Allan Kardec (Espírito)
Não temos conhecimento de que Allan Kardec tenha se manifestado como espírito, em muitas ocasiões.
Na realidade, dispomos de poucos registros neste sentido.Um deles, é uma referência ao assunto, feita por Humberto de Campos (Espírito) em “Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, em psicografia de Francisco Cândido Xavier, edição FEB, que, no seu capítulo XXVIII, comenta dos primórdios da Federação Espírita Brasileira e, referindo-se a Ismael, diz que este Espírito “... nos primeiros dias de 1889, preparara o ambiente necessário para que todos os companheiros do Rio ouvissem a palavra póstuma de Allan Kardec, que, através do médium Frederico Jr, forneceu as suas instruções aos espiritistas da capital brasileira, exortando-os ao estudo, à caridade e à unificação.”
Além dessa nota encontramos também, em destaque, um esclarecimento de nossos irmãos da Casa Editora “O Clarim”, de Matão, SP, sobre a obra “A Obsessão” (5ª Ed. Jan 1993), “obra reimpressa em francês com a aprovação de Allan Kardec, em comunicação datada de 06/09/50.” Na alternativa de Kardec estar reencarnado estaríamos nós diante da hipótese de ter seu espírito apresentado-se em desdobramento? Sigamos...
Encontramos, no Reformador de Outubro de 1903, o texto a seguir. Pelos encarnados presentes e pela audiência espiritual não nos parece devam haver dúvidas quanto à veracidade do que passaremos a reproduzir...
“Seção comemorativa do 99º aniversário da encarnação de Allan Kardec, em 04.10.1903. Ao seu final, um espírito, que se assinou Allan Kardec, respondeu, por psicografia de Frederico Júnior, às homenagens que tinham acabado de prestar-lhe:
“- Senhor! Eu não sou digno de tudo o que se passa em volta de mim; no entretanto, se é essa a Vossa vontade, seja uma esmola de Vosso amor para Vossos filhos.
Meus irmãos! Eu apanho jubiloso as flores das vossos sentimentos amorosos, e as levo para as colocar aos pés de Jesus, o verdadeiro Mestre. Eu apanho o perfume dessas flores e o levo aos pés da Virgem, de cujo seio, em jorros, desce a luz das mães amorosas, buscando a alma dos presentes, para inspirar em cada uma esses sentimentos que elevam.
Há festas na Terra e no céu; e essas festas no céu e na Terra deviam ser somente consagradas a Jesus, porque se não fora o seu sacrifício, se não houvesse a prova do cálice, o ultraje e as afrontas, se não fora o Cordeiro Imaculado, Allan Kardec não teria a fonte sublime do Evangelho para se inspirar, para crer e para reformar o espírito.
Irmãos! Não quero fatigar o instrumento que me serve; já ouvistes bastante para conforto de vossos corações, feridos pela dor. Se me fosse concedido imitar Jesus, em uma só palavra, eu vos diria: Amai-vos uns aos outros e tereis festejado o meu natalício. A paz do Senhor seja convosco." Allan Kardec
Sigamos...
O Reformador de 31.3.1908, em artigo intitulado “O Enviado de Jesus”, comenta sobre a reencarnação de Kardec:
“... porque já em vida fora anunciada a Allan Kardec (vide Obras Póstumas) uma nova reencarnação, que ele próprio calculou para fins do século passado ou começo do presente, a fim de vir concluir a tarefa, que o não poderia ser naquela encarnação.
Ter-se-á realizado já esse fato? Terá de novo aquele nobre e abnegado espírito renunciado à vida espiritual, feliz e luminosa, para voltar e sepultar-se nas trevas de um corpo humano, e estará aí ensaiando os seus primeiros movimentos, e preparando lentamente as asas para um novo surto, no seio da humanidade, dentro de alguns anos?
Uma circunstância, que nos não tem escapado, o parece indicar: e é que, em todos os círculos espíritas bem orientados, isto é, naqueles em que se exerce uma vigilância e análise severa em todos os ditados espíritas e não se aceitam, de ingênua fé, todas as comunicações, nota-se desde alguns anos uma ausência completa do nome de Allan Kardec nas manifestações. Nem mesmo nos dias solenes consagrada à sua memória, como o 3 de outubro e o 31 de março, tem sido assinalada a sua presença...”
Caminhamos mais alguns meses e, outra vez, o Reformador, em 3 de Outubro de 1908 retoma o assunto com breve comentário, ressaltando que alguns espíritas teriam recebido a indicação que Kardec já teria reencarnado.
O Reformador, já em 15 de Março de 1910, no transcurso do 41º aniversário de desencarnação de Allan Kardec, dedica ao codificador as seguintes palavras:
“... De alguns anos, contudo, para cá, essa voz amiga e experiente cerrou de se fazer ouvir, e algumas comunicações esparsas que têm aparecido, firmados com o seu nome, denunciam, tanto no estilo como nos conceitos, a suspeição da sua origem..” “....Tudo assim parece fazer crer que Allan Kardec já voltou à carne...”
Finalmente, a família espírita recebe a tão esperada confirmação!
Referimo-nos ao Reformador de 16 de Outubro de 1919 onde aparece transcrita uma comunicação de Agostinho, bispo de Hipona, manifestado em reunião na FEB, comemorativa do aniversário de nascimento de Allan Kardec (3 de Outubro). O médium é Albino Fonseca. O texto está a seguir apresentado. Os grifos são nossos.
“Meus filhinhos, Paz.
Presentes se acham à nossa reunião aqueles que assistiram Allan Kardec durante o desempenho da grandiosa missão por ele levada a bom termo, quando na Terra exilado.
Se pudésseis com os olhos do espírito presenciar o quadro que sobre vossas cabeças se desenrola, irradiando fluidos de amor e de paz, deslumbrados ficaríeis, e eis porque esse prazer vos não é dado, para que ofuscadas não sejam as vossas vistas.
Deus em tudo é sábio e previdente.
Dos que aqui se acham invisivelmente presentes, fui eu escolhido para, como seu delegado, algo dizer sobre a comemoração que fazeis.
Essa comemoração é justa, é merecida, conquanto a melhor comemoração fosse aquela que pudésseis fazer quotidianamente, limpando os vossos corações da lepra dos impuros sentimentos, lavando os vossos espíritos da mácula que os nodoa, facetando-os para que, límpidos estejam por ocasião das belas alvoradas, cuja cortina o nosso Mestre veio rasgar.
Léon Hyppolite Denizard Rivail, ao encarnar tomou a resolução de propagar os ensinos do Senhor, e tendo o seu guia lhe perguntado se se sentia com força para enfrentar tão árduo empreendimento garantiu ele que sim. Se soube cumprir a sua promessa, vós o podeis afirmar, pois a sua obra aí está testemunhando o seu esforço em prol da divulgação das supremas verdades.
Assistindo ao trabalho das denominadas mesas girantes, que atraíam a atenção de inúmeros curiosos com o único intuito de distração - ele, o vosso mestre, verificando que essas mesas, por meio de pancadas conversavam com os presentes. Portanto, denotavam que uma causa inteligente devia movimentá-las, meditou sobre o que viu, estudou, investigou, chegando à conclusão de que entidades invisíveis eram os seus propulsores.
Começou então o seu estudo aprofundado, compilando por intermédio de médiuns diversos e de fontes várias invisíveis esse monumento colossal que hoje altivo se ergue, mostrando à humanidade transviada que algo mais elevado do que as coisas materiais se desdobra sobre a sua cabeça, e que a sua verdadeira felicidade constitui.
Vinha o homem de longos séculos debatendo-se no mar revolto das paixões e desvarios sem cogitar do seu Deus e do destino que o aguardava, qual náufrago em proceloso oceano, lutando contra as ondas enfurecidas e esperando uma tábua de salvação em que pudesse agarrar-se, e vem o emissário enviado pelo Senhor, que lhe lança essa tábua, sendo feliz aquele que a ela se segurar, porque se libertará da fúria do mar de trevas em que está prestes a sucumbir.
Não podendo Allan Kardec vir pessoalmente agradecer a homenagem que lhe prestais, eu, delegado por aqueles que o assistiram, declaro-vos que gentil e carinhosamente acolhemos os eflúvios do preito de vossa gratidão e a seu tempo o transmitiremos ao nosso e vosso irmão, que, em obediência a nossas instruções, entre vós de novo se encontra, para dar maior amplitude à doutrina salvadora da humanidade. Lembrai-vos que nosso mestre não palmilhou um caminho de rosas, mas cheio de urzes e espinhos, pois foi insultado, achincalhado, caluniado, sem que apesar de tudo, o seu intento um só momento esmorecesse, porque sabia que trabalhava na causa santa do Senhor.
Praze os céus que vós, seus continuadores, possais também suportar com resignação todos os apodos, todo o ridículo que sobre vós lançarem, ficando satisfeitos com a consciência de bem ter cumprido o vosso dever e dado cabal testemunho de Jesus.
A paz do Senhor, meus filhinhos, fique convosco, e permita Ele, que dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, a nossa cogitação seja - a vossa reforma moral, para que condignamente possais receber o mestre e amigo ao iniciar sua próxima tarefa. Deus vos abençoe e vos dê paz. Agostinho, bispo de Hipona.
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De 1919 em diante, por mais que buscássemos outras referências, nada encontramos em “Reformador” que desse continuidade a tema tão sensível para nós espíritas.
Assim sendo, este artigo fica inconcluso e à espera - por quase 100 anos - de mais e melhores referências sobre a reencarnação do amado mestre de Lyon.