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sábado, 15 de janeiro de 2022

Cantigas do coração - 5

 


Cantigas do coração

Ormando Candelária por Chico Xavier

Reformador (FEB) Janeiro 1965

 

Quem ama com sacrifício

Alcança a luz dos apogeus...

Amor que sustenta a vida –

Alento do próprio Deus.


Cantigas do coração - 4

 


Cantigas do coração

Ormando Candelária por Chico Xavier

Reformador (FEB) Janeiro 1965

 

Por mais aflito e cansado,

Não lamentes, coração!..

Todo pranto de amargura

É fonte de redenção.


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Valiosa contribuição

 


Valiosa contribuição

por Luiz de Araújo Pedrosa

Reformador (FEB) Janeiro 1943

             A bibliografia espírita do nosso país, devemos convir, cada dia fica mais enriquecida de obras úteis.

            De Minas, Francisco Cândido Xavier, nada obstante a sua invejável simplicidade, vez por outra nos presenteia com verdadeiras torrentes de luz, ditadas por Emmanuel, Humberto de Campos e outros nomes de igual quilate.

            É não somente luz que a sua pena mágica veicula, mas também grandes consolações para os de boa vontade e para os sofredores; é como que o Senhor dos mundos a espalhar Amor em profusão.

            De outros pontos de “Pátria do Evangelho”, igualmente, vemos surgir, sempre e sempre, trabalhos de doutrina e de ciência, numa sucessão intérmina, tudo demonstrando que na terra onde foi plantada a árvore santa os homens estão possuídos de um sagrado anseio pelo Bem.

            Revela isto que todos desejam conduzir a sua pedra para a construção do grande edifício destinado ao culto, em espírito e verdade, do Deus Onipotente.

            Felizmente enquanto que os homens dos velhos continentes, esquecidos do “amai-vos uns aos outros”, se entregam a uma luta de extermínio total, no Brasil alguma coisa de útil se faz em benefício do aperfeiçoamento espiritual.

            Os bons livros constituem, incontestavelmente, meio muito eficaz do homem se manter em ascensão constante para aquele que tudo pode. Devem, pois, ter ampla divulgação, dado que duplo é o efeito; instruir e aperfeiçoar o Espírito.

            Já é tempo do homem compreender a necessidade inelutável de progredir e de voltar-se, resoluto e confiante, para o Bem e a Perfeição, despojando-se tanto quanto possível, se não o puder inteiramente, de tudo o que concorra para o seu atraso espiritual.

            É, sem dúvida, luta árdua a que o homem velho tem de entregar e para se transformar no homem novo, luta em meio da qual muitos são os que sucumbem, a despeito mesmo dos seus esforços.

            Isso, porém, é um imperativo a que ninguém deve furtar-se, visto que se aproxima a época do Semeador Divino fazer a separação do “joio e do trigo”.

            Dentre os bons livros que hei lido e conservo com carinho, eis que me vem às mãos, em hora feliz, - “Bezerra de Menezes, o médico dos pobres”, da autoria de F. Acquarone.

            É a histeria da vida cintilante de um Justo, mandado pelo Senhor à terra brasileira, e que entre nós foi - ADOLFO BEZERRA DE MENEZES.

            Quem o ler com sentimento, por certo, lágrimas há de verter, e abundantes, tal a emoção que desperta e o profundo respeito que inspira a vida de tão iluminado Espirito.

Inúmeras foram as dores contadas pelo Justo quando na matéria, onde a vida lhe transcorreu numa sequência de lutas sacrossantas, continuadas nas regiões onde somente os bons tem ingresso.

            Podemos dizer, sem receio de contestação e rendendo um preito de simples justiça, que o rastro de luz deixado por Bezerra entre nós cada dia mais se avoluma como também mais se avoluma o seu amor pelos sofredores das duas humanidades.

            Ele continua vivendo para o Bem e pelo Bem, esquecido de si mesmo, como fazia na Terra ingrata onde seus irmãos muitas vezes não o puderam compreender, curando o corpo e o Espírito com um desprendimento sublime, magnífico.  

            Onde existir uma lágrima a estancar, ou uma ferida a pensar, aí estará Bezerra de Menezes, no Palácio ou na choupana, como a personificação da Caridade a serviço de Jesus...

            O livro a que nos referimos, pois, não pode faltar na biblioteca dos espíritas, em particular, e na de todos, em geral, por isso que se recomenda como estímulo àqueles que desejam inspirar-se em fonte cristalina, qual foi e continua sendo o – “médico dos pobres”.


Palavras e construção

 

Palavras e construção

Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Janeiro 1965

             Comumente nos referimos à penúria, qual se estivéssemos à frente de um monstro, instalado em definitivo, junto de nós, esquecido de que o trabalho é infalível extintor de miséria...

            Mencionamos conflitos como quem tateia chagas irreversíveis, sem ponderar que o amor opera a extirpação de todo quisto de ódio...

            Comentamos privações, dando a ideia de que se erigem à condição de flagelos permanentes, distanciados do otimismo que funciona por dissolvente da sombra.

            Reportamo-nos a enfermidades com tamanho luxo de minudências, como se fossem males eternos, injuriando os princípios de saúde, capazes de restituir-nos a euforia...

            Destacamos s parte menos feliz do semelhante, com tanto empenho, que fornecemos a impressão de rentear com seres irremissivelmente condenados às trevas, ausentando-nos do bem, à luz do qual todo nos redimiremos um dia...

            Conversemos, segundo a fraternidade e o bom ânimo que o Cristo nos ensinou a cultivar.

            Imperfeições, desastres, doenças, desequilíbrios e infortúnios assemelham-se a meros borrões em nosso caderno de experiência educativa, no aprendizado da existência transitória. Afim de senhorearmos os nossos títulos de herdeiros de Deus na vida eterna.  Claro que apagaremos tais desdouros com a lixívia do nosso próprio sofrimento, mas não adianta ampliá-los através da exaltação emotiva ou do comentário inconveniente.

            Embaixo, a Terra parece uma estância obscura, mas o Sol brilha acima...

            Recordemos a exortação de Paulo:

            - “A palavra do Cristo habite em vós ricamente.”


quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Ficção? Simbolismo? Realidade?

 

Ficção? Simbolismo? Realidade?

Michaelus (Miguel Timponi)  

Reformador (FEB) Janeiro 1945

             As perguntas que constituem a epígrafe destas singelas observações têm já ocorrido a muitos dos leitores de Nosso Lar e de Os Mensageiros, as interessantes obras ditadas pelo Espírito de André Luiz ao médium Francisco Cândido Xavier.

            Na verdade, ao mesmo tempo que essas produções nos trazem sublimes ensinamentos, lições admiráveis de amor, fraternidade, resignação, renúncia e trabalho, advertem-nos da existência de um verdadeiro mundo espiritual, onde se processa e se exercita a atividade no incessante labor da purificação e da espiritualização dos seres encarnados e desencarnados.            

            Aparece, então, às nossas vistas, como se fora um país encantado, toda uma organização com os seus mais curiosos e precisos detalhes, com os serviços regulares de vigilância, assistência, postos de socorro, hospitais, aprendizados, sistemas de comunicações, etc. Um verdadeiro laboratório em que se examinam, atentamente, as condições das almas enfermas na escala graduada e infinita da ascensão espiritual. Dir se ia uma universidade com os seus diversos cursos, onde se adquirem os conhecimentos para as novas etapas da vida.

            Surge, igualmente, numa impressionante revelação, a existência de um mundo físico no plano espiritual com a sua vegetação própria, com os seus rios, com os seus campos, com os seus amplos edifícios, casas de habitação, etc., onde a vida prossegue em busca dos altos cimos da perfeição.              

            E através dessa leitura suave, em que tudo é descrito com singeleza e simplicidade, vêm à mente aquelas perguntas: ficção, simbolismo ou realidade?

            Temos aprendido que a verdade nos é dada progressivamente. A observação atenta da história da humanidade comprova esse asserto, quer nos domínios puramente científicos, quer nos domínios espirituais. Nada, pois, que surja na tela dos fatos ou dos fenômenos desconhecidos deve ser posto à margem como que desautorizado pelas verdades anteriormente reveladas. Devemos, então, seguir cautelosamente os conselhos doutrinários, que nos ordenam o exame minucioso e a análise rigorosa das coisas, fazendo-as passar pelo crivo da razão e da lógica.

            A primeira indagação do analista deverá ser no sentido da entidade comunicante.

            Quem é André Luiz? Um espírito. O seu nome terreno, o nome convencional que se perde e se esquece na memória dos tempos sem fim e de que tanta questão fazemos - não sabemos. Isso nada importa. Que necessidade temos nós, para julgar da substancialidade de uma mensagem, de saber há quantos anos ou séculos desencarnou o comunicante, quais os seus títulos e subtítulos, quais os seus méritos e as suas virtudes.

            Deveremos encarar a mensagem em si mesma, na sua essência, nos seus conceitos, nos seus pormenores.

            Ora, André Luiz é aquele mesmo comunicante que nos deu a lição magistral de como se opera nos domínios da fisiologia o fenômeno da comunicação, através da glândula pineal, cuja função especifica não foi claramente elucidada até aqui pela nossa ciência.

            O Dr. Luiz Guillon Ribeiro Filho, livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, na memorável conferência realizada perante um auditório seleto, demonstrou brilhante e convincentemente, nos mínimos detalhes, a precisão da mensagem sob o seu aspecto rigorosamente cientifico, não ocultando a sua grande admiração pelas verdades reveladas.

            Assim, nada se nos oferece que nos leve a suspeitar com fundamento da fonte donde emanam essas mensagens.

            O raciocínio lógico nos leva, por conseguinte, a confiar na entidade comunicante, máxime quando a comunicação se opera através de um médium, como Francisco Xavier, cujas conquistas espirituais formam uma sólida argamassa de resistência às liliputianas investidas dos obsessores encarnados e desencarnados.

            Mas, indagar-se-á: existem, de algum modo, revelações de outras fontes, que possam comprovar no todo ou em parte esses ditados de André Luiz?

            Em seus pormenores ou detalhes como vêm descritos em “Nosso Lar” e em “Os Mensageiros” ainda não conhecemos. Mas, na comprovação geral da existência de um mundo dos espíritos, onde se vive e se trabalha como num mundo de matéria, tal como nos narra André Luiz, já existem revelações.

            Desde logo, é necessário não olvidar, como nos ensinam os investigadores espíritas, que nós os encarnados não conhecemos todas as formas da matéria. A própria Ciência, após as experiências de Crookes, chegou a resultados surpreendentes quanto à divisão da matéria. Não se deve, observa Delanne, tomar a palavra imaterial no sentido absoluto, porque a verdadeira imaterialidade seria o nada.

            Por outro lado, sabemos que existe um perispírito, invólucro fluídico da alma, que não deixa de ser matéria. Nada, pois, nos deve causar admiração, porque nesse capítulo matéria só estaremos aptos a dar a última palavra depois que rolarmos pelas vidas sucessivas como rolam os astros nos Espaços infinitos e na eternidade dos tempos.

            Afirmamos que já existem revelações semelhantes. Temos em mãos um interessante livro editado pela Psychic Press, de Londres (Teachings of Silver Birch), contendo as mensagens recebidas de uma entidade, que se oculta sob o pseudônimo de Silver Birch:

            No capítulo Life in the Beyond (A vida no além), Silver Birch relata: “Não compreendeis ainda a beleza, como possa ela ser. Ainda não vistes a nossa luz, as nossas cores, os nossos cenários, as nossas árvores, os nossos pássaros, os nossos rios, os nossos regatos, as nossas montanhas, as nossas flores e, entretanto, o vosso mundo teme a morte.”

            E acrescenta: “Morrer não é trágico. Trágico é viver em vosso mundo."

            Depois de salientar o terror que temos pela morte, Silver Birch declara que começamos a viver precisamente quando morremos.

            Perguntado se o corpo que se usa no mundo espiritual é tão real e sólido como o que se deixa na Terra, respondeu: “Muito mais real e muito mais sólido, porque o vosso mundo não é absolutamente o mundo real. É apenas a sombra projetada pelo mundo espiritual. O nosso é a realidade e essa realidade somente será compreendida quando para aqui passardes.”

            Dentre muitas outras perguntas e respostas, cada qual mais curiosa e interessante, transcreveremos apenas as três seguintes, para comprovar o nosso ponto de vista.

            Existe apenas um mundo espiritual? - "Sim, mas com um número infinito de expressões, e a vida em outros planetas está compreendida como também a do vosso mundo, porque todos têm a sua expressão espiritual como em sua expressão física.”

            Existem divisas em sentido geográfico?

            - “Não geográfico, mas no sentido da escala mental, a qual é condicionada pela sua expressão física.”

            Significa isso que as divisas são feitas do mesmo modo que as separações entre as esferas que conhecemos?

            - “Sim. No mundo espiritual há diferenças durante certo tempo, até que ocorra a evolução além da que é condicionada por uma vida física."

            Resulta, desse modo, que as respostas de Silver Birch, coincidem com as revelações de André Luiz no tocante à existência de um mundo espiritual com a sua expressão também física, que é condicionada ao grau de evolução de cada um. Significa isso que no mundo espiritual há escalas transitórias, desde a que é formada pela “materialidade relativa” até a que é constituída pela espiritualidade absoluta.

            Isso mesmo se infere do nº XXXVII de “Nosso Lar” (A Preleção da Ministra) quando afirma que “Nosso Lar”, como cidade de transição, é uma bênção a nós concedida por “acréscimo de misericórdia”, para que alguns poucos se preparem à ascensão, e para que a maioria volte à Terra em serviços redentores.

            De resto, não se compreenderia que André Luiz, caso se tratasse de uma obra de ficção ou de simples simbolismo, não fizesse preliminarmente a necessária advertência, como tantas vezes sói acontecer em comunicações dessa natureza.

            Por último, Emmanuel, esse iluminado que já conhecemos, no Prefácio de “Nosso Lar” advertiu: - “Certamente que numerosos amigos sorrirão ao contato de determinadas passagens das narrativas. O inabitual, entretanto, causa surpresa em todos os tempos. Quem não sorriria, na Terra, anos atrás, quando se lhe falasse da aviação, da eletricidade, da radiofonia? A surpresa, a perplexidade e a dúvida são de todos os aprendizes que ainda não passaram pela lição. É mais que natural, é justíssima. Não comentaríamos, desse modo, qualquer impressão alheia. Todo leitor precisa analisar o que lê.”

            Estamos, portanto, diante de uma realidade. E isso constitui mais um estímulo para os que buscam conhecer a obra divina através das suas leis eternas e imutáveis. A sabedoria é tão infinita como o infinito dos céus. Muito há que andar, muito há que meditar e observar até alcançarmos os mais altos planos espirituais.


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Pais e Filhos

 

Pais e Filhos

João por Chico Xavier

Reformador (FEB) Agosto 1963

 

                Nas vésperas da reencarnação, sou impelido a falar-vos de minha bancarrota espiritual!

            Instrutores e guardiães recomendam-me destacar a importância do ouvido...

            Conseguiria, no entanto, ensinar alguma coisa?

            Devo compreender a razão dessa ordem.

            Nada possuo de bom para dar; contudo, as vítimas da calúnia conseguem reter o doloroso privilégio de exibir a própria falência!...

            Ó Deus de Amor, dai-me forças para confessar a verdade, apenas a verdade!..

            Pedreiro modesto, órfão de mãe desde a meninice, casei-me por amor, embora contra os desígnios de emus irmãos, que me reservavam noiva diferente. Garantindo-me a escolha, porém, estava nosso pai a meu lado – o abnegado pai que amadurecera o raciocínio nas dificuldades do mundo e iluminara o coração no conhecimento do Espiritismo. Carinhoso, assegurou-me o enlace, aprovou-me as decisões e intentou preparar-me, diante da vida, dispensando-me ensinamentos que eu simulava aceitar, de modo a lhe não perder a complacência e a ternura...

            Seis anos passaram, sem que a hostilidade familiar contra a minha mulher esmorecesse, seis anos de maledicência na base da perseguição cordial...

            Alice, a companheira inexperiente, proporcionara-me dois filhos queridos, quando se engravidou pela terceira vez.

            Nessa época, o veneno já me corroera a confiança.

            Apontava-me amigo nosso de infãncia como sendo o responsável pelos supostos desacertos daquela que a Providência Divina me colocara nas mãos por esposa leal.

            Circunstâncias provocadas pelos que mostravam interesse em nossa desunião, falsos testemunhos, bilhetes anônimos e difamações fantasiadas de bons conselhos acabaram por arruinar-me...

            Discutimos.

            Acusei-a, defendeu-se. Chorou, escarneci...

            E, para fiscalizar-lhe a conduta, transferi-me para acasa paterna, ameaçando tomar-lhe as crianças, através do desquite. Para isso, porém, queria provas, tinha fome de confirmações do inexistente.

            Meu pai surgia conciliador:

            - Meu filho, paternidade é compromisso, perante Deus...

            - Você não tem o direito de proceder assim...

            - Onde a caridade para com a esposa ingêenua?

            - Mesmo que ela errasse, constituiria isso motivo para uma sentença de abandono implacável?

            - Há compromissos ditados por desequilíbrios espirituais que não conhecemos na origem...

            Pense nas tragédias da obsessão que campeiam no mundo...

            E os pequenos? Terão eles a culpa de nossas perturbações?

            - Recorramos a prece, meu filho!.. A prece nos clareará o caminho...

            Silenciava, ao recolher-lhe as advertências, em face da veneração que lhe tributava, mas, no íntimo, articulava minhas respostas imanifestas: “orarei pela boca do revólver”, “pobre pai”, “bobo de velho com setenta e seis anos”, “cabeça tonta”, “caduco”, “fanático”...

            E, noite a dentro, espreitava, de longe, os movimentos de Alice, á feição da serpente vigiando a furna de que aparentemente desertara.

            Duas semanas decorreram, normais, quando sobreveio o momento em que lobriguei o vulto de um homem que saía de nossas casa...

            Seria o rival...

            Guardei segredo e prossegui na tocaia.

            Mais quatro dias e o mesmo homem chegou de caro, despediu-se do motorista e entrou...

            Puxei o relógio. Onze horas e quinze minutos. Noite quente.

            Prevenido, acerquei-me da moradia, que se localizava em subusbio remoto.

            Encontraram-se os dois com mostras de intimidade e, a distância, notei que se acomidavam num banco de pedra do pátio lateral, que a sombra envolvia. Conversavam sugerindo carinho mútuo. Enxergava-lhes o perfil, mergulhado em penunbra, conquanto não lhes ouvisse as palavras, e estudei, friamente, a posição que ocupavam na peça estreita.

            Desvairado, consultei o portão de entrada, verificando-o semiaberto. Acesso fácil.

            Com a sagacidade de um felino, avancei, descarregando a arma nos dois.

            Ouvi gritos, mas ocultei-me na vizinhança, para fugir em seguida, a sentir-me vingado.

            Não vacilaria arrostar a polícia, se necessário.

            Tentando refrigerar a cabeça, procurei descansar algumas horas em praia deserta. Entreguei o revólver à lama do esgoto esquecido e voltei a casa para saber, aterrado, que eu não apenas assassinara minha esposa, mas também meu abnegado pai que a socorria...

            Não acreditei.

            Corri ao necrotério e, ao reconhecê-los, tornei ao lar, atormentado pelo remorso, e enforquei-me, sem dar outra impressão que não fosse a de um homem que a dor fizera delirar, atirando-o ao suicídio...

            Exilado por minha própria crueldade, em vales tenebrosos, nunca mais vi os que amo...

            Entendereis o que sofro?

            Quantos anos se passaram sobre os meus crimes? Não sei... Os que choram sem o controle do tempo não sabem contar as horas...

            Misericórdia, meu Deus!

            Dai-me a reencarnação, os empeços da Terra, a luta, a provação e o esquecimento, mas ainda que eu padeça humilhação e surdez, durante séculos, permiti Senhor, que eu aprenda a escutar!...


Ensinos de Emmanuel

 

Ensinos de Emmanuel

Livro: “O Consolador” (Ed. FEB)

Destaques constantes da revista ‘Reformador’ (FEB) Outubro 1944


1. “O Espiritismo não deve nutrir a pretensão de disputar um lugar no banquete dos Estados do mundo. A sua missão divina há de cumprir-se junto das almas, nos legítimos fundamentos do Reino de Jesus.”

2. "O êxito dos esforços do plano espiritual, em favor do Cristianismo redivivo, não depende da quantidade de homens que o busquem, mas da qualidade dos trabalhadores que militam em sua fileiras."

 3. "No Espiritismo é sempre de bom aviso evitar-se a consecução de iniciativas tendentes a estabelecer uma nova classe sacerdotal no mundo."


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Na missão do bem

 

Na missão do bem

Casimiro Cunha por Chico Xavier

Reformador (FEB) Outubro 1944

 

Se vais à missão do bem,

Destrói a sombra, a incerteza...

Repara as lições do Pai

No livro da Natureza.

 

A terra do lavrador

Que produz e prospera,

Não prescinde, em parte alguma,

Do aramo que a dilacera.

 

A semente destinada

Às forças de luz da vida

Precisa morrer no fundo

Da cova desconhecida.

 

Se progride, em torno à casa.

O mato bruto, inclemente,

Ninguém dispensa o recurso

Da enxada benevolente.

 

Na colheita rica e farta,

Há golpes de segador...

A farinha delicada

Passou no triturador.

 

O pão singelo ou fidalgo

Que abençoa a refeição,

Foi cozido devagar

Ao calor de alta expressão.

 

Toda vinha de esperança

De alegria, de fartura,

Exige do vinhateiro

As chagas da podadura.

 

A mesa, o leito, a poltrona,

Que servem todos os dias,

Passaram pelos serrotes

De rudes carpintarias.

 

Ouve amigo, e atende à luta!

Que seria do trabalho,

Se a bigorna escapulisse

Das vivas ações do malho?

 

Que seria da candeia,

No instante justo de arder,

Se o óleo fadado à luz

Quizesse permanecer?

 

Se vais à missão do bem,

Não olvides, meu irmão,

Que o suor gera o serviço,

Em busca da perfeição.

 

Consome-te no dever,

Sê, tu mesmo, a claridade,

Jesus, para ser Senhor,

Foi servo da Humanidade.


terça-feira, 16 de novembro de 2021

Saudade vazia


Saudade Vazia

Jorge Faleiros por Chico Xavier

Reformador (FEB) Agosto 1963

 

Desde muito chorava o belo filho morto,

Num desastre de mar em suntuoso falucho (barco à vela),

Triste, a fidalga anciã vivia em pranto e luxo,

No esplêndido solar ao pé de velho porto...

 

Certo dia, a criada, em rijo desconforto,

Dá-lhe um pobre enjeitado, um magro pequerrucho,

Ela clama: “Não quero! Isto é morcego e bruxo,

Tem na face do monstro o nariz feio e torto!...”

 

E a dama solitária, em angústia insofrida,

Atravessou a morte e acordou noutra vida,

Buscando ansiosa e rude, a afeição do passado...

 

Debalde soluçou, na lição do destino...

Ao desprezar na Terra o infeliz pequenino,

Recusara, orgulhosa, o filho reencarnado.


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Finados

 

Finados

Isolino Leal por Chico Xavier

Reformador (FEB) Novembro 1964

 

“O mais belo culto aos mortos,

No pesar que te alanceia,

Será fazer da saudade

Lenitivo à dor alheia.”


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Conversa em casa

 

Conversa em Casa

Casimiro Cunha por Chico Xavier

Reformador (FEB) Fevereiro 1961

 

Compra, guarda e ajunta livros,

Mas estuda, dia a dia.

Mostrar a biblioteca,

Não mostra sabedoria.


Conversa em casa

 

Conversa em Casa

Casimiro Cunha por Chico Xavier

Reformador (FEB) Fevereiro 1961

 

Perdoa e ajuda amparando

Como as terras generosas,

Que dão, em troco de estrume,

Pão e benção, vida e rosas.


terça-feira, 12 de outubro de 2021

Conversa em casa

 

Conversa em Casa

Casimiro Cunha por Chico Xavier

Reformador (FEB) Fevereiro 1961

 Onde tens o coração

Reténs o próprio tesouro.

O dinheiro que escraviza

É dura algema de ouro.


Conversa em casa

 


Conversa em Casa

Casimiro Cunha por Chico Xavier

Reformador (FEB) Fevereiro 1961

 

Cultiva a reta intenção

Em tua própria defesa.

Mesmo vítima do engano,

Sinceridade é grandeza.


Conversa em casa

 

Conversa em Casa

Casimiro Cunha por Chico Xavier

Reformador (FEB) Fevereiro 1961

 

No que tange a confidências,

Fala a Deus em tua prece,

Quem melhor guarda um segredo

É aquele que o desconhece.


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Conversa em Casa

 

Conversa em Casa

Casimiro Cunha por Chico Xavier 

Reformador (FEB) Fevereiro 1961

 

Venceste? Trabalha sempre,

Sem detenção no passado.

O herói que vive de fama

É um morto-vivo enfeitado.


quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Rota Espírita

 


Rota Espírita

Albino Teixeira por Chico Xavier

Reformador (FEB) Fevereiro 1966

 

Erguer-se de manhã e bendizer a vida.

Espalhar ao redor a presença do bem.

Escutar calmamente as notícias da hora.

Dar a palavra amiga. Ajudar conversando.

Dispor o coração a servir sem perguntas.

Fazer mais que o dever na tarefa em que esteja.

Suportar sem revolta as provações em curso.

Apagar a discórdia e liquidar problemas.

Estudar e entender. Discernir e elevar.

Render culto à Verdade entre bênçãos em tudo.

Ser fiel ao trabalho e esquecer as ofensas.

Amar fraternalmente a todas as criaturas.

Acender cada noite as estrelas da paz,

No abrigo da consciência em preces de alegria.

- Eis a rota ideal na jornada constante

Do espírita-cristão, à luz de cada dia.