Do berço ao túmulo
por Nicolás Reyes Esquivel
Reformador
(FEB) Maio 1954
Berço, Túmulo, dois extremos da vida.
O Berço é ave mensageira de plumagens
brancas, que traz um companheiro para vida.
O Berço é para o mortal, alegria, entusiasmo,
dia de festa para os que esperam, e que não sabem se o que chega é enfermo da
alma, criminoso com todas as agravantes humanas e divinas, ou acrisolada
virtude em alma pura, com importante missão a cumprir junto dos homens. Os que
esperam sabem somente que é a inocência: sua pequenez, seus movimentos, seus
gemidos, seus instintos de conservação, seus olhares puros e outros mil
pormenores próprios da criança, de um ser indefeso, envolto em fraldas - sejam
elas de algodão ou de seda - dizem-nos apenas que é nosso filho, um irmão,
parente ou amigo e ao qual nos cabe prodigalizar os cuidados necessários.
O recém-chegado é inconsciente. Está
aturdido. Para ele não há explicação possível: revela sua presença apenas por
um gemido doloroso - o mais cruel – depois, muitos outros gemidos, dolentes. A
um Espírito livre que se tornou prisioneiro, preso pelos laços de sua vestidura
carnal, tudo se lhe obscurece. A partir desse momento ele sofre o tormento da
vida.
Viver para tornar a morrer e progredir
sempre (Tal é a Lei), disse um filósofo. Ele viveu nos espaços siderais,
contemplou mundos de luz e de trevas; viu suas humanidades e não ignora que as
há selvagens e também infinitamente sábias. Quanto mais evolvido, melhor
conhece esse laboratório infinito da vida espiritual. Hoje, porém, que baixou à
prisão, hoje que se tornou preciso morrer, nas alturas, para seguir sempre
adiante, ele não sabe nada. Um véu denso, terrível, espantoso, mais terrível e
espantoso que o sepulcro, o envolve por todos os lados circunscrevendo-o aos
cinco miseráveis sentidos focos imperfeitos e deficientes, quando comparados
com os psíquicos da vida espiritual. E ainda mais: pode vir mudo, surdo-mudo ou
carente de todos os sentidos. Pode vir louco.
Não obstante, sentimo-nos satisfeitos com a
sua chegada, desde que as condições se mostrem favoráveis, ou profundamente
entristecidos se nos chega organicamente atrofiado. Nada sabemos a respeito de
sua alma, unicamente que é um inocente. Doloroso seria, querido irmão, caso
pudéssemos adivinhar qual o valor espiritual que este viajante desconhecido
traz à Terra!
Talvez haja embarcado para fazer uma viagem
neste mundo. Ela, porém, é tão perigosa! O caminho a percorrer está juncado de
obstáculos, basta que se desvie um pouco, para cair no abismo sem fundo.
Contudo, ali não perecerá, porque a vida não se acaba, mas terá, isto sim, que
reiniciá-la, e em cada uma delas com provas sempre em consonância com as suas
quedas.
Este caminhante não pode descuidar-se e nem
parar; tem de afastar os obstáculos que surgem, pois que, à medida que avança,
eles se vão tornando mais numerosos, daí ser indispensável, sempre e sempre,
redobrar esforços até chegar ao extremo do caminho. Uma voz o adverte então e
diz: “Chamo-me consciência e acompanho-te
sempre”: A seu lado seguem entidades, aconselhando-o, dando ânimo e forças,
a fim de que continue o seu carreiro, mas que não tomarão parte em suas lutas,
pois que ele próprio deve ser quem se coroe, ao término da viagem. Se deixar de
ouvi-las, sua consciência se obscurece, não toma precauções, desvia-se do roteiro
seguro e irá precipitar-se no abismo. Por isso, ao começar teu calvário, ó
alma! o grito é doloroso. Tal viagem é pior que a morte. É a experimentação que
te conduz à mansão dos bem-aventurados ou aos recintos da desolação e da
tristeza onde moram os Espíritos sem luz. Porém, ó alma! eu já te disse:
quantas vezes fracassares, tantas outras terás de voltar - não importa o tempo
-, porque aí está a Eternidade.
Venceste, mas também caíste. E na verdade quem
não caiu? Todas as vezes que caias, redobravas teus esforços e aplanavas o caminho;
cada Vez desapareciam esses obstáculos e, quando afastaste a maior parte deles,
então não mais tiveste que fazer esforços! bastou-te a vontade.
Muitas vezes iniciaste o percurso, terminando-o
sem que ficasse em tua vida material uma recordação. São os dois polos da
existência. Nascer e morrer. Berço e Túmulo. Resultado: amor e ciência. Deus é
o amor, Deus é a ciência. Pelo amor e pela ciência chegarás a Deus.
Luta, irmão: o berço e o túmulo são os cenários
de tuas existências para progredires. Não necessitas de ouro, nem de prata em
teus alforjes, nem da coroa de rei, nem do bolso do avarento; podes ir humilde,
mas escutando sempre a voz de tua consciência que te dita: amor, honradez
justiça.. Não te macules com o orgulho do déspota, nem com a crueldade do
tirano, nem com a vaidade do ignorante, por serem a lepra da desgraça.
Assim falou o filósofo, para que medites.
(Traduzido de Voz Informativa, do México, número de Dezembro de 1953)
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