O
Dr. José Lapponi,
Médico
dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 1
por Michaelus (Miguel
Timponi)
Reformador (FEB) Março 1944
É incrível que
ainda hoje, depois de tantas provas acumuladas pela sucessão inesgotável de fenômenos,
atestadas por nomes respeitabilíssimos em todos os países do mundo, surjam, de
quando em quando, tentando negar a evidência dos fatos espíritas, os negativistas
de todos os matizes, sepultados em velhos preconceitos e absurdas concepções.
Faz pouco tempo,
um semanário católico de Minas Gerais, procurando contestar as comunicações
mediúnicas de Francisco Cândido Xavier negou terminantemente a possibilidade do
fenômeno e declarou que William Crookes, "apesar de vítima da mais
sensacional mistificação espírita de todos os tempos, jamais admitiu a hipótese
espírita".
Compreende-se que
se combata a doutrina, como filosofia ou como religião, mesmo porque outra
coisa não se poderá esperar do dogmatismo ferrenho, mas o que não se compreende
é a negativa sistemática e apriorística dos fatos, sem que seja precedida de
uma investigação honesta, de uma pesquisa minuciosa e isenta de partidarismo.
O Dr. José
Lapponi, insuspeitíssimo como católico e como médico dos papas Leão XIII e Pio
X, sem abandonar os preconceitos e os pontos de vista dos chefes de sua
religião, foi forçado, todavia, a reconhecer e a proclamar a comunicação dos
Espíritos, em sua obra ‘O hipnotismo e o
Espiritismo’, edição francesa de 1907, da Livraria Acadêmica, de Paris.
É um livro, cuja
leitura é recomendável a todos os católicos do Brasil, não para que adotem a
verdade espírita, mas para que nunca mais abram a bOca para negar a existência
de fenômenos Irrecusáveis produzidos pelos Espíritos.
O Dr. José
Lapponi, embora condene com veemência e sem reservas a prática do Espiritismo,
aliás ilógica e incoerentemente, conforme se verá nesta série de artigos,
admitiu e reconheceu integralmente a hipótese, não somente citando e
transcrevendo fatos que ele denomina de "prodígios espíritas", mas
referindo-se, igualmente, aos homens de notável saber que pesquisaram e
obtiveram a confirmação desses prodígios.
Entre os
testemunhos e partidários mais conhecidos do Espiritismo, diz Lapponi, limitaremos
a citar os seguintes: os poetas e escritores Walter Scott, Victor Hugo,
Victorien Sardou, Maxime d' Azeglio, Louis Capuana; os professores Scarpa;
Damiani, Brofferio, Mamiani, Gerosa, Hoffmann; os ministros e homens de Estado
Gladstone, Balfour, Lincoln, de Giers, Aksakof, Eula; os matemáticos Wynne,
Auguste de Morgan, Filopanti; os astrônomos Zoellner, Challis, Flammarion; os
físicos Lodge, Tyndall, Thurie, Fechner, Crookes; os químicos Humphry Davy,
Butlerof, Hare, Mapes; os naturaliatas Dauton, Barkus, Wagner, Perry, Richardson,
James SuUy, Richet; os antropologistas L. Ferri, Morselli, C. Lombroso; e
outros, constituindo uma lista muito mais completa, cujos nomes se encontram no
livro de G. Athius - Idea vera dello Spiritismo.
Propositadamente,
no artigo de hoje, vamos transcrever a opinião do Dr. José Lapponi, sobre
William Crookes e as suas experiências.
Refere-se ele ao
grande sábio inglês nos seguintes termos: - "físico igual aos maiores do
mundo inteiro; que, aos vinte anos de idade, já havia apresentado importantes
trabalhos sobre a polarização da luz que, mais tarde, publicou trabalhos
magníficos sobre os espectros luminosos dos corpos celestes; que inventou o
fotômetro de polarização e o microspectroscópio; que escreveu obras notáveis sobre
a química, especialmente um trabalho de análise que se tornou clássico; que fez
descobertas preciosas em astronomia e que contribuiu grandemente para os
progressos da fotografia celeste; que foi enviado pelo Governo inglês a Oran
para estudar um eclipse do Sol; que se distinguiu nos estudos da medicina, da
higiene pública e das ciências naturais; que inventou um processo de
amalgamação metálica por meio do sódio, processo empregado comumente hoje para
a extração do ouro; que descobriu um corpo novo, o tálio; e que, enfim,
revelando à ciência o estado-radiante da matéria, abriu caminho para a
descoberta dos raios Roentgen que se empregam agora para fotografar o que se
chama o invisível. Esse homem, de inteligência tão alta e de ciência tão vasta,
que passou sua vida a interrogar com vigor extremo os segredos mais árduos da
Natureza, foi quem submeteu a um exame minucioso os fenômenos espíritas sob a
crítica severa da experimentação moderna, assistido, nessas pesquisas, de dois
outros físicos de valor, Wílliam Huggins e Ed. W. Cox.
Com o auxílio de
instrumentos de precisão e de registradores automáticos, Crookes examinou no
seu mínimo detalhe, até as menores particularidades, fenômenos produzidos sob
seus olhos. Ele experimentou, alternativamente, nas trevas e em pleno dia, fora
e dentro das salas por ele escolhidas, à luz elétrica e à luz fosfórica. Sempre
assistia a todos os preparativos dos médiuns, inclusive os referentes ao seu
vestuário, para assegurar-se de que nada aí se ocultava. Por meio de tela
metálica envolvia certos aparelhos que deviam receber a influência dos médiuns.
Ele mesmo comprava, examinava e dispunha as mesas destinadas às experiências.
Ora, depois de ter estudado os fenômenos espíritas, através de todo Esse
aparelhamento de precauções e com o maior ceticismo científico, Crookes se viu
obrigado a repetir, lealmente, o que, antes dele, Alfredo Russel Wallace, o
inventor da célebre hipótese da seleção natural, já havia dito: "Adquiri a prova certa da realidade dos
fenômenos espíritas".
Lapponi, nunca é
demais repetir, médico dos papas Leão XIII e Pio X, depois de se referir, pela
maneira acima transmitida, à honestidade, e à segurança com que Crookes
reconheceu a realidade do Espiritismo, acentua que ele, nesses momentos, não
tinha alteradas as suas funções cerebrais, tanto mais quanto, anos depois, aquele
sábio inglês, apresentava o resultado das suas descobertas sobre o estado
radiante da matéria.
É lamentável,
portanto, que depois de um testemunho desse porte, ainda se ouse afirmar que
William Crookes foi vítima de uma sensacional mistificação e que os fenômenos
espíritas são o produto do embuste e da sofisticaria.
Em nome de
falazes preconceitos, arma-se a fogueira para queimar o sábio que, apoiado na
ciência, afirma soberanamente a verdade.
É a repetição da
história...
O Dr. José Lapponi,
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 2
por
Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Abril
1944
No
artigo anterior transcrevemos as referências do Dr. José Lapponi a William
Crookes, pelas quais se positiva que esse sábio inglês não poderia ter sido
vítima de ilusões, alucinações e mistificações, quando entrou a pesquisar, com
todas as cautelas e todos os rigores científicos, o fenômeno espírita. .
"Seria absurdo, diz Lapponi, admitir que tantos fatos, que nos são
contados por tantos escritores de todas as épocas, desde a mais remota
antiguidade até nossos dias, e de todos os países, desde os mais bárbaros aos
mais civilizados, - relativamente ao comércio possível dos vivos com os seres
imateriais, que tudo isso não seja senão o produto de cérebros doentes. Não é
absolutamente crível, em verdade, que, sobre um ponto tão importante, homens
eminentes de todos os tempos e de todos os países tenham tido ilusões ou
alucinações do mesmo gênero, formadas mais ou menos sobre o mesmo modelo. E não
seria absurdo menor admitir que, desde mais de meio século, um número enorme de
pessoas, quase nossas contemporâneas, em regiões diversas, em idades diversas,
em condições pessoais diversas e em graus diversos de cultura mental, tenham
sido vítimas de um mesmo gênero de alucinações e de ilusões, com a repetição
constante de certos fatos".
E
Lapponi conclui: - "Nossa opinião
sobre esse assunto se harmoniza com a do professor Charles Richet quando
escreveu que é coisa inadmissível que pessoas ilustres, ocupando uma posição
científica e social eminente, e de uma moralidade acima de qualquer suspeição,
tenham empenhado a palavra, em todas as partes do mundo, para contar fatos
mentirosos e divulgar imprudentemente imposturas, sem nenhum interesse e sem
qualquer proveito".
"Diante disso, com isso e depois disso",
o dogmatismo impenitente, enclausurado no círculo estreito da sua obstinação,
não terá outro argumento senão afirmar que o médico dos papas foi, igualmente,
preso de uma ilusão ou alucinação, ou vítima de um desequilíbrio mental...
Lapponi,
no seu estudo médico crítico catalogou uma série enorme de fatos e fenômenos,
como ponto de partida de suas observações. Vamos transcrever alguns dEles,
literalmente, começando pelo célebre caso ocorrido com uma família americana,
pertencente à Igreja episcopal metodista, que fora morar numa casa da cidade de
Hydesville, no Estado de Nova-York, "Essa família se compunha de M. John
Fox, de sua mulher e de suas três filhas, das quais, a penúltima, Margarida,
tinha 15 anos e a última, Catarina, 12 anos de idade. Todos quantos conheceram
essa família declararam sempre que seus membros eram de uma conduta exemplar e,
absolutamente, incapazes de mentira ou de fraude; e todo o passado dos Fox, tal
como pode ser reconstituído, confirma inteiramente essas declarações.”
A
família Fox mal se havia instalado em sua nova residência, quando a mais velha
das três filhas se casou. Poucos dias após o casamento, eis que,
repentinamente, as paredes... e os tetos, nos quartos vizinhos daquele que os
Fox tinham o hábito de ocupar começaram a produzir ruídos singulares. Nesses
quartos, após os ruídos, os móveis eram encontrados fora dos seus lugares ou em
desordem, embora fosse certo que nenhuma pessoa estranha aí houvesse penetrado.
Depois, as duas mocinhas, principalmente durante a noite, começaram a sentir
mãos invisíveis, que lhes corriam sobre o corpo. Todos os esforços tentados pelos
Fox para descobrir e compreender a causa desses fenômenos extraordinários
resultaram 'inúteis. Nos primeiros dias, suspeitava-se de alguma farsa
grosseira organizada pelos vizinhos; mas reconheceram logo que essa hipótese
era impossível e acabaram julgando-se vítimas de uma obra diabólica. Pouco a
pouco, entretanto, habituaram-se a esses ruídos e a essas desordenadas mudanças
de móveis. E as duas mocinhas, por sua vez, passaram a divertir-se com o autor
invisível desses fenômenos, a quem apelidaram de Pé-Roto (Pied-Fourchu).
Uma
tarde, a pequena Catarina Fox divertia-se em fazer estalar seus dedos e teve a
fantasia de convidar o misterioso Pé-Roto a fazer a mesma coisa. A seguir, um
ruído em tudo semelhante foi repetido, ao lado dela, um número igual de vezes.
A menina, estupefata, fez, então, outros movimentos com seus dedos, mas sem
produzir nenhum ruído. E ela descobriu, com uma nova estupefação, que a cada um
desses movimentos silenciosos de suas mãos, respondia um pequeno ruído de
origem desconhecida. Apressou-se em chamar sua mãe para lhe fazer verificar que
o autor dos ruídos não somente possuía ouvidos para ouvir, mas também olhos
para ver.
Mme.
Fox, não menos assustada que sua filha, convidou o ser invisível a contar até
10: imediatamente, ela ouviu bater dez pancadas. Gradualmente, uma linguagem
convencional se estabeleceu entre os Fox e o espírito; a todas as perguntas que
se lhe faziam o espírito respondia com muita precisão, sempre por meio de
pancadas invisíveis. Quando se lhe perguntava se era um homem, nada respondia;
mas quando se lhe perguntava se era um espírito, algumas pancadas nítidas e
rápidas se faziam ouvir, as quais, na linguagem convencionada, correspondiam a
uma afirmativa. Numerosos vizinhos foram chamados a identificar os diversos
fenômenos, aqui apontados em resumo. A todos o autor desses fenômenos declarou,
explicitamente e diversas vezes, que ele era um espírito. Foi assim que nasceu
na América o Espiritismo moderno".
O
fato acima narrado por Lapponi, já conhecido nos anais do Espiritismo, assinala
o início das pesquisas sérias realizadas na América do Norte e o advento da
nova doutrina nesse país.
O Dr. José Lapponi,
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 3
por
Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB)
Maio 1944
Prosseguimos
hoje na transcrição de alguns dos fatos citados pelo Dr. José Lapponi em sua
obra: "O hipnotismo e o espiritismo".
"Nos
últimos meses do ano de 1905, vários jornais italianos, e entre os mais sérios,
fizeram alusão a uma série nova da fenômenos maravilhosos, que parecem bem
encarecer o assunto que estudamos. Esses fenômenos não podem ser negados pura e
simplesmente, pois sua realidade nos é confirmada pelos atestados formais de
Pasquale Berardi, bispo de Ruvo e Bitonto, de J. Vaccaro, arcebispo de Bari, do
arcediago Vallarelli de Terlizzi, do questor e de um delegado de Bari, do
pastor Victor Garretti, do Dr. Raphael Cotugno, médico em Ruvo, de um redator
do "Corriere delle Puglie", de outras testemunhas honradas,
minuciosamente interrogadas por esse redator, além de um certo número de outras
testemunhas, que nos forneceram sobre os fatos em questão notícias
particulares.
Esses
fatos dizem respeito aos meninos da família Pansini, ocorridos até o ano de
1901.
Uma
tarde, o pequeno Alfredo, então com a idade de cerca de 7 anos, de regresso de uma
sessão espírita, a que fora assistir, foi presa de um adormecimento imprevisto,
o qual se reproduziu em diversas ocasiões. Durante alguns desses acessos, o
menino falava com uma voz estranha, como um verdadeiro orador, e isso, às vezes,
em línguas que ignorava absolutamente, como o grego, o latim e o francês; ou,
então, recitava, sem um só erro, cantos inteiros da Divina Comédia.
Uma
outra tarde, durante um dos seus acessos, Alfredo predisse que, dali a pouco,
se regalaria com uma boa ceia. Com efeito, quando a mesa foi posta para toda a
família, descobriu-se em um prato mais de meio quilo de salsichas de primeira
qualidade; e a mãe encontrou, ainda, no leito do seu filho, uma provisão de
bolos e gulodices.
Colocado,
a conselho do bispo Berardi, no pequeno seminário de Bitonto, o menino aí
passou alguns anos perfeitamente tranquilos. Mas, mesmo então, não deixava
absolutamente de apresentar fenômenos singulares. Quando alguém o olhava,
formulando em pensamento uma questão, o pequeno Alfredo, imediatamente,
escrevia uma resposta a essa questão.
Um
dia, tendo sido convidado para uma sessão espírita, a que assistiam três dos
seus professores, aceitou o convite, mas a contragosto. Colocou-se sobre a mesa
um triângulo de cartão para designar as letras do alfabeto. A sessão começou.
Eis aqui, precisamente repetido, o diálogo que se produziu:
-
Quereis responder? perguntou-se ao Espírito invocado.
-
Sim, mas é necessário que eu tenha um triângulo de madeira.
*
-
Nós não o temos.
-
Sim! já fabriquei um que encontrareis na cozinha.
E,
com efeito, em uma caçarola descobriu-se um triângulo de madeira, feito com uma
precisão extraordinária; nos ângulos, os pregos haviam sido nitidamente
cortados ao meio.
Com
a idade de cerca de 10 anos, Alfredo deixou o pensionato para voltar ao seio de
sua família. Então, tiveram lugar novos fenômenos, a que foram sujeitos esse
menino e seu pequeno irmão Paulo, de 8 anos de idade.
Achavam-se
os dois meninos, um dia, em Ruvo, às 9 horas da manhã; às 9 1/2 horas, sem saber
como nem porquê. Eles se achavam em Molfetta, diante do convento dos
Capuchinhos.
-
Um outro dia, cerca de meio dia e meio, a família dos Pansini se preparava para
o jantar; mandou-se o pequeno Paulo comprar vinho. Meia hora se passou sem que
o menino voltasse; depois, ao fim desse tempo, seu irmão Alfredo desapareceu
também instantaneamente. A uma hora os dois garotos se encontravam no mar, em
uma barca, perto de Barbetta, dirigindo-se para Trinitápoli. Espantados,
puseram-se a chorar de tal modo que o patrão da barca, que dizia ter sido pago
por um desconhecido para os conduzir, voltou as velas e os conduziu para terra.
Um trabalhador, que os encontrou ao desembarque, ofereceu-se para reconduzi-los
até Ruvo, onde chegaram nesse mesmo dia, cerca de 3 1/2 horas.
Nos
dias seguintes, sempre da mesma maneira, instantânea e Inexplicavelmente, os
dois meninos eram transportados, ora a Bisceglie, a Giosvinazzo, ora a Mariotta
e Terlizzi; eram reconduzidos a Ruvo, desses diversos lugares, por amigos de
sua família ou por ordem das autoridades locais.
Certo
dia, à uma hora e trinta e cinco minutos da tarde, os dois meninos se achavam
na praça de Ruvo; à uma hora e três quartos, dez minutos depois, eles estavam
em Trani, diante da porta da residência de um dos seus tios, M. Jeronymo
Maggiore. Alfredo se encontrava em estado de hipnose. Interrogado, respondeu
precisamente a toda sorte de questões difíceis, em presença de numerosas
testemunhas.
Entre
outras coisas, anunciou que não poderia absolutamente regressar a Ruvo no dia
seguinte, como se havia projetado, mas somente ao fim de 15 dias. No dia
seguinte, o cavalo dos Maggiore se encontrava doente; a tia dos meninos alugou
um outro cavalo para reconduzir seus sobrinhos a Ruvo. Mas os garotos, apenas
restituídos aos seus pais, desapareceram novamente e, novamente, alguns minutos
depois, apareciam em Trani. Remetidos a Ruvo, desapareceram uma terceira vez e,
dessa vez, foram transportados a Bisceglie. Aí, as autoridades, renunciando a
lutar contra forças superiores, os conduziram a Trani, onde aguardaram a expiração
dos 15 dias fixados. .
Preocupada
com esses fatos, a mãe dos dois meninos dirigiu-se com eles para a residência
do bispo Berardi, Implorando que fizesse readmitir Alfredo ao pequeno
seminário. Enquanto o bispo e a mãe conversavam, estando todas as portas fechadas,
os dois garotos desapareceram, uma vez mais, instantaneamente.
A
maior parte desses fenômenos singulares nos foi confirmada, como já dissemos,
por numerosos testemunhos; e o bispo Berardi teve a amabilidade de me enviar
uma relação completa escrita pelo próprio Alfredo Pansini."
Não
resta a menor dúvida de que os fatos acima narrados no livro do Dr. José
Lapponi revelam fenômenos extraordinários e desconcertantes. Eles podem,
realmente, assombrar e fazer tremer os descrentes. Mas os espíritas, que
conhecem, estudam e observam a atividade do mundo invisível, encontram em fatos
semelhantes farta messe de ensinamentos e de advertências, sem temor do
demônio...
E
Lapponi, afinal, pergunta: - Temos necessidade de acrescentar que, no caso desses
dois irmãos, o fato mais surpreendente e mais inexplicável é a transladação
instantânea, ou, pelo menos, muito rápida, dos corpos dos dois garotos a
distâncias de vários quilômetros?
O Dr. José Lapponi,
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 4
por
Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Junho
1944
Continuando
nas suas narrativas, no Capítulo III do seu livro “O Hipnotismo e o
Espiritismo", Lapponi, em resumo, descreve e passa em revista os fatos
que, comumente, ocorrem nas sessões espíritas, dando-os como reais e incontestáveis,
através de testemunhos, cuja credibilidade não pode ser posta em dúvida.
Assim,
entre outras referências aos fatos que ocorrem nessas sessões, Lapponi faz a
seguinte: - "De repente, com surpresa extrema dos assistentes, a pessoa do
médium parece desmesuradamente aumentada ou desmesuradamente diminuída, e
sempre sem nenhuma dissonância nas proporções. Essa mudança de porte persiste
até que todos os assistentes a tenham podido verificar apalpando ou medindo.
Depois, assenta-se o médium em uma cadeira ou em uma mesa; a seguir vê-se que ele
começa a elevar-se lentamente até tocar com a cabeça o teto da sala. Uma
auréola luminosa envolve sua cabeça ou toda sua pessoa. Assim permanece em
equilíbrio no ar, durante oito ou dez minutos; depois, lentamente ou
violentamente, o móvel que o mantém o leva para uma das janelas da sala. À sua
aproximação, a janela se abre espontaneamente; o médium passa, transporta-se
para fora e, em seguida, torna a entrar, a vista de todos, por uma outra
janela, que, do mesmo modo, espontaneamente, se abre à sua passagem. O fato se
renova diversas vezes com algumas modificações de detalhes.
Enquanto
o espectador maravilhado contempla esses prodígios, as luzes se reacendem
espontaneamente, e cada um sente perpassar-lhe pelo corpo um sopro frio ou
quente. Um vento estranho entra pelas fendas das vestes e ora intumesce as
mangas, ora os bolsos ou as pernas das calças, como se quisesse envolver inteiramente
a pessoa. Ao mesmo tempo, mãos invisíveis surgem, agitam-se, suspendem com
insistência as vestes dos assistentes; a um tomam o relógio, a outro o lenço; e
esses diversos objetos são encontrados, em seguida, nos bolsos de outros
assistentes, na extremidade oposta da sala. Do mesmo modo, outras mãos
invisíveis apertam as mãos das pessoas presentes, apalpam-lhes os braços, as
espáduas, as pernas, os joelhos; a um fazem uma carícia, a outro puxam a barba
ou os cabelos; lançam por terra o chapéu de um, mancham o rosto e as mãos de
outro com matérias corantes, bocas invisíveis distribuem beijos que deixam sua
impressão no lugar tocado; e a sensação desses beijos ora é agradável, ora infecta
e repugnante.
Para
certas pessoas, os autores misteriosos dessas maravilhas mostram uma simpatia
especial; essas pessoas, de repente, veem cair sobre seus joelhos buquês de flores,
caixas de bombons e outros presentes diversos, de procedência desconhecida.
Senhoras que haviam começado um trabalho delicado o encontram, de repente,
inteiramente terminado.
Fastidiosa,
sem dúvida, seria a transcrição de todos os fenômenos apontados por Lapponi e
que ocorrem comumente nas sessões espíritas. O que nos importa é a sua opinião
insuspeita como médico, como escritor e como católico.
Curioso
é, porém, que ele próprio se antecipa às críticas ligeiras dos incrédulos, que
são as mesmas, que, normalmente se fazem aos espíritas, quando esses apresentam
e observam casos semelhantes do espiritismo experimental ou científico.
"Perguntaram-me,
algumas vezes, diz Lapponi, se eu mesmo, pessoalmente, cheguei a verificar a
realidade e a exatidão dos fatos maravilhosos que acabo de descrever. Com toda
a franqueza, tenho sido obrigado a responder negativamente, pois o fato é que
nunca encontrei oportunidade e nem ocasião de proceder ao exame sério dos
fenômenos do espiritismo, com as indispensáveis precauções, com o auxílio das
pessoas e dos aparelhamentos necessários.
Mas
espero que a minha falta de experiência pessoal em nada diminua a realidade dos
fatos referidos, nem a exatidão das narrativas que me têm sido dadas; da mesma
maneira que minha falta de experiência pessoal em nada diminui ou afeta a
existência real do Estreito de Magalhães, do Istmo de Panamá e dos Bancos da
Terra-Nova; ou, ainda, da mesma maneira que a autenticidade das descrições
médicas de certas doenças peculiares aos trópicos em nada fica diminuída pela
circunstância de nunca ter tido eu mesmo a oportunidade de estudar essas
doenças ..
De
resto, para aqueles que querem deliberadamente e a todo preço que o Espiritismo
seja uma fábula, é e deve ser indiferente que eu tenha ou não pessoalmente
observado os fatos em questão; num e noutro caso nada haverá que os faça
admitir.
Se
eu declaro não ter nunca, pessoalmente, observado esses fatos, os seus
negadores concluirão, uma vez mais, que esses fatos não existem e zombarão,
além disso, da credibilidade incompreensível com que aceito as referências e os
testemunhos de outras pessoas, ainda que sejam dignas de toda confiança e que a
sua competência seja indiscutível. Se, de outro lado, eu tivesse reconhecido
que me havia sido dado pessoalmente constatar, verificar, controlar e estudar
os fatos a que me tenho referido, os mesmos céticos não deixariam absolutamente
de zombar do mesmo modo, dizendo que, eu também, depois de tantos outros, me
fiz iludir ou me deixei enganar grosseiramente.
Contra
as ideias preconcebidas e a obstinação desses negadores a priori, que valor
poderiam ter nossas afirmativas e nossos testemunhos? Somente eles, esses
homens superiores, em presença de certos fatos inexplicáveis para o resto dos
homens, teriam sabido descobrir o segredo da impostura! A todos os outros as ciladas poderão
ser armadas; somente eles terão sempre estatura e engenho para frustra-las!"
Nesse
particular, Lapponi tem toda a razão.
Por
isso mesmo, William Crookes, ainda hoje vítima de semelhantes remoques,
pergunta: - Rejeitar superficialmente o testemunho de homens, que, pela sua
profissão, são encarregados de examinar os fatos e de apresentar o seu
resultado, não equivale a depreciar todo o testemunho humano, de qualquer peso
que possa ser?
O Dr. José Lapponi,
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 5
por
Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Julho
1944
Já
vimos nos artigos anteriores que Lapponi nenhuma dúvida tem sobre a existência
real dos fenômenos espíritas, excluindo, como excluiu, a hipótese de ilusões ou
alucinações, tal a respeitabilidade dos testemunhos invocados.
Por
igual, exclui a possibilidade da fraude e do embuste quando os fatos são
controlados por pessoas de absoluta idoneidade e reconhecida competência,
embora admitindo, como, aliás, os próprios espíritas admitem, em muitos casos,
a impostura e a mistificação. Como quer que seja, são interessantes e judiciosas
as considerações de Lapponi sobre o capítulo das fraudes no Espiritismo. Não
podemos furtar-nos ao desejo de transcrevê-las.
"Depois,
é preciso observar que todas as relações publicadas sobre as famosas
descobertas das fraudes de certos médiuns não concernem nunca senão a algumas
das numerosas experiências desses médiuns; de todo o restante, as referências
não adiantam uma só palavra. Ainda não é tudo: as explicações que nos dão
dessas fraudes são, as mais das vezes, muito insuficientes, indicando-nos, como
sendo causa dos fenômenos espíritas, toda sorte de processos absolutamente
incapazes de produzirem esses fenômenos. Assim, para citar um só exemplo,
nenhum dos relatórios publicados nos permite compreender como Eusápia Paladino,
sem nenhum aparelho, e enquanto era segura pelas mãos e pelos pés, estendida sobre
um divã, pode, em presença da Sociedade Inglesa de Pesquisas Psíquicas, fazer
tocar diversos instrumentos, beliscar as pessoas na outra extremidade de uma
sala, sacudir as cortinas das janelas, ou erguer móveis muito pesados,
fenômenos todos que foram atestados pelos escritores ingleses negadores do
Espiritismo. Esses escritores disseram somente que Eusápia,
por uma rápida contorção de uma de suas mãos e de um dos seus pés, conseguia
fazer crer às pessoas que o seguravam que tinha as duas mãos e os dois pés
presos, quando, na realidade, essas pessoas não lhe seguravam senão uma das
mãos e um dos pés. Não é verossímil, em verdade, que ela tenha feito cair em
tão grosseira cilada pessoas assaz prudente e avisadas como as que se achavam
presentes; admitindo-se mesmo que ela o tivesse conseguido, tendo
à sua disposição apenas uma das mãos e um dos pés, é impossível, para produzir
as coisas surpreendentes que produziu, que a liberdade de uma das mãos e de um
dos pés lhe fosse suficiente. Para produzir esses prodígios, por si só, teria
sido necessário que ela dispusesse de cem braços de Briareu, ou que, pelo
menos, seus membros pudessem, alternativamente, alongar-se e encolher-se como
os tentáculos do polvo... Que confiança podemos depositar, nessas condições, em
certas demonstrações de descobertas de fraudes?
De
resto, há fenômenos espíritas devidamente verificados e que não poderiam ser
reproduzidos por nenhum artifício de prestidigitação ou por nenhuma fraude. Um
prestidigitador francês dos mais hábeis, M. J., declarou formalmente que lhe
era impossível conceber que a destreza, a habilidade e o engenho, mesmo levados
aos seus últimos limites, pudessem, realizar vários dos efeitos maravilhosos do
espiritismo. E M. Bellachini, prestidigitador da corte de Berlim, por
sua vez, declara que é absolutamente insensato sustentar que a arte de
prestidigitação pode realizar com êxito uma grande parte dos fenômenos
espíritas.
Acrescentemos,
ainda, que, embora muito se tenha falado da possibilidade de reproduzir por
meio dos artifícios da prestidigitação, os fenômenos espíritas, ninguém jamais
indicou quais possam ser esses artifícios. Mas, por outro lado, é crível que,
entre tantas pessoas iniciadas nos mistérios do Espiritismo, nenhuma tenha
sentido um desgosto por tantas trapaças e não tenha tido nunca a tentação de
tudo revelar ao público? É crível que nenhum desses numerosos iniciados não
tenha imaginado que tais revelações poderiam proporcionar-lhe uma boa fonte de
rendas, ou, se isso pensaram, é crível que tenham afastado a tentação de ganhar
assim, honestamente, dinheiro, em lugar de continuar a ganhá-lo vergonhosamente
pela fraude? Recentemente, personagens como Léo Taxil, Margiotta e outros, para
ganhar dinheiro, não tiveram temor de praticar enormes trapaças, oferecendo ao
público paciente, pretendidas revelações sobre os mistérios do
franco-maçonaria. Como nenhum desses que estão ao corrente dos segredos e das
fraudes espíritas não pensou, de modo algum, em fazer revelações sinceras que
lhe teriam valido infalivelmente, não somente o renome e o dinheiro, mas a
aprovação de todas
as pessoas
honestas? E depois, enfim, é crível que as numerosas pessoas que se entregam às
práticas espíritas na intimidade, em família, é crível que essas pessoas
queiram, enganar-se a si mesmas, recorrendo a mecanismos e artifícios, para
obter efeitos que elas atribuem aos espíritos, embora saibam que esses efeitos
são o produto da sua vontade, obtidos por meio de expedientes que não têm nada
de misteriosos e nem de sobrenatural? É crível que essas pessoas, quando
desejam interrogar, respeitosamente, o espírito de um parente ou de um amigo,
consintam em zombar delas mesmas com essas respostas confusas, estúpidas,
grosseiras, obscenas e fora de propósito, que, segundo a afirmação de todos os
espíritas, se misturam muitas vezes com as respostas sérias dos pretensos
espíritos? Isso me parece tão absurdo que essa única consideração me bastaria
para afirmar que não é absolutamente possível obter todos os fenômenos do
Espiritismo pelos simples produto da trapaça, das fraudes dos médiuns e dos
seus comparsas".
Na
verdade, essas perguntas e essas indagações de Lapponi revestem-se de bom senso
e de critério, por isso que passaram pelo crivo da boa razão, da lógica e da
análise serena dos fatos.
Mas
Lapponi, como veremos a seguir, não se deteve nessas considerações para afastar
a hipótese do embuste, da trapaça e das fraudes.
O Dr.
José Lapponi,
Médico dos Papas
Leão XII e Pio X, e o Espiritismo –
Parte 6
por
Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador
(FEB) Agosto 1944
Como
vimos, no artigo anterior, Lapponi analisa à luz dá razão e da lógica os fatos
do Espiritismo, para excluir a hipótese de manobras fraudulentas e de artifícios
usados pelos prestigitadores.
Prosseguimos
hoje transcrevendo, ainda, judiciosos trechos de sua obra, em que Lapponi
responde magistralmente às críticas dos contraditores do Espiritismo.
"Quanto às mesas girantes, diz Lapponi, os
negadores do Espiritismo admitem que, entre as pessoas que formam a cadeia mediúnica, sempre se encontra
pelo menos uma que, em consequência da atenção prolongada que se impôs, do vivo
desejo de ver realizado o fenômeno, cai, pelo menos momentaneamente, em estado
de hipnose. Nesse estado, sem a consciência dos seus atos, e sem pensar em nada
mais senão na sua ideia fixa da rotação o móvel, ela imprime inconscientemente
ao móvel o movimento esperado, com essa força considerável que adquirem muitas
vezes os indivíduos hipnotizados. Depois, ao passo que o móvel começa a
movimentar-se, as outras pessoas que formam a cadeia, inconscientemente também,
ajudam o movimento, acreditando acompanhá-lo. Entretanto, a pessoa que foi a
causa involuntária do fenômeno não tarda em readquirir sua consciência e, não
tendo nenhuma lembrança do ato realizado por ela em estado de hipnose, ignora
que foi ela mesma que pôs a mesa em movimento e, com a melhor boa-fé do mundo,
rejeita toda acusação de ardil ou artifício que se faz contra ela e o médium.
Assim,
esses fenômenos das mesas girantes não seriam nada mais, segundo certos sábios,
do que manobras involuntárias e inconscientes, mas, de qualquer maneira,
manobras.
Foi
a essas conclusões que chegou, em um relatório apresentado em março de 1876 à
Sociedade de Física da Universidade de São Petersburgo, uma comissão nomeada
por essa sociedade para examinar e explicar os fenômenos espíritas. Depois de
ter negado a realidade de um grande número dos fenômenos descritos pelos espíritas,
a comissão explicou outros pelas ilusões, alucinações ou pelos artifícios da
prestidigitação; para alguns outros, ela admitiu a possibilidade de uma
impostura involuntária e inconsciente; e para as mesas girantes, em particular,
ela adotou a explicação a que já nos referimos.
Mas
podemos nós aceitar plenamente esse veredito decretado por uma reunião de
homens de alto valor e infinitamente respeitáveis em todos os sentidos? A eu
ver, não podemos. Não podemos esquecer, principio, que conclusões negativas do
mesmo gênero foram proclamadas, antes, pelas mais altas personalidades
científicas, quando entraram a examinar a realidade, hoje absolutamente incontestável,
dos fenômenos hipnóticos.
No
que concerne os fenômenos espíritas, parece-nos manifesto que, se mais de uma
vez, e sobretudo em certos casos em que esses fenômenos tiveram um caráter de
exibição espetacular, foram produzidos por meio de artifícios de
prestidigitação mais u menos hábeis, isso não basta absolutamente "ara que
sejamos autorizados a concluir que deve ser o mesmo, indistintamente, em todos
casos. Não é, porventura, uma fatalidade da coisas humanas, que em tudo se
mistura sempre uma parte de ilusão e uma parte de fraude? A própria medicina
tem os seus charlatães; a Ciência tem os seus falsos apóstolos; os bancos veem seus
títulos de crédito muitas vezes falsificadas. Mas, porque em tudo isso se
verificam alterações da verdade, deveremos concluir que tudo mais é falso? Uma
dedução desse gênero seria tanto mais ilógica e inadmissível, sobre a questão
do Espiritismo, quanto é certo que, em um grande número de casos, os fenômenos
espíritas se produzem por meio de médiuns ignorantes, ingênuos, e, às vezes de
uma imbecilidade evidente.
E
que, se entre aqueles que se têm ocupado do Espiritismo, alguns procuraram
tirar um proveito material, ou transformar as experiências em um recreio de
sociedade para surpreender os espectadores, é bem certo que não se poderia
afirmar a mesma coisa da maioria desses milhões de pessoas que praticam hoje
familiarmente o Espiritismo e que o têm sinceramente por uma manifestação
venerada e sagrada.
Para
estabelecer essa afirmação, bastar-nos-á lembrar que até aqui ninguém ousou
tratar de trapaças os fenômenos espíritas observados.
O Dr.
José Lapponi,
Médico dos Papas
Leão XII e Pio X, e o Espiritismo –
Parte 7
por
Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador
(FEB) Setembro 1944
Lapponi,
como se viu no artigo anterior, criticou com extrema veemência as conclusões do
relatório da comissão de sábios, nomeada pela Sociedade de Física da Universidade
de Petersburgo, achando-as pueris e indignas daqueles que a formularam.
Prosseguindo,
com a mesma franqueza e com o mesmo vigor de linguagem, Lapponi acrescenta
outras considerações oportunas e sensatas:
"As
conclusões da comissão nomeada pela Sociedade de Física da Universidade de
Petersburgo, por último, não nos parece que, possam verdadeiramente ser tomadas
a sério, atendendo-se a que, a princípio, as experiências de que elas resultaram
foram praticadas com prevenções abertamente hostis contra dois sábios, Wagner e
Butlerof, que se haviam declarado adeptos do Espiritismo; atendendo-se a que,
em segundo lugar, os médiuns escolhidos não eram muito desenvolvidos e nem
mesmo de uma lealdade indubitável; atendendo-se a que, em terceiro lugar, as
experiências não foram executadas nas formas e dentro de um tempo razoável -
tendo a comissão renunciado a prosseguir, após o insucesso das primeiras
provas; e atendendo-se a que, finalmente, contra essas experiências e suas conclusões,
surgiram imediatamente enérgicos protestos da parte de numerosos sábios, dos
quais muitos, como V. Markof, eram opostos ao Espiritismo, protestos esses que
a comissão deixou sem a sombra de uma resposta.
Às
explicações acima apontadas, devemos acrescentar a que se pretendeu dar às
comunicações escritas dos Espíritos. Asseverou-se que um estado inconsciente de
hipnose poderia explicar certas comunicações escritas, em caracteres
diferentes, pela mão de um mesmo médium. A substituição da personalidade,
operada pela sugestão, afirmou-se, pode muito bem mudar a maneira de escrever,
como muda, muitas vezes, a maneira de falar. Charcot citou um caso de escrita
inconsciente em estado de hipnose. E a mesma explicação foi invocada para
interpretar o caso dessas escritas que certos médiuns têm encontrado sobre folhas
de papel, em branco, que haviam encerrado dentro de uma gaveta. Pretendeu-se
que esses médiuns haviam, eles próprios, sem nenhuma percepção, escrito sobre
as folhas, em um acesso de sonambulismo.
Responderemos,
inicialmente, que a hipótese de escrita inconsciente não se aplica aos casos,
assaz frequentes, em que os escritos espíritas contém noções ignoradas dos
médiuns; por exemplo, quando os médiuns notoriamente analfabetos escrevem
páginas inteiras em línguas que lhes são desconhecidas.
Mas,
de resto, de que valor podem ser essas hipóteses de um estado hipnótico, ou,
ainda, de uma trapaça voluntária, quando se verifica, em presença de vinte
pessoas, um pedaço de giz que se move por si mesmo, ou o bastãozinho que, sem
que ninguém o segure, escreve sobre a areia, ou, ainda, uma ardósia que,
colocada entre duas placas de mármore ou de cristal se cobre de escritos, certo
de que ninguém aí pôs a mão? De que valor podem ser essas hipóteses para explicar
escritas produzidas por duas pessoas distantes uma da outra, escritas que, cada
uma, insuladamente, não parece ter nenhum sentido e que, entre si confrontadas,
se completam da melhor maneira deste mundo?
Enfim,
se, entre os fatos inumeráveis do Espiritismo, muitos se prestam para a
hipótese sugerida de ser o produto da trapaça ou de qualquer fenômeno fisiológico
involuntário e inconsciente, outros há, e de uma realidade incontestável, que
não poderiam ser explicados por nenhum ardil, por nenhuma arte e por nenhuma ciência.
Esses
fatos, seguramente, não são muito numerosos. São, até mesmo, raros,
proporcionalmente ao número de pessoas que se entregam à prática do
Espiritismo, embora não se encontrem sempre médiuns verdadeiros e sérios. Esses
fatos, talvez, não representam senão uma parte muito pequena dos fenômenos que
se quer atribuir ao Espiritismo. Levemos ao limite extremo as nossas concessões
aos cépticos; concordemos que, entre os prodígios operados por meio dos médiuns
verdadeiros, conscienciosos e de boa fé, mesmo nas circunstâncias mais
favoráveis, apenas a décima ou mesmo a vigésima parte provêm realmente dos Espíritos.
Mas a questão do número, aqui, não poderia ter nenhuma Influência sobre a
questão da natureza dos fenômenos espíritas. Mesmo que não houvesse ocorrido
senão um único fenômeno espírita original e autêntico, a verificação desse
único fenômeno bastaria para deixar em aberto o problema da sua natureza e da
sua origem. Ora, eu afirmo que a crítica moderna mais severa, aquela que hoje é
denominada de hipercrítica, não pode negar a existência de um certo número, por
pequeno que seja, de verdadeiros fenômenos espíritas, a menos que ela recuse ser
lógica e sincera, de acordo com os seus métodos gerais de investigação, a menos
que prefira fechar os olhos à plena luz do Sol.
E
são precisamente esses fatos autênticos, tão raros e pouco numerosos, conforme
se queira, que constituem o Espiritismo moderno e que exigem examinemos o
problema de sua natureza.
Pelo
que concerne à natureza desses fenômenos, a Ciência constrange-se em declarar
que não somente eles são superiores, mas também absolutamente contrários às
leis mais gerais e mais conhecidas da natureza cósmica. Com efeito, a predição
exata de certos acontecimentos futuros, estranhos à personalidade que prediz e
dependendo de fatos eminentemente contingentes; a reprodução exata da letra de
pessoas há muito tempo falecidas, reprodução obtida sem ensaio e sem preliminar
preparação; a revelação dos detalhes de um fato, detalhes inteiramente
desconhecidos das pessoas então se ignorava e que se volta a
ignorar com a terminação do acesso; a propriedade de locomoção automática que,
imprevistamente, adquirem por algum tempo os móveis de uma sala; as mudanças
repentinas de peso que sofrem temporariamente os objetos; a produção de clarões,
faíscas, sons, sem o auxílio de aparelhos geradores de qualquer espécie; a
elevação espontânea de corpos, não obstante seu grande peso, e a propriedade de
que eles se revestem, inclinando-se e mantendo-se em posição inclinada, fora do
centro ordinário de gravidade estática. Todos esses fatos cuja existência real
foi observada, pelo menos uma vez, em condições de autenticidade indubitável,
todos esses fatos são tais que não há um homem de bom senso que não seja forçado
a considerá-los não somente como superiores, mas também como contrários às leis
mais comuns da natureza biológica, psicológica ou física.
Resulta
daí a consequência de que, nos fenômenos espíritas e somos obrigados a ver
manifestações de ordem preternatural. Em vão pretenderíamos negar a priori, em
vão tentaríamos combater a posteriori esse caráter anormal dos fatos do
Espiritismo; expulso pela porta, ele entra pela janela. Poder-se-á, se se
quiser, restringir seu campo de ação, mas nunca suprimi-lo inteiramente. O
sobrenatural, em verdade, mesmo, quando o negamos por palavras, sempre o
sentimos em nós, em volta de nós, acima de nós, de todos os lados. O
Espiritismo nos demonstra, da forma mais incontestável que se possa desejar, a
realidade desse sobrenatural que o racionalismo e o materialismo se esforçam,
obstinadamente, desde séculos, mas sempre em vão, por afastar e exterminar. E,
- humilhação singular infligida ao orgulho humano pela justiça divina! - eis
que os mais assíduos combatentes do sobrenatural sob sua forma bela e nobre,
nas casas da religião, estão entre os primeiros a reconhecê-lo, sob sua forma
mais baixa e mais abjeta, nos fenômenos do Espiritismo."
O Dr. José Lapponi,
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 8
por
Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Setembro
1944
Como
verificamos, Lapponi admite, sem reservas, o fenômeno espírita, mas não o
concebe como resultante de uma lei natural, contrariamente à doutrina espírita,
que baniu definitivamente das suas concepções a ideia do sobrenatural.
Mas
não é nosso objetivo, e nem cabe no âmbito desta publicação, estabelecer um
debate em torno da natureza da fenomenologia espírita. Bastará que se afirme
que o próprio Lapponi transcreve a opinião de William Crookes, mais consentânea
com a verdade, segundo a qual, a solução do problema se encontra numa ideia
semelhante a que já havia enunciado Santo Agostinho relativa aos milagres,
quando dizia que esses se realizam, não contrariamente às leis da Natureza, mas
contrariamente ao conhecimento que temos e podemos ter dessas leis.
Como
quer que seja, o que cumpre assinalar é que o Dr. José Lapponi, professor,
escritor, médico dos papas Leão XIII e Pio X, admite a realidade do fenômeno
espírita, repelindo a crítica ligeira dos sábios, que só viram nele o resultado
de ardis, manobras fraudulentas, trapaças, embustes, espertezas, ou o fruto de
ilusões e alucinações.
Lamentavelmente,
porém, depois de ter chegado a tão seguras conclusões, eis que, valendo-se dos
mesmos cediços e velhos argumentos, tantas vezes destruídos, entra Lapponi a
condenar a prática espírita por atentar contra a saúde e a moral social.
"Nunca,
pois, o Espiritismo, diz ele, na prática, poderia ser justificado, sob qualquer
pretexto que fosse, em relação à sociedade, à moral e ao bem-estar individual.
A
única coisa que, em dadas circunstâncias, poderia ser permitida, seria um
estudo daquelas manifestações espíritas que se apresentam espontaneamente e,
ainda, sob a condição de que esse estudo fosse feito por pessoas de reconhecida
competência, com as autorizações e precauções necessárias. Em casos especiais e
mediante as mesmas condições, poderia ser permitido, também, a um sábio de
reconhecida competência estudar as manifestações provocadas do Espiritismo para
constatar se certos fatos existem realmente, em que medida eles podem ser
aceitos e por que meios podem ser distinguidos das fraudes."
Sem
nenhuma irreverência, mas tendo em vista tudo quanto transcrevemos, no sentido
de expor a maneira franca, vigorosa e brilhante com que aceitou a existência do
fenômeno espírita - somos obrigados a reconhecer que, nesse particular, o
ilustre médico dos papas, foi presa fácil do temor reverencial...
Na
verdade, essa conclusão não se coaduna com as premissas tão clara e
minuciosamente expostas, tanto mais quanto ela incorreu na mesma censura do seu
autor, quando advertiu que não se pode a priori, sem estudar e analisar a
natureza das coisas, opinar pela sua inexistência ou estabelecer hipóteses
inverossímeis e inaceitáveis.
Já
está desmoralizado o argumento de que o Espiritismo é uma fábrica de loucos.
Essa afirmação, tão do agrado dos que tudo observam pela rama, sem penetrar a
fundo no estudo dos problemas, tanto poderá ser verdadeira para o Espiritismo,
para qualquer religião, para a Medicina, para a Ciência em geral, como para todas
e quaisquer atividades do espírito, máxime as de ordem moral e intelectual.
Mande-se
um condutor de veículos por tração animal dirigir de improviso um outro de
motor de explosão. Coloque-se um ignorante dentro de um laboratório com ordem
de manipular as substâncias químicas ai existentes. Entregue-se a um leigo o
bisturi para realizar uma operação cirúrgica. Coloque-se um inepto a trabalhar
dentro de uma fábrica de explosivos. Faça-se guindar à cátedra um imbecil
sensualizado. Em todos esses casos, estaremos diante de um perigo potencial e
mesmo real para o indivíduo e para a sociedade.
Significa
isso que para toda e qualquer atividade ou função especializada, há
necessidade, igualmente, de aptidões especializadas. O perigo acompanha a
criatura humana desde o início da vida. A acompanhar essa lógica estrábica,
teríamos que concluir vitoriosamente pela supressão da própria criatura humana.
Mas,
ninguém melhor do que os próprios espíritas têm, reiterada e insistentemente,
advertido os curiosos, que se entregam à experimentação sem as cautelas
necessárias de que se devem cercar, dos sérios perigos a que se expõem.
Todos
os escritores espíritas clamam energicamente nesse sentido. Não se pode,
observa Denis, contestar que o Espiritismo ofereça perigos aos imprudentes que,
sem estudos prévios, sem preparo, sem método nem proteção eficaz, se entregam
às investigações ocultas.
"Nenhum
progresso, acrescenta Denis, nenhuma descoberta se efetua sem perigos. Se
ninguém tivesse, desde a origem dos tempos, ousado aventurar-se no oceano,
porque a navegação é arriscada, que teria daí resultado? A Humanidade,
fragmentada em diversas famílias, permaneceria insulada nos continentes e teria
perdido todo o proveito que aufere das viagens e permutas. O mundo invisível é
também um vasto e profundo oceano semeado de escolhos, mas repleto de vida e de
riqueza."
Custa
a crer que Lapponi, que viu nesse mundo os fatos a que chamou de
"prodígios do Espiritismo", concluísse sinceramente pela condenação
das experimentações mediúnicas, o que vale dizer, pela supressão definitiva desses
prodígios, sob fundamento de um perigo presumido.
Valemo-nos,
para tanto afirmar, das próprias considerações de Lapponi, quando revelou que
dos numerosos sábios que pesquisaram o fenômeno e que se tornaram adeptos
fervorosos do Espiritismo, não consta um só que tenha perdido a sabedoria e que
se tenha tornado louco.
Pena
é, portanto, que tendo chegado às portas desse deslumbrante palácio, onde
anteviu, maravilhado, o prodígio das coisas interiores, recuasse diante desses
jorros de luz, como se tivesse feridos os olhos, sem conhecer toda a verdade,
todos os recantos admiráveis e majestosos.
Se
tivesse penetrado nesse templo; tomando contato com esse novo mundo e
conhecendo todos os seus ensinamentos, não afirmaria que somente poderia ser
tolerada a manifestação espontânea dos Espíritos, como se fosse possível
prescrever-lhes uma disciplina, determinar-lhes uma ordem e impor-lhes uma
condição ou proibir-lhes as manifestações.
Por
igual, teria verificado que as manifestações espontâneas, que poder algum
humano poderia evitar ou vedar, deveriam ser consideradas mais perigosas do que
as provocadas, porque essas últimas, em regra, são realizadas pelos iniciados
com as cautelas necessárias, e aquelas, pelo imprevisto com que surgem, chocam
profundamente, máxime aos descrentes e aos ignorantes do Espiritismo.
Mas
o que é curioso e singular é que Lapponi, ele próprio, que endossa e faz
reviver essas acusações, reconhece e proclama a sua inanidade, observando o mau
vezo dos negadores do Espiritismo, quando afirmou, como vimos, que "os
cépticos não deixariam de zombar do mesmo modo, dizendo que eu também, depois
de tantos outros, me fiz iludir ou me deixei enganar grosseiramente."
Procuremos
distinguir, portanto, no estudo médico crítico de Lapponi, o que o sábio
analisou à luz da razão e da Ciência daquilo que concluiu como católico,
escravizado às conveniências das suas falsas concepções dogmáticas.
As
palavras finais da sua apreciada obra bem o revelam através da transcrição do conselho
de Dante:
"Não sede como uma pluma que
flutua a todos os ventos e não crede que toda água nos possa lavar! Tendes o
Antigo e o Novo Testamento, tendes o Pastor da Igreja, que vela sobre vós: que
isso vos baste para a vossa salvação!"
Deus,
do alto da sua divindade, terá sorrido bondosamente...
Aí
cessou o raciocínio, aí não interveio a lógica, aí desapareceu a Ciência, aí
não falou o sábio, ai surgiu, finalmente, o dogma!
Deus
não delegou a nenhum homem a sua onipotência e a sua representação na Terra, o
que seria uma evidente contradição, tanto mais quanto essa delegação é feita
por eleição dos concílios, também de homens, à sua revelia...
Oh
plumas que flutuais aos ventos das conveniências humanas! Não crede, realmente,
que toda água nos possa lavar, mas só a que jorra límpida, cristalina, luminosa
e perenemente da fonte pura! Acima da falibilidade humana está o poder supremo.
Digamos, pois, que Deus vela sobre nós e nele está a nossa salvação.