Doutrinar
intensa e profundamente
Tasso Porciúncula (Indalício Mendes) Reformador (FEB) Março 1963
Há cada vez maior necessidade de se propagar o estudo metódico e a explicação clara e paciente da Doutrina Espírita, que constitui o instrumento primordial da preparação do homem para compreender a vida no plano material e no plano espiritual.
De pouco vale a assiduidade no
recebimento de passes e no comparecimento fiel a reuniões de trabalhos práticos
e de palestras, se a tudo isso não se juntar o conhecimento real da Doutrina e
o consequente esforço - continuado e crescente - para exemplificar as lições
aprendidas.
O Espiritismo recebe diariamente
novos reforços de elementos que, desiludidos com as religiões que professavam,
buscam na Terceira Revelação o que não encontraram nos credos anteriormente
abraçados, Esses reforços, por muito bem intencionados que estejam, trazem, quase
sempre, com o seu natural entusiasmo pela nova crença, uma bagagem de ideias
feitas e de hábitos herdados das antigas religiões em que militavam. Não será
exagero acrescentar que alguns jamais conseguem despir-se de costumes sectários
e preconceitos mantidos no ambiente religioso de que provieram.
Então, vamos verificando a
infiltração de ideias, pensamentos e hábitos incompatíveis com os princípios
tradicionais do Espiritismo. Se um Espírito, se manifesta e transmite ideias
tipicamente católicas, há quem as aceite sem exame, sem verificar estarem em
antagonismo com o que se ensina e se aconselha em face da Doutrina Espírita. O
fato de a ideia provir de um comunicante desencarnado não quer dizer deva ser
aceita passivamente, sem análise. Hoje, quanta coisa se diz e se faz em certos
centros espíritas, que representam uma mistura de práticas espíritas e ideias
católicas! Já ouvimos de um adepto do Espiritismo a expressão “Menino Deus”; de
outro, até o vezo muito católico de considerar Jesus como Deus. Leiam “Jesus, nem
Deus nem homem”, de Guillon Ribeiro; “O
Cristo de
Deus”, de Manuel Quintão; “Elos Doutrinários”, de Ismael Gomes Braga, ou, então,
obras de maiores proporções, como “Os Quatro Evangelho”, de Roustaing, e “Elucidações
Evangélicas”, de Sayão. Neles, por exemplo, ver-se-á o erro, em que certos
espíritas já estão incidindo, de atribuir divindade a Jesus, de aludir ao dogma
humano da “santíssima trindade” e outras excrescências que pseudo-espíritas,
desconhecedores da Doutrina, acolhem e mantêm, colhidas no mistifório católico.
Precisamos, pois, ter cuidado como
adverte Manuel Quintão, em “0 Cristo de Deus", com o “ensino duvidoso e
fragmentário que do Além nos chega, sem visos de iniludível autenticidade”.
Não deixamos de reconhecer e
salientar a elevadíssima hierarquia espiritual de Jesus, um dos Cristos, ou
Enviados, que Deus disseminou no Universo, cada qual com a responsabilidade de
instruir, educar e orientar o Planeta sob a sua imediata direção.
Não vemos Jesus inerte, eternamente
pregado à cruz, o corpo dilacerado e ensanguentado. Vemos Jesus vivo, envolto num
manto radiante de luz, a amenizar as dores da Humanidade com a sua ternura inexcedível.
Para nós, espíritas, Jesus está vivo, presente aos destinos da Terra, atento
aos problemas humanos, mas também fiel à observância purificadora do Carma,
que, através das reencarnações, prepara cada Espírito para os serviços de
assistência aos sofredores e desorientados,
Não amamos o cadáver de Jesus, mas o
Jesus-Espírito, o Jesus-vivo, derramando pelo mundo a sua bondade, o seu
altruísmo, a sua extraordinária capacidade de amar o próximo, a sua fecunda
tolerância, o seu intenso labor em favor dos fracos e oprimidos, a sua luta incessante
pela recuperação dos maus, para que, um dia, nesta ou em outras reencarnações,
se tornem eles também devotados e exemplares trabalhadores efetivos da sua
abençoada Seara.
Para evitar todas as infiltrações prejudiciais
à unidade do pensamento espírita, é indispensável o estudo público, com a
respectiva explicação de cada período, de toda a Doutrina Espírita.
Abramos os braços a quantos nos
procurem e busquem conforto em nossa religião, mas não os deixemos ficar sem os
ensinamentos indispensáveis a que se tornem realmente espíritas, conhecedores
da Doutrina, para que possam desfazer-se definitivamente da bagagem de hábitos,
ideias e preconceitos que, involuntariamente, tragam das religiões de onde
promanem.
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