Nascer de Novo
por Martins
Peralva
Reformador
(FEB) Novembro 1959
“Necessário vos é nascer de novo.” - (Jesus a Nicodemos.)
Entre inúmeros benefícios que
decorrem do estudo e da assimilação da Doutrina Espírita, podemos indicar, sem
dificuldade, aquele que orienta acerca do milenário problema da Morte.
Inegavelmente, sem qualquer
partidarismo, somos levados a compreender que só o Espiritismo estuda o velho
problema, com riqueza de pormenores, uma vez que, sobre o assunto muito pouco,
ou quase nada disseram as demais religiões, que se limitaram, simplesmente, a
admitir e anunciar a existência do Mundo Espiritual.
Sem as consoladoras luzes da nossa
amada Doutrina, marcharia o homem para o túmulo - diremos melhor: para a Pátria
da Verdade - sem ideia segura do que lhe acontecerá após o choque biológico do
desenlace.
Nenhuma noção sobre a morte.
Nenhum conhecimento das leis
admiráveis que regem a vida no plano espiritual.
Nenhuma informação sobre o que
sucede à alma durante e depois a desencarnação.
Em suma: verdadeiro cego, ante o
mundo grandioso que o aguarda; um indígena, atônito, perplexo, nos pórticos de
estranha, quão maravilhosa civilização.
Essa ignorância, praticamente
total, a respeito de tão importante problema, é a triste herança de velhas e
novas religiões, mestras no ocultar e fantasiar a realidade da vida além das
fronteiras terrenas.
Religiões que procederam e procedem
à maneira dos cronistas sociais modernos: Depois eu conto...
O Espiritismo é profundamente,
intensamente realista, tanto nesse, como em todos os assuntos de interesse da
alma eterna.
Identificando a criatura, sem
subterfúgio de qualquer espécie, com os seus postulados, fazendo-a absorver a
parcela de verdade que ela suporta, torna-a tranquila ante a perspectiva da
desencarnação.
Não cremos, nem anunciamos um Céu
gracioso, adquirível à custa de promessas, espórtulas, louvaminhas ou
petitórios, nem um inferno tenebroso, eterno, de onde jamais sairemos. O nosso
conceito, a respeito da morte e de suas consequências, se alicerça no
Evangelho: “A cada um será dado de acordo com a suas obras.”
Seria, naturalmente, leviandade,
afirmarmos que o Espiritismo já revelou em toda a sua extensão e plenitude, a
vida no plano extra físico. Expressando, todavia, a misericórdia divina, vem
erguendo, gradualmente, em doses nem sempre homeopáticas, a cortina que separa
o mundo físico do espiritual, consentindo estendamos o olhar curioso,
indagativo, sobre o belo panorama da vida além da carne.
O espírita não teme a morte, nem
para si nem para os outros, mas procura cumprir, da melhor maneira possível,
apesar de suas imperfeições - imperfeições que não desconhece -, os deveres que
lhe cabem na Terra, aguardando, assim, confiante, a qualquer tempo, hora e
lugar, o momento da Grande Passagem.
Não a considera pavorosa, lúgubre,
terrificante, tão pouco a define por suave e milagrosa porta de redenção e
felicidade. O Espiritismo ensina, com apoio no Cristianismo, que não há duas
vidas, mas, sim, duas fases, que se prolongam, de uma só vida.
Se a Doutrina preleciona: “nascer,
viver, morrer, renascer ainda, progredir continuamente”, Jesus notifica a
Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo.”
A uma daquelas fases, dá-se o nome
de Etapa Corporal. Vai do berço ao túmulo. À outra, dá-se o nome de Etapa
Espiritual. Vai do túmulo ao berço.
A nossa alma é como o Sol, que se
esconde no horizonte, ao pôr de um dia, para, no alvorecer de novo dia,
retornar pelo mesmo caminho. A vida em si mesma, é sublime cadeia de
experiências que se repetem, séculos e mais séculos, até que obtenhamos a
perfeição. Maravilhosa cadeia, cujos elos se entrelaçam, se entrosam, se
harmonizam, justapostos...
Pensando e atuando dentro desta
conceituação, estranha para muitos, por enquanto, porém muito lógica e racional
para nós, sabe o espírita, em tese, o que a Morte, como fenômeno simplesmente
transitivo, lhe reservará.
Sabe que o sistema de vida adotado
na Terra, o seu comportamento ético, terá justa e equânime correspondência no
mundo espiritual, que é, indefectivelmente, um prolongamento do terráqueo...
Boas sementes, bons frutos
produzem.
Más sementes, amargos frutos
produzem.
Seremos, aqui e em qualquer parte,
o resultado de nós mesmos, de nossos atos, pensamentos e palavras, sem embargo
das generosas intercessões de amigos que nos anteciparam na Grande Viagem.
Proporcionando alegria e amparo,
alimento e instrução, aqui na Terra, aos nossos semelhantes, a Lei nos assegurará,
no Plano Espiritual, instrução e alimento, amparo e alegria. Tais noções,
hauridas no Espiritismo, tornam o homem mais responsável e mais cuidadoso, mais
esclarecido e mais consciente, compelindo-o a passos mais seguros, dentro da
vida - em suas duas fases -, para que a Vida lhe sorria, agora e sempre.
Evidentemente, sem subestimar, nem
sobrestimar a morte, o espírita caminha, luta e sofre, trabalha e evolui,
conscientemente, na direção do Infinito bem, valorizando, para sua própria felicidade,
os renascimentos sucessivos a que se referiu Jesus no diálogo com Nicodemos.
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