Carlos Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica
Reformador
(FEB) Agosto 1954
Corria
o ano de 1897, quando Carlos Richet,
em seu discurso inicial proferido como presidente da Sociedade de Estudos
Psíquicos de Londres, teve ensejo de introduzir, pela primeira vez, o termo Metapsíquica como designação da nova
ciência que, segundo suas próprias palavras, seria um dia considerada a “rainha
das ciências”.
É
difícil, em simples nota, interpretar sua personalidade de sábio em numerosos
ramos do saber humano: médico, filólogo, bacteriólogo, sociólogo, literato e metafísico,
tendo mesmo cogitado, se bem que rapidamente, do campo da engenharia, quando de
seus primeiros ensaios pelo domínio do ar.
Nascido
em Paris a 26 de Agosto de 1850, seguiu as pegadas de seu pai, ao tempo
cirurgião e professor da Faculdade de Medicina; notou, no entanto, já no exercício
de sua profissão, que sua vocação real era a da investigação. E, como interno
dos hospitais, pode dedicar-se, durante um ano inteiro, ao estudo do
sonambulismo, que foi sua iniciação no campo da Fisiologia, chegando de tal
maneira a destacar-se, que foi designado, em 1878, com a idade de 28 anos
adjunto de Fisiologia na Faculdade de Medicina (1). Foi um trabalhador incansável.
(1)
Não foi, em vão, destacado discípulo do grande mestre Claude Bernard.
Através
de uma série de investigações plenas de êxito, descobriu a seroterapia que tão incalculáveis
benefícios tem proporcionado à Humanidade. Contava Richet 37 anos quando, em 1887, foi designado professor de
Fisiologia, fazendo, logo a seguir, várias descobertas de capital importância,
sustentando inúmeras teorias que, com o correr do tempo, contribuíram
extraordinariamente para o progresso da Ciência, e, em 1913, publicou um livro
à base de seu estudo experimental sobre a “anafilaxia”,
descoberta essa que, além de novamente assombrar o mundo cientifico de sua
época, lhe proporcionou o Prêmio Nobel de Medicina, em 1913. Nele já se havia
revelado o mestre com todos os atributos do saber científico. Sua agitação
inata e seu intenso fervor pacifista levaram-no, em 1884, a participar do
movimento de pacificação, a ponto de ocupar a presidência da Sociedade de
Pacifistas. Discursos, conferências, artigos e livros foram assinalando sua
trajetória, que culminou, em 1930, depois de um passeio pela Itália, Romênia e
Rússia, onde contava com muitos
admiradores do seu livro “Pela paz” dedicado a seu avô, por lhe ter este
inoculado a aversão à guerra, desde a sua meninice.
Este
gênio, extraordinariamente privilegiado, cujo natural dinamismo o impedia
de entregar-se ao descanso, empregava o tempo
livre de sua tarefa científica, em vasta produção literária que, só por só; o
colocava entre os grandes escritores da época. Seus livros denotam profunda
inquietude pelas condições de vida do povo e tendem a melhorar a conduta dos
homens, por uma maior moralização de seus costumes. O sociólogo profundo que
havia nele surgia amplamente de seus escritos, combatendo igualmente o baixo
índice de natalidade na raça branca e, como estudioso dos problemas sociais,
isso o preocupava sobremodo, pela possível extinção da raça mais evolvida do
planeta.
Sua
considerável obra literária colocou-o na posição de autor ilustre e a Academia
de Ciências o chamou, por isso, ao seu seio, justo reconhecimento a quem, como
poucos, era, acadêmico no fundo e na forma.
Seus
estudos iniciais sobre o sonambulismo conduziram-no posteriormente ao estudo do
hipnotismo, e em 1884 recebeu a visita do sábio russo Aksakof, que lhe disse: “o
senhor se ocupa de sonambulismo e de hipnotismo, mas existe ainda uma coisa
mais interessante: os fenômenos denominados espiritistas, isto é, as aparições
e os movimentos de objetos sem contato.”
Pouco
tempo depois Richet visitava Milão, a convite de Aksakof, onde, em companhia de César
Lombroso, Schiaparelli, Chiaia e Finzi, assistiu às experiências que então se faziam com Eusápia Paladino. Dali saiu plenamente
convencido da existência de fenômenos cujo estudo, menosprezado pela ciência
oficial, era do domínio exclusivo da fisiologia experimental.
De
retorno ao seu país, prosseguiu na investigação dos fenômenos psíquicos, que o
apaixonaram tanto quanto a Fisiologia;
e, depois de novas experiências com Paladino,
que a seu pedido fora à França e se hospedara em uma ilha de propriedade de
Richet, realizadas em companhia de Oliver
Lodge, Myers e Ochorowicz, resolveu criar, em 1891, um
periódico especializado desta nova ciência, denominado “Anais de Ciências
Psíquicas”.
Carlos
Richet, afirmando a existência do
sexto sentido, não obstante o ceticismo dos que só admitiam os cinco sentidos
conhecidos, conseguiu a sua aceitação definitiva.
Sua
obra – “Nosso Sexto Sentido” - fez que convergisse para ele a atenção geral, e
já em 1897 ocupava a Presidência da “Sociedade de Estudos Psíquicos” de Londres
e definia a Metapsíquica como “o
estudo de propriedades do espírito que saem do campo de observação da psico-fisiologia,
aliás universalmente admitida e ensinada”. Sempre em busca de novas provas da
imortalidade da alma, viajou pela Itália, Alemanha, Inglaterra, Suécia e
Polônia, fazendo experiências com distintos médiuns. A Metapsíquica o absorvia já quase totalmente, quando, em 1914
idealizou em França, sua pátria (onde não existia nenhuma organização que reunisse
os investigadores), sessões de almoços que contavam habitualmente com comensais
ilustres tais como Flammarion, Roux, Maxwell, Bergson, Grammout, Vesme, etc. Nessas reuniões, logo após a saída dos serviçais, Richet costumava bater em um vaso,
indicando assim o começo das conversações, durante as quais se entremeavam
informações e novidades, estabelecendo-se sistemas de trabalho, etc. às quais
só faltara poucas vezes. “Eu virei até à minha morte” costumava dizer.
Conjuntamente
com o Dr. Geley, o professor Santoliquido e Meyer de Beziers fundaram tempos depois, em Paris, o “Instituto Mepsíquico Internacional” e
criaram a “Revista Metpsíquica”, sendo ele designado para presidente, cargo que
desempenhou com profunda dedicação, já que o Instituto era a concretização de
um velho anelo que não supusera ver realizado.
Em 1922 apresentou à Academia de
Ciências seu famoso “Tratado de Metapsíquica”, obra-prima de seu pensamento luminar e
que o imortalizou, mostrando-o como autêntico iniciado em cumprimento de alta
missão com projeções de eternidade. Em 1926 o Governo de Painlevé lhe concedeu
a distinção da Legião de Honra, no grau de Grão Oficial. Ao receber a distinção
pelas mãos do Marechal Foch, a cujo ato assistiu o mencionado Presidente do
Conselho de Ministros da França, Richet
se aproveitou da oportunidade para insistir longamente sobre o porvir da Metapsíquica como a grande esperança do
futuro, afirmando que “um novo ideal
moral seria sua consequência”.
Posteriormente
e sempre em defesa da Metapsíquica sua pena lançou à circulação “O Futuro da
Premonição”, em 1931; “A Grande Esperança”, em 1933, e “Em Socorro”, em 1935,
desencarnando pouco depois, aos 85 anos de idade.
A
vida de Carlos Richet, sábio entre os sábios, apóstolo em toda a acepção do
vocábulo, foi um relâmpago nas trevas de uma época de obscurantismo, em que as
correntes materialistas detinham o cetro. Seu “Tratado de Metapsíquica”,
verdadeira Constituição Científica do Espiritismo, situa-o entre a plêiade de seres
superiores que de tempos a tempos encarnam, a fim de
auxiliarem a orientação do homem em seus novos destinos. Um de seus biógrafos,
o Dr. Eugênio Osty, confirma esta assertiva com as seguintes palavras: "Uma soberana serenidade; uma esquisita amabilidade, uma
alma elevada que esquecia toda injúria, e uma grande bondade, completam a
excepcional personalidade de Carlos Richet."
(Traduzido
de um artigo da direção de “Prédica”, de Buenos Aires, Fevereiro de 1954.)
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