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segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Finados

 

Finados

Isolino Leal por Chico Xavier

Reformador (FEB) Novembro 1964

 

“O mais belo culto aos mortos,

No pesar que te alanceia,

Será fazer da saudade

Lenitivo à dor alheia.”


domingo, 3 de outubro de 2021

De Finados

 

De Finados 

por Alcindo Terra

Reformador (FEB) 1º Dezembro 1916

 Deveras comovente é a romagem dos que, acicatados pela saudade, lá se vão no dia de finados, cobrir de flores, orvalhadas de lágrimas, o recanto, para eles sagrado, onde, colhida pela morte, julgam haver desaparecido para sempre toda a criatura estremecida.

São estes os que, materialistas, pensam ser o túmulo o marco final da humana existência; são os que, em todas as manifestações da inteligência, em todas as modalidades do sentimento, nada mais reconhecem senão meras combinações de matéria organizada.

Por isso mesmo, devem ser os mais feridos pela dor, tanto é certo que, dentro da noite do ceticismo, não podem surpreender um lúcido sequer de consoladora esperança, sempre viva para aqueles que acariciam a crença em Deus e na imortalidade.

Não será menos dolorosa, entretanto, a lembrança de um ente querido já nos domínios extra terrestres, para quem se confranja à sombria ideia de estar o ídolo de suas afeições, por uma falta grave, num instante de arrependimento praticada, curtindo uma eternidade de torturas nas chamas infernais.

Enfraquecido, porém, vai se tornando felizmente, cada vez mais, o número de pessoas crentes no dogma do inferno, pois que, por simples intuição, parece compreender o homem hodierno não ser possível o Criador, perfeito em toda a execução de sua obra, lançar ao mundo os seus filhos, de cuja queda, ele, o Criador, de antemão, tivesse conhecimento para depois considera-los irremediavelmente perdidos, condenando-os para todo o sempre.

Por outro lado, escrava de ferina incerteza, avulta a grande maioria daqueles, para os quais a vida de além-túmulo é um eterno, insondável problema, e dizem que se considerariam felizes, se, entretanto, realmente, para além deste mundo de misérias, uma outra estância de paz lhe surgisse, onde fossem encontradas almas amigas que os precederam na grande jornada para o desconhecido.

Penetrada dessa desoladora incerteza está a massa popular, herdeira de religiões esboroantes, morrentes justamente, porque se contentam com o propagar a sobrevivência da alma à morte do corpo, sem contudo dar uma prova de suas afirmações, como requer o filho deste século, no transcorrer do qual só florescem doutrinas inspiradas na observação dos fatos experimentais.

Conservam ainda uma centelha de esperança àqueles que alimentam a crença de encontrarem ainda, ao ingressar na outra vida, os entes estremecidos, se não no céu, por quase inacessível ao homem presa de todos os vícios, provavelmente, ao menos, transpondo a montanha do purgatório, tão bem figurada pelo Dante na sua obra – uma das joias mais preciosas da literatura italiana.

                                                            ***

Todavia, muito outra, e muito mais consoladora, é, sem dúvida, a perspectiva do futuro humano, no passado século desvendada por aqueles mesmos que, desvencilhando-se dos elos corpóreos, já  respiravam o ar puro da vida espiritual.

Todo o homem não se aniquila com a desagregação do conjunto de moléculas, instrumento de que carecia enquanto neste mundo – verdadeiro Letes, onde nos esquecemos dos nossos atributos superiores – para transmitir o pensamento a seus semelhantes. O que se transforma com o fenômeno da morte é o que tomamos da matéria, é o corpo físico, só valioso como elementos de prova para o espírito que o dirige e se esforça por domar lhe os apetites da carne.

É sofrendo as contingências da matéria, é suportando resignadamente os embates da vida ordinária, inçada de precipícios invencíveis se não houvesse a Providência a sugerir os meios para vence-los , e curtindo, sem queixas, sem revolta, as dores do mundo, que o homem, constelando-se de bondade, colhendo experiencia dos fatos, em seu proveito e no intuito de minorar o sofrimento alheio, vai haurindo gradualmente energias para efetuar a sua difícil, mas gloriosa, escalada para o céu.

E a saudade que a tantos sensibiliza, se não for acompanhada de blasfêmias, reverterá em benefício, por adormentar sentimentos malsãos, ao mesmo tempo que ensaia as almas no cumprimento do amor ao próximo, que será o apanágio da humanidade redimida.

O amor é o ideal da vida humana, tem os filósofos de todos os tempos assegurado; e, hoje, mais do que nunca, os mensageiros do Alto vêm afirmar esta verdade; pois que, por eles, sabe-se que esse ideal, o do amor, contina a acenar à criatura, mesmo após deixar ela a algema da carne.

E, se é certo que, através do espaço e do tempo, o homem tem esse sagrado objetivo a colimar; se existe um alvo de perfeição para onde se dirija efetivamente, - o dogma do inferno, com suas penas eternas, segundo a concepção da igreja, está fadado a passar para o número das coisas arcaicas, que fizeram a sua época nos primórdios da civilização.

E, entretanto, a ideia do inferno ou do purgatório não é totalmente destituída de razão, porquanto, aí não existem punições perpétuas na outra vida, há, contudo, sem jamais ser eterno, o remorso persistente que fere e se aviva com a lembrança de se haver cometido o mal, quando poder-se-ia ter praticado o bem.

As recordações sombrias de atos irregulares, se não dos crimes, vão cessando, gradualmente, à maneira que o delinquente, reconhecendo a infração cometida contra as leis divinas, volver sinceramente arrependido olhos para o Alto, firmando o compromisso inquebrantável de ascender para Deus.

Mas, se o culpado é perseguido incessantemente pelo remorso que o crucia, ao revés, a alma do justo estremece de júbilos indefinidos, revendo a sua obra de amor e de paz na Terra realizada.

O bom desfrutará delícias paradisíacas, não porque esteja colocado em determinado lugar de venturas, mas porque, enriquecendo-se de virtudes, soube construir um verdadeiro céu dentro de sua própria alma.

Verdade alvissareira é que, todos, quer o criminoso, quer o justo, continuam a viver, além, em outros pousos do universo, não se esquecendo dos que lhes foram dedicados, aguardando o instante de sua volta a esse país de onde viemos e ao qual ele, primeiro dos que os choram, teve ocasião de aportar.

 ***

Para imprimir na criatura a crença na sua origem divina, e além disso, na grandeza de seus destinos depois de transcorrida a existência planetária, é que Allan Kardec, por determinação do mundo invisível, reuniu em código admirável as instruções que constituem a doutrina filosófica religiosa mais consentânea e consoladora que a história do pensamento humano tem ainda assinalado.

Consentânea, porque ao contrário das antigas filosofias que no dizer de Spicker (?) “eram destinadas a resolver problemas de maior magnitude e, ao cabo de 2500 anos, vem-se forçadas a reconhecer que fraudaram, por completo, o seu fim”, o espiritismo, firmando-se na experiência dos fatos, e explicando dentro da justiça os fenômenos morais, vem adaptar-se às exigências da razão mais esclarecida.

Consoladora, porque é de molde a desvendar o segredo do túmulo, pondo em relevo o engano em que permanecera a humanidade, relativamente ao seu futuro, provando existir a vida, mesmo além da morte.

E é por isso que o espírita não chora amargamente os seus “mortos”; e, enquanto outros desfolham flores gotejadas de lágrimas sobre a campa de entes queridos, o adepto da revelação nova ora, e, orando, tem a certeza de se comunicar, em pensamento, com quem, na vida, foi objeto de todo o seu encanto, de todo o seu amor.


segunda-feira, 5 de abril de 2021

Mortos amados

Mortos Amados

Emmanuel por Chico Xavier

Do livro: “Na Era do Espírito(Ed. GEEM)

             Na Terra, quando perdemos a companhia de seres amados, ante a visitação da morte, sentimo-nos como se nos arrancassem o coração para que se faça alvejado fora do peito.  Ânsia de rever sorrisos que se extinguiram, fome de escutar palavras que emudeceram. E bastas vezes, tudo o que nos resta no mundo íntimo é um veio de lágrimas às estanques, sem recursos de evasão pelas fontes dos olhos. Compreendemos, sim, neste Outro Lado da Vida, o suplício dos que vagueiam entre as paredes do lar ou se imobilizam no espaço exíguo de um túmulo indagando porquê...  Se varas semelhantes sombras de saudade e distância, se o vazio te atormenta o espírito, asserena-te e ora, como saibas e como possas, desejando a paz e a segurança dos entes inesquecíveis que te antecederam na Vida Maior.

            Lembra a criatura querida que não mais te compartilha as experiências no Plano Físico, não por pessoa que desapareceu para sempre e sim à feição de criatura invisível; mas não de todo ausente.

            Os que rumaram para outros caminhos, além das fronteiras que marcam a desencarnação, também lutam e amam, sofrem e se renovam. Enfeita lhes a memória com as maiores lembranças que consigas enfileirar e busca tranquilizá-los com o apoio de tua conformidade e de teu amor. Se te deixas vencer pela angústia, ao recordar-lhes a imagem, sempre que se vejam em sintonia contigo, ei-los que suportam angústia maior, de vez que passam a carregar as próprias aflições sobretaxadas com as tuas. Compadece-te dos entes amados que te precederam na romagem da Grande Renovação. Chora, quando não possas evitar o pranto que se te derrama da alma, no entanto, converte quanto possível as próprias lágrimas em bênçãos de trabalho e preces de esperança, porquanto eles todos te ouvem o coração na Vida Superior, sequiosos de se reunirem contigo para o reencontro no trabalho do próprio aperfeiçoamento, à procura do amor sem adeus.


Finados e mausoléus

 

Finados e Mausoléus

Reformador (FEB) Novembro 1982

             Finam-se todos os homens, sejam pobres, sejam ricos, mendigos ou potentados, súditos ou governantes. Mas o fim é apenas aparente, pois em realidade só se acaba o corpo físico, que esse é de matéria realmente perecível, por natureza transformável e corruptível. O Espírito, porém, que anima o corpo e é o ser real, esse é eterno, não se fina, jamais morrerá.

            Houve na Antiguidade um país chamado Cária (em grego, Kária), situado no sudoeste da Ásia Menor, e colonizado pelos dórios. Pouco antes da Era Cristã, de 377 a 353 a.C., esteve esse povo sob a suserania do sátrapa Mausolo, soberano que instalou sua capital em Halicarnasso. Como todo mortal, viu o fim de suas conquistas e glórias terrenas quando se imobilizou, rígido e frio, o corpo que lhe servira de instrumento às ambições e vaidades, e foi sepultado em um túmulo que, para ele, sua mulher, Artemísia II, mandou especialmente construir. Era, mais do que um túmulo, um verdadeiro monumento, com grande contorno quadrangular e ornamentado com colunas e relevos evocando cenas mitológicas. Mausoléu passou a chamar-se esse túmulo, mas toda a sua grandiosidade não conseguiu mudar a grande lei da ressurreição dos mortais em Espíritos, e Mausolo, por mais que ali tenha sido retido, junto a um corpo de onde a vida se evadira, seguramente dele acabou se libertando. A dezenas de outros corpos deve ter voltado, na sucessão dos renascimentos que lhe proporcionaram progressos e maiores graduações espirituais. Entretanto, mausoléus foram também, depois, chamados todos os túmulos suntuosos, que se erigiram na terra para perpetuar as vaidades dos homens.

            Mausoléus magnificentes que vos situais, por privilégios, nos locais mais notórios dos campos santos; tumbas rasas inumeráveis, que muitas vezes desapareceis ocultas pelas ervas que crescem ao derredor; e - entre esses dois extremos - grandes e pequenos túmulos de mármore, com as inscrições que traduzem sentimentos de afeto ou de saudade, homenagens sinceras de amor e veneração ou simples tradições respeitáveis nos costumes dos povos; sois, todos, imperfeitas, mas, insopitáveis manifestações de piedosos sentimentos, que de algum modo exprimem também a intuição perfeitamente natural que tem o Homem de que não há morte e que uma vida mais esplendorosa que a Terra se ostenta além das raias sepulcrais! Por isso, só até certo ponto se compreendem as manifestações de piedosos sentimentos de afeto e de saudade junto aos túmulos vazios, oh! Sim, totalmente vazios!

            Em verdade não devem deter-se aí os pensamentos, porque os seres amados que buscam lembrar há muito ali não mais se encontram ou mesmo nunca ali se detiveram. A Sua criatura, Deus a fez para alçar-se, após cada etapa encarnatória, a planos sempre mais altos e mais felizes. É a ascensional escala espírita, que se vai galgando aos poucos, através de esforços continuados e renovados de aprimoramento intelectual e moral, por concessão divina de misericórdia aos mais culpados e devedores à Lei, e também por graça e recompensa aos devotados à prática das virtudes mais excelsas. Divina lei de progresso que, assim, nos acena com a dupla escalada dos Espíritos e dos mundos, desde os primitivos, onde torva materialidade impera, e os de expiações e provas, até os de regeneração, os felizes e os celestes, ou divinos. Expressão da Suprema Sabedoria, ficaria, entretanto, inoperante para os seres humanos se a não viesse completar outra lei, também divina - a dos renascimentos -, que tão bem concilia a bondade de Deus com a Sua soberana justiça.

            Diante, pois, dos despojos inanimados daqueles que foram os nossos seres mais queridos e ante os túmulos grandiosos ou modestos em que eles foram depositados, um só pensamento nos domine - o da certeza de que o verdadeiro ser é o Espírito, que se liberta da prisão carnal para ressurgir redivivo sob outra dimensão e noutro plano, mas este tão real ou mais real que o nosso; e que uma prece se eleve tranquila e cheia de fé, em intenção da paz e da felicidade do ser querido que lembramos, e em louvor de nosso Pai Eterno.


Dia de Finados

 

Dia de Finados ?

Alberto Nogueira Gama (Passos Lírio)

Reformador (FEB) Novembro 1993

             O Cristianismo é, por excelência, a Doutrina do Espírito, fundada em fatos que demonstram, à evidência, a sua presença e atuação, em qualquer circunstância, sempre que necessário.

            Seus ensinamentos primam pela tese comprobatória da realidade da existência da alma e de sua dificuldade de entrar em relação conosco, em estado de vigília ou durante o sono, como que a mostrar-nos à saciedade que há entre os dois planos, material e espiritual, corpóreo e incorpóreo, estreito entrosamento.

            Maria de Nazaré recebe a visita do Anjo Gabriel, que lhe anuncia a maternidade de agraciada do Senhor.

            José, em se propondo deixar a esposa secretamente, é avisado em sonho de que não faça tal, porque o que nela fora gerado era do Espírito Santo.

            Isabel, visitada pela gestante eleita, recebe o impacto de poderoso influxo magnético, que faz que a criança - ela também estava para ser mãe -, lhe estremeça no ventre.

            Os magos visualizam no Oriente uma estrela que os guia em dois estafantes anos de viagem e os conduz, não à gruta mas à casa onde se achavam José e Maria e, de regresso, são “por divina advertência prevenidos em sonho para não voltarem à presença de Herodes”.

            Em sonho ainda, “eis que aparece um anjo do Senhor a José”, induzindo-o à fuga para o Egito a fim de salvar o menino da sanha sanguinária de Herodes, ordenando-lhe que retornasse à “terra de Israel” e aconselhando-o a que se retirasse “para as regiões da Galileia”.

            Uma entidade angelical, na calada da noite, aparece aos pastores dando-lhes a boa nova do Nascimento do Salvador.

            “Movido pelo Espírito”, Simeão foi ao templo, onde tomou nos braços o Filho de Deus, bendizendo ao Pai pela bênção de tê-Lo visto antes de partir e profetizando acerca do Seu messianato.

            Ana, a profetiza, mediunizada, “chegando naquela hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”.

            Antes do nascimento de Jesus, houve o de João, caracterizado também por manifestações espirituais ostensivas.

            Quando Zacarias oficiava no templo, “na ordem do seu turno”, surge-lhe um Emissário Celestial que lhe prediz o nascimento do Precursor.

            No Jordão, ao se processar o batismo de Jesus, uma voz reboa pelo ar, dizendo: - “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo.”

            Este mesmo fenômeno de Pneumatofonia, isto é, de voz direta, repete-se quando da transfiguração do Mestre no Monte Tabor, presentes os Espíritos de Moisés e Elias, profetas da antiga dispensação.

            Na parábola do rico e Lázaro, infunde-nos Ele a convicção na realidade da comunicação dos Espíritos com os homens, fazendo que Abraão ponderasse ao rico, que queria falar a cinco irmãos seus, ser inútil aparecer-lhes porque eles não lhe dariam crédito e não porque fosse impossível fazer-se lhes visível para adverti-los.

            Liberta endemoinhados, cujos Espíritos impuros e obsessores confessam conhecê-Lo e reconhecer-Lhe a autoridade de Filho do Altíssimo.

            - “Porque buscais entre os mortos ao que vive?” Foi a pergunta que “dois varões com vestes resplandescentes” fizeram às mulheres que levavam aromas e bálsamos para depositar no túmulo de Jesus, cuja pedra encontraram removida, sem o corpo no seu interior.

            - “O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão! Assim se expressavam os dois discípulos que, a caminho de Emaus, tiveram a companhia do Mestre, com quem confabularam durante toda a viagem e a quem pediram, ao término da jornada: - “Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina.”

            E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém onde acharam reunidos os onze e outros com eles. Então os dois contaram o que lhes acontecera no caminho, e como fora por eles reconhecido no partir do pão.”

            - “Paz seja convosco” - “Porque estais perturbados? e por que sobem dúvidas aos vossos corações?” Foram palavras de Jesus, na Sua primeira aparição aos Discípulos, no Cenáculo de Jerusalém.

            - “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” Outras palavras de Jesus, em Sua segunda aparição aos Discípulos, dirigidas especialmente a Tomé, que, por não estar presente na primeira, não dera crédito à versão divulgada pelos seus companheiros, de que o Senhor lhes aparecera.

            “Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos Discípulos junto do mar de Tiberíades”, onde se desenrolam acontecimentos de assinalada importância que culminam com o famoso diálogo entre Ele e Simão Pedro, o Pescador de Cafarnaum.

            Finalmente, apareceu o Nazareno, ao monte, aos quinhentos da Galileia, a quem endereça, pela última vez, a Sua Palavra de Vida Eterna, após o que ocorre a Ascensão definitiva.

            Isto sem falar de aparições, no cenário de Jerusalém, a Maria Madalena, a Maria de Nazaré, em Éfeso, na casa de João Evangelista; a Pedro, por algumas vezes; a Saulo de Tarso, às portas de Damasco.

            Onde, em tudo isso, a ideia de morte? Antes não ressumbra, de todos esses sucessos, a noção de “vida abundante”, de pensamento e ação por parte daqueles que formam o mundo incorpóreo?

            O Espiritismo, que se funda estruturalmente no Cristianismo, cuja pureza primitiva restaura em toda a plenitude, desfralda também a bandeira da imortalidade da alma, de eternidade do ser no Infinito do Tempo e do Espaço.

            Não há mortos e vivos, nem do lado de lá, nem do lado de cá, embora possa haver, tanto num quando noutro plano, mortos-vivos e vivos-mortos. Ninguém vai, ninguém fica, apenas alguns chegam e outros voltam, na longa caminhada de poder subir para saber descer, ajudando os outros a fim de ajudar-se a si próprio.

            A mediunidade, disciplinada espiriticamente, nos descortinou novas dimensões de vida, revelando ao mundo a existência de outros mundos e à Humanidade a presença de outras Humanidades disseminadas no turbilhão de astros que gravitam nos arcanos do Universo.

            2 de Novembro... Como os demais, dia de todos nós, encarnados e desencarnados, que buscamos na Terra ou na Erraticidade os valores do Espírito, a gloriosa realização de nós mesmos em Deus, libertos e purificados por todo o sempre, para empunharmos na destra a palma da vitória e cingirmos à frente a coroa de louros de almas redimidas e ressurrectas, integradas nas sublimes claridades dos cimos.


sábado, 3 de abril de 2021

O Dois de Novembro

 


O Dois de Novembro

por Almerindo Martins de Castro      Reformador (FEB)  Julho 1950

           Caminhando por entre os paradoxos da vida social, a criaturas vão, a cada ano, em dois de Novembro, aos cemitérios, visitar os mortos, deslembrados de que, naquele chão, jazem apenas os mesmos rígidos cadáveres para ali conduzidos num esquife, e ali deixados para a incoercível transformação, na química silente da Terra, que destrói a carne e faz das amadas, formosas criaturas uma caveira, tétrica em seu rir sinistro, apavorante, muda porque sem boca, com os dentes sem a vestimenta dos lábios, através dos quais fluíam outrora expressões de amor e de carinho.

          Olhos e pensamentos voltados para o chão, onde inutilmente buscam ressonâncias com os túmulos, que não permitem rever os corpos já desfeitos pela desagregação da matéria, as criaturas não se voltam para o Alto, que é a pátria dos verdadeiros vivos - em Espírito, e não podem, por isso, suspeitar sequer o maior paradoxo expresso nessa pretensa “comemoração dos mortos”. Às necrópoles, em verdade, vão os mortos, Espíritos amortalhados nos sepulcros do corpo, em visita aos que reviveram para a imortalidade no Espaço, onde se entrecruzilham as estrelas da vida eterna, palmilhadas nos vários rumos do aperfeiçoamento redentor.

             Se pudessem desvendar os esplendores da vida espiritual, perceberiam a vibração daqueles chamados - mortos, que estão cumprindo, nos cimos siderais, as leis eternas que regem os mundos. Na materialidade das flores espargidas e nas velas acesas em torno das sepulturas, os visitantes obedecem a esse automatismo a que, cada vez mais, se reduzem as coisas do Espírito, nas arbitrárias criações dos credos e ritos meramente humanos.

             O verdadeiro cristão não necessita de dia certo, nem de recinto funerário para orar pelos seus entes queridos: ante Deus e em favor dos seres, o Espírito sobe, em espiral de preces, sem complementos materiais.

             Os monumentos marmóreos e as coroas de flores, vidro ou porcelana são apenas homenagens do egoísmo vaidoso e perdulário, oferecidas aos olhares dos que não conhecem o recôndito ritual da alma que deve ser praticado sem exterioridades, nem obediências a convencionalismos e preconceitos.

             O vero espiritualista não deve desfazer em  prantos e lamentos a mágoa dessa incoercível separação que, sendo - morte, é condição da - vida. A memória é um altar no qual se entronizam todas as lembranças meigas e suaves, puras e castas. Nesse deve ser acesa a pira da saudade, que é o incenso da alma sublimada, pela prece, até junto dos mensageiros de Deus. Esta deve ser a “comemoração dos mortos” para os espíritas, porque feita - do Espírito para Espíritos, e não a do convencionalismo adotado pelo comum das criaturas, todo ele alicerçado em exterioridades mais ou menos mercantilizadas. 

             O “dia de finados” não tem origem em ensinamentos dos Espíritos. Derivou da festa católica - romana de 1º de Novembro - “dia de todos os santos”.

             Quando da destruição dos templos pagãos, em Roma, um que entre todos foi poupado, porque constituía obra prima de arquitetura e riqueza. Construído por Marco Agripa, denominava-se - Panteão e nele, a 1º de Novembro, era celebrada, pelos pagãos, com excessos, a “festa de todos os Deuses”. O papa Bonifácio IV obteve-o, por doação do imperador Focas e fê-lo purificar, recolhendo a ele os tesouros e despojos mortais das catacumbas dos cristãos, e consagrou-o a Santa Maria dos Mártires. Nesse templo (que estivera fechado durante dois séculos), Gregório IV, em 835, instituiu (em antítese da “festa de todos os deuses”) a “festa de todos os santos” em homenagem aos santos que não tinham culto em dia destacado no calendário, universalizada depois para todo o orbe católico. Mas, para que não ficassem esquecidos ante Deus os fiéis da Igreja e os pecadores, foi estabelecido que no dia seguinte, 2 de Novembro, se fizessem no templo orações em intenção desses mortos.

             Só em 998, dez séculos depois do Cristo, o Abade da Ordem dos Beneditinos, em Cluny, instituiu, em todos os mosteiros da Ordem, na França, a “comemoração dos mortos”, o “dia dos finados”, nesse 2 de novembro, culto que a Santa Sé aplaudiu e oficializou para todo o ocidente. Assim foi o mundo profano levado a cultuar os seus mortos (outrora enterrados nas Igrejas e em “campo santo”) num dia determinado, quiçá na ingênua, ilusória esperança de que os Espíritos desencarnados fruiriam venturas celestiais, recebendo, nas covas das necrópoles, as flores e as luzes das velas, que, não raro, exalam hipocrisia e iluminam a treva das maldades e rancores de quem as acende.

             O tempo decerto conseguirá esculpir nos corações o ensinamento dos mestres da espiritualidade, fazendo com que as criaturas regressem à sincera e modesta maneira de encarar e reverenciar o nascimento e o decesso dos seres na face da Terra, práticas desvirtuadas pelas deturpações dos interessados e dos ignorantes. Os antigos tinham intuição ou ensinamentos bem mais aproximados do verdadeiro modo de interpretar o sentido da vida e da morte dos seres humanos.

             Heródoto (o denominado - Pai da História) diz que, na Trácia remota (território cujas fronteiras estão hodiernamente diluídas numa das províncias da Turquia), o nascimento de uma criança em uma família em torno do berço para, por entre lágrimas e tristezas, lamentar as provações a que viera o recém-nascido; enquanto que o falecimento de um ente querido era saudado jubilosamente, na antevisão de que o Espírito liberto iria fruir as venturas e galardões do Além.

             O Espiritismo contemporâneo veio encontrar o automatismo dos costumes e estipulações seitistas, consuetudinárias, que obscurecem de algum modo o lídimo sentido espiritual da vida e da morte; mas, suavemente, sem confundir a sinceridade dos que ainda não evoluíram para a integral espiritualidade, irá encaminhando as Almas para a verdadeira comunhão com os chamados mortos.

             Não está nos cemitérios o mundo dos Espíritos. Ali apenas podem permanecer transitoriamente os cegos desesperados, cujo passamento não os pode desligar da matéria em decomposição. Fora dali, no indefinível templo de nosso coração é onde  devemos orar pela paz e pelo esclarecimento dos Espíritos liberados do corpo. Mas, principalmente, pelos sofredores.

             Os Espíritos de Luz, aqueles que, misericordiosamente ajudam os grilhetas da Terra, descem pela escada espiritual das nossas preces, dos nossos pensamentos de abnegada solidariedade com os chagados da alma, que gemem nos ergástulos da dor e do remorso, com os surdos e cegos, que ainda não ouviram, nem lobrigaram as harmonias iluminadas da Verdade que as “vozes do silêncio” entoam para a glória de Deus e bênção dos arrependidos. Em cada dia da existência, nas horas de recolhimento, oremos pelos tristes, pelos abandonados que, na desolada noite de sua provação, não conheceram amor, caridade, consolo, bálsamo para as suas dores de alma.

             Deixemos os cemitérios onde se dissociam as moléculas da carcaça humana e pensemos no Mundo Alto, de onde tudo vem para a Terra e aonde sobem, de regresso, as refrações de todos os diferentes mundos dispersos no Infinito.

             Espiritualizemos os estágios da existência terrestre, mantendo o recôndito do nosso ser em ressonância com o mundo espiritual de amanhã, vivendo esta harmonia com os imperativos naturais da matéria, conservando, porém, o Espírito alertado para a devida obediência às leis que o regem, nas trajetórias das vidas sucessivas.

             Ante a morte do corpo, não nos impressionemos com o fogo-fátuo, que é a luz da matéria e que não pode ficar dentro da cova; busquemos o santelmo, a luz do Alto, que se acende no cimo dos montes, na vastidão dos mares, com a fosforescência que tem contato nas rutilâncias das claridades celestiais.

             Não façamos treva onde a vida se ilumina; não choremos ante o corpo inerte, porque o Espírito se está movendo no júbilo da libertação. Os espíritas não podem esquecer o simbólico ensinamento do Mestre: “... deixai que os mortos enterrem os seus mortos.” (Mt 8:22).

            A comemoração que, rotineiramente se celebra, a dois de novembro, deve ser substituída pela permanente comemoração dos - vivos verdadeiros - porque a noite da morte do corpo é a alvorada esplêndida do Espírito, despido da negra libré do cárcere, imergindo nas suaves, eternas claridades da aurora redentora...


domingo, 1 de novembro de 2020

Finados

 


Finados
por Thiago
Reformador (FEB)  Novembro 1980

            Aos 2 de novembro, todos os anos e em toda parte, cultuam os homens a memória dos seres amados que partiram para o outro lado da vida. Induzidos por esse hábito do culto aos chamados mortos, vão em romaria aos cemitérios, levando flores, e lá se quedam em orações junto aos túmulos dos seus finados, nem sempre isentos de amargurada tristeza.
            Piedosa tradição de todos os povos, nenhum reparo há que fazer a esse culto, em dia e lugar consagrados, enquanto manifestação sincera de amor e de saudade, ao mesmo tempo que de respeito e veneração aos entes queridos que se foram.
            O espírita, contudo, que no dia universalmente consagrado aos chamados mortos - ou finados - não comparecer a necrópoles majestosas para orar junto aos túmulos, que sabem vazios de qualquer traço do que foram as individualidades reais daqueles que amaram e amam e onde apenas foram inumados os seus despojos perecíveis, não peca contra qualquer sentimento de amor e de saudade, nem falta com o respeito e a veneração que lhes são devidos. Ele - o espírita verdadeiro e sincero - sabe que esses sentimentos, essas lembranças, essas saudades podem, dirigindo-se a Espíritos libertos, legitimamente manifestar-se em simples e puros pensamentos, através de preces despidas de quaisquer objetivações exteriores, partidas do fundo dos seus corações e que serão recolhidas pelos entes queridos também em seus corações, mas como Espíritos, que prescindem, para recolhê-las, de locais determinados e dias consagrados.
            Respeitáveis são as tradições e respeitados devem ser os atos piedosos dos que ainda têm apenas vagas noções do que seja realmente um morto - assim chamado -, que é, entretanto, o verdadeiro vivo, e de como ele vive no plano espiritual que a todos nós espera quando libertos da prisão e dos grilhões carnais.
            Não existe a morte, sabe-o hoje de modo cabal todo verdadeiro espírita. Morto é apenas o corpo, simples veste passageira do Espírito que, em realidade, é o verdadeiro ser, na sua individualidade consciente e imortal, eterno desde a sua criação e destinado pelo Criador a progredir sempre, até a Perfeição - seu alvo supremo -, e, então, será Espírito puro.
            Pode, então, o Espírita, em sã consciência, substituir o culto tradicional - em outros respeitáveis e, para muitos, indispensáveis, pela simples lembrança, em pensamento e oração, que sempre pode ser feita, em qualquer momento ou em qualquer parte, quer no templo da natureza, sob a abóbada de um céu matinal, azul e límpido, ou quando, à noite, já recamado de estrelas, quer no recesso do lar, no santuário doméstico, a sós e recolhido, ou em reunião com os outros seres amados, que ainda vivam neste mundo.
            O de que, porém, o verdadeiro espírita não mais duvida, o de que ele tem, ao contrário, absoluta certeza é que os mortos vivem e, na verdadeira vida, lhes apraz serem lembrados com amor e tranquila saudade, serena e terna, que comunica aos caros invisíveis a certeza de que ainda são amados, venerados. Isto lhes propicia verdadeira felicidade, ao contemplarem os seres queridos, que aqui deixaram, resignados com os desígnios divinos, animosos trabalhando pelo progresso próprio e da Humanidade e mais do isso, certos do futuro reencontro na verdadeira pátria que está no Além.
            Esqueces, pois - se já o podes -, os túmulos em terra rasa ou erigidos em suntuosos mausoléus, mas consagra sempre, aos teus finados, pensamentos de amor e tranquila saudade, porque, cada vez que o fizeres e onde quer que seja, Espíritos felizes te contemplarão sorrindo do outro mundo e, numa reciprocidade onde o verdadeiro amor e a gratidão estarão reunidos, também por ti dirigirão preces ao Eterno, recomendando-te à sua bênção e à sua proteção e divino amparo, fortalecendo-te o espírito nas lutas e provações necessárias desta vida na Terra transitórias, enquanto aguardas, na resignação ativa e no trabalho que aperfeiçoa, o futuro reingresso na Vida verdadeira e eterna


sexta-feira, 23 de março de 2018

Finados



Finados
A Redação 
Reformador (FEB) Novembro 1978
          
            Desde as mais remotas civilizações, o homem se dobra reverente ante o mistério dos sepulcros, para cultuar os seus mortos. Em face dos esquifes fechados, deixa escorrer o pranto sentido das suas saudades, enquanto guarda no coração o difuso pavor dos enigmas do desconhecido. Nem sempre, porém, é o amor que inspira o preito aos que partiram. Não foi decerto, a piedade que levou Artemísia a erguer a Mausolo, rei da Cária, monumento tão faustoso que se tornou uma das maravilhas do mundo antigo. Nem foi a devoção sincera e humilde que pagou a Miguel Ângelo para projetar e construir os admiráveis túmulos dos Médicis. Mas a Grande Pirâmide de Gizé, mandada erigir por Quéops, filho de Snefru, com cento e quarenta e seis metros de altura, fala, no silêncio da sua linguagem de pedra, da solene certeza da vida eterna.

            Meio às contrastantes demonstrações de carinho e de vaidade, os cemitérios do mundo inteiro guardam desde as mais singelas covas rasas, das multidões de anônimos, até as suntuosas tumbas dos abastados e dos vencedores. Entretanto, nem os vilões nem os heróis, nem os criminosos nem os santos, habitam essas brancas cidades consagradas à morte. As sepulturas não conseguem reter o Espírito imortal que, liberto das constrições do corpo físico, ressurge, na glória das suas vestes perispiríticas para novo ciclo de existência, em dimensão maior, mais vivo do que nunca, com os seus sentimentos mais aguçados e com muito maior capacidade de pensar e de agir, de gozar e de sofrer.

            Perante o triunfo da vida, que se afirma vitoriosa para além da decomposição das vísceras abandonadas, soa sem sentido a lamentação das carpideiras e restam inúteis as cerimônias do luto exterior, convencional e vazio. Átropos, a Parca fatal, não tem, na verdade, o poder de cortar o fio da vida humana, porque o falecimento do corpo carnal é tão só o rompimento do casulo da alma, puído e imprestável, substituível por outro, novo, embora igualmente temporário. De encarnação em encarnação, e de desencarnação em desencarnação, o Espírito vai realizando as suas experiências evolucionárias, na sua longa trajetória para a angelitude, meta da perfeição e de felicidade que todos consciente ou inconscientemente buscam. Por isso, não é raro de ver-se, aqui e ali, quem cultue a si mesmo, na imagem e na lembrança de um venerado antepassado ou de outro morto ilustre.

            Abrindo janelas novas ao entendimento humano e soprando com vigor milenares cinzas de ignorância, o Espiritismo trouxe aos homens da Terra não somente a mensagem da imortalidade, mas a da comunicação permanente entre os habitantes dos diversos planos da vida planetária. Com isso, ampliaram-se e melhoram incessantemente as oportunidades e as condições para esse tipo de intercâmbio, cada vez mais franco e decisivo, em benefício de toda a Humanidade.

            Agora, são os próprios mortos redivivos que vêm dizer e repetir aos vivos da carne, aos seus irmãos ainda encarnados, que realmente ninguém morre, que a morte é simples transferência de plano, provocada pelo falecimento de um corpo físico provisório e substituível, e que, além e acima dos cadáveres e dos sepulcros, a vida palpita, radiosa e sublime, invencível e sem fim...

            Finados! - quem são eles? Não existem. Não há finados, porque tudo o que realmente existe é vida, e vida em abundância, no Espírito de Deus que, como afirmam sabiamente as Escrituras, não é Deus de mortos, mas de vivos!


sábado, 10 de março de 2018

Finados e Mausoléus


Finados e Mausoléus
Reformador (FEB) Novembro 1982

            Finam-se todos os homens, sejam pobres, sejam ricos, mendigos ou potentados, súditos ou governantes. Mas o fim é apenas aparente, pois em realidade só se acaba o corpo físico, que esse é de matéria realmente perecível, por natureza transformável e corruptível. O Espírito, porém, que anima o corpo e é o ser real, esse é eterno, não se fina, jamais morrerá.

            Houve na Antiguidade um país chamado Cária (em grego, Kária), situado no sudoeste da Ásia Menor, e colonizado pelos dórios. Pouco antes da Era Cristã, de 377 a 353 a.C., esteve esse povo sob a suserania do sátrapa Mausolo, soberano que instalou sua capital em Halicarnasso. Como todo mortal, viu o fim de suas conquistas e glórias terrenas quando se imobilizou, rígido e frio, o corpo que lhe servira de instrumento às ambições e vaidades, e foi sepultado em um túmulo que, para ele, sua mulher, Artemísia II, mandou especialmente construir. Era, mais do que um túmulo, um verdadeiro monumento, com grande contorno quadrangular e ornamentado com colunas e relevos evocando cenas mitológicas. Mausoléu passou a chamar-se esse túmulo, mas toda a sua grandiosidade não conseguiu mudar a grande lei da ressurreição dos mortais em Espíritos, e Mausolo, por mais que ali tenha sido retido, junto a um corpo de onde a vida se evadira, seguramente dele acabou se libertando. A dezenas de outros corpos deve ter voltado, na sucessão dos renascimentos que lhe proporcionaram  progressos e maiores graduações espirituais. Entretanto, mausoléus foram também, depois, chamados todos os túmulos suntuosos, que se erigiram na terra para perpetuar as vaidades dos homens.

            Mausoléus magnificentes que vos situais, por privilégios, nos locais mais notórios dos campos santos; tumbas rasas inumeráveis, que muitas vezes desapareceis ocultas pelas ervas que crescem ao derredor; e - entre esses dois extremos - grandes e pequenos túmulos de mármore, com as inscrições que traduzem sentimentos de afeto ou de saudade, homenagens sinceras de amor e veneração ou simples tradições respeitáveis nos costumes dos povos; sois, todos, imperfeitas, mas, insopitáveis manifestações de piedosos sentimentos, que de algum modo exprimem também a intuição perfeitamente natural que tem o Homem de que não há morte e que uma vida mais esplendorosa que a Terra se ostenta além das raias sepulcrais! Por isso, só até certo ponto se compreendem as manifestações de piedosos sentimentos de afeto e de saudade junto aos túmulo vazios, oh! sim, totalmente vazios!

            Em verdade não devem deter-se aí os pensamentos, porque os seres amados que buscam lembrar há muito ali não mais se encontram ou mesmo nunca ali se detiveram. A Sua criatura, Deus a fez para alçar-se, após cada etapa encarnatória, a planos sempre mais altos e mais felizes. É a ascensional escala espírita, que se vai galgando aos poucos, através de esforços continuados e renovados de aprimoramento intelectual e moral, por concessão divina de misericórdia aos mais culpados e devedores à Lei, e também por graça e recompensa aos devotados à prática das virtudes mais excelsas. Divina lei de progresso que, assim, nos acena com a dupla escalada dos Espíritos e dos mundos, desde os primitivos, onde torva materialidade impera, e os de expiações e provas, até os de regeneração, os felizes e os celestes, ou divinos. Expressão da Suprema Sabedoria, ficaria, entretanto, inoperante para os seres humanos se a não viesse completar outra lei, também divina - a dos renascimentos -, que tão bem concilia a bondade de Deus com a Sua soberana justiça.

            Diante, pois, dos despojos inanimados daqueles que foram os nossos seres mais queridos e ante os túmulos grandiosos ou modestos em que eles foram depositados, um só pensamento nos domine - o da certeza de que o verdadeiro ser é o Espírito, que se liberta da prisão carnal para ressurgir redivivo sob outra dimensão e noutro plano, mas este tão real ou mais real que o nosso; e que uma prece se eleve tranquila e cheia de fé, em intenção da paz e da felicidade do ser querido que lembramos, e em louvor de nosso Pai Eterno.

domingo, 1 de novembro de 2015

Ante os Mortos


            É verdade que te martirizas, à frente da morte, na Terra, mormente quando a morte surge, a ceifar-te os entes caros.

            Aflitiva a contemplação dos que partem do mundo, em nossos braços, quando nos achamos no mundo, muita vez a nos endereçarem angustioso olhar, como a pedir-nos mais vida no corpo físico, sem que nos possamos arredar da impossibilidade de fazê-lo.

            Profundamente constrangedora a mágoa de sentir-lhes as mãos desfalecentes em nossas mãos ansiosas, na despedida.

            Entretanto, pensa neles, os companheiros que partem, na condição de viajores amados que te deixam provavelmente carregando consigo indagações muito mais agudas que aquelas que se te estancam no coração.

            Reflete nisso e não lhes agraves a dor.

            Muitos deles se afastam marcados por impositivos urgentes de reajuste.

            Compelidos a se arrancarem de hábitos longamente estabelecidos, quase sempre oscilam entre os chamamentos da rotina terrestre e as exigências de renovação da Vida Espiritual. E isso lhes custa empeços e problemas para as readaptações necessárias.

            Mentaliza-os na condição de criaturas queridas, em precioso refazimento para que se afeiçoem, sem maiores delongas, aos encargos novos que os aguardam.

            Abençoa-os com as tuas melhores recordações, porque a tua lembrança ou a tua palavra alcançam a todos eles, com endereço exato.

            Compadece-te, pois, dos supostos mortos e abstém-te de sobretaxar-lhes as preocupações com o pranto da angústia.

            Ao invés disso, dá-lhes a cobertura de teu afeto, cumprindo, tanto quanto possível, os deveres que estimariam ainda continuar a satisfazer.

            Eles estão em outras faixas de vivência, mas não irremediavelmente distantes.

            São amigos que te antecederam na inevitável viagem para a Vida Maior, a te rogarem auxílio, a fim de se retomarem no próprio equilíbrio, ante o desempenho das novas tarefas que abraçam.

            Não olvides: converte a saudade em oração de esperança e envia-lhes os teus pensamentos de compreensão e de paz.

            Ampara-os agora para que te amparem depois.

Ante os Mortos
Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Novembro 1972

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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Finados



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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O Dias dos Mortos



O Dia dos Mortos
Allan Kardec
Revista Espírita Dezembro 1862
Edição: FEB
Tradução: Evandro Noleto Bezerra

Sessão Anual Comemorativa dos Mortos

(Sociedade de Paris, 1º de novembro de 1868)

Discurso de Abertura pelo Sr. Allan Kardec (*)

(*) A primeira parte deste discurso é tirada de uma publicação anterior
sobre a Comunhão de pensamentos, mas que era preciso relembrar,
 por causa de sua ligação com a ideia principal.

O Espiritismo é uma religião?

"Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome,
aí estarei com elas." (S. Mateus, 18:20)

Caros irmãos e irmãs espíritas,

            Estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para darmos àqueles irmãos nossos que deixaram a Terra um testemunho particular de simpatia, para continuarmos as relações de afeição e de fraternidade que existiam entre eles e nós, quando eram vivos, e para invocarmos sobre eles a bondade do Todo-Poderoso. Mas, por que nos reunirmos? Não podemos fazer em particular o que cada um de nós propõe fazer em comum? Qual a utilidade de assim nos reunirmos num dia determinado?

            Jesus no-lo indica pelas palavras que referimos acima. Esta utilidade está no resultado produzido pela comunhão de pensamentos que se estabelece entre pessoas reunidos com o mesmo objetivo.

            Comunhão de pensamentos! Compreendemos bem todo o alcance desta expressão? Seguramente, até este dia, poucas pessoas dela tinham feito uma ideia completa. O Espiritismo, que nos explica tantas coisas pelas leis que revela, ainda vem explicar a causa e a força dessa situação do espírito.

            Comunhão de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspiração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força; mas uma força puramente moral e abstrata? Não: do contrário não se explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhão de pensamento. Para compreendê-lo, é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elementos que constituem nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-las ensina.

            O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o espírito da matéria; sem o pensamento o espírito não seria espírito. A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas, se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam! O pensamento atua sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode, pois, dizer-se com toda a verdade que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.

            Uma assembleia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos, onde cada um produz a sua nota. Disto resulta uma imensidão de correntes e de eflúvios fluídicos, dos quais cada um recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição.

            Mas, assim como há raios sonoros harmônicos ou discordantes, também há pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável; se discordante, a impressão será penosa. Ora, para isto, não é necessário que o pensamento seja formulado em palavras; a irradiação fluídica não deixa de existir, quer seja ou não expressa. Se todas forem benéficas, os assistentes experimentarão um verdadeiro bem-estar e se sentirão à vontade; mas se se misturarem alguns pensamentos maus, produzirão o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido.

            Tal é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta numa reunião simpática; aí reina uma espécie de atmosfera moral salubre, onde se respira à vontade; daí se sai reconfortado, porque aí nos impregnamos de eflúvios fluídicos salutares. Assim também se explicam a ansiedade e o mal-estar indefinível que se sente num meio antipático, onde os pensamentos malévolos provocam, a bem dizer, correntes fluídicas malsãs.

            A comunhão de pensamentos produz, pois, uma sorte de efeito físico que reage sobre o moral; só o Espiritismo poderia fazê-lo compreender. O homem o sente instintivamente, já que procura as reuniões onde sabe encontrar essa comunhão. Nessas reuniões homogêneas e simpáticas haure novas forças morais; poder-se-ia dizer que aí recupera as perdas fluídicas perdidas diariamente pela irradiação do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material.

            A esses efeitos da comunhão de pensamentos, junta-se um outro que é a sua consequência natural, e que importa não perder de vista: é o poder que adquire o pensamento ou a vontade, pelo conjunto dos pensamentos ou vontades reunidos. Sendo a vontade uma força ativa, esta força é multiplicada pelo número de vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número dos braços.

            Estabelecido este ponto, concebe-se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os Espíritos, haja, numa reunião onde reine perfeita comunhão de pensamentos, uma força atrativa ou repulsiva, que nem sempre possui o indivíduo isolado. Se, até o presente, as reuniões muito numerosas são menos favoráveis, é pela dificuldade de obter uma homogeneidade perfeita de pensamentos, que se deve à imperfeição da natureza humana na Terra. Quanto mais numerosas as reuniões, mais aí se mesclam elementos heterogêneos, que paralisam a ação dos bons elementos, e que são como grãos de areia numa engrenagem. Não sucede assim nos mundos mais adiantados, e tal estado de coisas mudará na Terra à medida que os homens se tornarem melhores.

            Para os espíritas, a comunhão de pensamentos tem um resultado ainda mais especial. Temos visto o efeito desta comunhão de homem a homem; prova-nos o Espiritismo que ele não é menor dos homens aos Espíritos, e reciprocamente. Com efeito, se o pensamento coletivo adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos maus Espíritos; também vemos que a tática destes últimos é levar à divisão e ao isolamento. Sozinho, um homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade for corroborada por outras vontades poderá resistir, conforme o axioma: A união faz a força, axioma verdadeiro, tanto do ponto de vista moral, quanto do físico.

            Por outro lado, se a ação dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos bons Espíritos será secundada; seus eflúvios fluídicos, não sendo detidos por correntes contrárias, espalhar-se-ão sobre os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo pensamento, não cada um em proveito pessoal, mas em benefício de todos, conforme a lei de caridade. Descerão sobre eles como línguas de fogo, para nos servirmos de uma admirável imagem do Evangelho.

            Assim, pela comunhão de pensamentos os homens se assistem entre si e, ao mesmo tempo, assistem os Espíritos e são por estes assistidos. As relações entre os mundos visível e invisível não são mais individuais, mas coletivas e, por isto mesmo, mais poderosas em proveito das massas e dos indivíduos. Numa palavra, estabelecem a solidariedade, que é a base da fraternidade. Cada qual trabalha para todos, e não apenas para si; e trabalhando para todos; cada um aí encontra a sua parte. É o que o egoísmo não compreende.

            Graças ao Espiritismo, compreendemos, então, o poder e os efeitos do pensamento coletivo; explicamo-nos melhor o sentimento de bem-estar que se experimenta num meio homogêneo e simpático; mas sabemos, igualmente, que se dá o mesmo com os Espíritos, porque eles também recebem os eflúvios de todos os pensamentos benevolentes que para eles se elevam, como urna nuvem de perfume. Os que são felizes experimentam maior alegria por esse concerto harmonioso; os que sofrem sentem maior alívio.

            Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; com efeito, é aí que podem e devem exercer a sua força, porque o objetivo deve ser a libertação do pensamento das amarras da matéria. Infelizmente, a maioria se afasta deste princípio à medida que a religião se torna uma questão de forma. Disto resulta que cada um, fazendo seu dever consistir na realização da forma, se julga quites com Deus e com os homens, desde que praticou uma fórmula. Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por sua própria conta e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento de confraternidade em relação aos outros assistente; fica isolado em meio à multidão e só pensa no céu para si mesmo.

            Por certo não era assim que o entendia Jesus, ao dizer: "Quando duas ou mais pessoas estiverem reunidas em meu nome, aí estarei entre elas." Reunidos em meu nome, isto é, com um pensamento comum; mas não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, sua doutrina. Ora, qual é o princípio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos, palavras e ações. Mentem os egoístas e os orgulhosos, quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos.

            Chocados por esses abusos e desvios, há pessoas que negam a utilidade das assembleias religiosas e, em consequência, a das edificações consagradas a tais assembleias. Em seu radicalismo, pensam que seria melhor construir asilos do que templos, uma vez que o templo de Deus está em toda parte e em toda parte pode ser adorado; que cada um pode orar em casa e a qualquer hora, enquanto os pobres, os doentes e os enfermos necessitam de lugar de refúgio.

            Mas, porque cometeram abusos, porque se afastaram do reto caminho, devemos concluir que não existe o reto caminho e que tudo quanto se abusa seja mau? Não, certamente. Falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembleias religiosas; é ignorar as causas que a provocam. Concebe-se que os materialistas professem semelhantes ideias, já que em tudo fazem abstração da vida espiritual; mas da parte dos espiritualistas e, melhor ainda, dos espíritas, seria um contra-senso. O isolamento religioso, assim como o isolamento social, conduz ao egoísmo. Que alguns homens sejam bastante fortes por si mesmos, largamente dotados pelo coração, para que sua fé e caridade não necessitem ser revigoradas num foco comum, é possível; mas não é assim com as massas, por lhes faltar um estimulante, sem o qual poderiam se deixar levar pela indiferença. Além disso, qual o homem que poderá dizer-se bastante esclarecido para nada ter a aprender no tocante aos seus interesses futuros? bastante perfeito para abrir mão dos conselhos da vida presente? Será sempre capaz de instruir-se por si mesmo? Não; a maioria necessita de ensinamentos diretos em matéria de religião e de moral, como em matéria de ciência. Incontestavelmente, tais ensinos podem ser dados em toda parte, sob a abóbada do céu, como sob a de um templo; mas por que os homens não haveriam de ter lugares especiais para as questões celestes, como os têm para as terrenas? Por que não teriam assembleias religiosas, como têm assembleias políticas, científicas e industriais? Aqui está uma bolsa onde se ganha sempre. Isto não impede as edificações em proveito dos infelizes. Dizemos, ademais, que haverá menos gente nos asilos, quando os homens compreenderem melhor seus interesses do céu.

            Se as assembleias religiosas - falo em geral, sem aludir a nenhum culto - muitas vezes se têm afastado de seu objetivo primitivo principal, que é a comunhão fraterna do pensamento; se o ensino ali ministrado nem sempre tem acompanhado o movimento progressivo da Humanidade, é que os homens não progridem todos ao mesmo tempo. O que não fazem num período, fazem em outro; à proporção que se esclarecem, veem as lacunas existentes em suas instituições, e as preenchem; compreendem que o que era bom numa época, em relação ao grau de civilização, torna-se insuficiente numa etapa mais avançada, e restabelecem o nível. Sabemos que o Espiritismo é a grande alavanca do progresso em todas as coisas; marca uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, não exigindo de uma época mais do que ela pode dar.

            Como as plantas, é preciso que as ideias amadureçam, para que seus frutos sejam colhidos. Saibamos, além disso, fazer as necessárias concessões às épocas de transição, porque na Natureza nada se opera de maneira brusca e instantânea.

            Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças; consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé. É nesse sentido que se diz: a religião política; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra religião não é sinônima de opinião; implica uma ideia particular: a de fé conscienciosa; eis por que se diz também: a fé política. Ora, os homens podem filiar-se, por interesse, a um partido, sem ter fé nesse partido, e a prova é que o deixam sem escrúpulo, quando encontram seu interesse alhures, ao passo que aquele que o abraça por convicção é inabalável; persiste à custa dos maiores sacrifícios, e é a abnegação dos interesses pessoais a verdadeira pedra-de-toque da fé sincera. Todavia, se a renúncia a uma opinião, motivada pelo interesse, é um ato de desprezível covardia, é, não obstante, respeitável, quando fruto do reconhecimento do erro em que se estava; é, então, um ato de abnegação e de razão. Há mais coragem e grandeza em reconhecer abertamente que se enganou, do que persistir, por amor-próprio, no que se sabe ser falso, e para não se dar um desmentido a si próprio, o que acusa mais obstinação do que firmeza, mais orgulho do que razão, e mais fraqueza do que força. É mais ainda: é hipocrisia, porque se quer parecer o que não se é; além disso é uma ação má, porque é encorajar o erro por seu próprio exemplo.

            O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos maternais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.

            Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza.

            Por que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou.

            Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.

            As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é, com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa; pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por assembleias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta de uma palavra para cada ideia.

            Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.

            A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade.

            Mas a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem compreendido; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário.

            O campo da caridade é muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressões Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência.

            O que é preciso, então, para praticar a caridade benevolente? Amar ao próximo como a si mesmo. Ora, se se amar ao próximo tanto quanto a si, amar-se-o-á muito; agir-se-á para com outrem como se quereria que os outros agissem para conosco; não se quererá nem se fará mal a ninguém, porque não quereríamos que no-lo fizessem.

            Amar ao próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar aos inimigos e retribuir o mal com o bem; é ser indulgente para as imperfeições de seus semelhantes e não procurar o argueiro no olho do vizinho, quando não se vê a trave no seu; é esconder ou desculpar as faltas alheias, em vez de se comprazer em as por em relevo, por espírito de maledicência; é ainda não se fazer valer à custa dos outros; não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; não desprezar ninguém pelo orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é palavra vã; é a caridade do verdadeiro espírita, como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: Fora da caridade não há salvação, pronuncia sua própria condenação, tanto neste quanto no outro mundo.

            Quantas coisas haveria a dizer sobre este assunto! Que belas instruções não nos dão os Espíritos incessantemente! Não fosse o receio de alongar-me em demasia e de abusar de vossa paciência, senhores, seria fácil demonstrar que, em se colocando no ponto de vista do interesse pessoal, egoísta, se se quiser, porque nem todos os homens estão ainda maduros para uma completa abnegação, para fazer o bem unicamente por amor do bem, digo que seria fácil demonstrar que têm tudo a ganhar em agir deste modo, e tudo a perder agindo diversamente, mesmo em suas relações sociais; depois, o bem atrai o bem e a proteção dos bons Espíritos; o mal atrai o mal e abre a porta à malevolência dos maus. Mais cedo ou mais tarde o orgulhoso será castigado pela humilhação, o ambicioso pelas decepções, o egoísta pela ruína de suas esperanças, o hipócrita pela vergonha de ser desmascarado; aquele que abandona os bons Espíritos por estes é abandonado e de queda em queda, finalmente se vê no fundo do abismo, ao passo que os bons Espíritos erguem e amparam aquele que, nas maiores provações, não deixa de se confiar à Providência e jamais se desvia do reto caminho; aquele, enfim, cujos secretos sentimentos não dissimulam nenhum pensamento oculto de vaidade ou de interesse pessoal. Assim, de um lado, ganho assegurado; do outro, perda certa; cada um, em virtude do seu livre-arbítrio, pode escolher a sorte que quer correr, mas não poderá queixar-se senão de si mesmo pelas consequências de sua escolha.

            Crer num Deus Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificação do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeição; na equitativa remuneração do bem e do mal, segundo o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada à da imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; na solidariedade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterno; aceitar corajosamente as provações, em vista de um futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade em pensamentos, em palavras e obras na mais larga acepção do termo; esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando toda imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre-exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam, e não violentar a consciência de ninguém; ver, enfim, nas descobertas da Ciência, a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar-se com todos os cultos, isto é, com todas as maneiras de adorar a Deus. É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal.

            Com a fraternidade, filha da caridade, os homens viverão em paz e se pouparão males inumeráveis, que nascem da discórdia, por sua vez filha do orgulho, do egoísmo, da ambição, da inveja e de todas as imperfeições da Humanidade.

            O Espiritismo dá aos homens tudo o que é preciso para a sua felicidade aqui na Terra, porque lhes ensina a se contentarem com o que têm. Que os espíritas sejam, pois, os primeiros a aproveitar os benefícios que ele traz, e que inaugurem entre si o reino da harmonia, que resplandecerá nas gerações futuras.

            Os Espíritos que nos cercam aqui são inumeráveis, atraídos pelo objetivo que nos propusemos ao nos reunirmos, a fim de dar aos nossos pensamentos a força que nasce da união.

            Ofereçamos aos que nos são caros uma boa lembrança e o penhor de nossa afeição, encorajamentos e consolações aos que deles necessitem. Façamos de modo que cada um recolha a sua parte dos sentimentos de caridade benevolente, de que estivermos animados, e que esta reunião dê os frutos que todos têm o direito de esperar.

Allan Kardec

            Depois deste discurso, procedeu-se à leitura de uma comunicação espontânea, ditada pelo Espírito do Sr. H. Dozon sobre a solenidade do Dia de Todos os Santos, em 1º de novembro de 1865, e que é lida todos os anos na sessão comemorativa.

O Dia de Todos os Santos

            A festa de Todos os Santos, meus bons amigos, é uma festa que, para a maior parte dos que não possuem a verdadeira fé, OS entristece e faz que derramem lágrimas, em vez de se regozijarem. Vede, desde a humilde choupana até o palácio, quando o dobre a Finados lembra o nome do esposo ou da esposa, de um pai, de uma mãe, de um filho, de uma filha, choram; parece que tudo acabou, que nada mais têm a esperar aqui na Terra e, contudo, oram! Que é, então, essa prece? É um pensamento dado ao ser amado, mas sem esperança. As lágrimas abafam a prece; por quê? Ah! é que eles duvidam; não têm essa fé viva, que traz a esperança, que vos sustenta nas maiores lutas. É que não compreenderam que a vida terrena não é senão uma partida, uma separação momentânea; numa palavra, é porque os que lhes ensinaram a orar também não tinham a fé verdadeira, a fé que se apoia na razão.

            Mas é chegada a hora em que estas belas palavras do Cristo serão, enfim compreendidas: "Meu Pai deve ser adorado, não mais apenas nos templos, mas em toda parte, em Espírito e em verdade." Tempo virá em que elas se realizarão. Belas e sublimes palavras. Sim, meu Deus, não sois adorado somente nos templos, mas o sois nos montes e em toda parte. Sim, aquele que molhou os lábios na taça bendita do Espiritismo, ora não só neste dia, mas todo dia; o viajor ora em seu caminho, o operário durante o seu trabalho; aquele que pode dispor de seu tempo o emprega no alívio de seus irmãos que sofrem.

            Meus irmãos, alegrai-vos, porque em muito pouco tempo vereis grandes coisas! Quando eu estava na Terra, via a doutrina grande e bela, mas estava muito longe de poder compreendê-la em toda a sua grandeza e em seu verdadeiro objetivo. Por isso vos direi: Redobrai de zelo; consolai os que sofrem, porque há seres que foram de tal modo afligidos durante a sua vida, que necessitam ser amparados e ajudados na luta. Sabeis quanto a caridade é agradável a Deus: praticai-a, pois, sob todas as formas; praticai-a em nome dos Espíritos cuja memória festejais neste dia, e eles vos bendirão!

H. Dozon


            Depois das preces habituais (ver a Revista Espírita de Novembro de 1865), trinta e duas comunicações foram obtidas pelos médiuns presentes, em número de dezoito. Considerando a impossibilidade de as publicar todas, a Sociedade escolheu as três seguintes, para serem anexadas ao discurso acima, cuja impressão ela pediu. As outras encontrarão lugar nas coletâneas especiais que serão publicadas ulteriormente.

I

            Um grande Espírito, La Rochefoucauld, disse numa de suas obras, que se devia tremer diante da vida e diante da morte! Certamente, se se deve tremer, é por ver sua existência incerta, perturbada, completamente falha; é por ter realizado um trabalho estéril, inútil para si e para os outros; é por ter sido um falso amigo, um mau irmão, um conselheiro pernicioso; é por ser mau filho, pai irrefletido, cidadão injusto, desconhecedor de seus deveres, de seu país, das leis que vos regem, da sociedade e da solidariedade.

            Quantos amigos eu vi, espíritos brilhantes, engenhosos, instruídos, faltarem muitas vezes ao objetivo profundo da vida! Construíam hipóteses mais ou menos absurdas: aqui a negação, ali a fé ardente; acolá se faziam neófitos de tal ou qual sistema de governo, de filosofia, e muitas vezes lançaram, ai! suas belas inteligências num fosso, de onde não podiam mais sair senão mortificadas e ofendidas para sempre.

            A vida com suas asperezas, seus dissabores e suas incertezas, é, não obstante, uma coisa bela! Como! sais de um embrião, de um nada, e trazeis em torno de vós os beijos, os cuidados, o amor, o devotamento, o trabalho, e isto não seria nada senão a vida! Como é, então, que para vós, seres miseráveis, sem força, sem linguagem, gerações inteiras tenham criado os campos, incessantemente explorados, da economia humana? Economia de saber, de filosofia, de mecânica, de ciências diversas; milhares de cidadãos corajosos consumiram os seus corpos e dispuseram de suas vigílias para vos criar mil elementos diversos de vossa civilização. Desde as primeiras letras até uma definição sábia, encontra-se tudo o que pode guiar e formar o espírito; hoje se pode ver, porque tudo é luz. A sombra das idades sombrias desapareceu para sempre, e o adulto de dezesseis anos pode contemplar e admirar um nascer do Sol e analisar, pesar o ar e, com a ajuda da Química, da Física, da Mecânica e da Astronomia, se permitir mil gozos divinos. Com a pintura, reproduz uma paisagem; com a música, inscreve algumas dessas harmonias que Deus espalha em profusão nas harmonias infinitas!

            Com a vida, pode-se amar, dar, espalhar muito; por vezes pode-se ser sol e iluminar o seu interior, sua família, a vizinhança, ser útil, cumprir sua missão. Oh! sim, a vida é uma bela coisa, palpitante, cheia de entusiasmo e de expansão, plena de fraternidade e desses deslumbramentos que atiram as nossas pequenas misérias para longe.

            Ó vós todos, meus caros condiscípulos da rua Richelieu; vós, meus fiéis do 14; vós todos que, tantas vezes, interrogastes a existência vos perguntando a palavra final; a vós que baixáveis a cabeça, incertos perante a última hora, diante da palavra Morte, que significa para vós: vazio, separação, desagregação, a vós venho dizer: Levantai a cabeça e esperai; nada de fraqueza, nada de terror; porque, se os vossos estudos conscienciosos e as religiões de nossos pais não vos deixaram senão o desgosto da vida, a incerteza e a incredulidade, é que, estéril em tudo, a ciência humana malconduzida só atingia o nada. Vós todos, que amais a Humanidade e resumis a esperança futura pelo estudo das ciências sociais, por sua aplicação séria, eu vos digo: Esperai, crede e procurai. Como eu, deixastes passar a verdade; nós a abandonávamos e ela batia à nossa porta, que obstinadamente lhe havíamos fechado. Doravante, amareis a vida, amareis a morte, esta grande consoladora; porque querereis, por uma vida exemplar, evitar recomeçar; querereis esperar no limiar da erraticidade todos aqueles que amais, não somente a vossa família, mas a geração inteira que guiastes, para lhes desejar as boas-vindas e a emigração em mundos superiores.

            Como vedes, eu vivo e todos nós vivemos. A reencarnação, que tanto nos fez rir, é o problema resolvido que tanto procurávamos. Aí está este problema em vossas mãos, cheio de atrativos, de promessas ardentes; vossos pais, vossas mulheres, vossos filhos, a multidão de amigos vos querem responder; estão todos reunidos, esses caros desaparecidos aos vossos olhos; falarão ao vosso espírito, à vossa razão; dar-vos-ão verdades, e a fé é uma lei bem-amada; mas, interrogai-os com perseverança.

            Ah! a morte nos causava medo e tremores! E, contudo, eis que eu, Guillaumin, um incrédulo, um inconstante, fui reconduzido à verdade. Milhares de Espíritos se apressam, esperando a vossa decisão; eles gostam da lembrança e da peregrinação aos cemitérios! É um ponto de referência esse respeito aos mortos; mas esses mortos estão todos vivos; em vez de urnas funerárias e de epitáfios mais ou menos verdadeiros, eles vos pedem uma troca de ideias, de conselhos, um doce comércio de espírito, essa comunhão de ideias que engendra a coragem, a perseverança, a vontade, os atos de devotamento e esse fortificante e consolador pensamento de que a vida se retempera na morte e que se pode, doravante, malgrado La Rochefoucault e outros grandes gênios, nem tremer diante da vida, nem diante da morte.

            Deus é a exuberância, é a vida em tudo e sempre. Cabe a nós compreender a sua sabedoria nas diversas fases pelas quais ele purifica a Humanidade.


Guillaumin
(Médium: Sr. Leymarie)

               Nota do Blog: Por mera curiosidade, entramos com o nome ‘Guillaumin’ e o endereço  ‘rue Richelieu’ - num site de busca. Ele nos retornou com a informação abaixo:
               “La librairie Guillaumin et Cie était située au 14 de la rue de Richelieu, non loin de la Seine, au carrefour du musée du Louvre, du Palais Royal, de la Comédie Française et de la Bibliothèque Nationale de France.” 
               ..........
               “Victime d'une crise cardiaque en pleine rue, Urbain Gilbert Guillaumin est mort à 63 ans, le 15 décembre 1864.” 
               Reparem no texto que o Espírito se refere aos ‘fieis da 14’. No número 14 da Rua Richelieu havia uma livraria Guillaumin...  Para quem quiser se aprofundar no tema nossa fonte foi  http://www.quebecoislibre.org/13/130615-9.html

            O médium - Sr. Leymarie - é o mesmo que foi condenado, anos adiante, no chamado ‘Procès des Spirites’.



II

            Escolher mal o meu momento sempre foi uma das minhas contínuas inabilidades; e vir neste dia, em meio a esta numerosa reunião de Espíritos e de encarnados, é realmente um ato de audácia, de que só a minha timidez pode ser capaz. Mas vejo em vós tanta bondade, doçura e amenidade; sinto tão bem que em cada um de vós posso encontrar um coração amante, compassivo, e sendo a indulgência a menor das qualidades que animam os vossos corações, a despeito de minha audácia, não me perturbo e conservo toda a presença de espírito que por vezes me falta, em circunstâncias menos importantes.

            Mas, perguntareis, que vem então fazer, com sua verbosidade insinuante, esse desconhecido que, em vez e lugar de instrutor, vem monopolizar um médium útil? Quanto ao presente tendes razão; por isso me apresso em dar a conhecer meu desígnio, para não me apropriar por muito tempo de um lugar que usurpo.

            Numa passagem do discurso hoje pronunciado por vosso presidente, uma reflexão vibrou-me ao ouvido, como só uma verdade pode vibrar e, confundido na multidão de Espíritos atentos, de súbito pus-me a descoberto. Ainda fui severamente julgado por uma imensidade de Espíritos que, baseando-se em suas recordações e na reputação de uma apreciação tida em outros tempos, subitamente reconheceram em mim o misantropo selvagem, o urso da civilização, o austero critico das instituições em desacordo com seu próprio raciocínio. Ai! como um erro faz sofrer e há quanto tempo dura o mal feito às massas pela tola pretensão de um orgulhoso da humildade, de um louco do sentimento!

            Sim, tendes razão: o isolamento em matéria religiosa e social não pode engendrar senão o egoísmo e, sem que muitas vezes dele se dê conta, o homem torna-se misantropo, deixando que seu egoísmo o domine. O recolhimento, produzido pelo efeito do silêncio grandioso da Natureza falando à alma, é útil, mas a sua utilidade não pode produzir seus frutos senão quando o ser que ouve a Natureza falar à sua alma, relata aos homens a verdade de sua moral; mas, se aquele que sente, em face da criação, sua alma levantar voo para as regiões de uma era pura e virtuosa, não se serve de suas sensações, ao despertar, no meio das instituições de sua época, senão para censurar os abusos que a sua natureza sensitiva lhe exagera, porque ela sofre com isto, se ele não encontra para corrigir os erros dos humanos, senão fel e ressentimento, sem lhes mostrar docemente o verdadeiro caminho, tal qual o descobriu na própria Natureza, oh! então, infeliz dele, se só servir de sua inteligência para açoitar, em vez de pensar as feridas da sociedade!

            Sim, tendes razão: viver só no meio da Natureza é ser egoísta e ladrão, porque o homem foi criado para a sociabilidade; e isto é tão verdadeiro que eu, o selvagem, o misantropo, o indomável eremita, venho aplaudir esta passagem do discurso aqui
pronunciado: O isolamento social e religioso conduz ao egoísmo.

            Uni-vos, pois, nos esforços e nos pensamentos; sobretudo amai. Sede bons, doces, humanos; dai à amizade o sentimento da fraternidade; pregai pelo exemplo dos vossos atos, os salutares efeitos de vossas crenças filosóficas; sede espíritas de fato, e não apenas de nome, e logo os loucos do meu gênero, os utopistas do bem não mais terão necessidade de queixar-se dos defeitos de uma legislação sob a qual devem viver, porque o Espiritismo, compreendido e sobretudo praticado, reformará tudo em benefício dos homens.

J.-J. Rousseau
 (Médium: Sr. Morin)

III

            ‘O perfume que se exala de todos os bons sentimentos é uma prece constante que se eleva a Deus, e todas as boas ações são ações de graças ao Eterno.’

Sra. Victor Hugo

            ‘A dedicação pelo reconhecimento é um impulso do coração; o devotamento pelo amor é um impulso da alma. ‘

Sra. Dauban


            ‘O reconhecimento é um benefício que recompensa aquele que o merece. A gratidão é um ato do coração que dá, ao mesmo tempo, o prazer do bem àquele a quem se deve ser reconhecido e àquele que o é.‘

Vézy

            ‘A ingratidão é punida como ação má pelo abandono de que é objeto, como a gratidão é recompensada pela alegria que proporciona.‘

Lerclerc

            ‘O dever da mulher é trazer ao homem todas as consolações e os encorajamentos necessários à sua vida de vicissitudes e penosos trabalhos. A mulher deve ser o seu sustentáculo, o seu guia, o facho que ilumina o seu caminho e deve impedi-lo de falir; se faltar à sua missão será punida; mas se, apesar do seu devotamento, o homem repele os impulsos de seu coração, ela é duplamente recompensada por ter persistido no cumprimento de seus deveres.’

Delfina de Girardin

            ‘A dúvida é o veneno lento que a alma faz a matéria absorver e da qual recebe o primeiro castigo. A dúvida é o suicídio da alma, que leva imediatamente à morte do corpo. - Uma alma suicidar-se é difícil de compreender; mas não é morrer o viver na sombra, quando se sente a luz em volta de si? Afastai, pois, do vosso Espírito, o véu que vos oculta os esplendores da vida, e vede esses sois radiosos que vos dão o dia: aí está a verdadeira luz; aí está o objetivo a que deveis chegar pela fé.’

Jobard

            ‘O egoísmo é a paralisação de todos os bons sentimentos, O egoísmo é a deformidade da alma, que trespassa a matéria, fazendo-vos amar tudo o que a ela se dirige e repelir tudo o que se dirige aos outros. O egoísmo é a negação da sublime sentença do Cristo, sentença alterada ignominiosamente: "Fazei aos outros o que gostaríeis que vos fizessem.’

Plácido

            ‘A susceptibilidade, eis o defeito para uso de todos, e cada um - não digais o contrário - dele está um pouco carregado.
            Irra! se soubésseis quanto é ridículo ser susceptível e quanto esse defeito se torna desagradável, eu vos asseguro que ninguém mais queria ser por ele atingido, porque se gosta de ser belo. ‘

Gay

            ‘O orgulho é o guarda-chuva social de todos e que cada um rejeita sobre o gracioso amor-próprio; certo! é preciso ter amor-próprio e orgulho, é o que dá a ambição do bem (sem jogo de palavras), mas demasiado, isto estraga o Espírito e corrompe o coração.’

Mangin

            ‘A ambição, ele acaba de dizer! mas sabeis qual a ambição que não impede a alma de elevar-se para os esplendores do infinito? Pois bem! é a que vos leva a fazer o bem. Todas as outras ambições vos levam ao orgulho e ao egoísmo, flagelos da Humanidade.’

Bonnefon

            ‘Meus caros amigos, os Espíritos que acabam de vos falar, não só estavam felizes por manifestar sua presença, mas têm a alegria de pensar que cada um de vós se esforçará para se corrigir e pôr em prática as sábias lições que vos deram e as que vos trazem em cada uma de vossas sessões. Crede, os Espíritos são para vós o que vossos pais foram ou deveriam ter sido. Eles vos admoestam, aconselhando e vos ajudando; e quando não os escutais, dizem que vos abandonam; revoltam-se contra vós; depois, tão logo vos falaram duramente, voltam a vós para vos encorajar, e se esforçam para impelir constantemente os vossos pensamentos para o bem.

            Sim, os Espíritos vos amam como o bom pai ama a seus filhos; compadecem-se de vós, cuidam de vossos dias e afastam de vós todo mal que vos pode acontecer, como a mãe cerca o filho de todos os cuidados mais delicados, de todas as atenções necessárias à sua fragilidade. Deus lhes deu uma missão; deu-lhes a coragem para a cumprir e nenhum desses bons Espíritos, seja qual for o seu grau na hierarquia espiritual, falhará na sua tarefa; compreendem, sentem, veem esses esplendores divinos que devem ser a sua recompensa; vão adiante e queriam vos levar em sua companhia, vos impelir à frente deles, se o pudessem. Eis por que vos admoestam, eis por que vos aconselham. Por vossa vez, orai por eles, a fim de que a vossa indocilidade não os impeça de continuar seus benefícios por vós, e que Deus continue a lhes dar a força de vos ajudar.


São Luís (Médium: Sr. Bertrand)