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sexta-feira, 2 de março de 2018

Uniformidade nos trabalhos práticos de Espirtismo



Uniformidade nos trabalhos práticos de Espiritismo
por Sílvio Brito Soares
Reformador (FEB) Setembro 1947

A religião espírita se diferencia profundamente das demais religiões por uma particularidade muito singular: a de não existir CHEFE visível a quem se deva prestar obediência, mesmo porque, no mundo, homem algum, verdadeiramente consciente, será capaz de alimentar a pretensão de chefiá-la, dada a transcendência dos problemas que ventila.

É imprescindível que os confrades, diretores de sessões práticas de Espiritismo, não desprezem o grande cabedal de conhecimentos hauridos por associações veteranas no trato com as entidades espirituais através do mediunismo, não vacilando em se utilizarem dessas modalidades e normas que o tempo veio demonstrar como as mais consentâneas -com os princípios básicos da nossa doutrina.

É bem verdade que as tarefas mediúnicas variam muitas vezes de país a país, como, por exemplo: em nossa Pátria o Espiritismo floresceu à sombra amena do Evangelho, e a realidade do que asseveramos está no fato de ele ter tomado características bem positivas de religião, enquanto que na Europa o raio de suas atividades se limitou apenas às pesquisas científicas. Nos Estados Unidos da América do Norte, embora existam importantes institutos que se dedicam a essas experimentações, há também templos para o culto espiritista, com seus ministros credenciados e onde se entoam hinos acompanhados de órgão, etc.; culto, no entanto, que muito se aproxima ao dos Protestantes:

O culto religioso, dentro do Espiritismo brasileiro tem todavia, características próprias, perfeitamente equidistantes dos cultos das várias religiões. O Espiritismo marcha vitoriosamente, em terras de Santa Cruz, para, no lapso de alguns unos, se firmar como a grande e inconfundível religião do Amor - o Cristianismo redivivo - não fosse ele o Consolador prometido pelo divino Mestre,

É à luz do Espiritismo brasileiro que o Evangelho de Jesus e as Epístolas que o acompanham vão sendo elucidados, reinterpretados em Espírito e Verdade, possibilitando destarte a que todos possam formar de Deus e do Cristo um conceito menos terreno e, portanto, mais equânime com o seu alto espírito de justiça, de perdão e de misericórdia.

É através desse Cristianismo redivivo que a sabedoria de Deus transcende em pontos de luz que penetra fundo em nossas consciências, despertando-as de seu sono milenar de superstições, ao mesmo tempo que realça, de maneira exuberante, a Infantilidade de umas tantas crenças, bem como essa tendência para exteriorizações e dogmatismos.

Em nosso imenso "hinterland" também os trabalhos mediúnicos podem variar, em detalhes, por força de circunstâncias supervenientes, mas o que não podem e nem devem ser alteradas são as normas gerais de conduta na prática do mediunismo e nas reuniões, sejam elas públicas ou privadas.

A uniformidade em tais trabalhos deve, antes de tudo, ser uma demonstração de alta compreensão e perfeita conjugação de nossos pensamentos e propósitos em face dos ensinamentos kardecianos.

Porque é profundamente lamentável o que se observa em alguns Centros onde a sinceridade é inconteste mas a par dessa sinceridade existe também muita ignorância que cria verdadeiros absurdos, crendices, superstições, um misto de Catolicismo, com o uso de imagens, aliás condenadas pelo Decálogo, enquanto tudo isto poderia ser perfeitamente sanado, bastando apenas que os dirigentes responsáveis desses Centros procurassem melhor conhecer "O Livro dos Médiuns" além dos demais que integram a codificação kardeciana, bem como o opúsculo, muito útil, intitulado "As Sessões Práticas de Espiritismo", de autoria de Spartaco Banal.

Fácil será, assim, obter-se uma uniformidade na maneira de serem conduzidos os trabalhos, evitando-se tanto quanto possível que um médium ou um simples assistente, quando deslocado de uma cidade para outra ou mesmo para bairro diferente, não se sinta de certo modo constrangido em cooperar noutro grupo, por não se ajustar ao ritmo de trabalho e compreensão da Doutrina, divergentes inteiramente daqueles que até então se habituara a prestar seu concurso. .

Todos os Centros devem estar em perfeita sintonia com as entidades orientadoras do Espiritismo nos diferentes Estados, para que haja a necessária união de vistas e de tal sorte se obtenha uniformidade de normas em todas as reuniões públicas e privadas, que se realizem em qualquer ponto do nosso vasto território.

Dentro do Espiritismo jamais deve medrar as ervas daninhas da vaidade e a ridícula pretensão de saber-se mais, ou menos, porque em verdade só seremos esclarecidos e inspirados quando estivermos revestidos com a túnica da humildade e trabalharmos com um único objetivo qual o de beneficiarmos o próximo e engrandecermos a doutrina a que nos filiamos, pois que só assim, cremos nós, estaremos homenageando o Cristo e honrando a Deus, nosso Pai e Criador.


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