A Base
do Edifício
Antônio Túlio / (Ismael
Gomes Braga)
Reformador (FEB) Abril 1956
Todo o edifício do Espiritismo e das
religiões é assentado sobre uma base única, sem a qual tudo se esboroa: é a
demonstração da sobrevivência da alma humana.
A imensa maioria da Humanidade não
aceita essa base e por isto mesmo vive em pleno materialismo. Essa multidão de
descrentes, por vezes com um rótulo religioso tradicional, não se dá ao
trabalho de estudar o assunto, porque supõe saber de antemão que nada existe
depois da morte e que toda crença religiosa é mera superstição.
A Codificação demonstra que essa
suposição é completamente falsa, mas não é lida nem estudada por essa grande
maioria da Humanidade.
Faz-nos recordar a conclusão de uma
comissão de “sábios” nomeada, há alguns séculos, para emitir parecer sobre a
queda de um aerólito.
Não se deram ao trabalho de estudar
a pedra que se dizia caída do céu, porque aqueles "sábios" sabiam com
ciência plena que não era possível a coisa, e que, portanto, tais boatos eram
pura mentira. Emitiram o seguinte parecer: "Não é possível haver caído uma
pedra do céu, porque no céu não há pedras". Nada tinham de sábios aqueles
senhores da Sorbonne, porque eram governados pelos seus preconceitos.
É grande o número de "sábios"
de hoje que não descem de sua dignidade para estudar o Espiritismo, porque já
sabem, de antemão, que tudo é mentira, fraude, observação imperfeita,
superstição.
Apesar de toda essa pirâmide imensa
de preconceitos, a Codificação vai crescendo sempre e tornando-se outra
pirâmide invencível. Depois de Kardec
vieram Léon Denis, Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Ernesto
Bozzano e mil outros e continuaram os estudos nas mesmas linhas traçadas
pelo Codificador. Observaram a repetição dos mesmos fenômenos, reuniram e
catalogaram os fatos, e confirmaram a obra kardequiana. Essa literatura vai
crescendo a despeito da indiferença dos "sábios"; vai reunindo novos documentos
aos velhos e não se importa com a indiferença dos rotineiros, sejam eles
populares analfabetos ou tragam nomes aureolados pelas Academias.
Gabriel Delanne
Não nos preocupemos com a opinião
dos ignorantes. Ignorantes são todos que não estudaram um assunto e sobre ele
se pronunciam.
Que importa sejam sábios em outros
domínios se nesse são analfabetos?
Um homem pode saber muito umas coisas
e ignorar totalmente outras.
Ismael Gomes Braga
Léon Denis
Até quando permanecerá essa
indiferença pelo assunto mais importante da vida? Impossível
prever o tempo, mas é fora de dúvida que os fatos terão de vencer porque eles se
repetirão sempre por toda a eternidade.
Os Espíritos prepostos à obra de
espiritualização da Humanidade agem com prudência e paciência, respeitando
religiosamente o livre arbítrio dos humanos; limitam-se a fazer encarnar
médiuns em meios e momentos oportunos, para despertar certo número de pessoas;
aproveitam a dor como elemento de indagação para encaminhar o homem a pensar no
mistério da vida e da morte.
Nós, os pregadores de Espiritismo, pouco
podemos fazer para essas massas que não nos ouvem. Temos igualmente que esperar
quando quiserem elas nos dar ouvidos; mas não esperamos na ociosidade, de
braços cruzados, não; temos duas tarefas a realizar: por um lado vamos
esforçando-nos por melhorar o indivíduo e o meio social; por outro lado vamos
colecionando e divulgando a documentação básica do Espiritismo.
Quanto mais livros publicarmos tanto
melhor. Nos livros vão ficando registrados os documentos que, partindo de
diversos pontos, conduzem sempre à base única - sobrevivência para daí irradiar
luz e obras. Toda uma imensa biblioteca vai-se preparando para aguardar os
estudiosos do porvir e para ir servindo desde já aos poucos do presente. A
indiferença é chocante: preciosas coleções de documentos permanecem paralisadas
em nossas editoras; mas não podemos parar. Continuaremos sempre até que se
processe a grande transformação na mentalidade humana.
Presentemente os problemas
econômicos e sociais absorvem todas as inteligências e energias, reclamando de
cada um solução urgente de interesse vital, e as cogitações maiores sobre a
vida e a morte se acham ao abandono; mas esta situação é passageira porque a
solução dos problemas econômicos, puramente materiais, traz em si mesma o desencantamento, o anseio por algo maior que nos
livre do medo do porvir, da perda de
todos os bens que nos parecem constituir a felicidade. Uma vez satisfeita a fome
do corpo, surge a sede do espírito.
A Codificação está crescendo dia a dia: Kardec traçou as linhas do edifício e deixou
aos fatos futuros confirmarem sempre sua
obra. Seria um funesto engano pensarmos que Codificação é apenas a obra
terminada em 31 de Março de 1869. Não; tudo que vem surgindo depois, são outras
tantas pedras que vão levantando a pirâmide infinita da Codificação, são novas
pedras angulares do edifício kardequiano: não tiram nada e acrescentam muito ao
edifício.
Dessa base única é que surgem a
Compreensão da vida e o Código moral.
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