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terça-feira, 29 de junho de 2021

Teosofia e Espiritismo - Parte 3 e final

 


Teosofia e Espiritism- Parte 3 e final

por Pedro Richard
Reformador (FEB) 16 Fevereiro 1916 

        Meu caro amigo:
           Nessa terceira e última carta, cabe-me transcrever mais alguns trechos do Evangelho, referentes aos pseudos cristos. Comparando estas passagens com outras dos folhetos da Teosofia, que me ofereces-te gentilmente, fui levado a crer que esta doutrina era a fonte dos falsos profetas anunciados pelo Senhor. Se não, vejamos:
           Mar. Cap. XII.
           21. E se então vos disser alguém: reparai, aqui está o Cristo; ei-lo, acolá está; não lhe deis crédito.
           22. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas que farão prodígios e portentos para enganarem, se possível fora, até aos mesmos escolhidos. 
           25.E cairão as estrelas do céu (1) e se comoverão as virtudes que estão no céu.
           (1) Descerão os espíritos.

           26. E então verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens (2) com grande poder e magnitude.
           (2) Não por ventre de mulher.

           32. A respeito, porém, deste dia ou desta hora, ninguém sabe quando há de ser, nem os anjos do céu, nem o Filho, só o Pai.
           Mat. Cap. XXIV (Vê os vs. 4,5,11, 23, 24, que são iguais aos transcritos acima).
           27. Porque, como um relâmpago que sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim também há de ser a vinda do Filho do homem.
           Luc. Cap. XXI, vs. 5 a 19; XVII, vs. 22, 23, 24. 
                                                                                     *
           Pelas transcrições que aqui ficam, o Cristo, na sua alta pré ciência, nos avisou do que se está passando e de que só voltaria à Terra sobre nuvens. E virá para o que é seu, quando este mundo for o seu reino. Isto acontecerá apenas numa época apenas conhecida do Pai... e dos profetas teósofos que, mais do que Jesus e os anjos do céu, o sabem. 
           O Cristo voltará ao planeta, é verdade, mas em espírito, quando o nosso mundo estiver purificado e em condições morais de ser habitação dos bons, dos espíritos sem pecados. Seus corpos não serão grosseiros como o nosso, mas corpos fluídicos, compatíveis relativamente com a pureza do Cristo.
           No entanto, a Teosofia anuncia e espera para já um cristo; é claro que este pode ser senão o falso cristo.
           Será crível que para os teósofos o nosso tenebroso planeta já se encontre em condições morais de receber o Cristo em toda a sua pureza?
           Neste mundo, então, não impera mais o crime e só o habitam os bons e os puros?
           Não, os teosofistas não esperam o Cristo que vem para o seu reino, viver com os seus: os teosofistas esperam um instrutor. Cristo, porém, não prometeu voltar como instrutor. A sua doutrina aí está para todos os que desejem sinceramente ser os seus discípulos; a mesa do banquete do Senhor está posta e todos são convidados, até mesmo os coxos e os estropiados.
           O cristo, já esperado pelos nossos irmãos teósofos, não é o que virá - segundo a frase evangélica - em todo o seu esplendor, sobre nuvens, do mesmo modo que um relâmpago, que sai do oriente e se mostra até o ocidente, porque, como é  óbvio, o nosso planeta desgraçadamente ainda está muito longe de ter conseguido os requisitos morais necessários para receber o Cristo autêntico, o mesmo Cristo de Nazaré.
           Em verdade, Ele virá, mas quando houver na Terra elementos compatíveis com o seu adiantamento e a sua natureza espiritual. 
           O que é lógico e o bom senso nos aconselha, meu bom amigo, é que de acordo com os ensinamentos evangélicos e os conhecimentos dados pelo espiritismo sobre o sentido das palavras do divino Mestre, nós nos acautelemos contra os falsos cristos. Perdoa-me se te magoo com a rudeza da minha expressão, chamando falso ao cristo que tu esperas como legítimo. Lembra-te de que sou espírita cristão e falo deste ponto de vista. Tu consideras o Cristo como um missionário qualquer, como o instrutor de uma raça; eu o tenho em conta de Chefe deste planeta, a cuja formação Ele presidiu, o Senhor desta humanidade, rebanho de que Ele é o único Pastor.  
           Dirás que o advento esperado não é o do Cristo. Mas os teosofistas estão convencidíssimos dessa - para ti e os teus confrades - auspiciosa visita. O ilustrado representante em nosso país da "Ordem da Estrela do Oriente", espírito que por muitas formas se tem manifestado altruísta e superior, e cujo nome tenho a honra de citar nesta obscura e despretenciosa missiva - o Dr. Raymundo Seidl, assim se exprime no 'Teosofista' de 7 de abril de 1915, pág. 190: 
           "Como sabem os leitores, o fim da "Ordem da Estrela do Oriente" é reunir aqueles que acreditam que um grande Instrutor espiritual virá proximamente ajudar a evolução da humanidade. Para conseguir tão alto "desideratum" os membros da Ordem devem fazer a seguinte evocação à hora certa: para o Rio de Janeiro e Bahia às 6 horas. "Eis a evocação: "O Mestre de Grande Loja Branca, Senhor das religiões do mundo! Volta!  Volta de novo ao mundo! Volta! Volta de novo à Terra, que por ti anseia! Volta e vem ajudar as nações que aspiram pela tua presença! Dize a palavra de fraternidade que unirá numa só família as classes e as castas que entre si lutam! Vem! Vem com o esplendor de todo o teu poder e salva o mundo que aspira pela tua volta! Tu, que és o Instrutor dos anjos e dos homens! Que assim seja!"
           Mestre da Grande Loja Branca, Senhor das religiões do mundo, Grande Instrutor dos anjos e dos homens - nem se duvide que não seja o Cristo, mesmo porque não é necessário inferir das expressões do preclaro representante da Ordem - respeitável e erudita teosofista senhora Anne Besant, positivamente anuncia num artigo traduzido para a simpática revista Amor, da Bahia (edição de 11 de abril de 1913). O Grande Instrutor esperado e desejado é o Cristo. 
           Aludindo à invocação transcrita eu te digo: A palavra da paz que fará cessar as lutas, já foi pronunciada por Jesus quando disse: "Ama teu inimigo".
           Estas três palavras, que encerram uma epopéia e que constituem a pedra angular sobre a qual repousa todo o monumento da paz universal, foram desenvolvidas e profundamente explicadas pelos espíritos na Revelação da Revelação dada ao Sr. Roustaing.
           A palavra de fraternidade também já foi dita e ensinada por Jesus no seu Evangelho (João, cap. X, vers. 1 a 10).
           A fraternidade, meu amigo, é condição indispensável, sine qua non, para só aspirar a ser discípulo de Jesus, que quer que todos, toda a humanidade, constituam uma só família. "Um só rebanho com um só pastor" na frase do Evangelho de João.
             Enfim, meu Rodrigues, que viria fazer aqui o Cristo em pessoa, quando Ele já está conosco representado pelo Consolador, que é o Espírito Santo, o Espírito de Verdade, "que nos ensinará todas as coisas?" (João, Cap. XIV, vers. 13 a 31).
           Se o próprio Cristo nos anunciou que o Consolador (que é o Espiritismo) nos ensinaria todas as coisas, para que teria Ele de vir novamente para nos ensinar o que já nos ensinou, isto é, dizer-nos as palavras de paz e fraternidade?
           O que é lógico e concludente, meu preclaro Rodrigues, é que a seita ou religião que tem no seu programa e como um de seus principais objetivos provocar a vinda de Jesus Cristo para nos ensinar a adquirir virtudes e, do mesmo passo, nos liberar dos erros e crimes, desprezando assim os ensinamentos do próprio Jesus contidos nos Evangelhos - é anti evangélica, é numa expressão sintética, o Falso Profeta.  
           Tal seita ou religião será tudo quanto quiserem, menos espírita.
           Assim sendo, eu, espírita cristão, não posso caminhar contigo. Estarei laborando em erro? É possível, mas eu prefiro errar com Jesus. Que - eu te imploro - não me arranques do coração! 
           Que Ele nos ilumine, é o voto que de coração faz o dedicado amigo.






segunda-feira, 28 de junho de 2021

Teosofia e Espiritismo - Parte 2

            

Teosofia e Espiritism- Parte 2

por Pedro Richard
Reformador (FEB) 1º Fevereiro 1916

 Ao bom Rodrigues,


           Meu amigo,
           Na primeira missiva, afirmei que a Teosofia é anti-espírita, porque a nossa doutrina foi revelada pelos espíritos  com o fim de provar que se comunicam conosco, dando-nos a conhecer as leis que presidem a esse fenômeno, instruindo-nos na maneira de bem fazermos esse comércio com eles, quer estejam livres e desembaraçados no Espaço, quer, mesmo, encarnados, contanto que se ache o corpo adormecido - caso este em que o espírito de certa forma também está livre. Destarte nos dão a conhecer o aparelho mediúnico em todas as suas modalidades e grandezas.
           Em uma palavra, a doutrina espírita foi e vai sendo dada aos homens pelos espíritos, - prepostos de N. S. Jesus Cristo para essa alta e nobre missão - e nos vem provar que os espíritos atrasados e infelizes se manifestam, tentando, por todos os meios ao seu alcance, dar batalha ao Evangelho, lançando para esse fim mão de embustes, mistificações, etc.. Para conseguir o seu "desideratum" esses infelizes promovem contra os seus irmãos todo o mal possível, dentro dos limites da lei das provas, dando com semelhante procedimento lugar à enfermidade moral que denominamos obsessão. É então quando devemos intervir no intuito caridoso de esclarecê-los e procurar modificar os seus sentimentos perniciosos. Isto devemos fazer principalmente com as nossas preces ungidas de fé, amor, caridade e humildade.
           O que acabo de dizer tenho para mim como verdade indiscutível, porque há anos venho com assiduidade investigando essa ordem de trabalhos, assistindo a muitas dezenas de curas de obsessão, havendo tido a ventura de ter para diretores de semelhante trabalhos os saudosos companheiros, hoje no Espaço, doutores A. Bezerra de Menezes,   Bittencourt Sampaio e A. Luiz Sayão, que foram e continuam a ser meus mestres.
           Para os espíritas, meu caro Rodrigues, toda a Criação é dirigida e governada pelos espíritos, sendo que o mundo espiritual é o mundo das causas e o material o dos efeitos. Tudo, pois, é dirigido pelos espíritos, que executam o plano arquitetado por Deus.
           A Teosofia, meu caro amigo, é a negação de tudo isso; não admite a comunicação entre encarnados e desencarnados, senão quando aqueles estiverem dormindo, visto como os espíritos desprendidos da matéria não nos escutam, não percebem as nossas ações físicas, de que se conclui que não podemos ser tentados nem dirigidos por eles.
           Não invento; relê um pouco do que diz o grande e conceituado teósofo Sr. C. W. Leadbeater no seu folheto: Aos que choram os mortos (1)

            (1) Diz a loja Teosófica 'Perseverança' nesse folheto: "O Sr. Leadbeater é diretor e instrutor no plano físico; foi protestante e estudou fenômenos mediúnicos e há mais de 30 anos vive uma vida de abstração, como viviam os eremitas da Idade Média".

           "Os mortos então nos enxergarão? podem perguntar; escutarão o que dizemos? Indubitavelmente podemos  dizer que nos veem, pois estão sempre conscientes da nossa presença; sabem se estamos felizes ou se nos sentimos mal; mas não escutam as nossas palavras e não tem consciência das nossas ações físicas. (pág.30). Desenvolvendo a questão termina dizendo: "O que, portanto, o homem morto pode ver de nós é somente o corpo espiritual" (pág. 31). "Até agora só tratamos da possibilidade de alcançar os mortos, elevando-nos ao seu plano durante o sono, que é o caminho normal e natural. Há também, evidentemente, o método anormal e antinatural das evocações em que, momentaneamente, os mortos se revestem outra vez de seu véu carnal e se tornam assim mais uma vez visíveis aos nossos olhos físicos. Os investigadores do Oculto não recomendam esse método; em parte porque muitas vezes atrasa o morto na sua evolução e, em parte, porque há grande incerteza a esse respeito e muita possibilidade de ilusão e exibicionismo (pg.49).
           Entendeste, Rodrigues? Onde uma doutrina mais anti-espírita e mais contrária à nossa ordem de investigações do ue a Teosofia apregoada pelo Sr. Leadbeater?
           Eu te poderia citar milhares de fatos que atestam que os espíritos nos veem, nos escutam, nos respondem e muitas vezes sustentam longos diálogos conosco, o que prova que o Sr. Leadbeater não tem razão.
           Apenas para assentar ideias, vou citar-te um fato passado há trinta e tantos anos com o meu inolvidável mestre Dr. Bezerra de Menezes:
           Ei-la:
           Havendo, duma feita, o Dr. Adolpho Bezerra de Menezes, pelo médium Nascimento, pedido ao espírito do Dr. Dias da Cruz (que na Terra fora seu íntimo amigo, ao ponto de chamá-lo por Chico), umas consultas médicas para amigos seus, deixou, no entanto, de solicitar para si remédios - porque, tendo estado doente, se julgava já curado. O espírito do Dr. Dias da Cruz respondeu ao Dr. Bezerra: "O meu caro adolpho se esquece dum quisto que tem embaixo de sua espessa barba, que é uma manifestação do estado mórbido de seu baço."
           Disse-nos o Dr. Bezerra que nem a sua própria esposa sabia da existência desse quisto e que ele próprio tinha se esquecido de semelhante coisa.
           Percebeste? O espírito do Dr. Dias da Cruz viu o quisto e acusou positivamente a sua existência. Bezerra aceitou a receita, tratou-se e o quisto desapareceu. O que é verdade é que o espírito viu o quisto e, no entanto, a Teosofia prega que o espírito desprendido da matéria não nos vê o corpo!
           São fatos, meu Rodrigues, e estes falam com muito mais eloquência do que as teorias. Teorias destroem teorias; mas os fatos não: "contra eles não há argumentos". As teorias são abatidas e desaparecem: os fatos focam, são inexpugnáveis, indestrutíveis. Por isso é que sou espírita: porque sei por provas provadas que as teorias espíritas são confirmadas pela observação dos fatos, pelo melhor método da ciência - a experimentação. Na minha longa vida de espírita, observando os fatos, tenho verificado a exatidão de todas as teorias do Espiritismo.

                                                                                  *     
           A Teosofia é também anti-evangélica.
           Vejamos o que dizem os Evangelistas:
           Lucas - (C. I., vs. 1 a 25) - O Espírito Gabriel se manifestou no templo a Zacarias, fala-lhe, responde às suas objeções e anuncia-lhe a mudez. (idem, vs. 26 a 80) - O anjo Gabriel aparece à Virgem, sauda-a, previne-a da bendita concepção, responde-lhe às suas perguntas. - Mateus (C. XVI, vs. 13 a 20) - Jesus confirma  a revelação mediúnica  feita a Simão Pedro. (Idem C. XVII, vs. 1 a 19) - Jesus transfigura-se no monte Tabor aos olhos de seus discípulos Pedro, João e Tiago, os quais ouviam vozes.
           Poderia eu citar inúmeras passagens se não bastassem as que acabo de mencionar para provar-te que o Evangelho é oposto à Teosofia, a qual afirma - segundo declara o Sr. C. W. Leadbeater, nos transcritos que fizemos linhas atrás - que os espíritos desencarnados (mortos na linguagem teosófica) não nos escutam.
           Prossigamos:
           Jesus disse: Um só é vosso Mestre, o Cristo, vós todos sois irmãos. Não vos intituleis mestres. O que dentre vós é o maior, será vosso servo. (Mateus, C. XXIII, vs. 8 a 12) 
           Ao passo que assim se exprime Jesus, a Teosofia tem mestres, instrutores. Há membros de sociedades teosóficas e há teósofos, o que vale dizer que na Teosofia há 1º e 2º.
           Jesus também disse: "Quem não é por mim é contra mim. Quem não ajunta comigo, desperdiça". Estas dua frases são bem eloquentes e querem dizer que quem não representa a verdade é instrumento do erro e da mentira e retarda o progresso. Quem não ama a luz, vive nas trevas. Esses tais arrastam os seus irmãos ao vício, ao ódio e à vingança. 
            No entanto, o esquema circular organizado pela Sociedade Teosófica, mostra-nos que por todos os caminhos se vai ao centro do mesmo esquema, onde em círculo concêntrico  se encontram as palavras Teosofia - Fraternidade Universal como que ocupando a circunferência e no centro Deus - Amor - Verdade. Debalde aí procurei o Cristo: não O encontrei.
           Até o ateu vai ter à Teosofia e por intermédio da Teosofia a Deus. O caminho, pois, para se ir a Deus é para ti e teus confrades, a Teosofia. Todavia, no Evangelho por João (c. XIV, vs. 1 a 12) diz categoricamente Jesus: Eu sou o caminho, a verdade, a vida ; ninguém vem ao Pai senão por mim. 
           Já vês, meu caro amigo, que o esquema da Tua Teosofia é profundamente anti evangélico. Não traduz, portanto, nem o pensamento cristão, nem tampouco os ensinamentos deixados pelo Divino Mestre.
           Não me surpreende, fica certo, a doutrina teosófica, pois, para mim tenho que ela é o porta voz  do falo profeta tantas vezes aludido por N. S. Jesus Cristo.
           Dir-te-ei porque na terceira missiva. 
           Até.      

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Teosofia e Espiritismo - Parte 1

 


Teosofia e Espiritismo - Parte 1

por Pedro Richard
Reformador (FEB) Janeiro 1916

Ao bom amigo Rodrigues,

          Agradeço muito a fineza de teres mandado para mim alguns livros e folhetos de Teosofia, na louvável atitude de orientares o meu pobre espírito e me provares que os pontos de contato que, dizem os teósofos; há entre a Teosofia e a Revelação dada pelos Espíritos a Allan Kardec e a Roustaing são tais e tantos, que bem se pode considerar a Teosofia como sendo o Espiritismo evolvido.
            Pelo muito que te quero e pela pureza de tua intenção, pretendendo melhor nortear o meu espírito ávido de luz e de verdade, fiz meditada leitura de semelhantes livros com o fito de conhecer a verdade e até onde a verdade estava com o meu Rodrigues.
           Cheguei à conclusão de que estás elaborando em erro. E sabes porque andas em erro? Simplesmente pelo pouco conhecimento que tens das obras de Allan Kardec e do Evangelho em espírito e verdade. 
           Sendo o Espiritismo, como é, uma revelação dada pelos Espíritos, é óbvio que não consiste ele tão somente na crença no Deus uno, na manifestação dos espíritos ou, mesmo, nas reencarnações, pois, como sabes, tudo isso há de muito é conhecido e sustentado por escolas e seitas que já eram cultivadas antes do Cristo, inclusive o velho Testamento; nem mesmo é a "fraternidade" o seu alicerce, pois que a fraternidade é também apregoada e pregada por escolas que não cogitam de Deus nem de espíritos, como por exemplo a positivista, a evolucionista, etc.. Tudo isto já estava desde muito revelado.
           O Espiritismo, meu bom Rodrigues, é certo que sanciona todas estas verdades, mas ele não para onde as outras religiões estacionam. Não, ele trás para a arena da discussão todos os fatos, e estuda com profundeza e à luz da razão e da ciência as leis que os regem, as causas que os determinam. Ele nos fornece os meios seguros para as investigações de ordem moral ou científica.
          O Espiritismo, meu amigo, nos veio proporcionar as provas provadas de que as boas condições morais são indispensáveis a toda ordem de trabalhos que visam a regeneração dos espíritos encarnados ou desencarnados, o que o cultivo das virtudes lhes é sobretudo imprescindível. E isso porque só a nossa relativa pureza dalma e as virtudes podem atrair para junto de nós os espíritos de luz, os únicos capazes de ensinar-nos a verdade, (que é representada pelo Evangelho), isto é, a palavra santa de Jesus compreendida em espírito e vida. É nisso querido irmão, que consiste a nova revelação trazida à Terra pelos Espíritos, prepostos de Jesus para o desempenho dessa alta e santa missão; porque ele é o Consolador prometido por Jesus, que nos ensinará as coisas (João, Cap. XIV, núm. 26).
           Assim sendo, o Espiritismo é a chave que abre à nossa inteligência a compreensão progressiva do Evangelho, a fim de acelerar o nosso progresso nos tempos que são chegados, tornando-os destarte felizes e libertos do erro e da mentira. Ao mesmo tempo, ele destrói a imagem desse deus mau e rancoroso que só existe no cérebro daqueles entre nossos irmãos que o criaram para fins inconfessáveis.     
           O Espiritismo, enfim, nos veio fazer compreender o verdadeiro Deus - o Deus de amor e caridade - e provar-nos que só se vai ao Pai pelo cultivo da fé, do amor, da humildade e da caridade, notadamente pelo destas duas últimas virtudes, que limpam os nossos espíritos da lepra peçonhenta do egoísmo e do orgulho.
           Caro Rodrigues: a humildade, que é o nosso remédio máximo, só a encontramos no Evangelho de N. S. Jesus Cristo.
           Ah! meu Rodrigues, como se nos apresenta grandioso o Presépio de Belém! Aquelas palhas, que serviram de cama ao gado, como as vemos agora transformadas em leito de arminho para receber e nele repousar o Menino Jesus, o maior dos Espíritos baixados à Terra, o Enviado de Deus, o Seu Ministro, em suma! E, no entanto, Ele não teve uma casa, um casebre mesmo, para nascer! Como é nobre esse exemplo de humildade da família do simples e pobre carpinteiro que se chama José! Como é grandioso e sublime ver-se o Rabi da Galiléia recrutar seus discípulos entre os humildes pescadores e até mesmo entre os cobradores de impostos, os mal quistos e desprezados do povo! É que eles eram pobres de bens materiais e ricos de virtudes. Que sublimidade e que grandeza, meu amigo, vê-lo entre os publicanos e gente de má vida e repartir com eles a caridade e afastando esses espíritos do erro para os acomodar no seio bendito de Deus! É que eles eram pobres de bens materiais e ricos de virtudes. Que sublimidade e que grandeza, meu amigo, vê-lo entre os publicanos e gente de má vida a repartir com eles a caridade e afastando  esses espíritos do erro para os acomodar no seio bendito de Deus! Como é majestoso ver-se este Jesus sentado à mesa com os seus discípulos, associando-se a eles na ceia pascoal e com eles repartindo o vinho que simbolizava o Seu sangue, que deveria derramar em holocausto à humanidade escravizada ao erro, aos vícios e paixões! Que magnitude, caro Rodrigues, ver-se este Homem quase Deus tomar de uma bacia e toalha e lavar os pés aos Seus discípulos, inclusive do próprio Judas - o espírito fraco e desgraçado que, dali há pouco, teria de cometer o maior, o mais ignóbil dos crimes, a traição! Mas é que ninguém, absolutamente ninguém, estava excluído do seio amoroso de Jesus, nem mesmo os Seus mais encarniçados inimigos!
           E Jesus, o Mestre divino, assim procedendo disse aos seus discípulos, que representavam a humanidade: "Vós me chamais Mestre e Senhor, vos laveis os pés, deveis o mesmo fazer uns aos outros.(João, Cap. XIII, vs. 1 a 15).
           Ouviste, Rodrigues, o que disse o Mestre?
           Pois lava os pés dos teus inimigos, mas lava-os com tuas lágrimas e as enxuga ao calor de teu seio amoroso, porquanto, bem sabes que é preciso que faças do teu inimigo um amigo teu, e nem basta que fique sendo um amigo somente, senão que seja também amigo de Jesus, o Pastor bendito que recebe de braços abertos a ovelha tresmalhada que queira voltar ao aprisco.
           Meu caro Rodrigues, faze-te humilde e será discípulo de Jesus, o nosso divino Mestre e Senhor.
           Por caridade eu te peço: não me tires das mãos o Evangelho em espírito e verdade. Ele tem feito a minha felicidade de homem e, certo, far-me-á do espírito. Nele, somente nele, tenho encontrado o único remédio que cura a enfermidade geratriz de todos os males da alma: o orgulho que, semelhante ao cancro, me corrói o espírito.
           Se tu não sofres desse hediondo mal, que me chumba à Terra  me faz escravo do erro e das paixões; se pela educação primorosa da tua vontade tudo concedes e com tudo condescendes - feliz que és! - infelizmente eu não posso fazer o mesmo. Eu sou coxo e estropiado e só mantenho-me de pé amparado e defendido por meio anjo de guarda e protetores espirituais.
           Segue a tua Teosofia e com ela caminha. Sê feliz mas deixa-me agarrado ao meu Jesus, ao meu divino Mestre e Senhor, a meu Salvador, haurindo de Seu santo e divino seio a humildade de que tanto preciso para curar-me.
           Não me arranques do coração a imagem incomparável e santa de Maria,a Mãe santíssima, Espírito sublime a quem tanto devo e que é o enlevo de minha crença e o carinho dos meus afetos.
           Não posso seguir a tua Teosofia porque não posso servir a dois senhores.
           A tua Teosofia - perdoa-me, releva-me a franqueza - é anti espírita e não está de acordo com os ensinamentos do Evangelho; é o Falso Profeta. Não te molestes comigo. Não sou eu quem o diz, é o Evangelho, é o próprio Espiritismo codificado por Alan Kardec, como te provarei no meu próximo escrito.