Finados
e Mausoléus
Reformador
(FEB) Novembro 1982
Finam-se todos os homens, sejam
pobres, sejam ricos, mendigos ou potentados, súditos ou governantes. Mas o fim
é apenas aparente, pois em realidade só se acaba o corpo físico, que esse é de
matéria realmente perecível, por natureza transformável e corruptível. O
Espírito, porém, que anima o corpo e é o ser real, esse é eterno, não se fina,
jamais morrerá.
Houve na Antiguidade um país
chamado Cária (em grego, Kária), situado no sudoeste da Ásia Menor, e
colonizado pelos dórios. Pouco antes da Era Cristã, de 377 a 353 a.C., esteve
esse povo sob a suserania do sátrapa Mausolo, soberano que instalou sua capital
em Halicarnasso. Como todo mortal, viu o fim de suas conquistas e glórias
terrenas quando se imobilizou, rígido e frio, o corpo que lhe servira de
instrumento às ambições e vaidades, e foi sepultado em um túmulo que, para ele,
sua mulher, Artemísia II, mandou especialmente construir. Era, mais do que um
túmulo, um verdadeiro monumento, com grande contorno quadrangular e ornamentado
com colunas e relevos evocando cenas mitológicas. Mausoléu passou a chamar-se
esse túmulo, mas toda a sua grandiosidade não conseguiu mudar a grande lei da
ressurreição dos mortais em Espíritos, e Mausolo, por mais que ali tenha sido
retido, junto a um corpo de onde a vida se evadira, seguramente dele acabou se
libertando. A dezenas de outros corpos deve ter voltado, na sucessão dos
renascimentos que lhe proporcionaram
progressos e maiores graduações espirituais. Entretanto, mausoléus foram
também, depois, chamados todos os túmulos suntuosos, que se erigiram na terra
para perpetuar as vaidades dos homens.
Mausoléus magnificentes que vos situais, por
privilégios, nos locais mais notórios dos campos santos; tumbas rasas
inumeráveis, que muitas vezes desapareceis ocultas pelas ervas que crescem ao
derredor; e - entre esses dois extremos - grandes e pequenos túmulos de
mármore, com as inscrições que traduzem sentimentos de afeto ou de saudade,
homenagens sinceras de amor e veneração ou simples tradições respeitáveis nos
costumes dos povos; sois, todos, imperfeitas, mas, insopitáveis manifestações
de piedosos sentimentos, que de algum modo exprimem também a intuição
perfeitamente natural que tem o Homem de que não há morte e que uma vida mais
esplendorosa que a Terra se ostenta além das raias sepulcrais! Por isso, só até
certo ponto se compreendem as manifestações de piedosos sentimentos de afeto e
de saudade junto aos túmulo vazios, oh! sim, totalmente vazios!
Em verdade não devem deter-se aí os
pensamentos, porque os seres amados que buscam lembrar há muito ali não mais se
encontram ou mesmo nunca ali se detiveram. A Sua criatura, Deus a fez para
alçar-se, após cada etapa encarnatória, a planos sempre mais altos e mais
felizes. É a ascensional escala espírita, que se vai galgando aos poucos,
através de esforços continuados e renovados de aprimoramento intelectual e
moral, por concessão divina de misericórdia aos mais culpados e devedores à
Lei, e também por graça e recompensa aos devotados à prática das virtudes mais
excelsas. Divina lei de progresso que, assim, nos acena com a dupla escalada
dos Espíritos e dos mundos, desde os primitivos, onde torva materialidade
impera, e os de expiações e provas, até os de regeneração, os felizes e os
celestes, ou divinos. Expressão da Suprema Sabedoria, ficaria, entretanto,
inoperante para os seres humanos se a não viesse completar outra lei, também
divina - a dos renascimentos -, que tão bem concilia a bondade de Deus com a
Sua soberana justiça.
Diante, pois, dos despojos
inanimados daqueles que foram os nossos seres mais queridos e ante os túmulos
grandiosos ou modestos em que eles foram depositados, um só pensamento nos
domine - o da certeza de que o verdadeiro ser é o Espírito, que se liberta da
prisão carnal para ressurgir redivivo sob outra dimensão e noutro plano, mas
este tão real ou mais real que o nosso; e que uma prece se eleve tranquila e
cheia de fé, em intenção da paz e da felicidade do ser querido que lembramos, e
em louvor de nosso Pai Eterno.
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