Se quisermos
entrar no caminho...
por Rodolfo Calligaris Reformador (FEB) Fevereiro 1963
Entre muitas outras fraquezas de
caráter que nos cumpre vencer, reclama-nos especial atenção o mau vezo (hábito) que temos de pensar e falar a
respeito do próximo, levianamente, sem procurarmos saber se o que dele pensamos
e dizemos é certo ou verdadeiro.
Antes de mais nada, precisamos
convencer-nos de que pouco ou quase nada somos na ordem das coisas, que nossa
pessoa tem uma importância muito reduzida para os outros e, pois, não é possível
que “todo o mundo” tenha motivos para ocupar-se conosco, como se nos afigura.
Destarte, quando um indivíduo faz algo
que redunda em dano ou contratempo para nós, nada nos autoriza a crer que tenha
tido o propósito deliberado de prejudicar-nos. O mais provável é que ele nem
sequer se haja lembrado de nós em tal oportunidade.
Da mesma forma, acontecendo de
alguém usar expressões desagradáveis que pareçam ser-nos dirigidas com o fito
de magoar-nos, não devemos dar-nos pressa em julgar que assim o seja., porque
cada qual tem suas inquietações, seus aborrecimentos, e o mais certo é que as
ditas expressões sejam o reflexo dos pesares daquele mesmo que as profere.
Se um companheiro, amigo ou vizinho
passa por nós sem nos enxergar, ou então nos cumprimenta sem a cordialidade de
outras vezes, nada de ficarmos imaginando coisas, na pressuposição de que
esteja a nos fazer “pouco caso”. Quem sabe lá o que lhe vai pelo íntimo? Que
drama pode ele estar vivendo nesse momento?
Mesmo quando alguém nos trate com
aspereza ou desconsideração, não nos é lícito pensar que nos vote ódio ou tenha
pretendido humilhar-nos. O mais natural é que esteja sofrendo do fígado, de uma
constipação intestinal, ou que seus negócios não lhe corram bem, e dai seus “desabafos”
coléricos ou sua falta de cortesia.
Se devemos ter vigilância com nossos
pensamentos, maior disciplina ainda temos que impor aos nossos lábios, a fim de
que não nos afeiçoemos à compadrice, ao mexerico.
“Vede o que faz essa iniquidade,
lemos algures. Principia por um mau pensamento, o que já de si é um crime,
visto que em todos e em tudo existe o bem, assim como em todos e em tudo se
encontra o mal. Nós podemos, por meio do nosso pensamento, intensificar esse
mesmo bem ou mal e, deste modo, estarmos facilitando ou dificultando a
evolução.
Se estiverdes a pensar no mal que
porventura possa haver noutra pessoa, três coisas estareis fazendo ao mesmo
tempo:
1º - Encheis o vosso ambiente de um pensamento malévolo, em vez de um pensamento bondoso, o que provocará o aumento da tristeza já existente no mundo.
2º - Se nessa pessoa acontecer
existir o mal que julgais, este ficará desta maneira intensificado e aumentado,
tornando assim o vosso irmão pior, em vez de o melhorardes. Muitas vezes sucede
mesmo que tal mal não existe nele, mas antes na vossa imaginação. Neste caso, o
vosso mau pensamento irá tentá-lo para o mal, porque, se ele não for ainda uma
criatura perfeita, podeis toma-la aquilo que pensastes a seu respeito.
3º - Encheis, assim, a vossa mente
de maus pensamentos em vez de a encherdes de bons
comprometendo
o vosso próprio desenvolvimento. Para os que têm o dom de ver, vos convertereis
em um ser de feio aspecto e lastimável, em lugar de um ser belo e digno de
amor.”
Atentos a esse precioso ensinamento, se ouvirmos contar
um episódio desabonador a respeito de uma pessoa qualquer, não o passemos adiante,
nem mesmo aos nossos familiares. Isso pode não ser exato, e, ainda que o seja,
não temos o direito de propalar faltas alheias que também estamos sujeitos a
cometer.
“Falar” e “orar” têm significação
idêntica, embora apenas este segundo termo seja empregado, modernamente, no
sentido de rezar ou dirigir-se a Deus.
Todas as nossas palavras, quer se
dirijam a nós mesmos, quando falamos sozinhos, a nosso próximo ou a Deus,
constituem uma oração e, como tal, sempre produzem um efeito e uma consequência.
Qualquer que seja o meio ou a circunstância
em que nos encontremos, guardemo-nos, pois, de proferir palavras ociosas ou de
categoria inferior, tomando por norma só falar o que seja verdadeiro, agradável e animador, a fim de que os elementos
psíquicos exteriorizados pelo nosso verbo criador ajam beneficamente sobre nós
e os que nos rodeiam.
Se aquilo que temos vontade de dizer
não satisfizer a esses três requisitos, calemo-nos! O silêncio, então, será
menos nocivo que nossa manifestação.
Sabemos quanto é difícil o controle
de nossos pensamentos e o domínio desse musculozinho rebelde, que é nossa
língua, mas, se quisermos realmente trilhar o caminho da perfeição, não há como
esquivar-nos a esse aprendizado.
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