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terça-feira, 27 de junho de 2017

Carlos Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica


Carlos Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica

Reformador (FEB)  Agosto 1954

            Corria o ano de 1897, quando Carlos Richet, em seu discurso inicial proferido como presidente da Sociedade de Estudos Psíquicos de Londres, teve ensejo de introduzir, pela primeira vez, o termo Metapsíquica como designação da nova ciência que, segundo suas próprias palavras, seria um dia considerada a “rainha das ciências”.

            É difícil, em simples nota, interpretar sua personalidade de sábio em numerosos ramos do saber humano: médico, filólogo, bacteriólogo, sociólogo, literato e metafísico, tendo mesmo cogitado, se bem que rapidamente, do campo da engenharia, quando de seus primeiros ensaios pelo domínio do ar.

            Nascido em Paris a 26 de Agosto de 1850, seguiu as pegadas de seu pai, ao tempo cirurgião e professor da Faculdade de Medicina; notou, no entanto, já no exercício de sua profissão, que sua vocação real era a da investigação. E, como interno dos hospitais, pode dedicar-se, durante um ano inteiro, ao estudo do sonambulismo, que foi sua iniciação no campo da Fisiologia, chegando de tal maneira a destacar-se, que foi designado, em 1878, com a idade de 28 anos adjunto de Fisiologia na Faculdade de Medicina (1). Foi um trabalhador incansável.  

            (1) Não foi, em vão, destacado discípulo do grande mestre Claude Bernard.

            Através de uma série de investigações plenas de êxito, descobriu a seroterapia que tão incalculáveis benefícios tem proporcionado à Humanidade. Contava Richet 37 anos quando, em 1887, foi designado professor de Fisiologia, fazendo, logo a seguir, várias descobertas de capital importância, sustentando inúmeras teorias que, com o correr do tempo, contribuíram extraordinariamente para o progresso da Ciência, e, em 1913, publicou um livro à base de seu estudo experimental sobre a “anafilaxia”, descoberta essa que, além de novamente assombrar o mundo cientifico de sua época, lhe proporcionou o Prêmio Nobel de Medicina, em 1913. Nele já se havia revelado o mestre com todos os atributos do saber científico. Sua agitação inata e seu intenso fervor pacifista levaram-no, em 1884, a participar do movimento de pacificação, a ponto de ocupar a presidência da Sociedade de Pacifistas. Discursos, conferências, artigos e livros foram assinalando sua trajetória, que culminou, em 1930, depois de um passeio pela Itália, Romênia e Rússia,  onde contava com muitos admiradores do seu livro “Pela paz” dedicado a seu avô, por lhe ter este inoculado a aversão à guerra, desde a sua meninice.

            Este gênio, extraordinariamente privilegiado, cujo natural dinamismo o impedia de   entregar-se ao descanso, empregava o tempo livre de sua tarefa científica, em vasta produção literária que, só por só; o colocava entre os grandes escritores da época. Seus livros denotam profunda inquietude pelas condições de vida do povo e tendem a melhorar a conduta dos homens, por uma maior moralização de seus costumes. O sociólogo profundo que havia nele surgia amplamente de seus escritos, combatendo igualmente o baixo índice de natalidade na raça branca e, como estudioso dos problemas sociais, isso o preocupava sobremodo, pela possível extinção da raça mais evolvida do planeta.

            Sua considerável obra literária colocou-o na posição de autor ilustre e a Academia de Ciências o chamou, por isso, ao seu seio, justo reconhecimento a quem, como poucos, era, acadêmico no fundo e na forma.

            Seus estudos iniciais sobre o sonambulismo conduziram-no posteriormente ao estudo do hipnotismo, e em 1884 recebeu a visita do sábio russo Aksakof, que lhe disse: “o senhor se ocupa de sonambulismo e de hipnotismo, mas existe ainda uma coisa mais interessante: os fenômenos denominados espiritistas, isto é, as aparições e os movimentos de objetos sem contato.”

            Pouco tempo depois Richet visitava Milão, a convite de Aksakof, onde, em companhia de César Lombroso, Schiaparelli, Chiaia e Finzi, assistiu às experiências que então se faziam com Eusápia Paladino. Dali saiu plenamente convencido da existência de fenômenos cujo estudo, menosprezado pela ciência oficial, era do domínio exclusivo da fisiologia experimental.

            De retorno ao seu país, prosseguiu na investigação dos fenômenos psíquicos, que o apaixonaram tanto quanto a Fisiologia; e, depois de novas experiências com Paladino, que a seu pedido fora à França e se hospedara em uma ilha de propriedade de Richet, realizadas em companhia de Oliver Lodge, Myers e Ochorowicz, resolveu criar, em 1891, um periódico especializado desta nova ciência, denominado “Anais de Ciências Psíquicas”.

            Carlos Richet, afirmando a existência do sexto sentido, não obstante o ceticismo dos que só admitiam os cinco sentidos conhecidos, conseguiu a sua aceitação definitiva.

            Sua obra – “Nosso Sexto Sentido” - fez que convergisse para ele a atenção geral, e já em 1897 ocupava a Presidência da “Sociedade de Estudos Psíquicos” de Londres e definia a Metapsíquica como “o estudo de propriedades do espírito que saem do campo de observação da psico-fisiologia, aliás universalmente admitida e ensinada”. Sempre em busca de novas provas da imortalidade da alma, viajou pela Itália, Alemanha, Inglaterra, Suécia e Polônia, fazendo experiências com distintos médiuns. A Metapsíquica o absorvia já quase totalmente, quando, em 1914 idealizou em França, sua pátria (onde não existia nenhuma organização que reunisse os investigadores), sessões de almoços que contavam habitualmente com comensais ilustres tais como Flammarion, Roux, Maxwell, Bergson, Grammout, Vesme, etc. Nessas reuniões, logo após a saída dos serviçais, Richet costumava bater em um vaso, indicando assim o começo das conversações, durante as quais se entremeavam informações e novidades, estabelecendo-se sistemas de trabalho, etc. às quais só faltara poucas vezes. “Eu virei até à minha morte” costumava dizer.


            Conjuntamente com o Dr. Geley, o professor Santoliquido e Meyer de Beziers fundaram tempos depois, em Paris, o “Instituto Mepsíquico Internacional” e criaram a “Revista Metpsíquica”, sendo ele designado para presidente, cargo que desempenhou com profunda dedicação, já que o Instituto era a concretização de um velho anelo que não supusera ver realizado.

            Em 1922 apresentou à Academia de Ciências seu famoso “Tratado de Metapsíquica”, obra-prima de seu pensamento luminar e que o imortalizou, mostrando-o como autêntico iniciado em cumprimento de alta missão com projeções de eternidade. Em 1926 o Governo de Painlevé lhe concedeu a distinção da Legião de Honra, no grau de Grão Oficial. Ao receber a distinção pelas mãos do Marechal Foch, a cujo ato assistiu o mencionado Presidente do Conselho de Ministros da França, Richet se aproveitou da oportunidade para insistir longamente sobre o porvir da Metapsíquica como a grande esperança do futuro, afirmando que “um novo ideal moral seria sua consequência”.

            Posteriormente e sempre em defesa da Metapsíquica sua pena lançou à circulação “O Futuro da Premonição”, em 1931; “A Grande Esperança”, em 1933, e “Em Socorro”, em 1935, desencarnando pouco depois, aos 85 anos de idade.

            A vida de Carlos Richet, sábio entre os sábios, apóstolo em toda a acepção do vocábulo, foi um relâmpago nas trevas de uma época de obscurantismo, em que as correntes materialistas detinham o cetro. Seu “Tratado de Metapsíquica”, verdadeira Constituição Científica do Espiritismo, situa-o entre a plêiade de seres superiores que de tempos a tempos encarnam, a fim de auxiliarem a orientação do homem em seus novos destinos. Um de seus biógrafos, o Dr. Eugênio Osty, confirma esta assertiva com as seguintes palavras: "Uma soberana serenidade; uma esquisita amabilidade, uma alma elevada que esquecia toda injúria, e uma grande bondade, completam a excepcional personalidade de Carlos Richet."   
                                    (Traduzido de um artigo da direção de “Prédica”, de Buenos Aires, Fevereiro de 1954.)


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