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sábado, 28 de agosto de 2021

Perseverança

 


Perseverança

por Juvanir Borges de Souza

in “Tempos de Transição” (pg. 266 1ª ed. FEB)

             “O adepto sincero da Doutrina Espírita, aquele que já assimilou seus princípios e procura vivenciá-los em sua conduta, dificilmente se deixa dominar pelas hesitações diante do desconhecido, ou de fatos novos, ou das constantes solicitações da vida, com seus variados graus de inquietudes.

            Isto se deve à própria natureza da Doutrina, que inspira segurança fundamentada na realidade viva das coisas e não em meras criações mentais. Estando o Espiritismo na ordem natural, concepções e criações da imaginação cedo ou tarde cedem à realidade...”

 


sábado, 20 de junho de 2020

O Cristo e o mundo



O Cristo e o Mundo  
Juvanir Borges de Souza
Reformador (FEB) Maio 1986

            Apesar de vinte séculos decorridos, a Humanidade ainda não tem a compreensão exata do que representa o Cristo de Deus.
            A figura excelsa do Emissário do Criador, o Messias tão esperado de que falam antigas profecias desde setecentos anos antes de sua chegada, passaria quase despercebida nos fastos da História, não fossem os registros dos evangelistas inspirados, como marcas indeléveis de uma planificação superior.
            O próprio povo no seio do qual apareceu, na Terra, que tanto se preparara para recebê-Lo, não o identificou como competia, num lamentável equívoco da raça.
            Sua mensagem não foi aceita senão por uns poucos discípulos que se Incumbiram de divulgá-la pelo mundo.
            Mas o mundo cedo a desvirtuou, não a compreendendo no seu justo sentido.
            As igrejas cristãs ainda hoje apresentam o Cristo sob uma visão distorcida, enquanto as religiões e seitas não cristãs, por ignorância ou indiferença, incorrem em grande erro a respeito de sua personalidade e de sua missão.
            Diante dessa realidade, seria necessária a presença do Consolador prometido, para ensinar coisas novas e restabelecer a verdade, recordando tudo quanto fora dito pelo Mestre Incomparável:

            “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito.” (João, 14: 26.)

            Que entenderam e propagaram as religiões ditas cristãs a respeito de Jesus?
            Baseadas em algumas passagens evangélicas, interpretadas isoladamente e segundo a letra, tomaram a figura do Messias como o próprio Deus feito homem, apesar das muitas advertências de que Ele, o Mestre, era o Filho de Deus e seu enviado.
            Os Evangelhos são repetitivos nessa advertência de suma importância, mas a Igreja Romana, estribada nos primeiros versículos do Evangelho de João e na exclamação de Tomé, chamando-o Deus e Senhor, proclamou-o Deus, instituindo o dogma da Santíssima Trindade, de tão difícil entendimento.
            A partir de então, generalizou-se a crença no Deus-Pai, no Deus-Filho e no Espírito Santo, a divindade trinitária, concepção semelhante à de outras crenças orientais.
            Por erro de entendimento da mensagem crística, erigiu-se o mistério como solução interpretativa, contrariando, ao mesmo tempo, os ensinamentos do Mestre e a razão humana esclarecida.
            Prevaleceu o dogma, criação humana, através dos séculos, contra a realidade imanente da Revelação.
            A reposição da verdade é obra que cabe à Doutrina dos Espíritos, nova etapa da Revelação.
            Milhões de inteligências, influenciadas pela crença ministrada por intermédio das religiões tradicionais, têm dominado os organismos do mundo, estendendo-se o engano ao plano invisível em que habitam essas almas.
            Agora, chegou o tempo das retificações, sempre trabalhosas e difíceis quando se trata da modificação de conceitos profundamente arraigados no imo dos seres. É trabalho que demanda paciência e perseverança, obra de reeducação envolvendo muitas gerações.
            O Espiritismo, o Consolador, conta para tanto com a força da verdade e com a sabedoria dos planos divinos, executados sem pressa mas inexoravelmente, de conformidade com as leis superiores que regem os destinos das criaturas e do mundo.
            Os Instrumentos serão os próprios homens chamados à colaboração com o Cristo, usando dos recursos inesgotáveis que o progresso contínuo vai proporcionando, nas idas e vindas das vidas sucessivas.
            É permanente o processo reeducativo, decorrência natural da lei de evolução. Variável de criatura para criatura nem sempre se torna perceptível no curso de uma existência na Terra, eis que por vezes toma a aparência da estagnação, tais os obstáculos erguidos contra o determinismo evolutivo da Lei Divina.
            Os óbices são criados pelos Espíritos, encarnados e desencarnados, nas múltiplas atividades de que se ocupam: nas ciências e nas religiões, quando, fugindo às suas altas finalidades de auxiliares do progresso material e moral, deixam-se dominar pela intolerância, pelo preconceito e pelo dogmatismo; na política e na administração, instituídas para realizar o bem comum, quando descambam para a tirania, as intrigas e a corrupção; nas atividades comerciais, desenvolvidas para o suprimento das necessidades individuais e coletivas, através das trocas consagradas desde remotas eras, quando se transformam em fontes de egoísmo e ambição; nas indústrias, tão necessárias à multiplicação dos recursos naturais, e no trabalho organizado e útil, lei da vida, quando se desviam nos descaminhos das fabricações dos artefatos de guerra e de corrupção, ou quando transformam a força de trabalho em agente da perversão e do crime; nas letras e nas artes, veículos naturais para a elevação espiritual, quando se deixam contaminar pela extravagância e pela insensatez, nos atentados contra o bem, o bom e o belo.
            O homem, nos seus desvarios resultantes do uso prejudicial da liberdade de que é portador, respeitada pela Lei Divina, mostra, por vezes, tristes sinais de invigilância, mesmo quando bafejado pelas mais belas claridades do Alto.
            Exemplos dessa invigilância encontramos até mesmo nas fileiras espiritistas, quando companheiros se deixam iludir por sutilezas e enganos revestidos de falsa ciência, conduzindo-os a combater o Evangelho do Mestre, a sublime fonte do Espiritismo, da qual não se pode desvincular, sob pena de desnaturação e aniquilamento.
            Como resultante, deparamos com o triste paradoxo de ver-se contraditada a Doutrina da libertação, luzeiro para toda a Humanidade, por alguns de seus adeptos, por certo não os mais simples e humildes mas os dominados pelo orgulho e pelo personalismo deprimente, a indagar, como na passagem evangélica: “Que temos a ver com o Cristo?”
            Enquanto o ateísmo e o materialismo, as clássicas formas de manifestação da descrença nos altos valores espirituais, vão perdendo terreno diante das doutrinas espiritualistas, especialmente diante das novas verdades evidenciadas pelo Espiritismo, alguns contraditórios adeptos da Doutrina dos Espíritos atravancam sua trajetória luminosa no mundo das formas distorcendo sua índole profundamente cristã, reeditando o procedimento de outros, no passado, ao mutilarem o Cristianismo primitivo.

*

            Neste Orbe cheio de iniquidades, onde seus habitantes lutam contra as próprias imperfeições, manifestadas sob múltiplas formas, sempre foi difícil a aceitação das luzes do Céu.
            Muitos foram os mensageiros do Cristo, em todas as épocas e no seio de todos os povos e raças da Terra. Suas ilusões, como alavancas de progresso moral e espiritual, foram sempre árduas, diante do atraso moral e da rebeldia dos homens.
            Jesus Cristo, o Filho de Deus, testemunhou em pessoa, perante a Humanidade, a misericórdia do Pai para com seus filhos da Terra, deixando-lhes a mensagem sublime da redenção humana.
            Todavia, uma parcela imensa dos terrícolas permanece indiferente, mergulhada no primitivismo dos interesses imediatistas.
            Os que conseguiram vislumbrar alguma luz, além do véu da matéria, por sua vez lutam com os deslumbramentos da inteligência desperta e da inquietude dos programas transitórios, enquanto os que, aquinhoados por crenças herdadas do passado, mas limitados por uma fé cega, continuam enleados em sucessivas reencarnações pelas consequências de erros conceituais cristalizados, de difícil correção.
            O Cristo contínua, assim, o grande desconhecido para uma enorme parcela de seu próprio rebanho.
            Os trabalhadores da última hora, a serviço do Consolador, diante desse quadro gigantesco de carências estão sobrecarregados de responsabilidades.
            Além da realização do trabalho de espalhar por toda parte as verdades evangélicas e de divulgar as coisas novas, reveladas pelos Espíritos, precisam oferecer o testemunho da excelência da exemplificação do que pregam. Muitos precisam conviver com resgates de débitos. Outros não se podem furtar aos ataques da ignorância, da má-fé, dos interesses contrariados, tanto de César e de Mamon, quanto dos seguidores de religiões e filosofias equivocadas.
            Dentro das próprias fileiras espíritas surgirão os desviados da estrada reta e estreita do dever perante o Mestre, colocando-se a serviço do personalismo.

            “Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces.” (Mateus, VII, 15.)
            “Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão a muitas pessoas; - e porque abundará a iniquidade, a caridade de muitos esfriará. - Mas aquele que perseverar até ao fim se salvará. (Mateus, XXIV - 11 a 13.)

            Na luta entre a luz e a treva, a verdade e a mentira, o amor e o ódio, o trabalhador sincero ver-se-á muitas vezes acossado pela calúnia, pelo ridículo, pela impiedade e pela maldade, armas a que terá de opor a coragem, o estoicismo, a certeza da verdade, a fé raciocinada, a caridade, a humildade.
            Será taxado de visionário, quando não de lunático, como já tem ocorrido tantas vezes, porque para muitos, ainda em nossos dias, “Espiritismo é coisa de loucos”.
            Estejamos advertidos, os trabalhadores de boa vontade, das dificuldades da tarefa. Não é fácil restabelecer a verdade e a pureza do Código da Vida deixado pelo Cristo, deturpadas por séculos de obscurantismo e dogmatismo, servindo a interesses mundanos.
            Apesar das transformações trazidas pelo progresso incessante, firmando-se as liberdades contra as tiranias, tornando impraticável a imposição religiosa das maiorias, com a iníqua inquisição, as perseguições e o derramamento de sangue em nome do Cordeiro de Deus, ainda existem muitas consciências retardatárias, incapazes de reconhecer os novos tempos cristalizadas no vício do “crê ou morre” e na necessidade das “guerras santas”.
            A era do Consolador caracteriza-se como reformista, não no sentido do grande movimento renovador do século XVI, iniciado como protesto contra a mercancia de indulgências e sacramentos pela Igreja Romana, mas como programa de reeducação do homem, para que possa conhecer-se a si mesmo.
            Agora, não haverá derramamento de sangue, porque os novos cristãos-espíritas têm noção plena de suas responsabilidades. Desejam tornar conhecida a verdade para a libertação das consciências, edificando-as retas e dignas.
            Há séculos o Governador do Planeta vem orientando os planos e preparando a deflagração da campanha da liberdade com responsabilidade para os Espíritos que fazem sua ascensão neste Orbe. As grandes descobertas marítimas, a invenção e o rápido aperfeiçoamento da Imprensa, a Reforma, as liberdades políticas, com o reconhecimento dos direitos do homem, a revolução industrial e o incrível progresso científico e tecnológico são alguns pontos desse programa, cada qual no devido tempo, que possibilitam a atuação do Consolador prometido por Jesus.

            “Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio às vossas rivalidades e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra.” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão.”
................................................
            “Deus procede, neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que Ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo.
            Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus.” - O Espírito de Verdade (Paris, 1862) in “O Evangelho segundo o Espiritismo”, 91ª ed. FEB. págs. 329/330.
            Aquele a quem o Pai “constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Paulo, Hebreus), conta com seus trabalhadores sinceros, os que já compreenderam sua grandeza, na obra ingente e paciente de transformação do homem e do mundo.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

O Dogma e a dogmática


O Dogma e a dogmática
Juvanir Borges de Souza
Reformador (FEB) Fevereiro 1986

            O Concílio de Nicéia, no ano de 325, a primeira assembleia da Igreja convocada especialmente para discutir e provar determinadas proposições ou interpretações de interesse da Instituição.
            Com ele iniciava-se uma longa série de assembleias conciliares, através dos séculos, que iriam definir os rumos da trajetória da Igreja, até nossos dias.
            Muitos historiadores referem-se às divergências de interpretação dos primeiros cristãos a respeito de várias passagens dos Evangelhos.
            Os conhecimentos dos primitivos seguidores de Jesus foram adquiridos através das próprias palavras do Mestre, transmitidos oralmente, mesmo após a crucificação, nas aparições a Madalena e aos apóstolos.
            Nos três primeiros séculos a tradição oral, as anotações dos Evangelistas e a mediunidade (profecia) - abundante fonte de inspiração utilizada desde os primeiros tempos - eram as formas que garantiam a transmissão da doutrina do Cristo às sucessivas gerações.
            Fácil será imaginar as divergências interpretativas entre o sacerdócio nascente das diversas igrejas primitivas e as manifestações do Invisível, o que levou Paulo a afirmar:

            “(...) pois em parte conhecemos e em parte profetizamos; mas quando vier o que
é perfeito, o que é em parte desaparecerá.” (I Coríntios, 13:9-10.)
            “Porém aquele que profetiza, fala a homens para edificação, exortação e consolação.” (I Coríntios, 14:3.)

            A tradição oral dependia da maior ou menor fidelidade na transmissão dos conhecimentos apreendidos. É evidente que, se de um lado é fonte preciosa ao confirmar os fatos, as ações mais importantes e os ensinos indiscutíveis de Jesus, de outro pode ter contribuído com pequenos acréscimos, ou supressões de menor significação no conjunto da Grande Mensagem.
            Restariam os Evangelhos como fontes autênticas do Cristianismo, como de fato o são, não obstante algumas interpelações hoje identificadas.
            Sobre os Evangelhos, especialmente tendo-se em vista costumeiras objeções dos mal-intencionado e dos anticristãos, que neles se encontram contradições, convém seja feita desde logo a ressalva de que as pequenas divergências sobre detalhes, entre seus autores, em nada prejudica sua autenticidade, por serem acordes no essencial e na substância das narrativas.
            É bom lembrar que foram escritos por dois apóstolos - Mateus e João - muitos anos após os dramáticos acontecimentos finais da passagem do Cristo pela Terra, no mínimo 26 anos depois da Crucificação, o de Mateus. João, o mais jovem dos apóstolos e o último a desencarnar, em avançada idade, teria escrito seu Evangelho entre os anos 98 e 110.
            Marcos e Lucas, não tendo tido contato direto com o Mestre, colheram as tradições com os discípulos, com a Mãe de Jesus e com Paulo também considerado apóstolo, embora não tenha com Ele convivido.
            Médiuns inspirados e historiadores, é natural que cada evangelista tenha imprimido à sua obra o cunho pessoal das narrativas, com pequenas divergências entre si, mas todos convergentes quanto ao substancial.
            Léon Denis (“Cristianismo e Espiritismo”, pág. 71 da 5ª ed. FEB) refere-se à oposição crescente do Mundo Invisível, através da mediunidade, aos rumos tomados pela Igreja, desde muito cedo no que diz respeito ao fausto excessivo dos bispos e à corrupção moral. Essa oposição tomou-se intolerável aos olhos dos dirigentes, levando-os a proscrever as práticas que hoje denominamos mediúnicas.
            Com isso, a doutrina da reencarnação, por exemplo, sucessão das vidas do Espírito no homem, que Orígenes e muitos outros padres da Igreja aceitavam, por interpretação das escrituras e por inspiração espiritual, foi rejeitada pelos chefes da Instituição, visto não inspirar suficientemente o terror da morte, como o fazia a condenação eterna do pecador.
            Após três séculos de convivência com o profetismo, como um dos meios de elucidação de muitas questões, desde os tempos dos apóstolos, a Igreja, cada vez mais inclinada à autoridade de seus chefes e aos interesses temporais, rompia os vínculos que a prendiam às manifestações da Espiritualidade.
            Declarou-se a única autoridade. Tudo o que não fosse por ela aprovado deixava de ter valor. Por mais bela e elucidativa fosse a comunicação do Mundo Espiritual, estaria fatalmente proscrita e condenada, sem a chancela dos dirigentes. O que não fosse aceito pela Igreja era tido como obra do demônio.
            Começa então o grande desvio. Travou-se, no seio da Igreja, surda luta. De um lado, os que se mantinham fiéis às tradições e ao convívio com o profetismo; de outro, os seguidores da autoridade terrena, autodenominando-se única possuidora da Revelação, através de seus bispos e padres.
            Daí nasceram os Concílios, assembleias onde foram elaboradas doutrinas interpretativas das escrituras que melhor atenderiam aos interesses da maioria dos detentores de autoridade dentro da secular Instituição.
            Começaram a surgir os dogmas, alguns como expressões católicas resultantes das interpretações de uma eventual maioria conciliar, outros, criações estranhas aos Evangelhos, que neles não encontram a menor referência, como o da Santíssima Trindade. Emerge, então, a vetusta construção romana, com raízes nos inigualáveis ensinos cristãos, deles se desviando, contudo, pela soma de erros seculares pelos interesses materiais e humanos colocados acima dos interesses espirituais, tudo servido pelo orgulho e pela sede de poder dos homens,
            Que é, afinal, o dogma?
            Na sua acepção original grega e latina significava uma convicção, um pensamento firme.
            Posteriormente a palavra passou a significar verdades indiscutíveis de uma doutrina religiosa.
            O Dicionário Aurélio o define como “ponto fundamental e indiscutível duma doutrina religiosa e, por extensão, de qualquer doutrina ou sistema”.
            A Enciclopédia e Dicionário Internacional W. M. Jackson caracteriza-o como “artigo de crença religiosa ensinado com autoridade e dado como sendo de uma certeza absoluta”.
            Dentro desses conceitos, a existência de Deus, o Criador incriado, a imortalidade e a comunicabilidade da alma, a reencarnação, a evolução dos seres e tantas outras verdades reveladas são dogmas, no sentido de pontos fundamentais doutrinários, verdades incontestes que nenhum espírita rejeita, sob pena de rejeitar a própria Doutrina.

            “O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação." (“A Gênese"), A. Kardec, pág. 44 da 28ª ed. FEB.)

            As verdades reveladas pelos Espíritos são, assim, princípios plenamente aceitos pela razão - como, por exemplo, a existência de Deus - ou por resultarem da percepção e realidades permanentes, como a existência e manifestação do Espírito, no seu estado livre, independente do corpo físico.
            Kardec aceita expressamente o dogma no Espiritismo, no sentido de princípio fundamental, quando, no Cpítulo V da 2ª Parte de “0 Livro dos Espíritos”, assim se refere à reencarnação:
            “Não é novo, dizem alguns, o dogma da reencarnação. “Portanto, ensinando o dogma da pluralidade das existências corporais, os Espíritos renovam uma doutrina que teve origem nas primeiras idades do mundo e que se conservou no íntimo de muitas pessoas, até aos nossos dias." (Grifamos.)
            Diga-se de passagem que o Codificador, usando de critério pessoal prudente, apoiado pelos Guias Espirituais dos trabalhos da Codificação em todas as teorias advindas dos Espíritos reveladores, relutou em aceitar a doutrina reencarnacionista, só o fazendo após convencer-se de sua realidade. Portanto, fê-la passar pelo crivo da razão, como era seu método.
            É o que ele diz na “Revista Espírita" de 1860, pág. 115 da tradução da Edicel: “Foi assim que procedemos com a doutrina da reencarnação, que não adotamos, embora vinda dos Espíritos, senão depois de havermos reconhecido que ela só, e só ela, podia resolver aquilo que nenhuma filosofia jamais havia resolvido, e isto abstração feita das provas materiais que diariamente dela são dadas, a nós e a muitos outros. Pouco nos importam, pois, os contraditores, ainda que fossem Espíritos!” (Grifo nosso.)
            Na Questão 171 de “O Livro dos Espíritos” está novamente expressa a referência ao dogma da reencarnação, assim como em várias passagens do Diálogo Terceiro, Cap. 1, de “O que é o Espiritismo”.
            A conclusão lógica a que se chega é a de que o Espiritismo, por sua natureza e por seus princípios, não repele o dogma, entendido como princípio fundamental, verdade axiomática, universal, deduzido das revelações divinas, naquilo que não se contrapõe à razão, à lógica e aos fatos.
            Mas a Doutrina Espírita não abusa do dogma, não o cria indefinidamente, antes o aceita em sentido estrito, sem se utilizar de autoridade humana, ou como justificativa de imposição de alguma opinião não fundamentada nas realidades permanentes.
            Por isso os dogmas do Espiritismo, preferencialmente denominados principais, ou postulados, fundamentam-se todos nas verdades reveladas progressivamente.
            Daí a afirmativa de que o Espiritismo não é doutrina dogmática, embora aceite a existência do dogma como verdade universal demonstrada.
            O mesmo não ocorre com a doutrina da Igreja Católica Romana e a das Igrejas Reformadas.
            Uma parte de seus dogmas tem fundamento nos Evangelhos e, nesses casos, as divergências com o Espiritismo estarão no terreno interpretativo, uma vez que a fonte original é comum.
            Entretanto, no decorrer dos séculos, os Concílios, sob a autoridade da Igreja e do Papado) instituído no ano de 607, proclamaram dogmas assim impropriamente denominados, baseando-se no seu “magistério infalível”.
            Para ela, à Igreja infalível cabe com exclusividade a interpretação da Revelação divina, cessada com o último dos apóstolos. Mas ela mesma se excede, ao proclamar dogmas não contemplados nas escrituras, como os da Santíssima Trindade e o da Infalibilidade Papal.
            O grande desvio da Igreja não está propriamente na existência de dogmas autênticos firmados nas escrituras, mas na criação de dogmas impróprios, produtos de opiniões individuais ou coletivas, levadas aos Concílios e daí proclamadas verdades universais pela autoridade “infalível”, expressando os mais diferentes interesses.
            É o império da dogmática, que se não confunde com o dogma autêntico. Dela têm cuidado os doutores da Igreja, através dos séculos, como parte da teologia.
            Repelindo tanto o racionalismo quanto o criticismo, não admitindo as novas revelações ocorridas fora de seu seio, as quais ficaram delimitadas, em seu entender, pelos tempos apostólicos, numa franca oposição ao progresso e à evolução que apontam no sentido de novas verdades, advindas da mesma fonte superior da Espiritualidade, não é de admirar que a Igreja se aferre às armas que lhe garantem o prestígio no mundo. A maior dessas armas é, sem dúvida, a autoridade infalível que se arroga, proporcionando-lhe o domínio de milhões de mentes que lhe são fiéis, diante do estágio evolutivo em que se encontram, tanto no plano físico, quanto no invisível.
            Qualquer modificação nesse quadro aparentemente estável, cristalizado no decurso de quase dois milênios, torna-se lenta e difícil.
            A teologia dogmática cerca-se de uma exegese exclusivista, fechada, limitada pelo ensino da própria Igreja, uma vez que não admite revelações novas. O resultado foram os dogmas católicos - alguns dos quais absorvidos pela Reforma -, do Juízo Final, do Pecado Original, da Santíssima Trindade, do Inferno e do Purgatório, da Assunção de Nossa Senhora, da Infalibilidade Papal e de tantos outros.
            Resumindo: o Espiritismo não é uma doutrina dogmática, embora admita o dogma no seu sentido legítimo e estrito, sem adjetivá-la como o fez o Codificador. Ao nos referirmos às verdades fundamentais da Doutrina Espírita, reveladas pelos Espíritos Instrutores, ou comprovadas pelos fatos, ou que ressaltam logicamente da observação, preferimos os termos princípios ou postulados, em lugar de dogmas, evitando assim confusões desnecessárias com a dogmática e o dogmatismo das Igrejas tradicionais.


sábado, 24 de março de 2018

A FEB e a Transcomunicação






A FEB e a Transcomunicação
por Juvanir Borges de Souza
Mensagem do Presidente da FEB apresentada na
Sessão de abertura do Congresso Brasileiro de Transcomunicação,
na noite de 22-5-92, em São Paulo, Centro de Convenções do Anhembi.
Reformador (FEB), pág. 213 - Julho 1992

               
            Queremos inicialmente saudar, fraternalmente, os promotores e organizadores deste Congresso e a todos os que tomam parte dele.
            Nossa presença neste Congresso de Transcomunicação, que se deve ao convite da Dra. Marlene Severino Nobre, digna Presidente da Associação Médico-Espírita de São Paulo e dirigente do jornal “Folha Espírita”, é uma excelente oportunidade para que os espiritistas do Brasil e do Mundo possam tomar conhecimento da posição em que se coloca a FEB.
            É com natural alegria que constatamos, mais uma vez, que a Revelação Espírita é confirmada, em seus fundamentos, pela Ciência terrena: a comunicabilidade entre o Mundo Invisível e os homens, vale dizer, entre Espíritos encarnados e desencarnados.
            O Espiritismo nada tem a opor à Ciência, ao conhecimento progressivo em qualquer campo de suas pesquisas, desde que conduzidas com seriedade e responsabilidade. Pelo contrário, o Espiritismo, que é também Ciência, uma Ciência abrangente que não se ocupa somente da matéria, não poderia jamais colocar-se em situação contraditória consigo mesmo.
            Os Espíritos reveladores deixaram muito claro a Allan Kardec que a Revelação é progressiva; que, por isso, ela não estava oferecendo a última palavra a respeito do conhecimento da Verdade; que o futuro, na medida do próprio esforço dos homens, reservaria novas revelações complementares da base que o Consolador oferecia inicialmente à Humanidade.
            Por sua vez a lucidez do Codificador complementou que o Espiritismo marcharia com a Ciência, uma vez que a Doutrina é também progressiva e não estática. E acrescentou sabiamente que, se em algum ponto incorresse em engano, a própria Doutrina retificaria esse ponto para se colocar sempre em consonância com as realidades.
            Por isso mesmo a FEB, fiel aos princípios estabelecidos na Codificação da Doutrina, não tem por que deixar de saudar novas etapas do progresso, máxime no terreno tão importante para a Humanidade, qual seja o da intercomunicação entre seus dois planos de vida. Ora, essa comunicação entre os dois mundos já se faz comprovadamente desde tempos imemoriais. Os livro sagrados e as tradições das grandes religiões o comprovam sobejamente.
            A Codificação Espírita confirmou a comunicabilidade, estudou-a de acordo com as técnicas e as pesquisas desenvolvidas por Allan Kardec. Posteriormente ao mestre, outros pesquisadores comprovaram inclusive a materialização dos Espíritos, fenômeno também conhecido desde longínqua antiguidade.
            Agora, desde algumas décadas, as manifestações se fazem através dos diversos instrumentos que a tecnologia vai colocando à disposição do homem: o telefone, as fitas magnéticas dos gravadores e mais recentemente, os aparelhos sofisticados de som e imagem.
            Os espíritas nada têm a temer diante dos tempos novos, diante das pesquisas sérias, desde que conduzidas com isenção de ânimo, com interesse verdadeiramente científico que devem caracterizar tais pesquisas.
            Dentro desses pressupostos, isolados os elementos que têm propósitos tendenciosos em defesa de pontos de vista contrários à verdade dos fatos e às realidades transcendentes - cautelas que competem aos próprios pesquisadores - cumpre-nos saudar o novo passo da Transcomunicação Instrumental.
            Sentimos que a mediunidade é engrandecida e confirmada diante das novas técnicas, que apenas comprovariam “materialmente” o que os materialistas não aceitam por não lhes afetar os sentidos físicos: a existência do Espírito.
            Na nossa preocupação permanente de não perder de vista a Ciência e a Religião, não se opõem nem se conflitam, antes se completam e se auxiliam mutuamente - um pensamento que nos parece de suma importância nos ocorre expressar neste momento em que os interesses de espíritas e espiritualistas se voltam para nova fase da transcomunicação transcendental: referimo-nos à necessidade de os pesquisadores se munirem, ao lado do preparo intelectual, científico, isento de preconceitos, de uma moralidade que respeite à ética superior, cujo padrão máximo encontramos no Evangelho de Jesus, à luz da Doutrina  Espírita.
            E isso ousamos reafirmar diante dos perigos que o conhecimento das coisas novas tem trazido para a Humanidade, quando se abstém da Moral superior. Haja vista o que ocorreu com a fissão do átomo e ora preocupa o homem no terreno da engenharia genética.
            Assim também no campo da Transcomunicação não se pode prescindir da união entre o Conhecimento e a Moralidade superior.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Prefácio do livro "No Oásis de Ismael"



                 Prefácio do livroNo Oásis de Ismael” – Ensinos e Meditações
Francisco Thiesen
1ª Edição FEB - 1989

"Os espíritas podem divergir nas ideias, mas não podem afastar-se da fraternidade, porque, se o fizerem, não são espíritas."
"Não há por onde fugir: ou o Evangelho é assimilado, ou não há Espiritismo."
(Dos Espíritos Bittencourt Sampaio, Pedro Richard e Romualdo de Seixas.)

Se existem razões que dispensam a apresentação de determinadas obras ao leitor, neste volume estariam elas evidenciadas em todo o seu conteúdo.

Na realidade, qualquer apreciação elogiosa do prefaciador sobre a profundidade dos pensamentos contidos nas páginas que se seguem resultaria desnecessária, eis que seu valor e beleza patenteiam-se à simples leitura atenta daqueles que aprenderam a admirar o bom e o belo.

Todavia, não resistimos ao prazer de colocar no limiar do livro, com a epígrafe, uma amostra do que ele contém da primeira à última página.

Resta-nos, assim, a tarefa de explicar as origens e o porquê da organização da obra. Todas as joias do pensamento espírita e cristão para aqui trasladadas procedem de comunicações obtidas por via mediúnica no tradicional "Grupo Ismael", cuja trajetória vale a pena rememorar , mesmo que sucintamente, para melhor conhecimento e apreciação do leitor, especialmente dos que pertencem às novas gerações de espíritas.

O "Grupo de Estudos Evangélicos do Anjo Ismael", conhecido simplesmente como "Grupo Ismael", célula de estudos evangélico-doutrinários e de trabalhos de natureza mediúnica, cuja fundação antecedeu à da Federação Espírita Brasileira, à qual se encontra incorporado desde 1895, na gestão de Bezerra de Menezes, tem suas origens nos mais antigos núcleos de estudos e práticas espíritas no Rio de Janeiro.

Sua história centenária começa, na realidade, com a fundação do pequeno "Grupo Confúcio", de efêmera duração, passando sucessivamente pela Sociedade "Deus, Cristo e Caridade", posteriormente transformada em "Sociedade Acadêmica" do mesmo nome e depois pela "Sociedade Espírita Fraternidade" que, por sua vez, transmudou-se em "Sociedade Psicológica Fraternidade". Finalmente, em 6 de junho de 1880, Antonio Luís Sayão, Bittencourt Sampaio e Frederico Pereira da Silva Júnior, juntamente com outros companheiros, organizaram o "Grupo Ismael", inicialmente denominado "Grupo dos Humildes" ou "Grupo do Sayão"; constituído pelos elementos fiéis ao Espiritismo estreitamente vinculado ao Evangelho de Jesus.

O nome "Ismael" surgiu como homenagem ao Guia Espiritual que preside os destinos da nacionalidade brasileira e orienta o movimento espiritista voltado para o Cristo de Deus.

Em mais de um século de lutas e de testemunhos, realizando reuniões semanais ininterruptas, fácil será imaginar-se o extraordinário acervo da fecunda produção mediúnica desse Grupo.

Muitas das mensagens espirituais nele recebidas foram levadas ao conhecimento público através da revista "Reformador", mas muitas outras se perderam no tempo ou nos arquivos.

Desse Grupo fizeram parte, dentre centenas de obreiros, nomes que o Movimento Espírita guardou, seja por sua dedicação à Grande - Causa, seja por sua lucidez e exemplificação em momentos cruciais do Espiritismo no Brasil: Bittencourt Sampaio, Bezerra de Menezes, Antonio Luis Sayão, Frederico Júnior, Pedro Richard, Leopoldo Cirne, Aristides Spinola, Manuel Quintão, Guillon Ribeiro, Frederico Figner, João Celani Júnior, Antônio Wantuil de Freitas, Arnaldo São Thiago são apenas alguns dos trabalhadores que se tornaram mais conhecidos no meio espírita, desde o último quartel do século passado.

No período compreendido entre junho de 1939 e dezembro de 1942, Guillon Ribeiro, com seu espírito metódico a serviço de uma sensibilidade admirável, preservou para a posteridade grande número de comunicações de Guias, Amigos e Companheiros Espirituais, recebidas pelo médium J. Celani, elucidando questões, analisando fatos, advertindo e aconselhando, enfeixando-as em três volumes publicados pela antiga Livraria da Federação, os quais despertaram grande interesse, achando-se hoje esgotados.

Francisco Thiesen, percebendo o vazio que a falta de reedição daqueles volumes constituía, especialmente para as novas gerações de espíritas que não tiveram acesso às excelentes obras, e, ponderando, por outro lado, que, pelo menos os ensinamentos mais profundos e mais atuais contidos nas belas comunicações reunidas por Guillon Ribeiro deveriam ser levadas ao conhecimento público, resolveu publicar no "Reformador" alguns extratos e excertos dos pensamentos dos diversos orientadores espirituais.

Foi o que fez, a partir de 1979 até 1984, sob o título genérico de "Ensinos e meditações do oásis de Ismael".

O presente volume enfeixa toda a compilação de Francisco Thiesen. É mais um trabalho de mérito devido ao esforço do companheiro que se acha à frente da Diretoria da Casa de Ismael há vários anos.

            Ficaram preservados, neste livro, verdadeiras sínteses do pensamento espírita cristão, orientações lúcidas para a atualidade e para o futuro, que não envelhecem porque têm o cunho da sabedoria e da intemporalidade.

Os beneficiários desta obra são todos os espiritistas sinceros, jovens ou velhos, que vão perceber que as matrizes espirituais do Espiritismo Cristão praticado na "Pátria do Evangelho" têm sua origem no Mundo Espiritual Superior.

Todos quantos labutam e porfiam em melhorar-se, seguindo o caminho indicado pelo Cristo, têm nesta obra copioso manancial de ensinamentos cristãos e preciosos esclarecimentos doutrinários para revigorar-lhes o ânimo. 

Assina: Juvanir B de Souza


Francisco Thyssen

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

1982 - O Centenário do "Reformador"

Augusto Elias da Silva


1982 - O Centenário
do “Reformador
por Juvanir Borges de Souza

Reformador (FEB) Dezembro 1982
           
            Soube Augusto Elias da Silva, homem simples e prático, concretizar uma aspiração não somente sua, mas de muitos espíritas de sua época.

            Desde 1865 os espiritistas brasileiros sentiam a necessidade de propagar a novel Doutrina dos Espíritos através da imprensa, essa poderosa força que há séculos vem construindo ideais e demolindo impérios. Torna-se interessante assinalar a estreita ligação entre o Espiritismo e seu movimento, desde seu surgimento, e a imprensa, compreendendo também o livro. Allan Kardec utilizou-os desde o início dos trabalhos da Codificação com real proveito na divulgação dos novos conhecimentos.

            O Brasil dos fins do século XIX era um fervilhar de ideias, conservadoras umas, revolucionárias outras. Os ideais republicanos e abolicionistas chocavam-se com a realidade, buscavam inspiração na experiência de outros povos e tornavam-se cada vez mais influentes, especialmente após a Guerra do Paraguai, com a fundação do Clube Republicano, em 1870. O conservadorismo dos partidos políticos tradicionais do império ia sendo solapado gradativamente. Culminariam os acontecimentos com a abolição da escravatura em 1888, seguindo-se-lhe a queda do império e a proclamação da República, em 1889.  

            Transplantara-se para cá a filosofia positivista de Augusto Comte, logo acolhida por alguns intelectuais influentes.

            O Espiritismo contava já com muitos adeptos, no Rio de Janeiro, na Bahia, em São Paulo e em outras províncias.

            Algumas sociedades e grupos espíritas surgiram do esforço criativo e pioneiro daqueles que iam buscar nas fontes inspiradoras da Europa, especialmente na França, a orientação inicial para a implantação dos primeiros núcleos. Mas a barreira da língua limitava a uns poucos eruditos o acesso às obras originais francesas. Em 1869 surgira na Bahia o primeiro órgão da imprensa espírita brasileira, infelizmente de pequena duração - pouco mais de um ano -, "O Echo d'AIém-Túmulo", fundado e dirigido por Luís Olímpio Teles de Menezes. A partir de 1875 aparecem as primeiras traduções das obras básicas da Codificação, graças aos esforços do médico Joaquim Car los Travassos, sob o pseudônimo de "Fortúnio". A antiga Editora Garnier incumbiu-se das edições em língua portuguesa de "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns" e "O Céu e o Inferno", todos em 1875; em 1876 era editado "O Evangelho segundo o Espiritismo".

            Os núcleos de estudo e prática do Espiritismo começam, então, a delinear seus rumos, com todos os percalços e dificuldades dos movimentos novos. Diferentes tendências, incompreensões, personalismos não deixaram de influir também no nascente movimento espiritista brasileiro. Muitos trabalhadores, deslumbrados diante da beleza, da vastidão e da abrangência da Doutrina, no seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião, deixaram-se, contudo, envolver pelas dissensões, por inexperiência.

            Louváveis tentativas haviam sido feitas, no Rio de Janeiro, com o objetivo de propagar a Doutrina através da imprensa. Prova disso foi a "Revista Espírita", fundada e dirigida pelo Dr. Antônio da Silva Neto, vice-presidente do "Grupo Confúcio", a qual teve vida efêmera, aparecendo em 19 de janeiro de 1875 e desaparecendo ao fim de seis meses. Outro tentame foi a "Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade", que subsistiu de janeiro de 1881 a julho de 1882.

            É nesse meio tumultuado que abnegado e tenaz seareiro português, fotógrafo de profissãoAugusto Elias da Silva, idealiza, funda e faz circular o REFORMADOR" - "Orgam Evolucionista", a serviço da Grande Causa.

            "Abre caminho, saudando os homens do presente que também o foram do passado e ainda hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: o "Reformador".

            Com essas palavras iniciais apresentava-se, em 21 de janeiro de 1883, o novo órgão da imprensa espírita, terminando por afirmar, peremptoriamente, em seu primeiro editorial:

            "Pelas considerações que acabamos de fazer e que constituem a nossa profissão de fé, os nossos leitores, coevos e vindouros, ficam cientes de que, alumiados pela luz da Doutrina Espírita, somos evolucionistas essencialmente progressistas."

            Batalhador da paz, à luz do Espiritismo, com vocação essencialmente progressista, eis uma legenda feliz para uma obra ciclópica, com um marco inicial visível, mas sem limitação no tempo.

            A diretriz inspirada ao fundador intimorato subsiste nos desdobramentos dos programas em que se empenharam todos os continuadores da obra, porque os compromissos assumidos são com a paz, em ação permanente, com a luz, que vem de Mais Alto e com a Doutrina que representa no mundo a revivescência da Mensagem Cristã.  

            Não importam, assim, as mil vicissitudes interpostas à jornada do lutador da paz e da luz. Importa, sim, a superação dos obstáculos, um a um, nessa sucessão dos anos, que já perfazem o primeiro centenário.

            Empenhados nessa luta permanente estão os obreiros dos dois planos da Vida. A inspiração de Cima precisa dos executores dedicados, sejam eles talentos cultivados ou simples trabalhadores de boa-vontade, mesmo portadores de imperfeições humanas.

            A trajetória secular do "Reformador" virtualmente se confunde com a própria história da Casa de Ismael[1], da qual é o porta-voz e a representação do seu pensamento.

            Suas milhares de páginas refletem o tríplice aspecto da Doutrina dos Espíritos. Sem descurar da vasta fenomenologia espírita e dos estudos científicos e filosóficos, sua inclinação natural é dar ênfase ao Espiritismo religioso, com seus aspectos morais profundamente vinculados ao Cristianismo revivido no Consolador.

            Essa face, sempre presente no "Reformador", hoje está patenteada em seu frontispício - "Revista de Espiritismo Cristão" -  como a lembrar, permanentemente, que seu objetivo primeiro é o de contribuir para a reforma moral do homem, segundo o Código deixado à Humanidade pelo Cristo de Deus.        

            Essa tarefa jamais foi fácil. Ao Mestre Divino tem custado sacrifícios e renúncias que estamos longe de compreender. A todos os seus emissários, em todas as latitudes e épocas, não têm faltado esforços e sofrimentos.

            Não seria diferente a missão do Espiritismo, o Consolador prometido, aqui ou alhures.

*

            No Brasil de hoje todos os espiritistas conhecem as dificuldades extremas para se alcançar algum progresso na porfia contra nossas imperfeições, contra o materialismo avassalador, contra o obscurantismo dogmático ou contra o preconceito científico, religioso e social. Imaginemos, então, o que teria sido esse quadro de óbices em uma época hostil, em que o ridículo era arma usual contra os espíritas, as perseguições eram aceitas com toda naturalidade e o poder político estava intimamente ligado à Igreja Romana, garantindo-lhe prerrogativas e privilégios de religião do Estado.

            Enfrentar tais dificuldades desencorajaria qualquer ânimo que não se apoiasse em têmpera rija e fé verdadeira. Augusto Elias da Silva as possuía. Por isso, concretizou seu sonho, apesar do pessimismo de muitos, impressionados com as pedras do caminho. O prognóstico para o empreendimento era o de uma vida breve e pálida, sem brilho e sem grandeza, como já ocorrera com tantos outros periódicos.

            "Não foi Elias, como alguns confrades supõem hoje, um homem inculto e incapaz de produções admiráveis, escritas ou faladas. Ao contrário, à fluência e correção da linguagem se casava um estilo pleno de beleza e vigor literários e profundo conhecimento da Doutrina dos Espíritos e de diferentes ramos do saber humano. Quem quiser dar-se ao trabalho (que traz satisfação) de averiguar o que afirmamos, basta folhear as coleções antigas do "Reformador", onde encontrará alguns dos belos e instrutivos discursos por ele pronunciados.

            Por ser Elias humilde e modesto ao extremo, por isso mesmo se retraía a ponto de não deixar se lhe conhecessem devidamente as qualidades, entre as quais a de excelente orador." ("Grandes Espíritas do Brasil", Zêus Wantuil, 2ª ed. FEB, pág. 182)

            Afora suas qualidades pessoais, entrevistas no breve trecho de seu biógrafo, o desbravador contou, sem dúvida, com a inspiração da Espiritualidade Superior, sempre presente nas realizações do Bem. Recebeu, também, a cooperação e o auxílio precioso de alguns poucos companheiros que se lhe juntaram. O então Major Francisco Raimundo Ewerton Quadros é nome que se liga ao do operoso fotógrafo português, desde a primeira hora. Os dois, dinâmicos e corajosos, não temem obstáculos.,.

            Um tem a ideia, a inspiração, a vontade firme de torná-Ia realidade. O outro a acolhe, batalha por ela, auxilia sua concretização e toma o encargo da direção conjunta.

            Essa conjugação de esforços ocorre tanto no lançamento do jornal quanto, um ano depois, na fundação da Federação Espírita Brasileira. A cooperação entre os dois é nítida, franca, leal, sem restrições nem vaidades.

            Outros poucos uniram-se ao afã da tarefa iniciada. Hoje podemos perceber que os tarefeiros desincumbiram-se de missão específica, recebida e cumprida galhardamente.

            Depois, a obra cresceu, dilatou- -se, firmou-se e ai está com seus frutos abençoados, espalhados por toda parte. Mas, a Augusto Elias da Silva, a Ewerton Quadros e a seus companheiros da primeira hora, devemos o tributo da gratidão e do reconhecimento.  

*

            Cronologicamente, afirma Zêus Wantuil, "Reformador" foi a décima folha espírita surgida no Brasil, em que pese à afirmativa de Clóvis Ramos de ter sido a oitava. ("A Imprensa Espírita no Brasil" – 1ª ed., pág, 5)

            Há muito se tornou o mais antigo periódico da imprensa espírita brasileira. Em todo o mundo, ocupa o quinto lugar em antiguidade.

            Registram os "Anais da Biblioteca Nacional" (VoI. 85) ser o "Reformador" um dos quatro periódicos surgidos no Rio de Janeiro, de 1808 a 1889, que sobreviveram até os dias de hoje. São eles, pela ordem: "Jornal do Commercio" (1827); "Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro" (1839); "Diário Oficial" (1862); 'Reformador" (1883). A exceção do "Diário Oficial", "Reformador" é o único que jamais teve interrompida sua publicação.

            Surgido aos 21 de janeiro de 1883, depois de preparativos afanosos, com recursos de seu fundador, as oficinas e a redação do pequeno jornal foram instaladas na residência de Elias da Silva, ao lado do atelier fotográfico, à Rua da Carioca nº 120, 2º andar (antiga Rua São Francisco de Assis), ali permanecendo até janeiro de 1888. Contara Elias com o Incentivo e a cooperação de sua mulher e de sua sogra, ambas espíritas.

            O jornal tinha, então, quatro páginas de textos, com o formato de 44 x 36 cm, saindo quinzenalmente. A tiragem era pequena, cerca de 300 a 400 exemplares. As assinaturas, não excedentes de duzentas, não cobriam as despesas de confecção. Boa parte das edições era distribuída graciosamente. Logo alcançou o exterior, com remessas principalmente para Portugal.

            Unidos, Elias da Silva e Ewerton Quadros imprimiram ao jornal orientação segura, fraterna e tolerante.

            Em janeiro do ano seguinte, antes de completar o primeiro aniversário, por proposta de seu fundador, "Reformador" era cedido à Federação Espírita Brasileira, sociedade fundada também por Augusto Elias da Silva. Não houve solução de continuidade na orientação do jornal, de vez que Ewerton Quadros foi eleito primeiro Presidente da nova Instituição. Em 2 de janeiro de 1884 formalizava-se a constituição da Federação, elegia-se sua primeira Diretoria e incorporava-se o jornal de Elias à FEB. Estava cumprida a parte essencial da missão de Elias da Silva e de seus coadjuvantes. Depois, viria o desdobramento da obra. Trabalho e dedicações, permanentes dificuldades e lutas constantes, alegrias e pesares.

            Como porta-voz da Federação Espírita Brasileira, "Reformador" reflete o que é a Casa de lsmael, seu programa, suas finalidades e o pensamento dos que a dirigem daqui e do Alto.

            Guillon Ribeiro, o fiel servidor e inesquecível Presidente, sintetizou bem o relevante papel desse órgão da Casa dos Espíritas, em Relatório publicado em setembro de 1940, assinalando:

            "Subordinado sempre, com absoluta fidelidade, à orientação doutrinária da instituição cujo pensamento lhe cabe exprimir, continuou ele a esforçar-se por bem servir o melhor possível à causa espírita. sem jamais dissociar do Evangelho o Espiritismo, antes timbrando invariavelmente em propagar a Terceira Revelação Cristã, sem esquecer, todavia, de dispensar a atenção devida à fenomenologia que serviu de base a estruturação da Doutrina dos Espíritos."

*

            Alinhando-se corajosamente, desde seus primórdios, como batalhador da grande causa dos escravos negros do Brasil, a última bastilha da escravatura no mundo, bateu-se pela emancipação ampla e pacífica, arrostando com denodo o reacionarismo escravocrata. Em 1888, quando pouco antes se instalara à Rua do Çlube Ginástico nº 17, hoje Rua Silva Jardim, juntamente com a Federação, via proclamada a abolição, em meio a festas memoráveis na Corte e a alegrias nos corações, coroando as justas aspirações de milhares de criaturas já cansadas de uma longa espera pela liberdade.

            Triunfara o Bem. Terminava uma campanha. Começava uma nova etapa na luta incessante em prol de uma libertação ainda maior, a do Espírito.

*

            Os anos de 1892 a 1895 foram particularmente difíceis para o Movimento Espírita brasileiro. Lavravam as divergências no seio da família espiritista. A Federação Espírita Brasileira e seu órgão atravessavam séria crise de ordem financeira, a par de dissensões e desentendimentos.

            Desanimado diante das inúmeras dificuldades, o Presidente Júlio César Leal renunciou ao cargo, em meados de 1895.

            "Foi então que as vistas dos que amavam aquela Casa, e por ela haviam empenhado os maiores sacrifícios, se voltaram para uma individualidade que, reunindo as mais peregrinas virtudes e saber a um legítimo prestígio no seio dos espíritas, parecia - e com efeito foi - a única em condições de salvar a Federação." (V. "Esboço Histórico da Federação Espírita Brasileira", ed. de 1924.)

            Essa figura apostolar e enérgica - o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes -, que fora anteriormente Diretor da FEB e Presidente em 1889, com largos serviços prestados à Causa e ao próprio "Reformador", é convidado, diríamos melhor, instado, a tomar a direção suprema da Casa de Ismael, no plano físico. Augusto Elias da Silva,  Manuel Fernandes Figueira, Alfredo Pereira, o então gerente do "Reformador", e o ex-Presidente Dias da Cruz são os emissários escolhidos para convencer Bezerra de Menezes a aceitar a Presidência. Os emissários impuseram a si mesmos, desde logo, a condição de não ocuparem qualquer cargo administrativo na nova gestão.

            Bezerra atendeu à convocação, foi eleito com poderes excepcionais na assembleia extraordinária de 3 de agosto de 1895 e empossado no cargo por Augusto Elias da Silva. Mais um relevante serviço ao Movimento Espirita prestavam Elias e seus companheiros.

            Bezerra de Menezes, com descortino e serena energia, imprimiu nova orientação aos trabalhos da Federação, com base nos estudos doutrinários e evangélicos, terminou com as tertúlias puramente literárias e com as discórdias e restabeleceu o equilíbrio financeiro necessário ao prosseguimento da obra admirável.

            A atuação de Bezerra à frente dos destinos da Federação e de seu órgão de divulgação, durante o período de cinco anos, até à sua desencarnação, foi de importância ímpar para todo o Movimento Espírita no Brasil, que se firmou, desde então, dentro de uma diretriz que o futuro iria consagrar como a do verdadeiro papel do Espiritismo no mundo.

*

            Após vinte anos de sua fundação, o jornal da Federação passou a ser impresso como revista bimensal, com 20 páginas, inicialmente, no formato de 27 x 18,5cm. Durante trinta e quatro anos, de 1903 a 1937, manteve esses característicos.

            A administração e a redação do órgão febiano mudaram de endereço sucessivas vezes, acompanhando a sede da Federação, peregrinando por salas e porões alugados, até que, em 1911, se instalaram na sede nova construída na administração de Leopoldo Cirne, à Avenida Passos, 30, endereço que se tornou conhecido de todos os espiritistas do Brasil e do exterior.

            Em 1937, estando na Presidência Guillon Ribeiro, tendo como gerente Antônio Wantuil de Freitas, a Revista torna-se publicação mensal aumentando, gradativamente, até atingir o número atual de quarenta páginas.

            Cresceu o número de assinantes, dentro e além-fronteiras. É grande a quantidade de leitores e Casas Espíritas que recebem gratuitamente a Revista. Não dispondo o leitor de recursos financeiros, não deixará de recebê-Ia, desde que manifeste sua vontade nesse sentido.

            Durante muitos anos, manteve "Reformador" rede nacional de agentes encarregados da cobrança e agenciamento de assinaturas. A partir de 1981 a trabalhosa tarefa passou a ser executada diretamente pela gerência do órgão, valendo-se dos serviços da rede bancária, com auspiciosos resultados.

            Como experiência que resultou positiva, seu Diretor Francisco Thiesen, na Presidência da FEB, em dezembro de 1975, resolveu imprimir suas capas em cores. A Revista tomou novo aspecto gráfico, com boa recepção. Antes, em 1970, o logotipo e desenho da capa haviam sido substituídos. A modernização, em matéria gráfica, é uma imposição a que estão sujeitos os meios de comunicação impressos. Na FEB não poderia deixar de haver atualização, embora ela se processe sem as prejudiciais precipitações.

            Desde 1891, sob a Presidência de Dias da Cruz e Vice-Presidência de Bezerra de Menezes, a FEB buscou levantar, junto aos espíritas, um empréstimo para compra de prédio próprio e montagem de uma oficina tipográfica destinada à impressão do "Reformador" e de obras de propaganda da Doutrina. A tentativa malogrou. Somente em 1939 o velho projeto se concretizava integralmente.  Guillon Ribeiro, o incansável Presidente, adquiriu e instalou as máquinas Impressoras próprias, nas dependências dos fundos do prédio da Avenida Passos, 30. Foi um decisivo passo à frente, um novo alento na trajetória do divulgador do Espiritismo. Graças a essa providência, as edições e reedições de livros espíritas começaram sua grande expansão.

            Com a instalação do Departamento Editorial, em 1948, em amplo edifício especialmente construído em São Cristóvão, o saudoso Presidente Wantuil de Freitas deu sólida estrutura a todo o complexo editorial da FEB. Situado na Rua Figueira de MeIo, 410, esquina da Rua Souza Valente, 17, esse prédio foi posteriormente ampliado, com dois novos pavimentos, inaugurados em 1961, sendo hoje a sede dos Departamentos Editorial e Gráfico.

            Novo surto de progresso aconteceu na década de 70, quando, sob as Presidências de Armando de Oliveira Assis e Francisco Thiesen, todo o parque gráfico foi renovado, com a adoção do sistema offset de impressão. Com a modernização beneficiaram-se o "Reformador" e seus milhares de leitores.

*

            Todos os espiritistas conhecem sobejamente a orientação editorial do órgão febiano. Servindo de mensageiro da Federação Espírita Brasileira, expressa seu pensamento e suas diretrizes. Está permanentemente a serviço do Evangelho de Jesus, à luz da Doutrina Espírita, e isto diz tudo.

            Sempre esteve na estacada, em defesa do Movimento Espírita, das Instituições Espíritas, dos espíritas, contra os ataques, as perseguições e os preconceitos de qualquer ordem ou procedência. Nessa linha de coerência, tem expressado sempre a coragem serena dos que pugnam pela prevalência da verdade, da justiça e da fraternidade entre os homens.

            Contam-se às centenas seus colaboradores, acolhendo suas páginas os nomes mais ilustres do Espiritismo em todo o mundo e em todas as épocas, os médiuns mais dedicados, a serviço da Doutrina, os escritores, os poetas, os cronistas, os críticos e os artistas, todos os que se interessam por uma cultura sã das Letras, da Arte, da Ciência e da Filosofia - a serviço do Bem.

            É evidente que, na sustentação de uma obra complexa e dinâmica, difícil, evolucionária, mas coerente, de alta significação espiritual, porém simples e sem atavios em sua apresentação material, teria o "Reformador" de assentar sua construção em "rocha firme". Do contrário não chegaria até nós, com um século de serviços relevantes.

            A que atribuir a segurança e firmeza dessa realização, quando outras, com tantas possibilidades, naufragaram a meio da travessia?

            A resposta não se torna difícil desde que atentemos em dois fatores sempre presentes na vida da Revista: em primeiro lugar, o objetivo visado e o caminho escolhido, em compromisso irrevogável com o Evangelho do Cristo, entendido em espírito, à luz do Consolador - esta é a pedra angular; em segundo, a dedicação admirável de seus servidores, dos dois planos, assim compreendidos não somente os Diretores, os sucessivos Presidentes que honraram seus compromissos com o programa de Ismael, mas também os trabalhadores dos demais escalões, os redatores, os administradores, os secretários, os gerentes, os executores de tarefas aparentemente secundárias, sem as quais não se torna possível a manutenção de um  periódico com a feição e os característicos iniludíveis da Revista da FEB, máxime por um lapso de tempo tão significativo.

            A presença do Alto, sob a forma de encorajamento e inspiração, deve-se à invariável diretriz traçada e executada. O segundo fator dependeria de servidores fiéis e dedicados.

            Neste fim do Primeiro Século e limiar de uma nova idade de "Reformador", elevamos nosso pensamento, agradecido, ao Mestre Incomparável. Lembramos, com admiração, o vulto de seu fundador, missionário que se tornou grande na humildade e na coragem, cuja visão varou o tempo, projetando-se nas claridades do futuro. Recordamos igualmente, com emoção, todos os trabalhadores sinceros que tomaram a si o dever da sustentação e continuação da obra admirável de esclarecimento espiritual, como exemplos vivos de dedicação a Ismael, o executor do programa, o preposto do Cristo.

            Aos obreiros de hoje e de amanhã, auguramos sejam dignos da confiança do Alto e saibam conduzir o facho luminoso, zelando para que jamais se extinga a sagrada chama do ideal, ao encontro da paz e da luz.

*

            Valendo-nos de recente pesquisa de nossos companheiros Zêus Wantuil e José Jorge, alinhamos abaixo, em quadro sinóptico, os nomes dos Presidentes da Federação e dos que se vincularam mais estreitamente à Revista, como seus Diretores, redatores, secretários, administradores e gerentes - os devotados obreiros que por um século vêm emprestando seus esforços e labores, construtivamente, na difusão da Doutrina dos Espíritos, a tempo e a hora.

REFORMADOR

FUNDADOR - AUGUSTO ELIAS DA SILVA

PRESIDENTES da Federação Espírita Brasileira:

Ewerton Quadros                   - 1884 a 1888
Dias da Cruz                           - 1890 a 1894
Júlio César Leal                      - 1895 (alguns meses)
Bezerra de Menezes              - 1889, 1895 a 1900
Leopoldo Cirne                       - 1900 a 1913
Aristides Spínola                    - 1914, 1916 a 1917, 1922 a 1924
Luís Barreto A. Ferreira         - 1925 a 1926
Paim Pamplona                      - 1927 a 1928
Manuel Quintão                    - 1915, 1918 a 1919, 1929
Guillon Ribeiro                       - 1920 a 1921, 1930 a 1943
A. Wantuil de Freitas             - 1943 a 1970            
Armando de O. Assis             - 1970 a 1975
Francisco Thiesen                  - 1975 até hoje

DIRETORES (Registrados no frontispício):

Manuel Quintão                     - 1915 a 1916, 1918 a 1920, 1929 a 1930
Aristides Spínola                    - 1916 a 1918, 1922 a 1925
Gulllon Ribeiro                       - 1920 a 1922, 1930 a 1943
Luís Barreto A. Ferreira         - 1925 a 1927
Paim Pamplona                      - 1927 a 1929
A. Wantuil da Freitas             - 1943 a 1970
Armando da O. Asssis            - 1970 8 1975
Francisco Thiesen                  - 1975 até hoje

DIRETOR-SUBSTITUTO:
Lauro de Oliveira S. Thiago   - 1980 até hoje

REDATORES-CHEFES E REDATORES-SECRETARIOS:

Ewerton Quadros                   - 1884 a 1888
Leopoldo Cirne                       - 1905 a 1913 (Redator-Sec.)
Aristides 5pínola                    - 1914 (Redator-Chefe)
Miguel Ricardo Galvão          - 1913 a 1915 (Redator-Sec.)
Guillon Ribeiro                       - 1922 a 1929 (Redator-Chefe)
Manuel Quintão                     - 1927 a 1928 (Redator-Chefe)
Carlos Imbassahy                   - 1943 (Redator-Chefe)
Indalício Mendes                   - 1978 até hoje (Redator-Chefe)

SECRETÁRIOS

Sylvlno Canuto Abreu             - 1915 a 1916
Amaral Ornellas                     - 1917 a 1923
Fernando Coelho                    - 1920
Carlos lmbassahy                   -  1923 a 1943
Indalício Mendes                   - 1943 a 1975
J. Antero de Carvalho            - 1975 a 1978
Alberto Romero                     - 1978 até hoje

GERENTES E ADMINISTRADORES:

Augusto Elias da Silva             - 1883 a 1887
F. A. Xavier Pinheiro                - 1887 a 1890
Alfredo A. O. Pereira               - 1891 a 1897
Pedro Richard                          - 1897 a 1902 1903 a 1912 (ad.)  - 1916 a 1917 (ger. interino)
Adauto Neiva                           -  1912 a 1913
Francisco Chaves                     - 1913 a 1914 (ger. interino)
Jarbas Ramos                          - 1914 a 1915
A. A. Rodrigues Quintans        - 1915 a 1916
Emillo Wirz                              - 1916
Arthur Rosenburg                    - 1917 a 1918, 1924 a 1927
Antônio Alves da Fonseca       - 1918 a 1920, 1920 a 1924 (ad.)
Américo Lopes Vieira              - 1927 a 1929
José Vaz de Carvalho              - 1929 a 1931
João da Costa Viana               - 1932 a 1936
A.. Wantuil de Freitas             - 1936 a 1943
Henrique Sondermann            - 1943 a 1948
João d'Oliveira e Silva            - 1948 (ger. interino), 1948 a 1951, 1952 a 1957   
Paulo de O. Ludka                   - 1951
Carlos Guimarães                   - 1951 a 1952
Ernesto Teixeira Barros          - 1957 a 1959
José Yolando dos Santos        - 1959 a 1970
Francisco Thiesen                   - 1970
Getúlio Soares de Araújo       - 1970 a 1981
Alfonso B. G. Soares               -1981 a 1982
Tânia de Souza Lopes             - 1982
Agadyr Teixeira Torres          - desde agosto de 1982


[1] “Reformador”: porta-voz da espiritualidade superior” – artigo de Francisco Thiesen in “Reformador” de outubro de 1972.