A
Sibila
de
Rosenhn
Túlio Tupinambá /(Indalício
Mendes)
Reformador (FEB) Junho 1962
Refere-se este artigo à médium alemã
Kate Speemans, que nasceu na Baviera, em 1783, na cidadezinha de Rosenhn, perto
de Munique. É considerada um dos médiuns mais célebres de todos os tempos.
Pelo que se sabe, desde os doze anos
que a consultavam antes de realizar qualquer tarefa de importância. Revelava
experiência segura em assuntos que, fora do transe mediúnico, desconhecia
inteiramente, muitos dos quais ocorridos antes da data do seu nascimento.
Se lhe perguntavam de onde tirava
tais conhecimentos, ela respondia invariavelmente assim:
- “Há muitos anos já que vivo entre
vocês. Conheci-os quando ainda vocês todos eram tão pequenos quanto eu o sou
agora.”
Sua fama se espalhou rapidamente e o
povo começou a denominá-la “a sibila de Rosenhn”.
Entre os muitos cronistas que a ela
se referiram, conta-se Delaunay, que relata este fato:
“Certa vez um irmão do Príncipe
Guilherme procurou-a. Era moço, ardente e impetuoso nos seus trinta e dois
anos. Inconformado com a posição secundária em que se achava no Reino, por não
ser o primogênito, perguntou a Kate Speemans quando chegaria a ocasião de
prestar algum serviço a seu país, de modo a despertar a atenção do povo, que
não tomava conhecimento da sua existência. Ele estava soberbo no uniforme
militar com que se apresentara àquela médium.
Depois de observá-lo rigorosamente,
ela respondeu:
- Príncipe, sois muito ambicioso.
Tereis um futuro brilhante e vos cobrireis de glória juntamente
com a nossa pátria. Todavia, temeis mais a enfermidade do que a morte. Não tendes
paciência para sofrer.
- Quando acontecerá isso? Quando
terei um papel ativo no Reino? Quando deixarei de estar relegado a uma posição
secundária e obscura?
Essa sucessão rápida de perguntas
denunciava o estado de espírito do jovem príncipe.
Kate não tardou a responder:
- Estamos no ano de 1829...
Levantou-se, apanhou um pergaminho
que se achava sobre a mesa, e, apresentando ao príncipe uma pena de águia, de
finíssimo corte, disse-lhe que escrevesse o ano referido -... 1829, repetindo
verticalmente os algarismos debaixo do último deles, de modo a poderem ser
somados:
1829
1
8
2
9
1849
No ano de 1849, que é a soma dessa
simples operação, reprimireis um movimento democrático iniciado na França, o
qual transtornará a cabeça dos nossos compatriotas. Vencereis os revoltosos e
restabelecereis totalmente a ordem.
- Poderei unificar um dia os povos
germânicos, formando um só império e reinando sobre ele? - indagou, nervoso.
Kate, séria, mostrando
impressionante palidez no rosto, falou:
- Sim: sereis imperador da grande
Alemanha.
Mais nervoso ainda, o príncipe
exigiu:
- Mas... quando?! quando?!
Notando a profunda emoção do
visitante, a médium respondeu imperturbavelmente:
-
Somai agora a 1849 as mesmas cifras, de maneira idêntica ao que fez há pouco e
encontrareis a resposta.
O príncipe, aflito, obedeceu, e o
resultado da nova soma foi este:
1849 + 1 + 8 + 4 + 9 = 1871
Deixando-se trair pelo entusiasmo, o
príncipe exclamou em voz alta:
- Quer dizer que serei imperador em
1871!
Pois bem, Kate: se a sua profecia
for acertada, não me esquecerei de você. Será que a sua ciência poderá ir mais
longe ainda? Poderá dizer o ano em que morrerei?
A médium fixou bem os olhos do
príncipe e considerou:
- Não gosto de revelar aos homens o
segredo de sua última hora - disse ela, depois de uma
pausa em que meditou acerca da inesperada pergunta.
E acrescentou:
- Alteza: ninguém possui uma alma
tão bem forjada que possa afrontar sem temor a data
fatal. Perdoai-me e relevai o meu silêncio a este respeito.
O príncipe, porém, era voluntarioso
e insistiu:
- Mas você não me assegurou há pouco
que sou forte e que a morte me assusta menos do que a enfermidade? Pode
responder-me, se é que a sua ciência alcança até esse limite...
Diante de tais palavras, que
ocultavam uma ordem, Kate
Speemans cedeu:
- Se assim o exigis, Alteza, não
tenho outra alternativa: Repeti a mesma operação de antes,
somando de novo, e os números vos darão a resposta que desejais. Podeis ter a
certeza de que dirão a verdade.
Ele começou a escrever:
1871 + 1 + 8 + 7 + 1 = 1888
O príncipe ficou profundamente
emocionado.
A voz lhe sumira da garganta. Quando
pode falar, disse à médium:
- Promete-me você longa vida. Se ela
for feliz e gloriosa, aceitarei com satisfação a profecia. .. Entretanto,
desejo fazer-lhe uma última pergunta: Durará muitos anos o Império que
será fundado por mim?
Não se conteve e estabeleceu novas
interrogações:
- Sofrerá o meu país a influência
das novas ideias? Perderá a Monarquia, no futuro, o seu
prestígio, implantando-se aqui, no Reino, o regime democrático?
Impassível, a médium, como resposta,
realizou nova soma:
1888 + 1 + 8 + 8 + 8 = 1913
Sem conter a desilusão, mas
resignado, o príncipe guardou o pergaminho em que haviam sido feitas todas as
somas e se despediu de Kate, dando-lhe as mais inequívocas demonstrações de agradecimento.
Esse príncipe se tornou, na data
fixada, 1871, imperador da Alemanha. Foi ele Guilherme I. Todas as datas foram
rigorosamente exatas. Tendo por sustentáculo o Marechal Bismark, chamado o “Chanceler
de Ferro”, Guilherme I desencarnou em 1888, sendo sucedido por seu filho,
Guilherme II, o Kaiser, cuja ambição desmedida de escravizar o mundo iniciou a
desagregação do Império fundado por seu pai. Kate apontou o fim do Império para
1913, pois, na realidade, foi nesse ano que o pan-germanismo começou a
desmoronar, embora só em 1914 rebentasse a primeira Conflagração Mundial, provocada
pelo Kaiser, e a guerra terminasse em 1918. Foi em 1913 que o trabalho oculto
de desmantelamento do Império começou a ser feito, desde quando Guilherme II
decidiu tornar-se senhor do mundo.
Aí está, em linhas rápidas, uma face
importante e não menos curiosa da mediunidade. Kate Speemans, “a sibila de
Rosenhn”, não desmentiu o prestígio que adquirira como médium, embora muitos a
tomassem, o que ainda hoje é comum,
por
simples “feiticeira”...