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quarta-feira, 25 de julho de 2018

A Lei é igual prá todos?



A lei é igual prá todos?
Oswaldo Valpassos
Reformador (FEB) Janeiro 1956

Em 1912, época em que o clero católico estava em boas graças com o Governo (o clero procura sempre estar em boas graças com qualquer governo), os padres agiram de tal maneira que o significado de CURANDERISMO tornou-se tão elástico que era fácil à Policia prender como curandeiros os espíritas que aconselhassem água fluidificada ou aplicassem passes aos doentes que não podiam pagar ao médicos suas receitas ou adquirir medicamentos, dado o estado de pobreza deles.

Inimigo do Espiritismo, o clero, nas suas relações com os poderosos, conseguiu que o artigo 284 do nosso Código Penal se tornasse verdadeira armadilha para os espíritas, restringindo a prática da caridade nos Centros,

Diz o citado artigo 284:

Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos,
Pena - Detenção de seis meses a dois anos.

Como se vê, o maquiavelismo clerical trabalhou bem, impedindo que o espírita socorra piedosamente um doente aplicando-lhe passes (gestos) ou lhe dê um pouco de água fluidificada (qualquer substância).

Felizmente, a nossa Justiça, enxergando a maldade oculta, não tem sido rigorosa face às infrações que, de fato, nenhum mal têm acarretado ao próximo.

A verdade é que, para agir com severidade, acatando integralmente o espírito da lei, a Justiça teria que estender o seu braço ao padre Eustáquio, ao padre Antônio e outros que, como os espíritas, em nome de Deus, obtinham alívio para muitos sofredores. Daí, muitas absolvições nos tribunais.

Os Centros espíritas, no entanto, em respeito ao Código, se abstêm até hoje da prática dessa caridade, não obstante a necessidade de socorro aos pobres enfermos desamparados pelos poderes governamentais e que perambulam aflitivamente em nossa cidade, dia a dia mais numerosos.

O que choca, o que irrita é que os padres, os inspiradores do citado artigo elaborado de maneira a prejudicar os espíritas, são os primeiros a infringirem o Código, pois que na semana do Congresso Eucarístico, monsenhor Tapajós, na Igreja de N. S. de Lourdes, distribuiu a milhares de doentes água recebida da gruta de Lourdes, conforme noticiou a imprensa, Claro que esse ato está perfeitamente enquadrado no citado artigo 284.

Será que a lei foi elaborada somente para atingir os espíritas?

Ora, não constitui nenhum mal e nenhuma objeção pode ser imputada à distribuição da água de Lourdes aos doentes que acreditam e esperam a cura. A verdade é que no mesmo caso está a água distribuída nos Centros espíritas, aliviando os sofredores e servindo-lhes de consolo.

O que revolta pela injustiça é que o ato, embora inocente ou, digamos, benéfico, se constitui infração ao Código Penal, seja somente em relação aos espíritas.

Porque dois pesos e duas medidas?

Se, de acordo com a Constituição, a lei é igual para todos, porque então o vigário da Igreja de N, S. de Lourdes poda abençoar os doentes (gestos) e distribuir água de Lourdes (substância) e a mesma coisa é vedada aos Centros espíritas?

A Igreja Romana, empenhada no monopólio religioso, tem tido como armas a Intolerância, a perseguição e a incoerência através de sua maquiavélica campanha contra a liberdade de crença, querendo fazer da Humanidade um rebanho para servir os seus interesses.                    (Ext. de "O Mundo", 10-9-55)


sábado, 22 de junho de 2013

'Só a forma se extingue'




“Só a forma se extingue”
Oswaldo Valpassos
Reformador (FEB) Maio 1959

            Não existe a morte. Se o espírito é imortal, também a matéria é indestrutível.

            Só a forma se extingue.

            A matéria circula e nada perde. Um átomo que existiu no corpo de Platão, ou na florzinha do campo, ou no esqueleto do cão, pode fazer parte agora de nosso corpo. 

            O que nós vemos é transitório, vê-se apenas a forma. Esta desaparece na árvore que se queima ou no cadáver que se putrefaz na escuridão do túmulo.

            Foi-se a forma, mas a matéria ficou e vai fazer parte de outra forma nos mil caminhos da circulação universal a que está submetida.

            Nesse cadinho infinito, saem irmanados, na sua composição material, o santo e o celerado, o verme e o leão, a planta e a ave.

            E, ao lado dessas criações que o nosso pensamento não pode abarcar, difunde-se universalmente o sopro de vida emanado do Foco Divino.

            Queiram ou não os materialistas, a matéria é dirigida; por si só não poderia engendrar a vida. Ao contrário, ela obedece a um plano dirigente na constituição de um ser vivo, seja vegetal ou animal.

            Em nossa peregrinação humana, quando a forma se esvai, o Eu libertado da prisão da carne continua o caminho da evolução, voltando de novo, de tempo em tempo, como já o fizera, à prisão de outro corpo, isto é, de outra forma, onde prossegue depurando-se através do sofrimento, galgando em cada etapa mais um degrau na escala da perfeição espiritual, à qual todos estamos ligados e da qual não pudemos fugir, nem tão pouco retroceder. Pode-se parar nessa longa viagem, mas não para sempre, qual o viandante cansado que se detém no caminho para recuperar forças e continuar.

            Sim, prosseguir na estrada sem fim da evolução espiritual, depurando-se cada vez mais até que, liberto das impurezas, livre das algemas, alcança no Além a porta que o conduz à Mansão de paz eterna.

            Os viajores seguem nessa jornada diferentes caminhos, cada um se guia segundo seu livre arbítrio, mas todos chegam, embora com esforço  diverso, ao mesmo ponto; porque, consoante a Justiça de Deus, ninguém paga acima do seu débito e, como não há falta eterna, nem erro irreparável, também não há pena eterna.

            E Deus a tudo preside e somente n'Ele está a força que, com infinita inteligência, cria a vida e rege a matéria, desde o pequenino grão de areia à formação dos mundos rolando nas suas órbitas pelos caminhos do céu.




quarta-feira, 15 de junho de 2011

Satanás



Satanás

Oswaldo Valpassos
Reformador (FEB)  Outubro 1957

            Satanás presta inestimável serviço à Igreja Romana, não só pelo terror que inspira no rebanho embrutecido, como principalmente pelo dinheiro que por seu intermédio canaliza para o saco sem fundo da Igreja. E satanás ou demônio é pau para toda obra, servindo às tentações, às artimanhas, ao ódio, à cobiça, enfim, a uma atividade multiforme para arrastar as almas de Deus às torturas do inferno que a conveniência da Igreja criou e mantém, auxiliada pela ignorância que ainda avassala grande parte do rebanho católico.
            Nas pregações contra o Espiritismo, os padres apontam como demônios os Espíritos que se manifestam, ainda que esses Espíritos se apresentem como amigos, dando salutares conselhos, dentro do mais puro Evangelho ou curando males crônicos da Humanidade sofredora.
            De acordo com a Igreja, Satanás foi expulso do Céu e constituiu um reino à parte, tornando-se, assim, rival de Deus. Nesse caso, se o reino de Deus é partilhado por Satanás, que dirige o reino do mal, então Deus deixa de ser absoluto, uma vez que abdica de atributos.
            O saudoso escritor pernambucano Manoel Arão em seu pungente livro - O Claustro, comenta: ‘o demônio existe de toda a eternidade ou foi criado? No primeiro caso, seria incriado e, portanto, igual a Deus; no segundo, seria obra de Deus e Deus não seria perfeitamente bom desde que criasse o mal’.
            Como se vê, não há saída que satisfaça à lógica. Aliás, para o rebanho católico, em grande parte obscurecido pelo analfabetismo, não há lugar para a lógica e dela prescinde porquanto os padres o dirigem a seu modo dispensando-lhe até o trabalho de pensar.
            E nesse rebanho alheio a qualquer raciocínio está o grosso do Catolicismo. Nesse meio, Satanás tem muito o que fazer para regalo da Igreja que, assim, o conserva como uma fonte perene de benefícios próprios.
            Sabem os católicos instruídos, embora não discrepem, que demônio (daimon), entre os gregos antigos, significava Espírito, havendo o bom e o mau, como, por exemplo: o bom demônio de Sócrates. Platão chegou a chamar a Deus - demônio onipotente (agathoaemones) e os maus (cacodaemones) eram intermediários entre os deuses e os homens.
            Satanás, como se sabe, não passa de uma alegoria, representando apenas o mal, o qual não é eterno conforme divulga, de má fé, a Igreja Romana, para melhor proveito junto à massa supersticiosa que ainda acredita em pleno século XX, no inferno de ardentes caldeiras, no enxofre fervente e no demônio de chifres e pés de pato. E muitos padres, principalmente nos lugarejos do interior, justificam esse recurso afirmando que o mesmo é necessário para regenerar o povo, quando o certo seria elucidá-lo, esclarece-lo para melhor conpreensão da Justiça Divina. Isso, porém, não lhes convém, pois o raciocínio levaria o povo a outras conclusões. A ignorância é muito útil ao clero católico.
            Se a Igreja de Roma, nos tempos do seu poder absoluto, foi incapaz de regenerar a Humanidade, impossível seria conseguí-lo na época presente em que a Humanidade inteira tem a faculdade de se esclarecer, de pensar e de escolher o caminho conforme a razão.
            Satanás que é apenas um símbolo, continua a servir a Igreja como instrumento de terror e de fazer dinheiro.
            Esta é a verdade.


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Interpretação de Fatos Bíblicos ao Pé da Letra



Interpretação de Fatos Bíblicos ao Pé da Letra
Oswaldo Valpassos
Reformador(FEB)  Fevereiro 1959

        Interpretando-se a Gênese bíblica ao pé da letra, deparam-se-nos, a cada instante, fantasias e contradições.
            Quando a interpretação é no sentido alegórico, o caso muda de figura, pois que desaparecem absurdos e a leitura das Escrituras se torna coerente e elevada, amolda-se ao espírito do leitor exigente, eliminando-se dúvidas que tanto chocam o espírito indagador.
            Procurando o sentido oculto, veremos que  a leitura é edificante, sem ferir frontalmente a Ciência.
            Vejamos alguns fatos da Criação, nos primeiros tempos do Mundo:
            Adão  e Eva foram os primeiros habitantes da Terra. Depois de expulsos do Paraíso, tiveram dois filhos - Caim e Abel. Caim, após haver assassinado seu irmão, afastou-se para a terra de Nod, no oriente do Éden. Nessa ocasião, portanto, existiam no mundo apenas três pessoas: Adão, Eva e Caim.
            Retirando-se para outro lugar, Caim casou-se e teve de sua mulher um filho, que se chamou Enoch. Ora, de onde surgiu essa mulher que se casou com Caim, se, no mundo, nessa ocasião, só havia três pessoas, ele e seu pais Adão e Eva? Os outros filhos de Eva nasceram muito depois.
            Diz também a Gênese que Caim, ao deixar o Paraíso, foi edificar uma cidade. Sozinho? E para que uma cidade se não havia habitantes?
            Informa que Caim, após matar Abel, saiu errante e confessou ao Senhor seu medo, seu receio de que alguém o matasse. Se na sua peregrinação não seria possível encontrar outra pessoa, como receou ser molestado?
            Tudo isso faz crer que o mundo já era habitado, porque se não o fosse, Caim não recearia de ser morto e não poderia encontrar a mulher com quem casou. E também não iria construir uma cidade, pois que não existiam habitantes. E lógico é que ele, sozinho, não a podia construir.
            Por outro lado, não se pode compreender que Deus criasse Adão e Eva para viverem a sós num mundo tão grande, e isso colide com o que Ele ordenou, conforme Cap. I,28: ‘Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; dominai sobre os peixes, e sobre as aves e sobre todo animal que se move sobre a terra.’
            A serpente que induziu Eva a comer do fruto proibido é tida nas Escrituras como animal astucioso; sabe-se, entretanto, que a serpente não é animal astucioso. Claro que isso, também, é uma forma figurada. Se a serpente, depois de enganar Eva, foi condenada pelo Senhor a arrastar-se sobre o ventre, supõe-se, assim, que antes de sua falta ela não se arrastava sobre o ventre. Como se locomovia então?
            Quanto à criação do homem, segundo as Escrituras, ele foi gerado do limo da terra; a interpretação lógica é que ele foi formado dos mesmos elementos inorgânicos e orgânicos que existem na terra.
            Se Eva foi formada de uma costela de Adão, claro que isso quer dizer que a mulher é da mesma natureza do homem e que ambos são iguais perante Deus.
            Em toda a Bíblia necessário se faz a interpretação alegórica para que esse precioso livro, manancial tão rico, não traga confusão aos que o procuram.
            Essa criação miraculosa poderá agradar aos que temem uma investigação à luz da razão. Agrada, sem dúvida, à imaginação ou a fé não raciocinada.
            Não deixa de ser um tanto pueril basearmo-nos somente na forma, quando a alegoria, de que é tão rica a Bíblia, oculta verdades que, postas à tona, engrandecem a própria Bíblia.
            Adão apenas simboliza a Humanidade e isso está conforme com a própria palavra hebraica - haadam -, que não é nome próprio e significa Humanidade.
         Com base na própria Gênese, pode-se concluir que o mundo já era habitado antes de Adão. Essa conclusão é mais conforme com a razão e foi mesmo aceita pelo teólogo La Peyère, no seu livro - Preadamitas - segundo referência citada no livro A Gênese, pág. 243, de Allan Kardec.
            Finalmente, no sentido literal, a Bíblia não satisfaz e torna confuso o próprio leitor. Interpretada, porém, alegoricamente, é um filão rico de imagens que engrandecem a obra do Criador.