1. “André
Luiz
fantasia?
por Luciano dos Anjos
in ‘Deus é o absurdo’ ( Ed ECO- 1977? )
Um
misoneísmo sem propósito ainda capeia a posição de alguns espíritas em face das
obras de André Luiz. Não consigo lobrigar nenhuma razão capaz de justificar
esse comportamento. O Espiritismo não pode fossilizar-se. Kardec mesmo
sublinhou, no seu pentateuco, a inevitabilidade dos princípios dinâmicos da
Doutrina, de par com um cientificismo que lhe daria perpetuidade. Em "A
Gênese", cap. I, § 55, da edição da FEB, dizia: "O Espiritismo, marchando com o progresso, não será jamais excedido,
porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto,
ele se modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade 'se revelar, ele a
aceitará." Sistema filosófico altamente progressista, tende a
acompanhar todos os avanços da Ciência, embora se preocupando em ir mais longe,
quando evolui para o espiritualismo genuíno e invade o Além, no rasto da
desencarnação. Quando, portanto, entidades que revelam elevação, nos vêm trazer
ensinamentos sobre matéria nova, não há por que desdenhá-las, desde que seus
ensinos possam suportar o exame frio, duro e lógico do raciocínio atilado. Não
se trata de crer simplesmente, mas, sem fugir à norma kardecista, aplicar o
crivo da razão na filtragem de quaisquer revelações. Contudo, em face da série
produzida por André Luiz, através do médium Chico Xavier, alguns confrades se
furtaram, sem dúvida, a essa tarefa mínima, eis que não se justifica o
misoneísmo em que se albergaram. Bastaria, por exemplo, um estudo comparativo
com diversas obras, algumas de autores considerados clássicos e publicadas
muito antes, em várias partes do mundo, para situar dentro do razoável, e do
congruente tudo quanto nos tem sido ditado, desde "Nosso Lar" até
"E a Vida Continua". Verificar-se-á então que, de novo propriamente, André Luiz nos
diz muito pouco, senão apenas uma contextura mais detalhada no conjunto das
suas dissertações. Eu diria, mesmo, que somente em "Evolução em Dois Mundos" e
"Mecanismos da Mediunidade" é que deparamos com conceitos mais
surpreendentes; ainda assim, há ali os que também encontram paralelo nas citações dos chamados clássicos.
Em
Psicologia, no estudo das funções gerais da vida psíquica, topamos com o
capítulo da Atenção. Possuímos todos a capacidade de selecionar os fatos que
nos interessam mais de perto, prendendo-nos a eles com maior ou menor
intensidade. A Atenção se traduz na consciência total em seu maior ou menor
grau de concentração. Theobaldo Miranda Santos definiu-a como "um estado de concentração da atividade
consciente sobre um determinado objeto". (1) Diz ainda que "a vida do
homem está sempre polarizada para certos aspectos ou objetos do mundo que o
interessam". L. J. Guerrero, por isso mesmo, afirmou que "só podemos prestar atenção àquelas coisas às
quais já estávamos atentos, sem saber". (2) Do exposto se pode concluir que, não raro, ao
lermos uma obra, deixamos de atentar para uma série de seus aspectos situados à
margem do problema ou do assunto principal que nos prende a atenção. Por isso
nós lemos "A Crise da Morte", "O Céu e o Inferno", "A
Nova Revelação" etc., e não fixáramos, há mais tempo, conceitos agora
transformados por André Luiz em pontos altos da sua série. Vai nisso também -
para nós, espíritas que somos - a questão do nível evolutivo das criaturas.
Embora conheçamos uma verdade, caso esteja exageradamente acima do nosso ciclo
evolutivo, por ela passaremos sem lhe prestar nenhuma atenção. Excepcionalmente
aparecem os que se situam acima desse nível, normal à grande maioria, e neles
encontramos, então, sem favor nenhum, os gênios, os profetas, os grandes
inspiradores etc. Daí a necessidade da Revelação. Sem ela, possivelmente não
haveria progresso. Rompendo a barreira em razão da qual passamos a viver dentro
dum circuito fechado de conhecimentos, a revelação funciona como peça essencial
à revolução humana. Ela não pode ser única nem limitada; tem de necessariamente
nascer por etapas, à frente da criatura, abrindo-lhe o caminho da ascensão. Que
dizer do futuro duma criança a quem nunca se tenha propiciado o conhecimento da
álgebra? Conduziria eternamente os seus problemas através dos limitados
recursos aritméticos, sem jamais suspeitar daqueles que, a rigor, lhe poderiam
ensejar conquistas extraordinárias no campo da matemática. De quanto não se
metamorfoseou esta ciência abstrata, quando a chamada matemática não-euclidiana
foi aventada, transformando a soma dos ângulos internos dum triângulo em 360
graus! Bastou que, num assomo de indizível inspiração, o gênio de Einstein
revelasse a hipótese da curvatura do espaço. Mas, não quero levar tão longe a
digressão. Preocupo-me, por ora, em conduzir o leitor à ilação de que, afinal,
já terá lido em outros autores, alguns clássicos, muita coisa dita agora por André
Luiz, sem que, entretanto, houvesse prestado atenção a isso.
(1) "Noções de Psicologia Educacional",
Companhia Editora Nacional, 1945.
(2) "Psicologia'', 1939.
Ao
demais, em última análise, onde estaria o absurdo da suposição de que a vida,
além do túmulo, prossegue mais ou menos igual à terrestre? Já não sabemos que a
natureza não dá saltos? Não aprendemos que toda evolução é paulatina? Será
insensato supor que, se algumas coisas podem sobreviver, todas o poderão, em formas tais que se adaptem ao novo ambiente do Além? Se a evolução no plano
terreno é lenta, não o será menor no espiritual. Emmanuel Kant, sem conhecer o
Espiritismo, já postulava que "a
alma humana se acha desde esta vida ligada ao mesmo tempo a dois mundos; quando
enfim a união da alma com o corpo físico cessa pela morte, sua vida no além é a continuação natural da ligação
que já teve com este além". (3) Dizia também Paracelso, alhures, com muita propriedade: "Embaixo - como em cima." Kardec, por seu turno, nas últimas linhas
da Introdução da sua obra fundamental, nos lembra que "entre o homem e Deus outros elos
necessariamente haverá", e que a suposta lacuna admitida por muitos
entre nós e o Criador "o Espiritismo
no-la mostra preenchida pelos seres de todas as ordens do mundo invisível e
estes seres não são mais que os Espíritos dos homens, nos diferentes graus que
levam à perfeição" (4) . Léon Denis diz em "O Além e a Sobrevivência do Ser": “a vida continua, bem o sabeis. Só muda a
forma. Todavia não muda demasiado, porquanto, durante largo tempo, nos
conservamos terrestres." (5) E, em "Depois da Morte": "O Espírito, pelo poder da vontade, opera sobre os fluidos do espaço,
combina-os e dispõe a seu gosto, dá-lhes as cores que convém ao seu fim. Com
esses fluidos se executam obras que desafiam toda comparação e toda análise."
(6) No livro intitulado "Rumo às Estrelas", o Espírito de Johannes
afirma a H. Dennis Bradley: "Isto
quer dizer que aqui se vive de um modo muito parecido ao da terra.” (7) Extraímos, ainda, do trabalho de J. Arthur Findlay" - "No
Limiar do Etéreo" - a seguinte confirmação: "A muitos respeitos, o mundo etéreo se assemelha ao mundo terreno."
(8) "Vivemos
num mundo real e tangível, se bem que os átomos que o compõem difiram dos que
formam o vosso." (9) Aliás, o capítulo IX desta obra é todo ele um
excelente pródromo à série de André Luiz. O famoso Professor Hyslop dizia não compreender "por que se exige que o mundo espiritual seja mais ideal do que o nosso;
os dois mundos são obra do mesmo Autor". (10) Outro sábio, o Professor Oliver Lodge, pondera na sua célebre obra chamada "Raymond”: “Assim,
alguns há (Espíritos) que pedem de comer; outros desejariam beber um gole de
uísque. Não tens que te espantar, se eu te disser que há meio de serem contentados, fornecendo-lhes
qualquer coisa que se assemelhe ao que eles reclamam,' (11) Citemos, ainda, o notável
escritor espírita Arthur Conan Doyle que, na sua "História do
Espiritismo", confessa aceitar plenamente a existência do Além com o ar,
as vistas, as casas, os ambientes, as ocupações tão reais e objetivas aos seus
habitantes quanto o nosso mundo para nós. (12) Ernesto
Bozzano, na obra "A Crise da Morte", chegou, na qualidade de um dos
maiores investigadores espíritas da sua época, a vinte conclusões sobre a passagem
do estado de encarnação para o de desencarnação, Dentre elas estão a de que os
Espíritos ficam com a mesma forma humana e de que "o meio espiritual era um novo mundo objetivo, substancial, real,
análogo ao meio terrestre espiritualizado". (13)
(4) "O Livro dos
Espíritos", pág. 37, 32ª edição da FEB, 1972.
(5) Pág. 47, 3ª
edição da FEB.
(6) Pág. 253, 4ª
edição da FEB.
(7) Pág. 270, edição
da LAKE.
(8) Pág. 135, 2ª
edição da FEB.
(9) Pág. 144, edição
citada.
(10) "American
Journal of the SPR", 1913, págs. 235/237.
(11) Págs. 197/198.
(12) Págs. 476/477,
Editora o Pensamento.
(13) Págs. 153 a 157,
4ª edição da FEB.
Remontando
aos primórdios da história do Espiritismo, vamos verificar que, já no século
XVII, o sueco vidente Emmanuel Swedenborg - precursor do neo-espritualismo e a
quem Conan Doyle chamou "o pai do novo conhecimento dos fenômenos
supranormais" - ensinava que o Universo era constituído de esferas
diferentes, com vários graus de luminosidade, onde há casas, templos, clubes e
palácios, não havendo nenhuma mudança essencial com a morte. Falava de
arquitetos e mecânicos vivendo normalmente no Além, bem como na existência de
flores, plantas, frutos, bordados, costuras, colégios, museus, hospitais,
escolas, livrarias, bibliotecas, praças de esporte etc. Esses ensinos - na
época tão mal compreendidos - se encontram nas suas imortais obras "Céu e
Inferno", "A Nova Jerusalém" e "Arcana Coelestia".
Mais tarde, surgiu a figura de André Jackson Davis, nascido em 1826, nos
Estados Unidos, e autor também de vários trabalhos sobre a vida no Além. Foi,
como se sabe, profeta de invulgares faculdades. Através de visões, apresentou a
outra vida como semimaterial e semelhante à da Terra. Viu igualmente campos de
repouso, aplicação de dinheiros, luxúria, alcoolismo, o "céu" e o
"inferno". Seus ensinos estão compendiados com o nome de
"Filosofia Harmônica". Como se vê, suas visões espirituais
correspondem às que foram apresentadas por Swedenborg.
* * *
2. “André
Luiz
fantasia?
Buscarei
agora traçar um paralelo maior e mais detalhado entre os conceitos de André
Luiz e os que encontramos em obras consideradas, algumas delas, clássicas por
excelência. Refiramos, inicialmente, um dos pontos mais controvertidos da
série, contido em "Libertação", e que admite a possibilidade de ser
dilatado o marco da desencarnação. A primeira vista, isto parece colidir
frontalmente com Kardec, que, na pergunta 853 de "O Livro dos
Espíritos", postula a fatalidade da morte. Mas, vejamos o que o mesmo
Kardec nos ensina em "O Céu e o Inferno", quando publica certos
esclarecimentos citados pelo Espírito São Luiz: "Certamente, em dadas condições, pode um Espírito encarnado prolongar a
existência corporal a fim de terminar instruções indispensáveis, ou, ao menos,
por ele como tais julgadas - é uma concessão que se lhe pode fazer, como no
caso vertente, além de muitos outros exemplos." "Preciso é no entanto que da possibilidade do
fato não se conclua a sua generalidade, nem tampouco que dependa de cada qual
prolongar por tal modo a sua existência." "Estes casos são excepcionais e não fazem regra. Tampouco é preciso não
ver nesse fato uma derrogação de Deus à imutabilidade das suas leis, senão
apenas uma consequência do livre arbítrio da alma que, no momento extremo, tem
consciência de sua missão e quer, a despeito da morte, concluir o que não pôde
até então." (14)
(14) Págs. 260/261 da 21ª edição da FEB, 1974
* * *
3. “André
Luiz
fantasia?
A
propósito de casas, paisagens, água, bosques, hospitais, asilos, alimentos,
roupas etc., existindo no Além talqualmente tudo quanto existe na Terra,
vejamos como se referem a isso alguns respeitáveis autores do passado.
Ernesto
Bozzano em "A Crise da Morte", 4ª edição: "P. - A morada de que falas tinha o aspecto de uma casa? R. - Certamente. No fundo dos Espíritos há a força do pensamento, por meio do qual se
podem criar todas as comodidades desejáveis..." (pág.
25). "... e me achei, não sei como, numa
espécie de vasta planície... Era
indescritível a beleza da paisagem. Bela também é a paisagem terrena, mas a
celeste é muito mais maravilhosa..." (pág. 47). "...os Espíritos que me
assistiam me haviam colocado num certo meio, que me parecia uma sala de
hospital, provida de todo o conforto" (pág. 64). "A paisagem era plana e
ondulada, muito semelhante, sob certos pontos de vista, às belezas do meu querido país
natal... " (pág. 79). "Por isso, os Espíritos me conduziram à
maravilhosa moradia que eles próprios haviam criado" (pág.
109). "As
habitações são construídas por Espíritos que se especializaram em modelar, pela
força do pensamento, essa matéria espiritual" (pág.
133).
Em
"Depois da Morte", de Léon Denis, encontramos: "Há festas
espirituais nas moradas etéreas. Radiantes de ofuscadora luz grupam-se em
família os Espíritos puros." (pág. 253, 4ª ed.).
"No
Limiar do Etéreo", de J. Arthur Findlay, 2ª ed. da FEB: "Crescem árvores e desabrocham flores"
(pág. 135). "...disseram-me
que comem e bebem exatamente como nós e tem do comer e do beber as mesmas sensações que nós" (pág. 136). "P. - Comeis e saboreais o vosso alimento? R.
- Comemos
e bebemos, sim;" (pág, 145). "Temos livros e podemos lê-los," "Das flores e tios campos aspiramos os
aromas, como vós aí." "Tudo é tangível... " (pág.
146). "P. -
Assemelha-se à nossa a vossa vegetação? R. - De certo modo, mas é muito mais linda." "Assim também as
nossas casas são produtos das nossas mentes. Pensamos e construímos" (pág.
148).
De
"A Nova Revelação", de Arthur Conan Doyle, 2ª ed. da FEB: "Os seres vivem vestidos, como era de
esperar, porquanto nenhuma razão há para que renunciem à decência sob as novas formas que tomam" (pág.
79). "Vivem em comunidades, como fora de supor,
desde que entre os que se assemelham há atração" (pág.
80). " ...os
espíritos, ou dispõem de excelente biblioteca a que se reportam, ou, então,
possuem uma memória que, por assim dizer, os torna oniscientes" (pág.
81). " ...
que (os Espíritos) usam vestuários e se alimentam" (pág.
26). "Os
Espíritos viviam em famílias e comunidades" (pág.
29).
Trechos
tomados à obra "A Vida Além do Véu", do Rev. G. Vale Owen, 2ª edição
da FEB: "- Então me diga alguma
coisa mais sobre a sua vivenda... -É muito bem acabada, interna e externamente.
Dentro, possui banheiros, um salão de música e aparelhos registradores do nosso
trabalho. É um edifício amplo. Chamei-lhe casa porque é realmente uma série de casas, sendo cada uma destinada a uma qualidade de trabalhos progressivos,
como em séries" (pág. 56). "Também a cor da nossa roupagem se
modifica conforme a parte do terreno em que nos achamos." "A água
também é muito bela". (pág. 58). "Esta casa, onde vos achais, é ° Palácio de
Castrel . .. " "Ele é o governador deste grande distrito... " "Soube que já estivestes
na Colônia da Música e, mais além, em outros estabelecimentos em que são
cultivados vários ramos da Ciência" (pág. 128). "Eram, pois, mandados para
asilos como este..." (pág. 130).
"Nós temos montes, rios, belas
florestas e muitas casas; tudo foi preparado pelos que nos precederam"
(pág. 48). "Por essa porta estão saindo cavalos e
carruagens com cocheiros, e cavalos com cavaleiros" (pág.
141) .
* * *
4. “André
Luiz
fantasia?
E
sobre o corpo espiritual, a respeito do qual André Luiz ditou uma obra inteira,
qual seja o substancioso "Evolução em Dois Mundos"? Se bem que
encontremos ali muita coisa realmente nova, outros aspectos, entretanto, já
eram grandemente abordados por autores do passado. Senão, vejamos.
Em
"Doutrina e Prática do Espiritismo", o talentoso Leopoldo Cirne
exprimia, em 1920: "O corpo astral,
em que reside o desenho ideal de todo ser que nasce, é formado de substância muito menos densa que a do corpo físico, mesmo suficientemente
etérea para se caracterizar pela invisibilidade, mas composta de átomos,
reunidos em moléculas, dotadas de um movimento vibratório normalmente muito
mais rápido que o da matéria constitutiva do corpo físico, no estado de
encarnação, porém adaptado até certo ponto à sua mesma tonalidade." "O corpo espiritual
(...) pode ser ainda assim conjecturado como um composto de átomos.. "
(págs. 370/371).
"No Limiar do Etéreo", edição
citada: "Tenho um corpo; que é uma
reprodução do que tive na Terra: as mesmas mãos, pernas e pés, que se movem
como o fazem os vossos." "O corpo etéreo é aqui tão substancial para nós, como o era o corpo físico
quando vivíamos na Terra" (pág.
145).
De
Gabriel Delanne, "A Reencarnação", ed. de 1952, da FEB: "É possível, pois, imaginar que todos
os órgãos terrestres estão representados no perispírito" (pág.
146).
De
"Rumo às Estrelas", ed. citada: "Agora
estou perfeitamente em regra, com uma boa cabeleira" (pág.
56).
"A
Nova Revelação": "Mas se lá no
Além não tivéssemos corpo semelhante ao que aqui temos, se nada conservássemos
do caráter que aqui nos individualiza, como desejariam aqueles críticos, então nos extinguíamos" (pág. 86). "
...nessa fase posterior da existência, os seres têm corpos que, conquanto
imperceptíveis para os nossos sentidos, são para eles tão sólidos como os nossos para nós" (pág, 116).
"A
Crise da Morte", de Bozzano: "Entre
nós também existe um desenvolvimento do "corpo etéreo" ... "Um bebê
cresce até chegar à maturidade. Contrariamente, um velho alcança a seu turno a idade viril, rejuvenescendo" (pág. 58).
* * *
5. “André
Luiz
fantasia?
André
Luiz nos fala também de cães, gatos, aves, animais em geral, vivendo
normalmente no Além. A informação seria novidade se dela já não tivéssemos tido
detalhes minuciosos, muitos anos antes.
Em
"A Vida Além do Véu", diz-nos o Rev. G. Vale Owen: "Transitando por esses caminhos havia
uma multidão de indivíduos, alguns a pé, outros a cavalo e outros em
carros"
(pág. 81). "Vinham,
pelos caminhos dos céus, cavalos e carruagens de lua..." (pág.
143).
Do
livro "No Limiar do Etéreo": "P.
- Os cães, gatos e outros animais sobrevivem à morte? R. - Sim, senhor, digo-o com
ênfase: sobrevivem" (págs. 147/148). "Os animais, do mesmo modo que os seres
humanos, sobrevivem à morte" (pág. 137).
De
"Rumo às Estrelas": "Existem
aqui vários animais." "Gostei de encontrar aqui cães, e tenho dois
gatas que me seguem" (pág. 59).
Em
“A Reencarnação", Gabriel Delanne narra, às páginas 107 a 120, diversos
casos de materialização de animais. Tanto Delanne quanto Conan Doyle, Richet,
Geley, Aksakof etc., muitos outros autores nos falam das memoráveis sessões com
os médiuns Frank Kluski e Jean Guzik, em Varsóvia, no correr do ano de 1922, durante
as quais se conseguiram materializações duma grande ave de rapina, dum ser
intermediário entre o macaco e o homem, de cães etc. Em "A Grande
Esperança", Charles Richet narra o seguinte: "Não há somente materialização de homens. Também há materialização de
animais. De minha parte, com Pugik, consegui uma que foi realmente espantosa.
Em Varsóvia, numa sala fechada a chave, apareceram, iluminadas por um vago luar, duas formas de
indivíduos fantasmagóricos, dos quais não se viam a face. Conversavam entre
eles em polonês. Um disse: por que trouxeste o teu cão? Nesse momento ouvimos
na sala o trote de um cão. Senti o cão aproximar-se de mim e morder gentilmente
o meu tornozelo, aliás, sem me magoar. Foi tão nítido que pude distinguir ser
um pequeno cão do qual eu senti os pequenos dentes pontiagudos. Depois o
cãozinho aproximou-se de Geley e mordeu-o com mais força de sorte que ele
disse: basta, basta. Ao que censurei energicamente. Ele deveria dizer: mais,
mais." (15)
(15) Pág. 202, edição
da BEP, 1940.
* * *
6. “André
Luiz
fantasia?
Quanto
aos parasitas-hospedeiros, que tanta surpresa causaram aos leitores de André
Luiz, são eles também claramente citados por Arthur Conan Doyle em
"História do Espiritismo", à pág. 475, nos seguintes termos:
"Tais Espíritos pareceriam uma ameaça constante à humanidade porque se a
aura protetora do indivíduo fosse de certo modo defeituosa, aqueles poderiam
tornar-se parasitas, estabelecendo-se nela e influenciando as ações de seu
hospedeiro. É possível que a ciência do futuro possa verificar que muitos casos
de inexplicável mania, de insensata violência, de súbita inclinação para
hábitos viciosos tenham essa causa... "
* * *
Na sua coleção, André Luiz faz
referência a uma série de termos como "ministério",
"governador", "muro da cidade", "câmara",
"guarda" etc. Vejamos como também encontrá-Ios noutras obras:
Em
"A Vida Além do Véu": "O Ministério do Céu", "Os
Batalhões do Céu" (pág. 21); "Esfera de Luz" (pág. 23);
"Palácio de Castrel", "governador", "Colônia de
Música", "Escola de Música", "Escola de Luz" (pág.
128); "Câmara de Conselho", "Chefe",
"Presidente", "Príncipe" (pág. 136); "porta da
cidade", "muralhas da cidade", "palácio",
"Cidade", "Avenida" (pág. 144); "Casa da Música"
(pág. 76); "salão laranja", "salão vermelho", "salão
'violeta" (pág. 78); "raio de poder e de vitalidade",
"região das trevas" (pág. 121); "distrito" (pág. 123); etc.
Em
"História do Espiritismo", há uma referência a "Círculos de
punição", à pág. 475, e, em "A Crise da Morte", Bozzano nos fala
sobre "esferas de provação", à pág. 138.
* * *
O
curioso aparelho a que André Luiz chama "Psicoscópio" ("Nos
Domínios da Mediunidade"), utilizado pelos Espíritos para medir a emanação
psíquica dos encarnados, não chega a ser novidade sequer no nome. Já em 1894,
no seu livro "Psiquismo Experimental", (16) Alfred Erny aludia à sua possível existência, segundo estas palavras:
(16)
Pág. 76 da 2ª edição da FEB, 1953.
"Quem sabe se no século XX não se descobrirá
o psicoscópio, isto é, um instrumento bastante poderoso e sensível para nos
permitir ver o fluido magnético e principalmente a matéria sutil que forma o corpo psíquico?"
Não
há dúvida de que Alfred Erny recebera intuição absolutamente certa.
* * *
7. “André
Luiz
fantasia?
Há
um mundo de analogias que eu gostaria de transcrever; entretanto, isso seria
absolutamente impossível. Nas obras que tenho mencionado e em muitas outras que
se encontram espalhadas pelas bibliotecas, os leitores encontrarão inúmeras
citas semelhantes às que André Luiz registra: a chamada "fixação mental",
as "almas gêmeas", as "formas-pensamentos", os "Espíritos co-criadores",
as múltiplas "esferas", os recursos "volitivos" etc. Será
fácil localizar, em tais livros, narrativas sobre "processos" de
reencarnação, catalogação de casos especiais, providências tomadas por guardas
ou vigilantes, trabalhos em laboratórios, assembleias, compartimentos
artísticos e até processamento de banhos de higiene, tais os que tomamos aqui
na Terra. Também a grande médium Madame d'Espérance narra, no seu livro
"No País das Sombras", editado em fins do século passado, fatos
bastante curiosos, no correr dos capítulos XXIV, XXV e XXVI, valendo a pena le-Ias.
Cuidei
ter demonstrado sobejamente que André Luiz, afinal, não manejou linguagem tão
nova. Muitas das suas descrições, inclusive, nos fazem lembrar ainda as cenas
da "Divina Comédia", obra imortal, sem
dúvida alguma "soprada" do Alto para Dante. (17) Restaria apenas clarear pequena questão. Desde que o plano invisível
assim se configura, por que os médiuns, antes de André Luiz, não o
descreviam durante as chamadas sessões de desobsessão, nem sequer lhe fazendo
qualquer referência? Por que não falaram nunca nos ministérios, no aerobus, nos bônus-horas,
hospitais, casas etc.? Tentemos responder à questão que, em última análise, não
é tão complicada assim e nada inextricável. Consideremos, preliminarmente, que
muitos dos Espíritos que são trazidos ou que vêm a tais sessões não estão
absolutamente em condições de descrever coisa alguma, das quais, não raro, nem
sequer chegam a se aperceber. Aportando uma pessoa qualquer a uma cidade nova e
no mesmo instante sendo vítima dum desastre, que poderia ela dizer aos que, no
nosocômio, lhe perguntassem sobre o que vira ou sentira a seu redor, antes do
acidente? Nada, tamanhas a sua perturbação, a sua dor, o seu desequilíbrio
psíquico. Ainda hoje, e no futuro adentro, os Espíritos manifestados nessas
mesmas sessões nada disseram e nada dirão sobre tanto, em que pese à publicação
das obras de André Luiz. Por outro lado, admitamos
ainda que, se o progresso caminha na direção do
astral para a terra e em épocas determinadas, também de esferas muito mais
altas caminhará na direção do plano imediatamente acima de nós. Desta forma,
tanto quanto estudamos para aperfeiçoar nossa técnica, nossa ciência, nossa
moral, também elas procedem assim. Isto significa ser bem provável a inexistência,
no passado, das organizações, das colônias, dos aparelhos que já hoje existem
no Além. Criaram-nos os Espíritos com o tempo; tal qual o fazemos aqui.
Restaria somente acrescentar que muitos Espíritos terão falado, nessas sessões,
no aerobus, nas suas casas, nas árvores etc. No entanto, como nossos
conhecimentos a respeito ainda eram precários, atribuíamos logicamente essas
referências à perturbação espiritual da entidade, julgando-a falar de coisas da
própria Terra, quando, de fato, falava de coisas do espaço.
Registremos, por fim, a circunstância de que os
vocábulos usados por André Luiz são puramente comparativos. A vida e a
linguagem reais dos Espíritos é o pensamento. Este, todavia, nem sempre pode
ser reduzido a proporções linguísticas. Se André Luiz nos fala de
"ministérios" é evidente que busca uma analogia com o nosso sistema
de governo. Há países, afinal, onde não há ministérios e,
ditadas essas mesmas obras para médiuns ali nascidos, certamente os nomes de
identificação e de referência seriam outros.
(17) o leitor não
deve deixar de ler o extraordinário trabalho de Arnaldo S. Thiago intitulado
"Dante Alighieri - o Último Iniciado". Florianópolis, 1970.
Encerremos
este capítulo transcrevendo o seguinte período do prefácio feito por Emmanuel
para o livro "Os Mensageiros", o segundo da série de André Luiz:
"Se um chimpanzé, guindado a um palácio,
encontrasse recursos para escrever aos seus irmãos de fase evolucionária, quase
não encontraria diferenças fundamentais para relacionar, ante o senso dos semelhantes.
Daria notícias de uma vida animal aperfeiçoada e talvez a única zona
inacessível às suas possibilidades de definição estivesse justamente na auréola
da razão que envolve o espírito humano. Quanto às formas de vida, a mudança não
seria profundamente sensível. Os pelos rústicos encontram sucessão nas casimiras
e sedas modernas. A Natureza que cerca o ninho agreste é a mesma que fornece
estabilidade à moradia do homem. A furna (18) ter-se-ia transformado na edificação de pedra. O prado verde liga-se ao jardim civilizado. A continuação da espécie apresenta
fenômenos quase idênticos. A lei da herança continua com ligeiras modificações.
A nutrição demonstra os mesmos trâmites. A união da família consanguínea revela os mesmos
traços fortes. O chimpanzé, desse modo, somente encontraria dificuldade para
enumerar os problemas do trabalho, da responsabilidade, da memória enobrecida,
do sentimento purificado, da edificação espiritual, enfim, relativa à conquista
da razão." (19)
(18) Nas primeiras
edições, por evidente equívoco, saiu fauna.
(19) Págs. 7/8 da 9ª
edição da FEB, 1975.
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