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domingo, 18 de abril de 2021

Pai Nosso

 


Em Espírito e Verdade

por H. Rohden

Ed. ‘Apoio da Boa leitura’ - Caxias (RGS)  - 1941

 “Pai Nosso”

       Assim é que deveis orar: Pai nosso que estás no céu... (Mt 6:9)

 *

          Pai! Eis aqui teu filho, que pela graça santificante geraste para a vida eterna.

          Pai! Eis teu filho, pronto a cumprir as tuas ordens.

          Pai! Queres-me em tua casa – ou permitirás que eu habite eternamente no cárcere guardado por teu inimigo?

            Pai nosso, pai de todos os homens, e não apenas pai meu – se é que formamos uma grande família de irmãos, não é que devemos dar as mãos uns aos outros irmãmente?...

            A que vem, pois, que veem esses ódios de indivíduos e de classes que reduzem a um inferno de Satã a tua família humana?...

            A que vem essas armas mortíferas que ouço troar em terra, mar e ar?...

            A que vem essa execração de raças, e essa guerra de credos, quando uma só é a humana natureza, um só o sangue redentor de Cristo, um só o supremo destino que a todos aguarda?...

            Pai nosso, que estás no céu – bem sei que estás em toda parte, presente dentro e fora de mim; mas espero ver-te um dia, não já pelo espelho e enigma da fé, mas, sim, face a face, assim como és – e será isto o meu céu...

            O céu és tu, meu Pai, onde quer que estejas, onde quer que eu esteja; o céu é a intuição da tua natureza, é a posse do teu Ser, é a submersão da alma nas infinitas profundesas da tua divindade e beatitude...

            O “eterno descanso” em teu seio, meu Pai, é a definitiva quietação da agulha magnética de minha alma, que deixou de oscilar irrequieta, porque encontrou o seu norte e sintonizou todas as suas ondas com a onda da tua divina essência...

       Pai... santificado seja o teu nome!  (Mt. 6,10)

             É esta a prece universal da Natureza...

            Por que traçam os corpos sidéreos as suas gigantescas elipses pelas vias inexploradas do cosmos?

            Por que se sucedem em gratas vicissitudes as quatro estações sobre a face da Terra?

            Por que se sucedem em gratas vicissitudes as quatro estações sobre a face da Terra?

            Por que cintilam, na excelsitude do firmamento, a via-láctea e o arco-iris?

            Por que se ornam de festivas galas as campinas e os prados, as montanhas e os vargedos?

            Por que se agitam em epopeias de vitalidade terra, mar e ar?

            Para santificar o teu nome, Senhor do Universo, para celebrar a grandeza do teu poder, a profundidade do teu saber, as ternuras do teu amor...

            E como poderia o homem, rei da criação, deixar de acompanhar esse epinício cósmico, traduzindo em homenagem consciente a inconsciente apoteose da Natureza?

            Por que não cantaria o homem as glórias da Redenção, mil vezes mais brilhante do que todas as maravilhas do mundo material?...

            Por que não exultaria o cristão à luz divina da fé, da graça, do amor, de inefável beatitude?...

            Por que não seria a vida do redento um imenso Te Deum de gratidão e de amor?...

            Santo, santo, santo é o Senhor, Deus dos exércitos... Os céus e a Terra estão cheios da sua glória... Hosana a Deus nas alturas!...

 

      O reino que não é deste mundo  (Mt. 6:10)

            Pai... venha o teu reino!

                                                                       ***

            O teu reino, meu Pai! De infinitas saudades me enchem a alma estas palavras...

            Há longos decênios que estou à procura do teu reino – e quase só encontrei o reino de Satã...

            O teu reino, meu Pai, está no mundo, mas não é do mundo...

            É o reino da verdade e da vida...

            O reino da justiça e da paz...

            O reino da fé e do amor...

            O teu reino é o reino da manjedoura e da oficina, o reino do cenáculo e da cruz...

            O teu reino não terá fim – dizia o anjo a Maria.

            Lembra-te de mim, Jesus, quando entrares no teu reino – suplicava o ladrão penitente.

            O reino de céu é semelhante a um tesouro – dizia teu filho.

            Mas o teu reino não é da natureza desses reinos pueris que os homens inventaram, reinos sustentados por espadas e canhões, por cadáveres humanos e lágrimas de viúvas e órfãos.

            O teu reino repousa sobre as potências da razão e do amor.

            Se a mim vier o reino do teu amor, irradiará de mim o reino da caridade cristã.

            Se na alma humana vigorar o reino do teu Evangelho, cantará na sociedade, na pátria e no mundo inteiro o reino da paz, da justiça, da harmonia universal.

            Venha o teu reino, meu Pai!...

             A mais dolorosa das minhas preces.

         Pai... seja feita a tua vontade, assim na Terra como no céu. (Mt. 6:11)

 ***

            É esta, meu Pai, a mais dolorosa de quantas preces já balbuciaram meus lábios...

            Seja feita a tua vontade...

            O triunfo da tua vontade é a derrota da minha – e a minha vontade sou eu, é a alma da minha vida, é a vida da minha alma...

            Que será de mim, se se realizar esta petição?... Se tua vontade suplantar a minha? Parece-me quase um suicídio do próprio Eu.

            A minha vontade é o meu céu.

            É o mais querido de todos os meus ídolos.

            É o último dos meus fetiches a que renuncio.

            Minha vontade é a menina dos meus olhos, é o sangue do meu coração, é a quintessência do meu Ser.

            Entretanto, meu Pai – seja feita a tua vontade!.. à custa da minha...

            Reduzirei a cinzas, sobre a ara da tua vontade, o holocausto do meu querer...

            Toma, Senhor, e recebe a minha inteligência, a minha vontade, a memória, a fantasia, o coração, os sentimentos – toda a minha personalidade.

            Por entre as angústias mortais dos meus Getsêmanes – seja feita a tua vontade!

            Por entre os impropérios dos meus Gólgotas – seja feita a tua vontade!

            Seja este o derradeiro suspiro dos meus lábios moribundos: faça-se a tua vontade meu Pai!...

            Fiat... fiat... fiat...

       Nem riqueza nem pobreza

         Pai... o pão nosso de cada dia nos dá hoje!  (Mt. 6,12)

 ***

             Não te escandalizes, meu Pai, que eu te peça coisa tão profana, depois de implorar dons tão espirituais...

            Bem sei que nem só do pão vive o homem, mas também não vive sem ele...

            Pelos lábios de teu filho dileto eu te suplico – o pão de cada dia.

            Não te peço riqueza nem pobreza – peço-te apenas o necessário para o sustento de cada dia.

            Sei que tanto o demais como o de menos pode ser um entrave no caminho do meu destino.

            A abundância dos bens terrenos me faria esquecer que sou peregrino e viajor em demanda da pátria longínqua.

            A penúria do necessário me encheria de preocupações materiais e não me daria o necessário sossego para atender às coisas do espírito.

            Por isso, meu Pai, peço-te apenas o pão de cada dia.

            Mas dá-me também o pão do espírito, pois que nem só de pão material vive o homem.

            Dá-me o pão da inteligência, para que eu possa apreciar as maravilhas de tua criação, as obras primas da humana inteligência e, sobretudo, as grandezas do teu Evangelho.

            Dá-me o pão da alma, a fé, o amor, a graça, a felicidade, para que chegue, são e salvo, ao termo da minha peregrinação terrestre...

       Perdoar – para ser perdoado

         Pai... perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores! (Mt 6:13)

 ***

             Pai, sou grande devedor teu – e pequeno credor de meus irmãos...

            A dívida que tenho contigo é imensa – o que os outros me devem é ninharia.

            Estou insolvente, meu Pai – Se não me dispensares do meu débito, terei de abrir falência moral diante de ti...

            Tudo o que tenho não passa de valores negativos, dinheiro falso – e o que tenho de positivo não é meu, são bens emprestados por ti.

            Mas, lembra-te, Pai, que os meus pecados são pecados de ignorância e de fraqueza e não de perversidade.

            Por isso te pediu teu Filho na cruz: Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem...

            E que outra coisa seriam as ofensas que de meus semelhantes recebo, senão fruto da ignorância, da fraqueza, de mal-entendidos?

            Como posso esperar de ti o perdão da minha grande dívida, se não quero perdoar a meus irmãos os seus pequenos débitos?

            Perdoarei – para ser perdoado...

             

      Três legiões adversas

         Pai... não nos induzas em tentação! (Mt 6:13)

 ***

             Pai, estou cercado de três exércitos inimigos que me agridem...

            Aquele preclaro espírito que se rebelou contra ti e que sua justiça relegou ao abismo da dor eterna, não cessa de andar pelo mundo, qual leão a rugir, procurando devorar as almas.

            O mundo profano me entra na alma pelas portas dos cinco sentidos e enche de ídolos o santuário do meu interior.

            O meu próprio Eu, contaminado pela queda original, me arrasta às imundas baixadas de Sodoma, donde desertou o teu espírito, meu Pai.

            Assim é que vejo constantemente assediada a praça forte da minha vontade por essas legiões adversas.

            Três inimigos me agridem ao mesmo tempo: um cerca-me de todos os lados; outro surge de incógnitas profundezas; e o terceiro, pior de todos, está oculto dentro do próprio baluarte da minha natureza...

            Fossem apenas hordes externas, e eu talvez me defenderia contra seus ataques – mas como posso defender-me dessa “quinta-coluna” da minha própria natureza inclinada ao mal?

            Só a tua graça, meu divino Aliado, poderá garantir-me votória no meio de tão horrível peleja.

            Sei que não serei coroado se não lutar legitimamente – mas, rogo-te, meu Pai, que não me desampares na luta contra meus e teus inimigos...

            Faze da tentação elixir de novas energias – para derrotar os adversários da minha salvação...  

           Males

         Pai... livrai-nos do mal! (Mt 6:13)

 ***

             Pai, porque existe no teu mundo o mal?..

            Não dizem os livros sacros que era bom tudo quanto criaste? e que era muito bom o homem que formaste?..

            Quem foi que criou o reino das trevas? o reino da dor? o reino do crime?..

            Algum deus mau, perverso, satânico?.. Assim pensam muitos daqueles que não compreendem o teu mundo tão imundo...

            Existem os males físicos, porque é deficiente toda a matéria. A imperfeição é inseparável atributo da matéria.

            E onde existe imperfeição existe a possibilidade do mal, da dor, do sofrimento.

            Tu não criaste os males morais, meu Pai, os pecados, os crimes, as infâmias do homem – mas deste ao homem o livre arbítrio – e onde existe a liberdade existe a possibilidade do mal moral.

            Preferiste criar um mundo possivelmente mau a não criar um mundo provavelmente bom.

            O livre arbítrio é a chave do céu e do inferno – e tu entregaste esta chave ao homem, e dele é o uso ou abuso da sua liberdade.

            Não queres o mal moral, mas não o impedes, porque não destróis a liberdade que deste, e de todos os venenos da humana malícia sabes fabricar o remédio salutar para as nossas almas, ó divino Alquimista!

            Na escola do sofrimento educas as almas para o seu destino eterno...

            No caminho da dor purificas das escórias o espírito, depuras o ouro de lei dos teus santos...  


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Confissões

Confissões - a

I. Pequeno (Antônio Wantuil)

Reformador (FEB) Fevereiro 1946

            Em continuação às transcrições que vimos fazendo de trechos do livro – ‘Deus’ - da autoria do Rev. Padre Huberto Rohden:

             “Dentro em breve estará encerrada a minha peregrinação terrestre - e eu aguardo, tranquilo, quase ansioso, esse termo final de uma longa jornada - tão longa e tão fugaz... Que novas maravilhas me revelará essa metamorfose, esse cair do pano, essa grande alvorada?...

            Partirei daqui para mundos ignotos, mundos de que tanto falei e escrevi, mundos por que tanto trabalhei e sofri, mundos que muitos dos meus ex-ouvintes e ex-leitores já conhecem de vista, e que eu anseio por conhecer também...”

            “Queriam alguns homens que eu mesclasse de elementos humanos, incertos, as tuas revelações divinas, infalíveis... Queriam que eu fizesse do teu Evangelho bandeira de interesses subalternos e chave para tesouros profanos ...

            “Mas, o teu reino não é deste mundo, e o teu Evangelho é por demais espiritual para não ser desespiritualizado pelo contato com as nossas materialidades cotidianas... Preferi sofrer a incompreensão e hostilidade de muitos a ser infiel a teu espírito e à minha consciência - e estou satisfeito com o que fiz.”

            “Sei que castigas o mal e premias o bem - mas não sei porque sofrem inocentes e exultam culpados,..

            “Sei que grandes crimes merecem grande punição - mas porque punem para sempre um verme da Terra? ...

            “Que glória ou prazer te podem dar os gemidos de Espíritos infelizes?”

            “Se sabes e desde sempre sabias que tantas almas não atingiriam seu destino feliz - porque não as deixaste na noite benéfica do não-ser?..porque chamaste ao luminoso dia da existência esses convidados à noite eterna?..

            “Disseram-me que havias criado milhares e miríades de seres incorpóreos dotados de grande poder, inteligência e beleza, destinados a serem felizes em tua companhia, mas que muitos desses seres se haviam revoltado contra ti e que tu os havias punido com penas eternas.

            "Cheio de pasmo e estupor ouvi deste primeiro fracasso do teu poder, da tua sabedoria e bondade - e fiquei desnorteado.”

            “Não sei como definir esse indefinível quê, esse misterioso algo que infundiste à matéria do teu universo”. Vejo que a matéria evolve, que progride, que procura subir de perfeição em perfeição, ela, que não possui propriamente espírito, nem alma, nem inteligência, nem vontade...”

            “Cheguei a compreender também que o teu céu não é algum lugar longínquo para onde deva a alma viajar após a sua separação do corpo - mas que o teu céu é um estado espiritual dessa mesma alma liberta, uma atitude moral, uma atmosfera divina criada dentro da alma na vida presente e revelada na vida futura ...”

            “No dia, Senhor, em que os homens inventaram que eras “pessoa”, começou a grande decadência...

            “Decadência, não tua, porque tu és eternamente forte, juvenil, indefectível; mas a grande decadência da tua divindade no conceito dos homens.

            “Modelaram-te os homens à sua imagem e semelhança, personalizando-te. Chegaram mesmo ao ponto de atribuir-te personalidade tríplice - e com isto correram enorme cortina de fumaça por diante de tua divina natureza."

            “Tu castigarás esse homem “injusto” ou “desajustado”?

            “Não, ele mesmo se castigará, porque toda culpa, quando não devidamente cancelada, leva no seio o germe da pena.”

            De acordo com o desejo dos nossos leitores, continuaremos no próximo número de ‘Reformador’ a transcrever as gotas filosóficas do Autor.

Confissões -b

I. Pequeno (Antônio Wantuil)   

Reformador (FEB) Março 1946

             Conforme prometemos, seguem mais alguns trechos do livro – ‘Deus‘- obra publicada em 1945 pelo Revmo. Sr. Padre Huberto Rohden:

             “Quem arremete com o crânio contra uma muralha de granito ofende mais a si mesmo do que ao granito.”

            “Muitos chegam ao ponto de se sentirem como que dispensados de serem bons pelo fato de serem abundantemente “religiosos”.

            “Não, não posso crer, meu Deus, que tu sejas tão cruel e insensato que crias um ser destinado a ser infeliz, que chames à existência era a uma humanidade fadada a perecer longe de ti, em terra estranha, faminta, no meio de animais imundos...”

            “Que Deus tão pouco divino serias tu se, no fim dos tempos, o teu adversário saísse mais vitorioso que tu? Se levasse consigo a maior parte da tua humanidade?”

            “O teu céu e o teu inferno não são lugares, no sentido comum do termo, são estados da alma, atitudes do espírito, perspectivas retas ou falsas do Eu.”

            “Estou no teu céu, no teu inferno quando estas coisas, divinas ou anti divinas, estiverem dentro de mim, em estado latente, agora - em estado manifesto no mundo futuro.”

            “O reino de Deus e o reino de Satã estão dentro do homem. E, aonde quer que o homem vá, leva consigo o seu céu ou o seu inferno.”

            “A vida, ao menos a do nosso planeta, é tua mortal inimiga, minha doce Caridade. Não penses que eu seja pessimista. Não o sou, como também não sou otimista - sou apenas sincero e desassombrado realista. E a realidade, aqui em nosso planeta, é esta: a vida que guerreia sem tréguas, é filha primogênita da excelsa divindade.”

            “Querem os homens fazer da religião uma tal ou qual magia ritual, um complexo de fórmulas cabalísticas - quando o teu Messias lhes disse que os teus cultores deviam cultuar-te no santuário da verdade e da justiça, no templo da sinceridade e da pureza, na ara (alta) da bondade e da caridade universal."

            “Todos eles desejariam ser amigos teus e discípulos do teu Cristo se encontrassem o Cristo genuíno e integral - não o Cristo envolto em mortalhas e sudários fúnebres, mas o Cristo vivo, Rei imortal dos século...

            “Todos eles, fartos de religião sobre Jesus, anseiam pela religião de Jesus."

            “Desde que fizemos as pazes e somos amigos, ó morte, compreendi que certas coisas que os homens tomam por miragem e fatamorganas (miragem que se deve a uma inversão térmica) são mais reais que todas as supostas realidades dos homens.”

            “Tu és, possivelmente, o único ser que não me queira mal pelo que disse. As tuas criaturas, mesmo as que vivem com o teu nome à flor dos lábios e com os teus símbolos nas vestes, me considerarão, talvez, irreverente, blasfemo, herege, ateu, herege, ateus, luciferino, porque algumas das coisas que eu disse de ti são grandes demais para caberem nos estreitos moldes da nossa humana filosofia. Entretanto, basta-me saber que tu me conheces e pões na balança o sincero amor que te consagro, no meio de todas essas noites da inteligência.” 

            Na impossibilidade de continuarmos com essas transcrições, porque acabaríamos por transcrever todo o livro do notável e erudito sacerdote, aqui ficamos seguros de que agradáveis foram para os nossos leitores essas pequenas pérolas que extraímos de tão magnífica obra filosófica.


domingo, 17 de janeiro de 2021

Confissões

 

                                                                      
Confissões

I. Pequeno (Antônio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Janeiro 1946

             Diante do grande número de cartas que recebemos, pedindo-nos transcrever mais alguns trechos do livro - ‘Deus’ - da autoria do revmo Padre Huberto Rohden, atualmente professor de uma universidade católica mantida pelos jesuítas na América do Norte, abaixo satisfazemos o desejo dos nossos leitores:

             “Por ora, é o dogma e a liturgia que dominam nas religiões e igrejas - dia virá em que a ética e a mística proclamarão o seu reinado dentro do homem e da sociedade. Prevalecerá o simbolizado sobre o símbolo, esse símbolo que, por ora, escraviza e quase que elimina o simbolizado.”

             “Os símbolos desunem, geram antagonismos, organizam sanguinolentas cruzadas de “fiéis” contra “infiéis”, acendem autos-de-fé para queimar “hereges”; fulminam anátemas e excomunhões contra os dissidentes da ortodoxia oficial - tudo isto é efeito natural e inevitável da prepotência dos símbolos divergentes, tudo isto é inerente à imperfeita e imatura espiritualidade humana, tudo isto é a vitória do símbolo sobre o simbolizado. Mas, quando despontar a grande alvorada espiritual, a maturidade espiritual do gênero humano; quando o simbolizado prevalecer plenamente sobre os símbolos, então convergirão todas as linhas divergentes da grande pirâmide para um e o mesmo vértice.”

             “Não estatuiu o Nazareno como alma do seu Evangelho a verdade, mas, sim, a  caridade - porque esta une, e aquela desune. A verdade, embora una em si, é vária nos homens que a contemplam. O homem não enxerga a verdade, só enxerga verdades - e cada uma dessas verdades tem a cor e o feitio de quem as contempla. A caridade, porém, é neutra, incolor, universal, essencialmente panorâmica e impessoal."

             “O que o chamado ateu nega é o deus da sua filosofia e do seu ambiente religioso. Esse deus cruel, mesquinho, vingativo, fraco, antropomorfo, choroso, amargurado, sem sorte nas suas obras, derrotado por seu inimigo, como inúmeras vezes aparece nas páginas da nossa literatura religiosa - esse deus não pode, naturalmente, ser afirmado nem amado por um sincero cultor da divindade, porque esse deus nem existe no mundo real, senão na imaginação doentia dos seus infelizes autores... E bom é que não exista, esse pseudo-deus.  Se existisse, devia todo homem sincero ser ateu...

             Aí têm os nossos amigos mais alguns conceitos filosóficos do famoso padre jesuíta. Lamentamos que o pouco espaço de que dispomos não nos permita fazer mais algumas transcrições.


sexta-feira, 17 de julho de 2020

A Prece nas Atividades Mediúnicas





A Prece nas Atividades Mediúnicas
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Maio 2000
“Orai assim: Pai nosso que estás nos céus ..” 
Jesus. (Marcus, 6:9-15.)

            Introdução:

            Do ponto de vista espiritual a prece é uma emanação dos mais puros fluidos, por meio da qual amparo e força recebem aqueles a favor de quem ela é feita. Independentemente de uma maior ou menor emanação fluídica, ela é a geratriz de campos eletromagnéticos cuja frequência vibratória é, em média, mais alta do que a habitual de quem irradia e que varia muito de acordo com a condição espiritual, emocional e física de quem a realiza. Associado a estes campos gerados por um sublime consórcio do pensamento (atividade mental, da razão) e do sentimento (atividade afetiva, do amor) há a respectiva força e energia, tanto mais potentes quanto mais altas as frequências alcançadas, e, portanto, seus efeitos. É uma magnetização moral, que se opera a distância. É divino movimento de nossa alma no rumo transitório para a Esfera Superior, gerando matéria mental sutil e de frequências elevadas, agindo na harmonização das criaturas por ela alcançadas. Apelo vivo do Espírito às Potências Celestes quer no uso da formulação verbal, quer absolutamente sem ela, na silenciosa linguagem da vibração.
            Atividades mediúnicas são comuns em toda casa espírita e vamos considerar sobre a importância da oração no âmbito geral do intercâmbio entre os dois planos fundamentais da existência, no cenário abençoado da casa espírita e do serviço no Bem. Para tanto, vamos recordar seus possíveis objetivos e efeitos.

            Objetivos e Efeitos da Prece nas Atividades Mediúnicas:

1.         Estabelecer e manter vínculo fluídico (eletromagnético) com os Espíritos Superiores que coordenam e dirigem (vínculo vertical), independentemente da manifestação ostensiva dos mesmos. Essencial para o dirigente e para os participantes, médiuns ostensivos ou não.
2.         Estabelecer e manter vínculo fluídico com todos os integrantes da equipe encarnada, a chamada corrente de médiuns (vínculo horizontal). O mesmo se dá com os desencarnados entre si, “entrelaçando-os”.
3.         Magnetizar o ambiente em que o trabalho se desenvolve, favorecendo a chegada, o atendimento e o encaminhamento dos Espíritos enfermos ou necessitados. Fenômeno que ocorre nas diversas atividades mediúnicas, consagradas ou não a isto pelos encarnados.
4.         Higienizar o ambiente, dissipando energias densas e desfavoráveis, de baixa frequência vibratória, remanescentes de outras atividades (espirituais ou não) do mesmo recinto.
5.        Favorecer o desdobramento dos médiuns e dos dirigentes das reuniões e sua consequente sintonia com a realidade espiritual.
6.        Ação harmonizante, vivificante e saneadora para os médiuns trabalhadores.
7.         Movimentação de fluidos regeneradores de origem anímica e da espiritualidade superior, capazes de reconstituir os danos perispirituais dos desencarnados e encarnados atendidos pela equipe, presentes às reuniões ou a distância.
8.         Intercessão para favorecer Espíritos mais endurecidos e refratários ao diálogo fraterno nas reuniões de desobsessão e de assistência aos desencarnados.

            Todos estes itens são parte integrante das reuniões mediúnicas em geral. Podemos verificar o efeito de cada um deles no passe e na fluidoterapia, nas reuniões de desobsessão, de assistência aos desencarnados, de educação mediúnica, na etapa de preces e irradiações do trabalho público-doutrinário, na orientação espiritual ou no receituário mediúnico, etc.

            Escreve Huberto Rohden: (*)

                (*) “Metafísica do Cristinismo.”

            “Repetidas vezes referem os Evangelhos que Jesus, ao anoitecer, se retirava às alturas dos montes ou à solidão dos desertos, e lá, a sós com Deus, passava horas, por vezes noites inteiras, absorto em profundíssima comunhão com o Eterno, o Infinito, o Absoluto, ou, na linguagem poética dele, em comunhão com o Pai celeste... Tinha o Mestre uma predileção especial por esses silenciosos santuários de Deus. Ninguém sabe o que acontecia nessas longas horas que passava a sós com o Pai, nas inspiradoras alturas das montanhas e matas da Galileia ou na vasta solitude dos ermos da Palestina, sob o misterioso brilho das estrelas longínquas e o discreto sussurro das brisas... Cena manhã, ao clarear do dia, ainda estava Jesus imerso nessa profunda interação com Deus, no deserto, quando os discípulos o surpreenderam para o levarem novamente ao meio das turbas que o procuravam. Deve ter sido profunda e intensa a impressão que tiveram do aspecto de Jesus em oração, porque, arrebatados pelo espetáculo, prorromperam nestas palavras: “Mestre, ensina-nos a orar.” Os apóstolos, como filhos de Israel, eram acostumados à oração e já haviam aprendido muito com o próprio Mestre. Mas, diante do que presenciavam; sentiam-se ignorantes ainda e despreparados para estes cometimentos. Cheios de encantamento e sagrada reverência assistiram a seguir, uma das mais belas e profundas lições, sublime legado inscrito nas páginas dos Evangelhos, comparável ao Sermão da Montanha, em síntese religiosa e sublimidade, para a inscrição do amor; definitivamente, nos corações humanos”.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Administradores de Bens Divinos



Administradores
de Bens Divinos

          Que possuis tu, ó homem, que seja realmente teu? Que não tenhas recebido de presente?...
         
          O corpo? A alma? As faculdades mentais? As prendas físicas? O prestígio social? A ciência? A fortuna?...
         
          Basta um revés, um passo em falso, uma enfermidade, uma tentação infeliz – e que é das tuas grandezas?...
         
          Convence-te, ó homem, de que és um mosaico de fatores divinos e humanos.
         
          Nada do que possuis é teu. Tudo é emprestado para uns poucos anos.
         
          Tu não és dono – és apenas administrador dos valores do corpo e da alma,
         
          E hás de prestar contas, um dia, da tua administração...
         
          Sê, pois, humilde; porque humildade é verdade...

                   
         
Huberto Rohden

in “Em Espírito e Verdade” (pág. 242 Ed. Soter 1941)




terça-feira, 19 de novembro de 2013

Rohden e as muletas da ortodoxia


Rohden
 e as muletas da ortodoxia



            “O homem fraco e aleijado anda de muletas...

            Deixemo-lo... Melhor assim do que ficar estendido à beira da estrada.

            Se ele recuperar o vigor dos membros, jogará fora as muletas, sem que lho digamos...

            E se uma alma piedosa necessita das muletas de certas indústrias ascéticas, de certas exterioridades rituais, para conservar o fervor do espírito, - para que lhe quebrar essas muletas?

            Deixemo-la! Dia virá em que ela, de plena saúde espiritual, descerá do monte Garizim e sairá do templo de Jerusalém para “adorar a Deus em espírito e verdade.”

            A Verdade tem os seus direitos... Mas a Caridade também os tem...”

Huberto Rohden
in “Em Espírito e Verdade”
(pág. 234 Editora Soter - 1941)




segunda-feira, 29 de abril de 2013

'Semeando rosas e colhendo espinhos'


Semeando Rosas e colhendo espinhos Set 21

Quem pouco semeia, pouco colherá; quem semeia com abundância, com abundância colherá.
Dê cada qual o que houver resolvido em seu coração;
mas não a contragosto nem forçadamente;
Deus ama a quem dá com alegria.
(2 Cr 9. 6 ss)

Que linda tarefa, semear germens de caridade!
Não para colher gratidão - mas por amor à própria caridade...
Semear benefícios é quase sempre colher ingratidão
A mais genuína caridade é a que produz rosas para os outros
e espinhos para si mesma.

Caridade de bom samaritano...
Caridade de Verônica.
Caridade de Nazareno.

Deus é caridade - porque Deus é desinteresse.
Tanto mais divina é a caridade quanto mais desinteressada.

"Mais belo é dar que receber"...

Quem dá para receber - é egoísta.
Quem recebe para dar - é filantropo.
Quem recebe para não dar - é avarento.
Quem dá para não receber - é cristão.

A mais bela colheita da caridade é não colher o que se semeou
para que outros possam colher o que não semearam...
                       
           
Huberto Rohden
in “Em Espírito e Verdade”
Edição da Revista dos Tribunais, SP – 1941