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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Doutrinar, intensa e profundamente

 

Doutrinar intensa e profundamente

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)    Reformador (FEB) Março 1963

             Há cada vez maior necessidade de se propagar o estudo metódico e a explicação clara e paciente da Doutrina Espírita, que constitui o instrumento primordial da preparação do homem para compreender a vida no plano material e no plano espiritual.

            De pouco vale a assiduidade no recebimento de passes e no comparecimento fiel a reuniões de trabalhos práticos e de palestras, se a tudo isso não se juntar o conhecimento real da Doutrina e o consequente esforço - continuado e crescente - para exemplificar as lições aprendidas.

            O Espiritismo recebe diariamente novos reforços de elementos que, desiludidos com as religiões que professavam, buscam na Terceira Revelação o que não encontraram nos credos anteriormente abraçados, Esses reforços, por muito bem intencionados que estejam, trazem, quase sempre, com o seu natural entusiasmo pela nova crença, uma bagagem de ideias feitas e de hábitos herdados das antigas religiões em que militavam. Não será exagero acrescentar que alguns jamais conseguem despir-se de costumes sectários e preconceitos mantidos no ambiente religioso de que provieram.

            Então, vamos verificando a infiltração de ideias, pensamentos e hábitos incompatíveis com os princípios tradicionais do Espiritismo. Se um Espírito, se manifesta e transmite ideias tipicamente católicas, há quem as aceite sem exame, sem verificar estarem em antagonismo com o que se ensina e se aconselha em face da Doutrina Espírita. O fato de a ideia provir de um comunicante desencarnado não quer dizer deva ser aceita passivamente, sem análise. Hoje, quanta coisa se diz e se faz em certos centros espíritas, que representam uma mistura de práticas espíritas e ideias católicas! Já ouvimos de um adepto do Espiritismo a expressão “Menino Deus”; de outro, até o vezo muito católico de considerar Jesus como Deus. Leiam “Jesus, nem Deus nem homem”, de Guillon Ribeiro; “O

Cristo de Deus”, de Manuel Quintão; “Elos Doutrinários”, de Ismael Gomes Braga, ou, então, obras de maiores proporções, como “Os Quatro Evangelho”, de Roustaing, e “Elucidações Evangélicas”, de Sayão. Neles, por exemplo, ver-se-á o erro, em que certos espíritas já estão incidindo, de atribuir divindade a Jesus, de aludir ao dogma humano da “santíssima trindade” e outras excrescências que pseudo-espíritas, desconhecedores da Doutrina, acolhem e mantêm, colhidas no mistifório católico.

            Precisamos, pois, ter cuidado como adverte Manuel Quintão, em “0 Cristo de Deus", com o “ensino duvidoso e fragmentário que do Além nos chega, sem visos de iniludível autenticidade”.

            Não deixamos de reconhecer e salientar a elevadíssima hierarquia espiritual de Jesus, um dos Cristos, ou Enviados, que Deus disseminou no Universo, cada qual com a responsabilidade de instruir, educar e orientar o Planeta sob a sua imediata direção.

            Não vemos Jesus inerte, eternamente pregado à cruz, o corpo dilacerado e ensanguentado. Vemos Jesus vivo, envolto num manto radiante de luz, a amenizar as dores da Humanidade com a sua ternura inexcedível. Para nós, espíritas, Jesus está vivo, presente aos destinos da Terra, atento aos problemas humanos, mas também fiel à observância purificadora do Carma, que, através das reencarnações, prepara cada Espírito para os serviços de assistência aos sofredores e desorientados,

            Não amamos o cadáver de Jesus, mas o Jesus-Espírito, o Jesus-vivo, derramando pelo mundo a sua bondade, o seu altruísmo, a sua extraordinária capacidade de amar o próximo, a sua fecunda tolerância, o seu intenso labor em favor dos fracos e oprimidos, a sua luta incessante pela recuperação dos maus, para que, um dia, nesta ou em outras reencarnações, se tornem eles também devotados e exemplares trabalhadores efetivos da sua abençoada Seara.

            Para evitar todas as infiltrações prejudiciais à unidade do pensamento espírita, é indispensável o estudo público, com a respectiva explicação de cada período, de toda a Doutrina Espírita.

            Abramos os braços a quantos nos procurem e busquem conforto em nossa religião, mas não os deixemos ficar sem os ensinamentos indispensáveis a que se tornem realmente espíritas, conhecedores da Doutrina, para que possam desfazer-se definitivamente da bagagem de hábitos, ideias e preconceitos que, involuntariamente, tragam das religiões de onde promanem.


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