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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

André Luiz fantasia?



1. “André Luiz
fantasia?
por Luciano dos Anjos
in  ‘Deus é o absurdo’ ( Ed ECO- 1977? )

            Um misoneísmo sem propósito ainda capeia a posição de alguns espíritas em face das obras de André Luiz. Não consigo lobrigar nenhuma razão capaz de justificar esse comportamento. O Espiritismo não pode fossilizar-se. Kardec mesmo sublinhou, no seu pentateuco, a inevitabilidade dos princípios dinâmicos da Doutrina, de par com um cientificismo que lhe daria perpetuidade. Em "A Gênese", cap. I, § 55, da edição da FEB, dizia: "O Espiritismo, marchando com o progresso, não será jamais excedido, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade 'se revelar, ele a aceitará." Sistema filosófico altamente progressista, tende a acompanhar todos os avanços da Ciência, embora se preocupando em ir mais longe, quando evolui para o espiritualismo genuíno e invade o Além, no rasto da desencarnação. Quando, portanto, entidades que revelam elevação, nos vêm trazer ensinamentos sobre matéria nova, não há por que desdenhá-las, desde que seus ensinos possam suportar o exame frio, duro e lógico do raciocínio atilado. Não se trata de crer simplesmente, mas, sem fugir à norma kardecista, aplicar o crivo da razão na filtragem de quaisquer revelações. Contudo, em face da série produzida por André Luiz, através do médium Chico Xavier, alguns confrades se furtaram, sem dúvida, a essa tarefa mínima, eis que não se justifica o misoneísmo em que se albergaram. Bastaria, por exemplo, um estudo comparativo com diversas obras, algumas de autores considerados clássicos e publicadas muito antes, em várias partes do mundo, para situar dentro do razoável, e do congruente tudo quanto nos tem sido ditado, desde "Nosso Lar" até "E a Vida Continua". Verificar-se-á então que, de novo propriamente, André Luiz nos diz muito pouco, senão apenas uma contextura mais detalhada no conjunto das suas dissertações. Eu diria, mesmo, que somente em "Evolução em Dois Mundos" e "Mecanismos da Mediunidade" é que deparamos com conceitos mais surpreendentes; ainda assim, há ali os que também encontram paralelo nas citações dos chamados clássicos.

            Em Psicologia, no estudo das funções gerais da vida psíquica, topamos com o capítulo da Atenção. Possuímos todos a capacidade de selecionar os fatos que nos interessam mais de perto, prendendo-nos a eles com maior ou menor intensidade. A Atenção se traduz na consciência total em seu maior ou menor grau de concentração. Theobaldo Miranda Santos definiu-a como "um estado de concentração da atividade consciente sobre um determinado objeto". (1) Diz ainda que "a vida do homem está sempre polarizada para certos aspectos ou objetos do mundo que o interessam". L. J. Guerrero, por isso mesmo, afirmou que "só podemos prestar atenção àquelas coisas às quais já estávamos atentos, sem saber".  (2)  Do exposto se pode concluir que, não raro, ao lermos uma obra, deixamos de atentar para uma série de seus aspectos situados à margem do problema ou do assunto principal que nos prende a atenção. Por isso nós lemos "A Crise da Morte", "O Céu e o Inferno", "A Nova Revelação" etc., e não fixáramos, há mais tempo, conceitos agora transformados por André Luiz em pontos altos da sua série. Vai nisso também - para nós, espíritas que somos - a questão do nível evolutivo das criaturas. Embora conheçamos uma verdade, caso esteja exageradamente acima do nosso ciclo evolutivo, por ela passaremos sem lhe prestar nenhuma atenção. Excepcionalmente aparecem os que se situam acima desse nível, normal à grande maioria, e neles encontramos, então, sem favor nenhum, os gênios, os profetas, os grandes inspiradores etc. Daí a necessidade da Revelação. Sem ela, possivelmente não haveria progresso. Rompendo a barreira em razão da qual passamos a viver dentro dum circuito fechado de conhecimentos, a revelação funciona como peça essencial à revolução humana. Ela não pode ser única nem limitada; tem de necessariamente nascer por etapas, à frente da criatura, abrindo-lhe o caminho da ascensão. Que dizer do futuro duma criança a quem nunca se tenha propiciado o conhecimento da álgebra? Conduziria eternamente os seus problemas através dos limitados recursos aritméticos, sem jamais suspeitar daqueles que, a rigor, lhe poderiam ensejar conquistas extraordinárias no campo da matemática. De quanto não se metamorfoseou esta ciência abstrata, quando a chamada matemática não-euclidiana foi aventada, transformando a soma dos ângulos internos dum triângulo em 360 graus! Bastou que, num assomo de indizível inspiração, o gênio de Einstein revelasse a hipótese da curvatura do espaço. Mas, não quero levar tão longe a digressão. Preocupo-me, por ora, em conduzir o leitor à ilação de que, afinal, já terá lido em outros autores, alguns clássicos, muita coisa dita agora por André Luiz, sem que, entretanto, houvesse prestado atenção a isso.

            (1)  "Noções de Psicologia Educacional", Companhia Editora Nacional, 1945.
            (2)  "Psicologia'', 1939.

            Ao demais, em última análise, onde estaria o absurdo da suposição de que a vida, além do túmulo, prossegue mais ou menos igual à terrestre? Já não sabemos que a natureza não dá saltos? Não aprendemos que toda evolução é paulatina? Será insensato supor que, se algumas coisas podem sobreviver, todas o poderão, em formas tais que se adaptem ao novo ambiente do Além? Se a evolução no plano terreno é lenta, não o será menor no espiritual. Emmanuel Kant, sem conhecer o Espiritismo, já postulava que "a alma humana se acha desde esta vida ligada ao mesmo tempo a dois mundos; quando enfim a união da alma com o corpo físico cessa pela morte, sua vida no além é a continuação natural da ligação que já teve com este além". (3) Dizia também Paracelso, alhures, com muita propriedade: "Embaixo - como em cima." Kardec, por seu turno, nas últimas linhas da Introdução da sua obra fundamental, nos lembra que "entre o homem e Deus outros elos necessariamente haverá", e que a suposta lacuna admitida por muitos entre nós e o Criador "o Espiritismo no-la mostra preenchida pelos seres de todas as ordens do mundo invisível e estes seres não são mais que os Espíritos dos homens, nos diferentes graus que levam à perfeição(4) . Léon Denis diz em "O Além e a Sobrevivência do Ser": “a vida continua, bem o sabeis. Só muda a forma. Todavia não muda demasiado, porquanto, durante largo tempo, nos conservamos terrestres."  (5) E, em "Depois da Morte": "O Espírito, pelo poder da vontade, opera sobre os fluidos do espaço, combina-os e dispõe a seu gosto, dá-lhes as cores que convém ao seu fim. Com esses fluidos se executam obras que desafiam toda comparação e toda análise." (6) No livro intitulado "Rumo às Estrelas", o Espírito de Johannes afirma a H. Dennis Bradley: "Isto quer dizer que aqui se vive de um modo muito parecido ao da terra.” (7) Extraímos, ainda, do trabalho de J. Arthur Findlay" - "No Limiar do Etéreo" - a seguinte confirmação: "A muitos respeitos, o mundo etéreo se assemelha ao mundo terreno." (8) "Vivemos num mundo real e tangível, se bem que os átomos que o compõem difiram dos que formam o vosso." (9)  Aliás, o capítulo IX desta obra é todo ele um excelente pródromo à série de André Luiz. O famoso Professor Hyslop dizia não compreender "por que se exige que o mundo espiritual seja mais ideal do que o nosso; os dois mundos são obra do mesmo Autor". (10) Outro sábio, o Professor Oliver Lodge, pondera na sua célebre obra chamada "Raymond”: “Assim, alguns há (Espíritos) que pedem de comer; outros desejariam beber um gole de uísque. Não tens que te espantar, se eu te disser que há meio de serem contentados, fornecendo-lhes qualquer coisa que se assemelhe ao que eles reclamam,' (11)  Citemos, ainda, o notável escritor espírita Arthur Conan Doyle que, na sua "História do Espiritismo", confessa aceitar plenamente a existência do Além com o ar, as vistas, as casas, os ambientes, as ocupações tão reais e objetivas aos seus habitantes quanto o nosso mundo para nós. (12) Ernesto Bozzano, na obra "A Crise da Morte", chegou, na qualidade de um dos maiores investigadores espíritas da sua época, a vinte conclusões sobre a passagem do estado de encarnação para o de desencarnação, Dentre elas estão a de que os Espíritos ficam com a mesma forma humana e de que "o meio espiritual era um novo mundo objetivo, substancial, real, análogo ao meio terrestre espiritualizado". (13)

            (4) "O Livro dos Espíritos", pág. 37, 32ª edição da FEB, 1972.
            (5) Pág. 47, 3ª edição da FEB.
            (6) Pág. 253, 4ª edição da FEB.
            (7) Pág. 270, edição da LAKE.
            (8) Pág. 135, 2ª edição da FEB.
            (9) Pág. 144, edição citada.
            (10) "American Journal of the SPR", 1913, págs. 235/237.
            (11) Págs. 197/198.
            (12) Págs. 476/477, Editora o Pensamento.
            (13) Págs. 153 a 157, 4ª edição da FEB.

           
            Remontando aos primórdios da história do Espiritismo, vamos verificar que, já no século XVII, o sueco vidente Emmanuel Swedenborg - precursor do neo-espritualismo e a quem Conan Doyle chamou "o pai do novo conhecimento dos fenômenos supranormais" - ensinava que o Universo era constituído de esferas diferentes, com vários graus de luminosidade, onde há casas, templos, clubes e palácios, não havendo nenhuma mudança essencial com a morte. Falava de arquitetos e mecânicos vivendo normalmente no Além, bem como na existência de flores, plantas, frutos, bordados, costuras, colégios, museus, hospitais, escolas, livrarias, bibliotecas, praças de esporte etc. Esses ensinos - na época tão mal compreendidos - se encontram nas suas imortais obras "Céu e Inferno", "A Nova Jerusalém" e "Arcana Coelestia". Mais tarde, surgiu a figura de André Jackson Davis, nascido em 1826, nos Estados Unidos, e autor também de vários trabalhos sobre a vida no Além. Foi, como se sabe, profeta de invulgares faculdades. Através de visões, apresentou a outra vida como semimaterial e semelhante à da Terra. Viu igualmente campos de repouso, aplicação de dinheiros, luxúria, alcoolismo, o "céu" e o "inferno". Seus ensinos estão compendiados com o nome de "Filosofia Harmônica". Como se vê, suas visões espirituais correspondem às que foram apresentadas por Swedenborg.

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2. “André Luiz
fantasia?

            Buscarei agora traçar um paralelo maior e mais detalhado entre os conceitos de André Luiz e os que encontramos em obras consideradas, algumas delas, clássicas por excelência. Refiramos, inicialmente, um dos pontos mais controvertidos da série, contido em "Libertação", e que admite a possibilidade de ser dilatado o marco da desencarnação. A primeira vista, isto parece colidir frontalmente com Kardec, que, na pergunta 853 de "O Livro dos Espíritos", postula a fatalidade da morte. Mas, vejamos o que o mesmo Kardec nos ensina em "O Céu e o Inferno", quando publica certos esclarecimentos citados pelo Espírito São Luiz: "Certamente, em dadas condições, pode um Espírito encarnado prolongar a existência corporal a fim de terminar instruções indispensáveis, ou, ao menos, por ele como tais julgadas - é uma concessão que se lhe pode fazer, como no caso vertente, além de muitos outros exemplos." "Preciso é no entanto que da possibilidade do fato não se conclua a sua generalidade, nem tampouco que dependa de cada qual prolongar por tal modo a sua existência." "Estes casos são excepcionais e não fazem regra. Tampouco é preciso não ver nesse fato uma derrogação de Deus à imutabilidade das suas leis, senão apenas uma consequência do livre arbítrio da alma que, no momento extremo, tem consciência de sua missão e quer, a despeito da morte, concluir o que não pôde até então." (14)

            (14)  Págs. 260/261 da 21ª edição da FEB, 1974

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3. “André Luiz
fantasia?

            A propósito de casas, paisagens, água, bosques, hospitais, asilos, alimentos, roupas etc., existindo no Além talqualmente tudo quanto existe na Terra, vejamos como se referem a isso alguns respeitáveis autores do passado.

            Ernesto Bozzano em "A Crise da Morte", 4ª edição: "P. - A morada de que falas tinha o aspecto de uma casa? R. - Certamente. No fundo dos Espíritos há a força do pensamento, por meio do qual se podem criar todas as comodidades desejáveis..." (pág. 25).  "... e me achei, não sei como, numa espécie de vasta planície... Era indescritível a beleza da paisagem. Bela também é a paisagem terrena, mas a celeste é muito mais maravilhosa..." (pág. 47). "...os Espíritos que me assistiam me haviam colocado num certo meio, que me parecia uma sala de hospital, provida de todo o conforto" (pág. 64). "A paisagem era plana e ondulada, muito semelhante, sob certos pontos de vista, às belezas do meu querido país natal... " (pág. 79). "Por isso, os Espíritos me conduziram à maravilhosa moradia que eles próprios haviam criado" (pág. 109). "As habitações são construídas por Espíritos que se especializaram em modelar, pela força do pensamento, essa matéria espiritual" (pág. 133).

            Em "Depois da Morte", de Léon Denis, encontramos: "Há festas espirituais nas moradas etéreas. Radiantes de ofuscadora luz grupam-se em família os Espíritos puros." (pág. 253, 4ª ed.).

            "No Limiar do Etéreo", de J. Arthur Findlay, 2ª ed. da FEB: "Crescem árvores e desabrocham flores" (pág. 135). "...disseram-me que comem e bebem exatamente como nós e tem do comer e do beber as mesmas sensações que nós" (pág. 136). "P. - Comeis e saboreais o vosso alimento? R. -  Comemos e bebemos, sim;" (pág, 145). "Temos livros e podemos lê-los," "Das flores e tios campos aspiramos os aromas, como vós aí." "Tudo é tangível... " (pág. 146). "P. - Assemelha-se à nossa a vossa vegetação? R. - De certo modo, mas é muito mais linda." "Assim também as nossas casas são produtos das nossas mentes. Pensamos e construímos" (pág. 148).

            De "A Nova Revelação", de Arthur Conan Doyle, 2ª ed. da FEB: "Os seres vivem vestidos, como era de esperar, porquanto nenhuma razão há para que renunciem à decência sob as novas formas que tomam" (pág. 79). "Vivem em comunidades, como fora de supor, desde que entre os que se assemelham há atração" (pág. 80). " ...os espíritos, ou dispõem de excelente biblioteca a que se reportam, ou, então, possuem uma memória que, por assim dizer, os torna oniscientes" (pág. 81). " ... que (os Espíritos) usam vestuários e se alimentam" (pág. 26). "Os Espíritos viviam em famílias e comunidades" (pág. 29).

            Trechos tomados à obra "A Vida Além do Véu", do Rev. G. Vale Owen, 2ª edição da FEB: "- Então me diga alguma coisa mais sobre a sua vivenda... -É muito bem acabada, interna e externamente. Dentro, possui banheiros, um salão de música e aparelhos registradores do nosso trabalho. É um edifício amplo. Chamei-lhe casa porque é realmente uma série de casas, sendo cada uma destinada a uma qualidade de trabalhos progressivos, como em séries" (pág. 56). "Também a cor da nossa roupagem se modifica conforme a parte do terreno em que nos achamos." "A água também é muito bela". (pág. 58). "Esta casa, onde vos achais, é ° Palácio de Castrel . .. " "Ele é o governador deste grande distrito... " "Soube que já estivestes na Colônia da Música e, mais além, em outros estabelecimentos em que são cultivados vários ramos da Ciência" (pág. 128). "Eram, pois, mandados para asilos como este..." (pág. 130). "Nós temos montes, rios, belas florestas e muitas casas; tudo foi preparado pelos que nos precederam" (pág. 48). "Por essa porta estão saindo cavalos e carruagens com cocheiros, e cavalos com cavaleiros" (pág. 141) .

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4. “André Luiz
fantasia?
            
             E sobre o corpo espiritual, a respeito do qual André Luiz ditou uma obra inteira, qual seja o substancioso "Evolução em Dois Mundos"? Se bem que encontremos ali muita coisa realmente nova, outros aspectos, entretanto, já eram grandemente abordados por autores do passado. Senão, vejamos.

            Em "Doutrina e Prática do Espiritismo", o talentoso Leopoldo Cirne exprimia, em 1920: "O corpo astral, em que reside o desenho ideal de todo ser que nasce, é formado de substância muito menos densa que a do corpo físico, mesmo suficientemente etérea para se caracterizar pela invisibilidade, mas composta de átomos, reunidos em moléculas, dotadas de um movimento vibratório normalmente muito mais rápido que o da matéria constitutiva do corpo físico, no estado de encarnação, porém adaptado até certo ponto à sua mesma tonalidade." "O corpo espiritual (...) pode ser ainda assim conjecturado como um composto de átomos.. " (págs. 370/371).

             "No Limiar do Etéreo", edição citada: "Tenho um corpo; que é uma reprodução do que tive na Terra: as mesmas mãos, pernas e pés, que se movem como o fazem os vossos." "O corpo etéreo é aqui tão substancial para nós, como o era o corpo físico quando vivíamos na Terra" (pág. 145).

            De Gabriel Delanne, "A Reencarnação", ed. de 1952, da FEB: "É possível, pois, imaginar que todos os órgãos terrestres estão representados no perispírito" (pág. 146).

            De "Rumo às Estrelas", ed. citada: "Agora estou perfeitamente em regra, com uma boa cabeleira" (pág. 56).

            "A Nova Revelação": "Mas se lá no Além não tivéssemos corpo semelhante ao que aqui temos, se nada conservássemos do caráter que aqui nos individualiza, como desejariam aqueles críticos, então nos extinguíamos" (pág. 86). " ...nessa fase posterior da existência, os seres têm corpos que, conquanto imperceptíveis para os nossos sentidos, são para eles tão sólidos como os nossos para nós" (pág, 116).

            "A Crise da Morte", de Bozzano: "Entre nós também existe um desenvolvimento do "corpo etéreo" ... "Um bebê cresce até chegar à maturidade. Contrariamente, um velho alcança a seu turno a idade viril, rejuvenescendo" (pág. 58).

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5. “André Luiz
fantasia?

            André Luiz nos fala também de cães, gatos, aves, animais em geral, vivendo normalmente no Além. A informação seria novidade se dela já não tivéssemos tido detalhes minuciosos, muitos anos antes.

            Em "A Vida Além do Véu", diz-nos o Rev. G. Vale Owen: "Transitando por esses caminhos havia uma multidão de indivíduos, alguns a pé, outros a cavalo e outros em carros"
(pág. 81). "Vinham, pelos caminhos dos céus, cavalos e carruagens de lua..." (pág. 143).

            Do livro "No Limiar do Etéreo": "P. - Os cães, gatos e outros animais sobrevivem à morte? R. - Sim, senhor, digo-o com ênfase: sobrevivem" (págs. 147/148). "Os animais, do mesmo modo que os seres humanos, sobrevivem à morte" (pág. 137).

            De "Rumo às Estrelas": "Existem aqui vários animais." "Gostei de encontrar aqui cães, e tenho dois gatas que me seguem" (pág. 59).

            Em “A Reencarnação", Gabriel Delanne narra, às páginas 107 a 120, diversos casos de materialização de animais. Tanto Delanne quanto Conan Doyle, Richet, Geley, Aksakof etc., muitos outros autores nos falam das memoráveis sessões com os médiuns Frank Kluski e Jean Guzik, em Varsóvia, no correr do ano de 1922, durante as quais se conseguiram materializações duma grande ave de rapina, dum ser intermediário entre o macaco e o homem, de cães etc. Em "A Grande Esperança", Charles Richet narra o seguinte: "Não há somente materialização de homens. Também há materialização de animais. De minha parte, com Pugik, consegui uma que foi realmente espantosa. Em Varsóvia, numa sala fechada a chave, apareceram, iluminadas por um vago luar, duas formas de indivíduos fantasmagóricos, dos quais não se viam a face. Conversavam entre eles em polonês. Um disse: por que trouxeste o teu cão? Nesse momento ouvimos na sala o trote de um cão. Senti o cão aproximar-se de mim e morder gentilmente o meu tornozelo, aliás, sem me magoar. Foi tão nítido que pude distinguir ser um pequeno cão do qual eu senti os pequenos dentes pontiagudos. Depois o cãozinho aproximou-se de Geley e mordeu-o com mais força de sorte que ele disse: basta, basta. Ao que censurei energicamente. Ele deveria dizer: mais, mais."  (15)

            (15) Pág. 202, edição da BEP, 1940.

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6. “André Luiz
fantasia?

            Quanto aos parasitas-hospedeiros, que tanta surpresa causaram aos leitores de André Luiz, são eles também claramente citados por Arthur Conan Doyle em "História do Espiritismo", à pág. 475, nos seguintes termos: "Tais Espíritos pareceriam uma ameaça constante à humanidade porque se a aura protetora do indivíduo fosse de certo modo defeituosa, aqueles poderiam tornar-se parasitas, estabelecendo-se nela e influenciando as ações de seu hospedeiro. É possível que a ciência do futuro possa verificar que muitos casos de inexplicável mania, de insensata violência, de súbita inclinação para hábitos viciosos tenham essa causa... "

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            Na sua coleção, André Luiz faz referência a uma série de termos como "ministério", "governador", "muro da cidade", "câmara", "guarda" etc. Vejamos como também encontrá-Ios noutras obras:

            Em "A Vida Além do Véu": "O Ministério do Céu", "Os Batalhões do Céu" (pág. 21); "Esfera de Luz" (pág. 23); "Palácio de Castrel", "governador", "Colônia de Música", "Escola de Música", "Escola de Luz" (pág. 128); "Câmara de Conselho", "Chefe", "Presidente", "Príncipe" (pág. 136); "porta da cidade", "muralhas da cidade", "palácio", "Cidade", "Avenida" (pág. 144); "Casa da Música" (pág. 76); "salão laranja", "salão vermelho", "salão 'violeta" (pág. 78); "raio de poder e de vitalidade", "região das trevas" (pág. 121); "distrito" (pág. 123); etc.

            Em "História do Espiritismo", há uma referência a "Círculos de punição", à pág. 475, e, em "A Crise da Morte", Bozzano nos fala sobre "esferas de provação", à pág. 138.

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            O curioso aparelho a que André Luiz chama "Psicoscópio" ("Nos Domínios da Mediunidade"), utilizado pelos Espíritos para medir a emanação psíquica dos encarnados, não chega a ser novidade sequer no nome. Já em 1894, no seu livro "Psiquismo Experimental", (16) Alfred Erny aludia à sua possível existência, segundo estas palavras:
            (16) Pág. 76 da 2ª edição da FEB, 1953.

            "Quem sabe se no século XX não se descobrirá o psicoscópio, isto é, um instrumento bastante poderoso e sensível para nos permitir ver o fluido magnético e principalmente a matéria sutil que forma o corpo psíquico?"

            Não há dúvida de que Alfred Erny recebera intuição absolutamente certa.

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7. “André Luiz
fantasia?

            Há um mundo de analogias que eu gostaria de transcrever; entretanto, isso seria absolutamente impossível. Nas obras que tenho mencionado e em muitas outras que se encontram espalhadas pelas bibliotecas, os leitores encontrarão inúmeras citas semelhantes às que André Luiz registra: a chamada "fixação mental", as "almas gêmeas", as "formas-pensamentos", os "Espíritos co-criadores", as múltiplas "esferas", os recursos "volitivos" etc. Será fácil localizar, em tais livros, narrativas sobre "processos" de reencarnação, catalogação de casos especiais, providências tomadas por guardas ou vigilantes, trabalhos em laboratórios, assembleias, compartimentos artísticos e até processamento de banhos de higiene, tais os que tomamos aqui na Terra. Também a grande médium Madame d'Espérance narra, no seu livro "No País das Sombras", editado em fins do século passado, fatos bastante curiosos, no correr dos capítulos XXIV, XXV e XXVI, valendo a pena le-Ias.

            Cuidei ter demonstrado sobejamente que André Luiz, afinal, não manejou linguagem tão nova. Muitas das suas descrições, inclusive, nos fazem lembrar ainda as cenas da "Divina Comédia", obra imortal, sem dúvida alguma "soprada" do Alto para Dante. (17) Restaria apenas clarear pequena questão. Desde que o plano invisível assim se configura, por que os médiuns, antes de André Luiz, não o descreviam durante as chamadas sessões de desobsessão, nem sequer lhe fazendo qualquer referência? Por que não falaram nunca nos ministérios, no aerobus, nos bônus-horas, hospitais, casas etc.? Tentemos responder à questão que, em última análise, não é tão complicada assim e nada inextricável. Consideremos, preliminarmente, que muitos dos Espíritos que são trazidos ou que vêm a tais sessões não estão absolutamente em condições de descrever coisa alguma, das quais, não raro, nem sequer chegam a se aperceber. Aportando uma pessoa qualquer a uma cidade nova e no mesmo instante sendo vítima dum desastre, que poderia ela dizer aos que, no nosocômio, lhe perguntassem sobre o que vira ou sentira a seu redor, antes do acidente? Nada, tamanhas a sua perturbação, a sua dor, o seu desequilíbrio psíquico. Ainda hoje, e no futuro adentro, os Espíritos manifestados nessas mesmas sessões nada disseram e nada dirão sobre tanto, em que pese à publicação das obras de André Luiz. Por outro lado, admitamos
ainda que, se o progresso caminha na direção do astral para a terra e em épocas determinadas, também de esferas muito mais altas caminhará na direção do plano imediatamente acima de nós. Desta forma, tanto quanto estudamos para aperfeiçoar nossa técnica, nossa ciência, nossa moral, também elas procedem assim. Isto significa ser bem provável a inexistência, no passado, das organizações, das colônias, dos aparelhos que já hoje existem no Além. Criaram-nos os Espíritos com o tempo; tal qual o fazemos aqui. Restaria somente acrescentar que muitos Espíritos terão falado, nessas sessões, no aerobus, nas suas casas, nas árvores etc. No entanto, como nossos conhecimentos a respeito ainda eram precários, atribuíamos logicamente essas referências à perturbação espiritual da entidade, julgando-a falar de coisas da própria Terra, quando, de fato, falava de coisas do espaço.
Registremos, por fim, a circunstância de que os vocábulos usados por André Luiz são puramente comparativos. A vida e a linguagem reais dos Espíritos é o pensamento. Este, todavia, nem sempre pode ser reduzido a proporções linguísticas. Se André Luiz nos fala de "ministérios" é evidente que busca uma analogia com o nosso sistema de governo. Há países, afinal, onde não há ministérios e, ditadas essas mesmas obras para médiuns ali nascidos, certamente os nomes de identificação e de referência seriam outros.

            (17) o leitor não deve deixar de ler o extraordinário trabalho de Arnaldo S. Thiago intitulado "Dante Alighieri - o Último Iniciado". Florianópolis, 1970.

            Encerremos este capítulo transcrevendo o seguinte período do prefácio feito por Emmanuel para o livro "Os Mensageiros", o segundo da série de André Luiz:

            "Se um chimpanzé, guindado a um palácio, encontrasse recursos para escrever aos seus irmãos de fase evolucionária, quase não encontraria diferenças fundamentais para relacionar, ante o senso dos semelhantes. Daria notícias de uma vida animal aperfeiçoada e talvez a única zona inacessível às suas possibilidades de definição estivesse justamente na auréola da razão que envolve o espírito humano. Quanto às formas de vida, a mudança não seria profundamente sensível. Os pelos rústicos encontram sucessão nas casimiras e sedas modernas. A Natureza que cerca o ninho agreste é a mesma que fornece estabilidade à moradia do homem. A furna (18) ter-se-ia transformado na edificação de pedra. O prado verde liga-se ao jardim civilizado. A continuação da espécie apresenta fenômenos quase idênticos. A lei da herança continua com ligeiras modificações. A nutrição demonstra os mesmos trâmites. A união da família consanguínea revela os mesmos traços fortes. O chimpanzé, desse modo, somente encontraria dificuldade para enumerar os problemas do trabalho, da responsabilidade, da memória enobrecida, do sentimento purificado, da edificação espiritual, enfim, relativa à conquista da razão." (19)

            (18) Nas primeiras edições, por evidente equívoco, saiu fauna.
            (19) Págs. 7/8 da 9ª edição da FEB, 1975.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dois ou três reunidos em Meu nome...


Dois ou Três 
reunidos em
Meu nome...

18,19 “Em verdade vos digo que se dois dentre vós, sobre a Terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus;
18,20 Porque onde estiverem  dois ou três  reunidos em meu nome, aí estou Eu           no meio deles.”

          Para Mt (18,20) -Dois ou três reunidos em Meu Nome -,  encontramos a palavra de Kardec, no Cap. XI de   “O Evangelho...”, na parte que se refere às Instruções dos Espíritos, que nos diz do amor de Cristo a seus irmãos menores, através  do espírito Sanson (Paris, 1863). Reproduzimo-la, em parte:
                       
            “... Amar, no sentido profundo da palavra, é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que se quereria para si mesmo; é procurar ao redor de si o sentido íntimo de todas as dores que oprimem vossos irmãos, para abrandá-las; é encarar a grande família humana como a sua, porque essa família, vós a encontrareis, em certo período, em mundos mais avançados, e os espíritos que a compõem são, como vós, filhos de Deus destinados a se elevarem ao Infinito. É por isso que não podeis recusar aos vossos irmãos o que Deus vos deu livremente, visto que, a vosso turno, estaríeis bem contentes se vossos irmãos vos dessem do que tivésseis necessidade. A todos os sofrimentos, pois, uma palavra de esperança e de apoio, a fim de que sejais todo amor, todo justiça. ”

            Para Mt (18,20) -Dois ou Três Reunidos em Meu Nome - busquemos, também, a palavra de André Luiz, por Waldo Vieira, em “Conduta Espírita”:              

Conduta Espírita no Templo...

            -Entrar pontualmente no templo espírita para tomar parte das reuniões, sem provocar alarido ou perturbações. O templo é local previamente escolhido para encontro com as Forças Superiores.

            -Dedicar a melhor atenção aos doutrinadores, sem conversação, bocejo ou tosse barulhenta, para que seja mantido o justo respeito ao lar de oração. Os atos da criatura revelam-lhe os propósitos.

            -Evitar aplausos ou manifestações outras, as quais apesar de interpretarem atitudes sinceras, por vezes geram desentendimento e desequilíbrios vários. O silêncio favorece a ordem.

            -Com espontaneidade, privar-se dos primeiros lugares no auditório, reservando-os para visitantes e pessoas fisicamente menos capazes. O exemplo do bem começa nos gestos pequeninos.

            -Coibir-se de evocar a presença de determinada entidade, no curso das sessões, aceitando, sem exigência, os ditames da Esfera Superior no que tange ao bem estar geral. A harmonia dos pensamentos condiciona a paz e o progresso da todos.

            -Acostumar-se a não confundir preguiça ou timidez com humildade, abraçando os encargos que lhe couberem, com desassombro e valor. A disposição de servir, por si só, já simplifica os obstáculos.

            -Desaprovar a conservação de retratos, quadros, legendas ou quaisquer objetos que possam ser tidos na conta de apetrechos para ritual, tão usados em diversos meios religiosos.  Os aparatos exteriores têm cristalizado a fé em todas as civilizações terrenas.

            -Oferecer a tribuna doutrinária apenas a pessoas conhecidas dos irmãos dirigentes da Casa, para não acumpliciar-se, inadvertidamente, com pregações de princípios estranhos aos postulados espíritas. Quem se ilumina, recebe a responsabilidade de preservar a luz.

            -Nas reuniões doutrinárias, jamais angariar donativos por meio de coletas, peditórios ou vendas de tômbolas, à vista dos inconvenientes que apresentam, de vez que tais expedientes podem ser tomados à conta de pagamento de benefícios. A pureza da prática da Doutrina Espírita deve ser preservada a todo custo.” 


            Para Mt (18,19),- Em equipe Espírita - temos, ainda, de “Segue-me!”, de Emmanuel por Chico Xavier:

            “Aceitar-nos na condição de obreiros chamados por Jesus a servir e servir.

            Compreendermo-nos em lide como sendo uma só família na intimidade do lar, esquecendo-nos pelo rendimento da obra.

             Acreditar -mas acreditar mesmo- que nada conseguiremos de bom, perante o Senhor, sem humildade e paciência, tolerância e compreensão, uns diante dos outros.

             Situar a mente e o coração na lavoura do bem comum.

            Fazer o que se deve, mas prestar apoio discreto e desinteressado aos companheiros na desincumbência das responsabilidades que lhes competem.

            Associar-nos ao esforço geral do grupo no cumprimento do programa de ação, traçado a benefício do próximo, sem esperar pedidos ou requisições de concurso fraterno.

            Observamos, todos nós, que nos achamos na Seara de Jesus, não porque aí estejam laços queridos ou almas abençoadas de nosso tesouro afetivo, a quem desejamos agradar e a quem realmente devemos ajudar, quanto nos seja possível, mas, acima de tudo, para trabalhar por nós e para nós mesmos, aproveitando as novas concessões que o Senhor nos fez por acréscimo de misericórdia, a fim de que se nos melhore o gabarito espiritual nos empreendimentos de resgate e elevação.

            Caminhar para frente, desculpando-nos com entendimento mútuo quanto às próprias fraquezas, sem melindres e sem queixas que apenas redundam em complicações e perda de tempo.

            Agir e servir sem menosprezar as tarefas aparentemente pequeninas, como sejam: colaborar na limpeza, transmitir um recado, ouvir atenciosamente os irmãos mais necessitados que nós mesmos, ou socorrer uma criança. Cada um de nós - na equipe de ação espírita - é peça importante nos mecanismos do bem.


            Jamais esquecer-nos de que o maior gênio não consegue realizar-se sozinho e que, por isso mesmo,  Jesus nos trouxe à edificação do Reino de Deus, valorizando o princípio da interdependência e a lei da cooperação.”    

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Tudo o que ligardes na Terra...


Tudo o que
ligardes na Terra...                  

18,15 Se teu irmão houver faltado a ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente. Se  te  ouvir,  terás  ganho  um  irmão.
18,16 Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva para decisão de duas ou três testemunhas.
18,17 Se recusas ouvi-los, dizei-o à igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano.
18,18 Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra  será também  desligado  no céu.

          Para Mt (18,18), -Tudo o que ligardes na Terra será ligado também no céu..encontramos a palavra de Emmanuel por Chico Xavier em  “Lindos Casos”, de Ramiro Gama:

            “Na noite do Ano Bom de 1950, vários irmãos de Belo Horizonte, reunidos em Pedro Leopoldo, em companhia do Chico, comentavam a importância das riquezas para a extensão do bem:
            Aqui, desejava-se o salário farto...
            Acolá, falava-se em dinheiro da loteria...

            Chegada a hora da prece, Emmanuel, pelo lápis do médium, endereça aos presentes a seguinte mensagem:

O Tesouro da Fraternidade

            Não desprezes as pequeninas parcelas de carinho para que atinjas a tesouro da fraternidade.

            Uma palavra confortadora.
            O gesto de compreensão e ternura.
            A frase de incentivo.
            O presente de um livro.
            A lembrança de uma flor.
            Cinco minutos da palestra reconfortante.
            O sorriso do estímulo.
            A gota do remédio.
            A informação prestada alegremente.
            O pão repartido.
            A visita espontânea.
            Uma carta de entendimento e amizade.
            O abraço do irmão.
            O singelo serviço em viagem.
            Um ligeiro sinal de cooperação.

            Não é com o ouro fácil que descobrirás os mananciais ignorados e profundos da alma.

            Não é com a  autoridade do mundo que conquistarás a renovação real de um amigo.
            Não é com a inteligência poderosa que colherás as flores ocultas da confiança.

            Mas, sempre que o teu coração se inclinar para um mendigo ou para um príncipe, envolvido na luz sublime da boa vontade, ajudando e servindo em nome do Bem, olvidando a ti mesmo para que os outros se elevem e se rejubilem, guarda a certeza de que tocaste o coração do próximo com as santas irradiações das tuas pérolas de bondade e caminharás no mundo, sob a invencível couraça da simpatia, para encontrar o divino tesouro da fraternidade em plenos céus.
           
           

            

XXVII - 'Apreciando a Paulo'



XXVII
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec – 1958

“Que os homens nos considerem como ministros do Cristo,
e dispenseiros dos ministérios de Deus.
Além disso, requer-se nos dispenseiros que cada um se ache fiel.
Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós,
ou por algum juízo humano;
nem eu tampouco a mim mesmo me julgo.
Porque em nada me sinto culpado;
mas nem por isto me considero justificado,
pois quem me julga é o Senhor.”
(Paulo - 1ª Epístola aos Coríntios, 4:1 a 4)


            Nós, espíritas cristãos, que nos dedicamos com sinceridade à Terceira Revelação de Deus, somos também, como o apóstolo - embora longe dele em estatura moral -, ministros do Cristo, a serviço de sua causa, que é a da verdade e do amor espiritual.

            Paulo fala aqui nos “mistérios de Deus”. Sendo a inteligência humana limitada, muitos mistérios para nós continuarão a existir, como frutos de nossa percepção restrita ou apoucada.

            Sabemos que os mistérios são consequência de nossa ignorância; porém, à medida que o homem evolui, eles vão desaparecendo, porque as trevas da incompreensão são espanca das pela luz do entendimento. O estudo e a reflexão, ao lado de um procedimento reto, dão à criatura humana a serenidade de espírito para compreender e sentir a justiça de Deus, que sempre se manifesta na vida.

            Cada um é artífice de sua evolução e sacerdote de si mesmo.

            Se somos deuses, como está nas Escrituras (Isaías, 41:23; Salmos, 82:6) como Jesus mesmo repetiu (João, 10:34); se nosso estado espiritual ainda é de imperfeições, mas se buscamos a fonte perene de amor e de verdade, que é nosso Pai Celestial, algum dia os mistérios desaparecerão e tudo compreenderemos, quando nossa cultura e nossa moral atingirem, através dos séculos, a perfeição Sideral.

            Todavia, antes de entender os aspectos fundamentais da verdade, que só o Espiritismo logicamente esclarece o homem tem inquietações e temores. Mas depois que a fé raciocinada, lhe dá a certeza da imortalidade da alma e a elucidação dos pontos básicos da filosofia da vida, depois que adquire a convicção da justiça e da misericórdia da lei divina, ele trabalha, confia e espera, sem quaisquer dúvidas que lhe toldem o Espírito.

            O Divino Mestre aconselhou mesmo, como regra de conduta:

            “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. (João, 14:1)

            Aquele que tem fé, jamais pode mostrar-se perturbado; assim, quem crê em Deus verdadeiramente, não se irrita e nem se contraria, mas confia sempre no Senhor, que ampara os que o buscam com pureza de coração e firmeza de propósitos.

            O próprio mal que nos sucede, é sempre para nossa evolução, ou seja, para nosso bem. Será resgate ou experiência, expiação ou provação. Mas se o Espírito suportar a prova resignadamente (certo de que Deus não dá a cruz superior às forças), galgará mais um degrau em sua trilha evolutiva, que o conduzirá mais tarde às regiões de luz e de felicidade eternas. Fomos criados para uma destinação sublime e não para o sofrimento; se padecemos, sendo Deus bom, é porque necessitamos de tal, como meio imprescindível para nosso adiantamento moral.

            Mas “requer-se nos dispenseiros que cada um seja fiel”, como adverte Paulo, nesta sua Primeira Epístola aos Coríntios.

            É preciso calma, humildade e resignação, e não sentimento de revolta, que, além de nada resolver, ainda complica os acontecimentos. Portanto, é indispensável muita fidelidade aos ensinamentos de Jesus Cristo, Mestre querido, roteiro de nossa salvação.

            Podemos enganar os homens, mas não a Deus. Ele lê em nosso íntimo, e sabe da sinceridade de nossos propósitos. Assim, que nosso coração jamais se turbe - sejam quais forem os acontecimentos da vida -, pois que a angústia ou a revolta é falta de fé ou de confiança em nosso Pai Celestial.

            Se sofremos injustiças, é porque já fizemos injustiças, nesta ou em vidas pregressas. É preciso que a lei se cumpra para nosso resgate e elevação espiritual.

            Mas, por outro lado, no cumprimento do dever, não nos preocupemos com o juízo dos homens, conforme Paulo aqui nos ensina.

            É certo que o julgamento duro ou perverso, o ato de injustiça ou de ingratidão, quando parte de companheiro ou de familiar, dói profundamente. As feridas morais, não resta dúvida, são as mais profundas. Contudo, o discípulo não é maior, nem melhor do que o Mestre, como disse o divino Rabi. Se Jesus sofreu as incompreensões e as maiores iniquidades, por que não poderemos passar por provações semelhantes? Destarte, se quisermos ser cristãos, sigamos seu exemplo, fazendo tudo para não murmurar.

            Se o julgamento injusto de um confrade, por exemplo, nos afastar do serviço divino, é porque nosso propósito de trabalhar ainda não era sincero, mas fraco ou indeciso. E como na parábola do semeador, vieram os espinhos e sufocaram a semente. Qualquer pretexto serviria, porque a palavra que tínhamos no coração caíra em pedregais e não eram profundas as raízes...

            É aconselhável sempre que nos abstenhamos de julgar. Quem sabe se, em situação igual, não procederíamos pior? Há sempre circunstâncias que revestem os fatos, às vezes ocultas, e que passam despercebidas pelo julgado leviano.

            Mas se nosso semelhante errar mesmo, digno é de nossa piedade, de nosso perdão e de nosso amor. Quanto maior for a culpa, maior deve ser a misericórdia para com o pecador. Escorraçá-lo do grupo é demonstrar grande falta de caridade. O irmão que erra deve ser cercado de carinho e não de censuras acres, a fim de que possa retroceder e voltar ao aprisco. Lembremo-nos de que Jesus pediu perdão ao Pai Celestial até para seus algozes, muitos dos quais somos nós, os que nos encontramos aqui na Terra, em processo de reencarnação e de ascensão espiritual pelo sofrimento.

            Mas é difícil o homem apontar o lado bom de seu semelhante, porém está sempre pronto para criticar o que lhe parece digno de censura na conduta do irmão, e às vezes o faz com palavras veementes ou rigorosas, quase sempre pelas costas, estraçalhando a reputação alheia. Esses devem lembrar-se de que, portando-se assim, não estão agindo como cristãos, mas como inimigos da obra de Deus, que é de perdão e de misericórdia. Não basta frequentar sessões, nem a elas presidir ou falar bonito. É necessário ao espírita, sobretudo, que busque sua própria transformação moral, lembrando-se de que, “fora da caridade não há salvação”. E precisamos cultivar a caridade, deixando de comentar a conduta dos que erram, mesmo porque não somos perfeitos. E só mereceremos misericórdia de Deus, se usarmos de misericórdia também.

            Portanto, evitemos julgar! O Cordeiro Imaculado, que tem a suprema autoridade, afirma: “Eu a ninguém julgo.” (João, 8,15).

            Ele sabe que a lei divina é tão perfeita, que prescinde de qualquer julgamento, pois “a cada um será dado segundo as suas obras.” (Mateus, 16:27)

            Além disto, o Cristo de Deus, cheio de generosidade, não veio para julgar o mundo, mas para salvar o mundo, como Ele mesmo declarou (João, 12:47).

            Recordemos ainda São Paulo, a tal propósito:

            “A mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano, nem eu tampouco a mim mesmo me julgo.”

            O complemento do problema é o indivíduo não se julgar importante ou indispensável à obra, que é de Deus. O Senhor quer nosso serviço, mas nós precisamos muito mais d'Ele, do que Ele de nós. Nosso dever é o de trabalharmos com humildade, embora com a certeza de que nos estamos conduzindo bem (na medida de nossa relatividade ou de nossas imperfeições) e de que a justiça virá de cima e não de baixo, de Deus e não dos homens. E quando provenha destes, é porque Deus assim o quis. Tudo o que somos, tudo o que sofremos, tudo o que gozamos, está dentro da lei e d'Ele provém. Como Jó, saibamos agradecer tudo, porque EIe é justo e bom.

            Já de uma feita escrevi, repetindo o ensinamento de um Espírito sincero, que só Deus encarna em si mesmo, simultaneamente, os atributos de bondade e de justiça. Porque nós, quase sempre, sendo justos, deixamos de ser bons; e, sendo bons, deixamos de ser justos. É difícil o equilíbrio perfeito entre tais virtudes. Eis porque o julgamento só a Ele compete. Só Ele sabe ser justo e bom, ao mesmo tempo.

            Jesus Cristo, ensinando aos homens que não era Deus, declarou:

            “Não há bom senão um só, que é Deus.” E completou a lição: “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.” (Mateus, 19:17, in fine.)

            Tenhamos a convicção, contudo, de que:

            “O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará.” (II Coríntios, 9:6)

            Mas é preciso que a semeadura seja isenta de orgulho ou de vaidade, sem propósitos de superioridades. Porém, ainda aí o problema é individual e dispensa julgamento, porque só Deus conhece os corações. Geralmente, nem nós mesmos conhecemos nosso mérito ou demérito. Ele é quem dá valor ao trabalho, porque é o dono da lavoura e nós somos simples trabalhadores, sujeitos ao seu arbítrio, em que podemos confiar.

            Entretanto, não devemos trabalhar com os olhos fitos na recompensa, porque faltará aí a pureza de coração, para abundar o interesse, que diminui o grau do amor.

            Sobre o julgamento, a regra geral é:

            “Não julgueis para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados,  e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.” (Mateus, 7:1 e 12)

            Tais palavras de nosso querido Mestre deviam ser sempre objeto de recordação por parte de todos os cristãos, pois somos muitas vezes apressados nas apreciações ou no juízo que fazemos de nosso semelhante. É preferível que olhemos e que louvemos seu lado bom, pois toda criatura de Deus o possui, em estado evolutivo,

            E se há propensão ao mal ou ao erro, é certo que todos a possuímos, em maior ou menor dose, sem que saibamos exatamente nosso grau evolutivo. Portanto, sejamos rigorosos conosco, cada um estudando a si mesmo e combatendo suas próprias imperfeições, mas sendo misericordioso com o irmão, para merecer a misericórdia de Deus.

            Se a regra geral é não julgar, há, todavia, casos excepcionais em que devemos julgar. Tal é a missão do juiz, do professor, do perito etc., daquele que se vê, por força do cargo ou das circunstâncias, compelido a esse dever, a que não deve fugir. Para esses casos, Jesus dá também a regra: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.” (João, 7:24)

            Quando formos compelidos a julgar, façamo-lo com ponderação e critério, com o propósito sincero de fazermos justiça. A função do julgador é nobre, mas cheia de responsabilidade moral. Tenhamos presente que daremos contas a Deus de todos os nossos atos. Conhece-se o cristão pela conduta e não somente pela fé. É através de nossos atos que atestaremos viver o Evangelho. Ao julgarmos, conseguintemente, procedamos de acordo com nossa consciência, pois cada um possui dentro de si o discernimento entre o bem e o mal, o justo e o injusto, que é a característica do ser consciente.

            E procuremos dar a César o que é de César, como damos a Deus o que é de Deus.

            Paulo de Tarso termina os versículos que comentamos, dizendo:

            “Em nada me sinto culpado; mas nem por isto me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor.”

            Por mais acertada que seja nossa conduta, nada de vanglórias, nem de jactâncias, que são orgulho ou vaidade. Sejamos humildes e confiantes em Deus. Esforcemo-nos por ter uma conduta cristã; sejamos sinceros para com o Senhor.

            Mas se o apóstolo dos gentios, aquele gigante da fé, tinha dúvidas sobre seu próprio mérito, quanto mais nós, pequenos trabalhadores da seara do Cristo?