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sexta-feira, 30 de junho de 2017

Benzedores e Curadores


Benzedores e Curadores
por José Monteiro Lima
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

            O “dom de curar" de que nos fala Paulo de Tarso, o insigne apóstolo de Jesus, independe do indivíduo que o possui. Só determinadas pessoas têm a faculdade de curar. Muitos desejariam possuí-la e não conseguem, enquanto outras a possuem bem a contra-gosto. Ainda mais: é um dom intransferível. Dizia um curador: “De muitos irmãos que tive, só eu saí curador. Debalde ensinou aos outros meu pai, que também era benzedor”.

            É desnecessário dizer que os benzedores e curadores do interior não são mais que médiuns curadores. As causas que promovem a cura são as mesmas em todos os médiuns dessa espécie. Os eflúvios magnético-mediúnicos emitidos pelo curador, sobretudo das mãos, contribuem de maneira decisiva para os resultados. Doenças dificilmente curáveis ou mesmo consideradas incuráveis com os recursos da Medicina clássica, cedem rapidamente com os eflúvios ódicos de determinados indivíduos. As palavras propriamente, as rezas, têm naturalmente valor secundário em todos os casos. Servem apenas para fixar a atenção e a vontade do curador durante a operação.

            Os processos, entretanto, variam de um para outro. Cada um tem o seu sistema. Alguns fazem determinada oração em voz baixa e não revelam o segredo das suas palavras a ninguém. Outros não fazem mistério disso e ensinam as suas rezas a quem quiser aprendê-las. Um detalhe mais ou menos comum a todos é que “rezam” fazendo cruz com a mão aberta sobre a parte afetada, o que corresponde à aplicação do passe mediúnico. Alguns há que utilizam um ramo de determinado arbusto, na crença de que o mal se transfere para a planta.

            No interior contam-se os mais extraordinários feitos dos curadores. O Dr. H, de Irajá, no seu livro “Feitiços e Crendices”, pág. 68, refere que em Santa Maria, Rio Grande do Sul, o Dr. Astrogildo teve em sua casa alguém com grave dermatose, a que o vulgo chama “cobreiro” .

            Como médico, fez tudo que a Medicina recomenda, sem resultados. Vieram os colegas, e nada de melhora. Dizia a criada da casa:

            - Se o doutor deixasse, eu trazia um benzedor.

            - Qual benzedor, qual nada! Acredito lá nessas asneiras... - dizia o doutor.

            Os remédios sobravam. Era remédio para pingar, remédio para tomar, remédio para passar. Mas o cobreiro aumentava cada dia. A criada continuava a dizer:

            - Se o patrão deixasse, eu trazia o “seu” Pedro, benzedor, e o cobreiro “morria”.
            Uma noite o DI', Astrogildo, já desanimado, depois de examinar a doente com febre alta, gritou para os de casa:

            - E porque não experimentam esse tal de benzedor?

            No dia seguinte o homem veio e “rezou”.

            Quiseram dar-lhe dinheiro. Não quis e saiu rindo.

            Nessa noite a febre não voltou; na manhã seguinte as bolhas tinham secado, e, dois dias depois, a doente estava boa. Mas o Dr. Astrogildo nunca acreditou em benzeduras.

            As façanhas dos benzedores e curadores de vários matizes correm mundo. Os curadores de bicheiras de animais, os curadores-de-cobra, etc. são outras variantes de médiuns curadores. Quem não ouviu falar dos curadores de bicheiras, tão conhecidos nos sertões? É verdadeiramente extraordinário o efeito magnético-mediúnico de certos curadores . As larvas que se alimentam das carnes caem aos punhados, inanimadas, mortas, logo após a "reza" do curador.

            Contam-se coisas extraordinárias de curadores de picada de cobra. No Crato (Ceará) havia um curador-de-cobra famoso. Certa vez (obra citada, pág. 71) um cavalo puro-sangue, propriedade de um abastado chefe local, foi mordido por uma cobra venenosa. Só depois de muita procura encontraram o curador bebericando com alguns amigos.

            - Ainda respira bem o animal? Perguntou ele.
           
            - Ainda – responderam-lhe.
           
            - Bem, levem o meu chapéu e ponham sobre ele, que irei daqui a pouco.

            O curandeiro, apesar da insistência do dono do animal, demorou ainda duas horas. Quando ele chegou, o animal, com os olhos injetados de sangue, respirava com dificuldade. Dir-se-ia que pouco tempo tinha de vida. O curandeiro aproximou-se do cavalo, abriu-lhe a boca, murmurou algumas palavras e deu-lhe uma cusparada no fundo da garganta. Tirou o chapéu que estava sobre o animal, deu-lhe um ponta-pé na barriga, e disse:

            - Levanta-te, bruto!

            O animal levantou-se quase de um salto.

            - Dêem-lhe água e deixem-no descansar hoje. Amanhã já pode ser montado!

            Os estudiosos de Psiquismo sabem o que significa a providência inicial do curador, mandando colocar em cima do animal o próprio chapéu. Eles sabem, por experiência própria, que os objetos de uso pessoal do curador acumulam fluidos altamente curadores, e no caso acima o chapéu serviu de neutralizador do veneno ofídico.

            Para bem compreendermos tais fatos teremos de nos valer dos estudos do Barão de Reichenbach, do Coronel De Rochas, Durville, Luys, Baraduc e tantos outros que se ocuparam das radiações e dos eflúvios magnético-mediúnicos que, sem dúvida, serão um campo vastíssimo de observações da medicina espiritualista.


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