformando a água em vinho.
            Em Betânia, vamos surpreendê-Lo em casa de Simão, o fariseu, dignando-se aceitar a manifestação de afeto e de desprendimento que Lhe é tributada por Maria de Magdala.
            Está presente ao banquete oferecido por Levi, em regozijo à sua adesão à Boa Nova.
            Em Naim, vê-mo-Lo na residência de Simão, o leproso, onde vai ter Maria para homenageá-Lo com o seu vaso de alabastro, que derrama sobre os seus cabelos, ungindo-Lhe depois os pés.
            Em Jericó, pousa na vivenda de Zaqueu, onde Lhe é tributada carinhosa e sincera demonstração de apreço.
            Em Jerusalém, cavalgando um jumento, recolhe, no silêncio do Seu recato e na majestade de Sua singeleza, a calorosa recepção da multidão alegre e confiante.
            À Sinagoga, o imponente templo dos judeus, comparece e age, ora falando das coisas do Reino de Deus, ora dialogando com os escribas e fariseus, ora promovendo curas admiráveis.
            Em Cafarnaum, recebe visitas, a elas dispensando toda a Sua carinhosa atenção.
            Em suas atividades, não se recusa a acolher a presença de patrícios romanos, de áulicos imperiais, aos quais ouve e fala, entretendo-se em confabulações edificantes.
            Não desdenha de privar com os publicanos, que se aprazam em tê-Lo como conviva ou visitante, sempre que há oportunidade.
            São as magistrais lições do Mestre, para que estejamos com todos, mostrando-lhes Deus em nossas vidas, demonstrando-lhes nossas vidas em Deus.
            Desfrutemos das justas e nobres alegrias da existência humana, sem prevenções nem receios infundados.

*

            O instinto gregário dita a necessidade de aproximação. A identidade de gostos e pendores, a afinidade de tendências e predileções elevadas atraem as almas, enlaçam-nas, congregam-nas em torno de motivos comuns. O espírito de companheirismo e os sadios impulsos de amizade determinam uniões e reuniões de uns com outros, para fins nobres e construtivos.
            Não temos o direito de querer que todos sejam espíritas como nós, mas temos o dever de nos mostrar espíritas para com todos.
            Por outro lado, não nos cabe formar um mundo à parte, uma comunidade à margem da vida, segregando-nos do convívio social, de consequências tão salutares e necessárias ao desenvolvimento de nossas faculdades espirituais.
            Será mais acertado fazermos parte de grêmios recreativos, culturais, artísticos e desportivos, que pretendermos instituí-los nos Centros Espíritas, desviando estes de sua precípua finalidade, que é a do estudo e divulgação do Espiritismo.
            Será mais compreensível e aceitável estarmos filiados a uma entidade de classe, relacionada com a natureza de nossa profissão ou atividade, que pensarmos em dividir e subdividir o meio espírita em departamentos estanques, num trabalho ingrato e inglório de fracionamento dispersivo, sem pontos comuns de junção e conjunção que nos entrelacem num sentido único de entrosamento.
            Será mais aconselhável pertencermos a partidos políticos de genuína inspiração nacionalista, de insuspeita idoneidade ideológica, que desejarmos formar ligas eleitorais nos recintos de nossas Casas de estudo e trabalho, ou fazer deles bases de eleitorado.
            Se não estivermos dentro da Vida para agir, influindo para melhor na ordem dos acontecimentos, influenciando os outros para o Bem, sob as inspirações do próprio Bem de que estejamos influenciados, em que outra situação achamos que podemos estar e onde, com maior proveito, próprio e alheio, entendemos poder atuar?

            Caracterizemos nossa condição de espiritista por sinceras expansões de afeto, por benéficas exteriorizações de bom-humor, por envolventes e cativantes manifestações de delicadeza, por francas e espontâneas demonstrações de cordialidade e ânimo jovial, de afabilidade e doçura. 

Tempos Novos


Tempos Novos
Maria Dolores por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1970

            Alma querida, escuta!
            Um mundo diferente, às súbitas, se eleva
            Do presente ao porvir... E, quase gênio alado,
            O Homem percorre o Espaço e vence a força
                                                                                  (e a treva)...

            O cérebro se exalça ao sol da inteligência
            E tateia o Universo, entre surpreso e aflito.
            Deus permite às nações congregadas na Terra
            Mais um passo de luz à frente do Infinito.

            Mas, ouve e pensa! ... Enquanto
            O fórceps da Ciência arranca a Nova Era
            Ao claustro do passado, ante a glória futura,
            A construção do Amor anseia, sonha, espera...

            A Civilização refulge nas vanguardas,
            Varre os pisos do Mar, ganha os vales da Lua,
            No entanto, em toda a Terra, o sofrimento
                                                                                  (avança,
            A discórdia se alastra, o ódio continua...

            Louvemos , com respeito a idéia resplendente
            Que exalta a Evolução nos áureos tempos novos;
            Atendamos, porém, à fé que nos convida
            A resguardar, em paz, a elevação dos povos.

            Ao choque das paixões, Cristo ressurge e fala!..
            - É a Verdade, o Roteiro, a Direção Segura,
            E chama-nos, de volta, à estrada redentora,
            Na pessoa do irmão que a sombra desfigura!

            Espalhemos os bens que o Senhor nos empresta
            Do tesouro imortal de nossa excelsa herança:
            Auxílio, compreensão, beneficência, apoio,
            Refúgio, compaixão, alegria, esperança!..

            Onde Ia penúria chora e a revolta esbraveja,
            Onde o mal se amontoa e a aflição nos espia,
            Conduzamos o pão, a veste, a luz, o amparo,
            O verbo que restaura, a bênção que alivia...

            Alma querida, escuta!... O progresso, por vezes,
            Lembra granizo e fogo, em tormentas no ar!..
            Mas Jesus vem conosco e nos pede a caminho:
            Dar, entender, servir, recompor, trabalhar...


Trovas da Razão


Trovas da razão 
Boris Freire por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1970


Amigos e opositores

Faço os meus, fazes os teus,
Mas nunca nos esqueçamos
Que o parente vem de Deus.


Trovas da Razão


Trovas da razão
Boris Freire por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1970


De toda dor que há na vida
A mais intensa e feroz
É a da vida de outras vidas
Que luta dentro de nós.



Trovas da Razão


Trovas da razão
Boris Freire por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1970

Ciência clara do acerto
Enfeixada em nota breve:
Distinguir o que se pode
Daquilo que não se deve.

*

Grandeza de coração
Fundamentada no bem
É força que não precisa
Da humilhação de ninguém.

*

O mal reclama três dotes:

Silêncio, perdão e prece.
Coisa que não se comenta
É como se nunca houvesse.

Jesus sob o ponto de vista Kardec-Roustaing

Jesus sob o ponto de vista Kardec-Roustaing
por Luiz Autuori
Reformador (FEB) Novembro 1938

Conferência lida na FEB em 25-10-1938.

            Atravessando séculos e gerações, a doutrina do Cristo chegou até nós sob a forma de Revelação Consoladora, tendo em todos os tempos espargido sua força máscula.

            Da Gênese ao Apocalipse, encontramos os mesmos fatos naturais acolhidos sem grande espanto.

            Em eras antiquadas, as manifestações se produziam de modo acessível à Interpretação e elevação dos povos, tal como na atualidade, e como se produzirão de futuro, realçando apenas, para os que os lobrigarem sem fortes embaraços, como se já houvessem sentido o prenúncio de sua vinda. Para os que não podem ainda conceber e aceitar esse Cristianismo puro do Cristo, a Terceira Revelação ainda não foi anunciada e eles esperam confiantes a vinda do Messias.

            É, apenas, uma questão de tempo; o momento decisivo de redenção soará
para todos.

            É bem verdade que, estribando-se na doutrina de Jesus, surgiram crenças religiosas confusas e intolerantes que, agarrando-se à “letra que mata”, forjaram imagens improfícuas e argumentos incautos, empanejando assim as sólidas bases do Cristianismo.

            O espírito de seita, movido por divergências e contradições absurdas, então naturais, forçou a separação de crenças, dividindo-as, subdividindo-as finalmente.

            Influiu, ainda mais, a incúria nessas inovações, que sempre foram aceitas relativamente com entusiasmo.

*

            Apoiado nesse enleiamento constante e submetendo-me a insistentes interrogatórios, poderia concluir que cada ser tem uma religião própria, beliscando aqui e ali migalhas doces para o entendimento racional, e não teria grandes contestações, segurando-me à lei da evolução, que põe cada ser num plano diverso.

            Onde quer que se encontre o observador, a perspectiva lhe mostra uma face sempre nova, e o que parece branco para um Manoel Quintão, para um Guillon Ribeiro, para um Antonio Lima, etc., torna-se azul para um Carlos Imbassahy, para um Henrique Andrade, para um Cesar Gonçalves, etc., e o que se julgou face plana foi tida como convexa.

            É assim, nesse enrodilhamento, que relevaremos a justiça dos homens, pois 
a virtude pode tornar-se erro, o erro um vício e o vício um crime, sujeitos como são a tão estranhos pontos de vista.      

            Essa diversidade não é atribuível a enganos de ótica espiritual. É a imagem perfeita, vista e sentida de per si por todos os seres.  

            Assim, quem bastante autoritário para bradar, então, que Kardec errou?

            E que Espírito, altamente elevado, será capaz de sustentar a firmeza de Roustaing?

            E eu vos digo que ambos olharam por um prisma inconfundível e certo.

            Kardec sustentou o peso infrene das injúrias, sem que seu arrojo admirável fosse abatido.

            Lutou ardoroso e heróico, sentindo o bafejo das inspirações celestiais e não foi jamais vencido pelo inimigo, pois que seus primeiros ensinamentos ainda comportam matéria amplamente fértil.

            Confessa, como Jesus, não ter dito tudo sobre a verdade - razão de sobra para que procuremos penetrar mais fundo ainda, nesse mundo invisível de sabedoria, para aprender algo sobre as qualidades particulares do Mestre.

            Afigura-se-me, às vezes, que Kardec tenha falado também por parábolas, quando incidentemente encontro criaturas que não puderam compreeendê-lo e que se perdem num emaranhado de confusões nocivas e patentemente vazias de raciocínio.

            É o celebre toque de seguimento à “letra que mata” desprezando por completo
o “espírito que vivifica”.

            Se traduzirmos qualquer tema ao pé da letra, sem atendermos à retórica e às entrelinhas, acabaremos imbuídos no mesmo labirinto, e eis-nos a negar, com todas as forças, o que não pudemos entender.

                                                                       *
            Agora o assunto.    

            Kardec e Roustaing, inspirados pelos guias, nada mais fizeram do que emprestar um esforço assíduo e explanar o que lhes havia sido confiado.

            Assim, Kardec declara que Jesus, COMO ESPÍRlTO PURO, desprendido da matéria, devia viver mais da vida espiritual do que da corpórea, da qual não tinha as FRAQUEZAS.

            Ora, as fraquezas da carne se originam das paixões vis, que agasalhamos por entre séculos até que, esbatidas pelo sofrimento, revertam em bens morais.

            Jesus já era puro quando veio à Terra; e, como o sofrimento é o cadinho da purificação, nada tinha o Cristo a purificar.

            Segundo ainda Kardec, Jesus, não podendo estar sujeito a fraquezas corpóreas pela sua elevação espiritual, tomou, entretanto, a organização dos seres carnais.

            Logo, esse corpo devia possuir QUALIDADES PARTICULARES, que o tornaram isento das necessidades comuns aos homens, achando-se ligado ao Espírito apenas por laços estritamente indispensáveis.

            Assim, a superioridade de Jesus, não estando totalmente nas particularidades do seu corpo, mas na grandeza do seu Espírito, que dominava essa matéria de modo absoluto, não deixa, entretanto, de desvendar que aquele corpo possuía, também, uma SUPERIORIDADE SENSÍVEL sobre os homens, isto pelas propriedades singulares de que era dotado.

            Fatos, que hoje são logicamente explicados, foram tidos por miraculosos e 
aqui otimamente enquadrado está o da transfiguração de Jesus no Monte Tabor.

            Uma luminosidade esplendente, partindo do seu Espírito, irradiou-se, transfigurando-lhe inteiramente o semblante.

            Notemos que, para uma tão estranha transformação, as QUALIDADES PARTICULARES do corpo de Jesus foram aproveitadas e combinadas às propriedades raras do seu perispírito quintessenciado.

            No ser humano vulgar, um sentimento de bondade ou, mesmo, a singeleza natural pode deixar transparecer uma fisionomia radiante de simpatia. Entretanto, por muito elevado que fosse, nunca se transformaria INTEIRAMENTE, porque a matéria, que O reveste, demasiadamente grosseira, não tem aquelas QUALIDADES PARTICULARES que possuía o corpo de Jesus.

            Temos outro ponto a estudar. É o do desaparecimento imprevisto do corpo carnal de Jesus, não contestado, que vem suscitar também sérias confusões, quanto à sua organização física.

            Este fato, aliás importantíssimo, nos leva a crer na ressurreição da carne, ou na sua fluidificação.

            O corpo de Jesus não foi visto após o sepultamento, senão em APARÊNCIA TANGÍVEL, desaparecendo sem a transição da morte.

            Ora, se houve a ressurreição íntegra da carne, para que se produzissem os fenômenos consecutivos de materialização e invisibilidade, era preciso que esse ressurgimento adquirisse novas modalidades como a da volatilização e condensação das moléculas anteriormente ponderadas.

            Não se terão estabelecido, com a hipótese dessa ressurreição, novas dúvidas mais perigosas?
               _
            Não haverá laivos na harmonização das leis gerais e imutáveis, que presidam à transformação da matéria, se admitirmos que Jesus exercera sobre o seu próprio corpo carnal esse poder de eterização, completamente fora das nossas capacidades?

            Mas, embora mesmo confusos os estudiosos, de qualquer prisma que se olhe, vemos sempre em Jesus um ser majestoso, superior, brilhante, ressaltando das roupagens que lhe atribuímos.

            Quer moral, quer fisicamente, Ele se eleva formidavelmente acima das baixezas terrenas.

            Entretanto, para satisfação plena dos nossos sentidos medíocres, da nossa inteligência assaz acanhada, precisamos ver o Cristo nivelado à nossa altura; vê-lo como homem, para justificarmos o seu sofrimento e seguirmos o belo exemplo da resignação, esperançosos da vitória que Ele alcançou.

            Precisamos vê-lo como homem, para aceitar sem escrúpulos a sua morte carnal, posto que a razão nos grite que o corpo fluídico, sendo imaterial, não podia morrer.

            Precisamos vê-lo como homem, porque foi gerado do Espírito Santo num corpo de carne, impregnando-se provavelmente dessa matéria humana, urna vez reconhecida a virgindade materna.
           
            Essa fecundação anormal outorgou a Jesus, possivelmente, QUALIDADES PARTICULARES á sua construção corpórea, qualidades que contribuíram poderosamente, após o sepultamento, para a dispersão das moléculas que não foram geradas diretamente pelo Espírito Santo, mas assimiladas do corpo virgem de Maria.

            Assim se presume que Jesus teve, de fato, um corpo carnal, mas que nesse corpo atuava, grandemente, a força central do seu Espírito luminoso e essas pequenas densidades espirituais que colaboraram na sua formação humana.

            E, de fato, se teve Jesus um corpo carnal, dotado de capacidades superiores, que asseguravam a sua manutenção livre de alimentos; que foi gerado em condições irregulares; que, finalmente, após a morte, sofreu estranhas transformações, desaparecendo de vez, é de presumir-se que nesse corpo, embora humano, tenha prevalecido alguma força que assegurasse igualmente a sua resistência contra as dores.

            Nesse corpo humano de constituição invulgar, uma inatacável couraça fazia frente, sem temor, aos mais terríveis ataques materiais.

            Por que razão firmarmos que Jesus sofreu se as dores não eram senão investidas à matéria?

            E porque se poderia isentar facilmente de senti-las, como facilmente se privara de necessidades outras imprescindíveis à matéria na sua totalidade?

            Só uma face desse raciocínio pode ser vista sem despertar dúvidas: - Jesus, capacitado do seu papel de missionário, deveria submeter-se, tal como os homens, a sofrimentos físicos e morais. Quer adotando um corpo carnal, quer materializando um fluídico, Ele deveria experimentar dores corpóreas, não como expiação, mas como verdadeiro abnegado, cheio da vontade firme de transmitir a verdade e de ensinar às gerações vindouras que só pelo sofrimento aguentado resignadamente podem ser galgados os degraus da perfeição.

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            Estudando-se a natureza dos fluidos, tem-se chegado à conclusão de que eles, impelidos por uma vontade firme e superior, são perfeitamente maleáveis, esculpindo qualquer forma, por mais complexa ou exótica, diáfana ou tangível e com extrema exatidão.

            Jesus, pela missão altamente elevada de que foi incumbido, e não se querendo, apenas, avaliar o seu grau de pureza pelo magno amor que coroou a sua existência terrena, foi um Ser extraordinariamente dotado; e a natureza desses fluidos brilhantes, que ornaram o seu Espírito e, mesmo, a sua estrutura física, autorizam a crença de que Ele não se revestiu de carne pesada e humana, mas, sim, desse invólucro cinzelado artisticamente por uma vontade imperiosa e inata.

            Assim, tendo chegado a hora suprema de descer a esse caos de torturas, infâmias e provações no qual se debatia desorientada a humanidade bestial, ignorante e sofredora, Jesus - símbolo do amor, farol da vida - como soldado intrépido e cônscio da natureza do encargo e feliz de bem cumpri-lo, baixou à terra, dando esse primeiro passo, o grande passo de uma intensa responsabilidade, revestido do maior fulgor, da magna beleza, que se concentram admiravelmente na grandeza da HUMILDADE.

            E Jesus nasceu sob a proteção serena de Maria, no âmbito miserável de uma estrebaria, tendo por berço as palhas secas da manjedoura.

            Nasceu como qualquer mortal, arrastando a fragilidade dos recém-natos, na inconsciência do próprio ser: carecente da vigilância materna e entregue, afinal, ao redemoinho da vida, como quem vai cumprir uma pena dolorosa e purificadora.

            Nesse passo inicial, as luminárias são ofuscantes, porque nelas se encerra todo o vigor da HUMILDADE inqualificável do verdadeiro Mestre.

            Basta este princípio de simplicidade,  esta condição, de ínfimo vivente, cuja destra guardava os destinos da humanidade, para avaliarmos, imprecisamente embora, o quilate elevadíssimo desse Espírito Eleito, guardava os destinos da humanidade, para avaliarmos, imprecisamente embora, o quilate elevadíssimo desse Espírito Eleito.

            Pelo prisma de Roustaing, não há, positivamente, a fraude a que querem atribuir tudo, os menos estudiosos. Ao contrário, cabe perfeitamente, nas alusões a que me referi a aparência de naturalidade manifesta em todos os atos de Jesus, aparência essa que significa e demonstra a semelhança extraordinária e irrepreensível do Cristo - ser humano - o que, de modo algum, implica mistificação.

Aparentar uma forma que, na realidade, não existe, nem sempre constitui fraude; e, neste caso, particularmente, não é senão uma SÁBIA INCORPORAÇÃO que apresenta, ao mesmo tempo, leveza e forma, transparência e tangibilidade.

            Senão, que diríamos da estranha caminhada de Jesus sobre as ondas?

            Que pensaríamos da magistral transfiguração do Monte Tabor?

            Que concluiríamos dos múltiplos “milagres”?

            É certo que, em todas essas fases da vida de Jesus, não houve, para bem dizer, apenas a exterioridade, como se se tratasse de um jogo de ilusão. O que brilha fortemente aí são os profundos motivos de espiritualidade; são os átomos da verdade e da luz, que seus permanecem num estado mais ou menos latente na humanidade, porém sempre prontos a progredir com vigor, em momento próprio. 

            Prosseguindo nas análises, vamos deparar com Jesus no templo, a confundir os doutores da lei, sendo ainda uma criança.

            Pode-se afirmar, sem medo, que por essa época já o Missionário escolhido tomava  posse de si mesmo, integralizando-se, plenamente consciente, no importantíssimo papel que deveria representar para a redenção humana.         

            E as suas próprias palavras o atestam quando, reprimindo os cuidados ansiosos de Maria, declara, peremptoriamente que lhe cabia cumprir as ordens do Pai Celestial.

            A linguagem, por certo elevada, o tom suave da sua voz e, mais que tudo isso, o
conceito do seu discernimento provaram, desde logo, a supremacia do seu Espírito.

            A inteligência brilhante nessa idade precoce revelava uma ilustração primaz e inata,  não se podendo admitir a sombra de uma dúvida no manancial de beleza de que o seu Espírito era repositório.