Benzedores e
Curadores
por José Monteiro Lima
Reformador (FEB) Fevereiro 1956
O
“dom de curar" de que nos fala Paulo de Tarso, o insigne apóstolo de
Jesus, independe do indivíduo que o possui. Só determinadas pessoas têm a
faculdade de curar. Muitos desejariam possuí-la e não conseguem, enquanto
outras a possuem bem a contra-gosto. Ainda mais: é um dom intransferível. Dizia
um curador: “De muitos irmãos que tive,
só eu saí curador. Debalde ensinou aos outros meu pai, que também era benzedor”.
É
desnecessário dizer que os benzedores e curadores do interior não são mais que
médiuns curadores. As causas que promovem a cura são as mesmas em todos os
médiuns dessa espécie. Os eflúvios magnético-mediúnicos emitidos pelo curador,
sobretudo das mãos, contribuem de maneira decisiva para os resultados. Doenças
dificilmente curáveis ou mesmo consideradas incuráveis com os recursos da
Medicina clássica, cedem rapidamente com os eflúvios ódicos de determinados
indivíduos. As palavras propriamente, as rezas, têm naturalmente valor
secundário em todos os casos. Servem apenas para fixar a atenção e a vontade do
curador durante a operação.
Os
processos, entretanto, variam de um para outro. Cada um tem o seu sistema.
Alguns fazem determinada oração em voz baixa e não revelam o segredo das suas
palavras a ninguém. Outros não fazem mistério disso e ensinam as suas rezas a
quem quiser aprendê-las. Um detalhe mais ou menos comum a todos é que “rezam”
fazendo cruz com a mão aberta sobre a parte afetada, o que corresponde à
aplicação do passe mediúnico. Alguns há que utilizam um ramo de determinado
arbusto, na crença de que o mal se transfere para a planta.
No
interior contam-se os mais extraordinários feitos dos curadores. O Dr. H, de
Irajá, no seu livro “Feitiços e Crendices”, pág. 68, refere que em Santa Maria, Rio
Grande do Sul, o Dr. Astrogildo teve em sua casa alguém com grave dermatose, a que o vulgo
chama “cobreiro” .
Como
médico, fez tudo que a Medicina recomenda, sem resultados. Vieram os colegas, e
nada de melhora. Dizia a criada da casa:
-
Se o doutor deixasse, eu trazia um benzedor.
-
Qual benzedor, qual nada! Acredito lá nessas asneiras... - dizia o doutor.
Os
remédios sobravam. Era remédio para pingar, remédio para tomar, remédio para
passar. Mas o cobreiro aumentava cada dia. A criada continuava a dizer:
-
Se o patrão deixasse, eu trazia o “seu” Pedro, benzedor, e o cobreiro “morria”.
Uma
noite o DI', Astrogildo, já desanimado, depois de examinar a doente com febre
alta, gritou para os de casa:
-
E porque não experimentam esse tal de benzedor?
No
dia seguinte o homem veio e “rezou”.
Quiseram
dar-lhe dinheiro. Não quis e saiu rindo.
Nessa
noite a febre não voltou; na manhã seguinte as bolhas tinham secado, e, dois
dias depois, a doente estava boa. Mas o Dr. Astrogildo nunca acreditou em
benzeduras.
As
façanhas dos benzedores e curadores de vários matizes correm mundo. Os
curadores de bicheiras de animais, os curadores-de-cobra, etc. são outras
variantes de médiuns curadores. Quem não ouviu falar dos curadores de bicheiras,
tão conhecidos nos sertões? É verdadeiramente extraordinário o efeito
magnético-mediúnico de certos curadores . As larvas que se alimentam das carnes
caem aos punhados, inanimadas, mortas, logo após a "reza" do curador.
Contam-se
coisas extraordinárias de curadores de picada de cobra. No Crato (Ceará) havia um curador-de-cobra famoso. Certa vez (obra citada, pág. 71) um cavalo
puro-sangue, propriedade de um abastado chefe local, foi mordido por uma cobra venenosa. Só
depois de muita procura encontraram o curador bebericando com alguns amigos.
-
Ainda respira bem o animal? Perguntou ele.
-
Ainda – responderam-lhe.
-
Bem, levem o meu chapéu e ponham sobre ele, que irei daqui a pouco.
O
curandeiro, apesar da insistência do dono do animal, demorou ainda duas horas.
Quando ele chegou, o animal, com os olhos injetados de sangue, respirava com
dificuldade. Dir-se-ia que pouco tempo tinha de vida. O curandeiro aproximou-se
do cavalo, abriu-lhe a boca, murmurou algumas palavras e deu-lhe uma cusparada
no fundo da garganta. Tirou o chapéu que estava sobre o animal, deu-lhe um
ponta-pé na barriga, e disse:
-
Levanta-te, bruto!
O
animal levantou-se quase de um salto.
-
Dêem-lhe água e deixem-no descansar hoje. Amanhã já pode ser montado!
Os
estudiosos de Psiquismo sabem o que significa a providência inicial do curador,
mandando colocar em cima do animal o próprio chapéu. Eles sabem, por
experiência própria, que os objetos de uso pessoal do curador acumulam fluidos
altamente curadores, e no caso acima o chapéu serviu de neutralizador do veneno
ofídico.
Para
bem compreendermos tais fatos teremos de nos valer dos estudos do Barão de
Reichenbach, do Coronel De Rochas, Durville, Luys, Baraduc e tantos outros que
se ocuparam das radiações e dos eflúvios magnético-mediúnicos que, sem dúvida,
serão um campo vastíssimo de observações da medicina espiritualista.
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