Casos e Coisas
por M. Quintão Reformador (FEB) Junho 1929
Há dias, era um homem de vasta cultura
jurídica e literária, lente de uma das nossas Faculdades superiores, que
lançava e apoiava das colunas de certo matutino esta bizarra novidade: a Igreja não proíbe a leitura da Bíblia; o que
ela não admite é e a interpretação leiga!
Ora, isto é assim como quem diz:
você leia, pode ler este ou aquele livro, mas não medite, não raciocine sobre o
que o livro contém.
Lambuze-se com a casca, se quiser, por
muito favor mas deixe o miolo para quem tiver dentes e... estômago, porque o fruto
é indigesto.
Entretanto, a dar crédito ao ilustre
publicista, teremos de admitir, e com que gáudio o registamos, que a Igreja, ao
menos neste particular, já capitulou um tantinho, pois antes da Reforma os
livros sagrados foram por ela Igreja avaramente custodiados e conservados em
grego, hebraico ou latim, o que vale dizer – inacessíveis ao conhecimento das
massas.
Foi Lutero, se não nos falha a
memória, quem estimulou e patrocinou a versão das Escrituras para o alemão e
outros idiomas vivos, universalizando-lhes a leitura e a exegese.
“Maldita Reforma!”
Até então, ela, a Igreja, somente ela, por seus
doutores e não por todos, ainda assim, tinha o direito (pro domo sua) (em defesa dos
próprios interesses), bem
se vê, de senhorear e dinamizar a palavra divina, direito assim definido por
Agostinho, o bispo de Hipona: major est
escripturae auctoritas quam omnis humani ingenii capacitas. (aprox..: a
escritura não é maior que a capacidade do homem).
Mas, ainda assim, com toda essa
autoridade peculiar não foram poucas as cincas (erros) doutorais dos santos padres e
monges, muitos deles postos em palpos de aranha para defenderem os seus pontos
de vista.
Prerrogativa
perigosa e pouco invejável, portanto, que levou Giordano Bruno ao Campo dei
Fiori, Bacon ao cárcere e Galileu à retratação.
Admitimos, conseguintemente, que o
piedoso jurisconsulto hoje que não se concebem mais potros nem sambenitos (peça de vestuário
usado por penitentes)
nem fogueiras, venha,
do alto dos seus coturnos literários, já que as Bíblias correm mundo em todas
as línguas e o próprio mundo alfabetizou-se a fora dos conventos, advertir às
ovelhinhas da santa manada que ainda há fogueiras nos domínios de Satã e,
portanto, perigo no exercício das leituras.
É simplesmente magistral!!! Paulo, o
grande Paulo dizia: onde está o espírito
do Senhor está a liberdade, e mais: submetei todas à prova todas s coisas e
conservai o que for bom.
(1)
Mas está regulando e é simplesmente
magistral.
Como beleza teológica, vale por
aquela hipótese de um dique interoceânico, justificativo da emigração do canguru
para a Austrália, depois de haver estado na famosa arca de Noé.
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