O Silêncio é
o princípio e o fim de tudo
José Brígido / Indalício
Mendes
Reformador (FEB) Abril 1956
Tênue e vacilante luz duma lâmpada
de óleo impedia que o velho templo se ocultasse inteiramente na treva que
chegara ao anoitecer. Galaor se deteve no limiar do átrio, seguido de perto
pelos discípulos. Depois, fez-se ouvir mansamente a voz grave e morna de sua
predicação:
"No profundo sossego da noite, o Silêncio é
a prece da Natureza. Respeitemos
a força desse Silêncio, porque ele é o Princípio e o Fim de tudo."
Logo após, em delicada
materialização de fluidos, começaram a desfilar, emoldurados de argêntea luz,
os perfis de Rama, Krishna, Hermes, Pitágoras, Moisés, Buda, Sócrates, Platão,
Aristóteles, Maomé... Em face de um clarão aurifulgente, mais belo e nítido,
esses perfis foram-se esbatendo, surgindo a figura suave de Jesus da Galileia,
o Cristo de Deus! Angélico sorriso agitou os lábios de Galaor, cujo olhar se
perdia, feliz, em sutilíssima emoção. E de novo sua voz ressoou pela colunata
do templo augusto:
“Ante a Natureza prodigiosa, que atesta a
realidade admirável da Suprema
Inteligência, permaneçamos simples, humildes e reverentes. Contemplemos a Serenidade que vive em todas as
coisas, ainda mesmo naquelas que se
tornaram prisioneiras do Rumor, porque o Silêncio é o Princípio e o Fim de tudo.
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"O poder de Deus se evidencia na
Inteligência que Ele conferiu ao homem.
Todavia, só o sentimento aprimorado da criatura humana poderá penetrar os arcanos da Espiritualidade."
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"O Êxtase é um eco do Silêncio dentro do
Silêncio. Nele, Silêncios menores se
aglutinam e se fundem em Silêncios maiores, consumando a expressão metafísica da Realidade Espiritual. A
imanência do Silêncio revela-se no Êxtase, porquanto
este estado de alma nasce do Silêncio, nutre-se no Silêncio e se realiza integralmente no Silêncio. E no Silêncio se
dissolve..."
"O Silêncio é o Princípio e o fim de tudo."
*
Movimentou-se o grupo,
vagarosamente.
Galaor transpôs o umbral do templo
centenário e se sentou na êxedra (recinto semicircular utilizados para
reuniões)
granítica, entre os discípulos atentos. Todos aguardaram tranquilamente que se
expandisse a sabedoria do mestre. E Galaor falou assim:
"Muitas vezes o olhar é uma mensagem
do Silêncio e em seus colóquios com
o Infinito o Silêncio emprega a linguagem do pensamento. A existência terrena é apenas um episódio
iniciatório, porque há somente uma Realidade
intrinsecamente incorruptível: a do Espírito. Suas vibrações possuem um sentido cósmico, de grandeza que excede à
compreensão comum."
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"Na composição dos poemas do
Sentimento, o Silêncio colhe seus ritmos
nas escalas da Meditação."
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Ia longe a noite. A madrugada fez-se
anunciar através do crepúsculo matutino. Galaor ergueu-se, estendendo os
braços, para tornar ainda mais enfática a derradeira lição:
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"Purificai sempre o Espírito na meditação e não
vos esqueçais em nenhum instante do
que ela representa - como elo entre o mundo astral
e o mundo material."
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"O Silêncio é o Princípio e o Fim de
tudo. A Morte significa a repercussão
do Silêncio no estágio da vida física. Ela exprime a serenidade imperturbável de um aspecto da Vida
que se transforma no plano visível para se projetar
em outro aspecto da Vida, no plano invisível."
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"No profundo sossego da noite, o
Silêncio é a prece da Natureza. Respeitemos a força desse Silêncio,
porque ele é o Princípio e o fim de tudo."
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