Pesquisar este blog

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Do berço ao túmulo


Do berço ao túmulo
por Nicolás Reyes Esquivel
Reformador (FEB) Maio 1954

Berço, Túmulo, dois extremos da vida.

O Berço é ave mensageira de plumagens brancas, que traz um companheiro para vida.

O Berço é para o mortal, alegria, entusiasmo, dia de festa para os que esperam, e que não sabem se o que chega é enfermo da alma, criminoso com todas as agravantes humanas e divinas, ou acrisolada virtude em alma pura, com importante missão a cumprir junto dos homens. Os que esperam sabem somente que é a inocência: sua pequenez, seus movimentos, seus gemidos, seus instintos de conservação, seus olhares puros e outros mil pormenores próprios da criança, de um ser indefeso, envolto em fraldas - sejam elas de algodão ou de seda - dizem-nos apenas que é nosso filho, um irmão, parente ou amigo e ao qual nos cabe prodigalizar os cuidados necessários.

O recém-chegado é inconsciente. Está aturdido. Para ele não há explicação possível: revela sua presença apenas por um gemido doloroso - o mais cruel – depois, muitos outros gemidos, dolentes. A um Espírito livre que se tornou prisioneiro, preso pelos laços de sua vestidura carnal, tudo se lhe obscurece. A partir desse momento ele sofre o tormento da vida.

Viver para tornar a morrer e progredir sempre (Tal é a Lei), disse um filósofo. Ele viveu nos espaços siderais, contemplou mundos de luz e de trevas; viu suas humanidades e não ignora que as há selvagens e também infinitamente sábias. Quanto mais evolvido, melhor conhece esse laboratório infinito da vida espiritual. Hoje, porém, que baixou à prisão, hoje que se tornou preciso morrer, nas alturas, para seguir sempre adiante, ele não sabe nada. Um véu denso, terrível, espantoso, mais terrível e espantoso que o sepulcro, o envolve por todos os lados circunscrevendo-o aos cinco miseráveis sentidos focos imperfeitos e deficientes, quando comparados com os psíquicos da vida espiritual. E ainda mais: pode vir mudo, surdo-mudo ou carente de todos os sentidos. Pode vir louco.

Não obstante, sentimo-nos satisfeitos com a sua chegada, desde que as condições se mostrem favoráveis, ou profundamente entristecidos se nos chega organicamente atrofiado. Nada sabemos a respeito de sua alma, unicamente que é um inocente. Doloroso seria, querido irmão, caso pudéssemos adivinhar qual o valor espiritual que este viajante desconhecido traz à Terra!

Talvez haja embarcado para fazer uma viagem neste mundo. Ela, porém, é tão perigosa! O caminho a percorrer está juncado de obstáculos, basta que se desvie um pouco, para cair no abismo sem fundo. Contudo, ali não perecerá, porque a vida não se acaba, mas terá, isto sim, que reiniciá-la, e em cada uma delas com provas sempre em consonância com as suas quedas.
Este caminhante não pode descuidar-se e nem parar; tem de afastar os obstáculos que surgem, pois que, à medida que avança, eles se vão tornando mais numerosos, daí ser indispensável, sempre e sempre, redobrar esforços até chegar ao extremo do caminho. Uma voz o adverte então e diz: “Chamo-me consciência e acompanho-te sempre”: A seu lado seguem entidades, aconselhando-o, dando ânimo e forças, a fim de que continue o seu carreiro, mas que não tomarão parte em suas lutas, pois que ele próprio deve ser quem se coroe, ao término da viagem. Se deixar de ouvi-las, sua consciência se obscurece, não toma precauções, desvia-se do roteiro seguro e irá precipitar-se no abismo. Por isso, ao começar teu calvário, ó alma! o grito é doloroso. Tal viagem é pior que a morte. É a experimentação que te conduz à mansão dos bem-aventurados ou aos recintos da desolação e da tristeza onde moram os Espíritos sem luz. Porém, ó alma! eu já te disse: quantas vezes fracassares, tantas outras terás de voltar - não importa o tempo -, porque aí está a Eternidade.

Venceste, mas também caíste. E na verdade quem não caiu? Todas as vezes que caias, redobravas teus esforços e aplanavas o caminho; cada Vez desapareciam esses obstáculos e, quando afastaste a maior parte deles, então não mais tiveste que fazer esforços! bastou-te a vontade.

Muitas vezes iniciaste o percurso, terminando-o sem que ficasse em tua vida material uma recordação. São os dois polos da existência. Nascer e morrer. Berço e Túmulo. Resultado: amor e ciência. Deus é o amor, Deus é a ciência. Pelo amor e pela ciência chegarás a Deus.

Luta, irmão: o berço e o túmulo são os cenários de tuas existências para progredires. Não necessitas de ouro, nem de prata em teus alforjes, nem da coroa de rei, nem do bolso do avarento; podes ir humilde, mas escutando sempre a voz de tua consciência que te dita: amor, honradez justiça.. Não te macules com o orgulho do déspota, nem com a crueldade do tirano, nem com a vaidade do ignorante, por serem a lepra da desgraça.

Assim falou o filósofo, para que medites.

(Traduzido de Voz Informativa, do México, número de Dezembro de 1953)

Nenhum comentário:

Postar um comentário