Pesquisar este blog

segunda-feira, 1 de março de 2021

Em apoio da teoria Espírita

 


Em apoio da teoria Espírita

por M. Lemoine    Reformador (FEB) Agosto 1948

             Antes de Allan Kardec, os fenômenos supranormais, m sua generalidade, já podiam ser tidos como oriundos da intervenção dos espíritos, justificando-se assim, que desde a Odisseia de Homero até a Athalie de Racine, a literatura tenha oferecido numerosos exemplos de fenômenos espíritas.

            O enredo de Hamlet, de Shakespeare repousa inteiramente sobre a aparição que um fantasma: o do rei defunto que relatou ao filho haver sido morto por envenenamento, a ele reclamando vindita.

            Este drama, em que o gênio de Shakespeare se expande magnificamente, faz-nos lembrar o seguinte fato espírita ocorrido alguns anos antes da guerra: - um pastor grego, cuja morte despertou suspeitas, tanto que foram detidos dois inocentes, revelou, ele próprio, o nome de seu assassino!

            Que é sonho de Atalia, esta obra-prima de nosso imortal Racine, senão um sonho premonitório, em que espírito de um morto desempenha papel saliente:

           Minha mãe Jezabel a mim apareceu

Tal como ao morrer, pomposamente enfeitada:

Infortúnios não lhe abateram a altivez;

Ainda conservava o mesmo brilho afetado

Com que, cuidadosa, sempre ornava seu rosto

Para disfarçar o duro ultraje dos anos.

Disse-me, então: “Treme, filha digna de mim,

Sobre ti domina o cruel Deus dos Judeus... “

             Shakespeare, em Hamlet ou Macbeth; Corneille em Polyeucte, com o sonho de Paulina: Racine, em Athalie, os maiores nomes da literatura, não aguardaram que o século XIX surgisse, a fim de introduzirem em suas mais belas obras, como realidade indiscutível, a possibilidade das comunicações entre o nosso mundo... e o outro.

            Sabemos muito bem que há sessenta anos se formou uma escola que, admitindo autenticidade dos fenômenos supranormais, pretende, no entanto, atribui-los, unicamente, às faculdades extraordinárias de certas criaturas vivas: é a escola dos metapsiquistas. Esta escola esquece, ou, pelo menos, finge esquecer-se de que a fonte causadora do conhecimento supranormal indica, muitas vezes, por si mesmo, a sua origem. Semelhante à expressão de Vítor Hugo sobre a maledicência, essa fonte vem dizer-nos aqui: “Eu saio do espírito de tal” e o tal é um defunto que atende à nossa recordação.

            Longe de mim o pensamento de negar à Metapsíquica o seu valor próprio. Escrevi, há trinta anos, na Revista científica e moral de Espiritismo, de Gabriel Delanne: “Se a Metapsíquica não existisse, seria preciso inventá-la. Há, sem dúvida alguma, fenômenos supranormais, como a psicometria, ou a visão através dos corpos opacos, nas quais parece não haver intervenção de espíritos”.

            Agora, que em nome da ciência os metapsiquistas pretendam desmerecer os fatos de origem espírita, é uma tendência anticientífica contra a qual me insurjo.

            Nenhuma de suas teorias consegue justificar o aspecto que então assume o fenômeno e, por conseguinte, ninguém pode pretender explica-lo com argumentos de valor.

            Em sua bela obra "A Sobrevivência Humana", livro que todos os espíritas deviam conhecer, o grande físico inglês, Oliver Lodge, uma das glórias do Espiritismo, sugeriu a hipótese de um registro cinematográfico dos fatos do Universo à medida que eles se vão desenrolando.

            Mostra que assim seria possível obter-se uma explicação satisfatória acerca do conhecimento supranormal do passado, estando nele compreendidos os retratos morais dos desencarnados.

            Mas esta concepção engenhosa não explica nem os fatos premonitórios nem os casos de continuação da personalidade após a morte, e tão pouco explica os exemplos da atividade póstuma dos falecidos.

            As teorias metapsíquicas, qualquer que elas sejam, não poderão, por sua própria natureza, oferecer explicações satisfatórias no tocante à continuidade da personalidade de um morto, ou de sua atividade póstuma.

            Toda a teoria metapsiquista se relaciona com as faculdades dos vivos, ao passo que as atribuímos aos mortos.

            Na descoberta dos casos de atividade póstuma ou de persistência da personalidade é que vamos encontrar a demonstração cabal da sobrevivência.

            É o que desejo dar-vos a conhecer, ou relembrar-vos, através de alguns casos deste gênero.

            1) Após a morte de Dante Alighieri, em 1321, verificou-se o desaparecimento dos treze últimos cantos da Divina Comédia, sua imortal obra prima.

            Em vão foram eles procurados durante oito meses e já se ia perdendo a esperança de encontrá-los, quando Jacopo, filho mais velho do poeta, sonhando certa vez, viu seu pai vestido de branco. Jacopo lhe perguntou se ele inda vivia: “Sim, respondeu o poeta, mas a verdadeira vida e não a de vocês", O filho indagou, então, acerca dos treze cantos que faltavam. Pareceu-lhe, nesta altura, que seu pai o conduzia ao quarto em que costuma dormir, e, tocando em certo ponto da parede, disse-lhe: “Aqui se encontra o que tem sido procurado há já tanto tempo”. Ao despertar, Jacopo se dirigiu à casa de Pietro Giardino, amigo de Dante, a quem contou o sonho que tivera e ambos decidiram ir à antiga residência do poeta. Removeram a esteira de palha pregada à parede; cobria ela um esconderijo, de cuja existência todos ignoravam; aí encontraram vários papéis e, entre eles; estavam os treze cantos da Divina Comédia.

            O escrivão Boccace, que vivia quando da morte de Dante, soube desse caso por Pietro Giardino que fora testemunha ocular, e foi o próprio Boccace que o relatou em seu livro “Vida de Dante Alighieri”.

            2) De uma velha obra editada em Parme, em 1778, Le génie de Pétrarque, encontrada em casa de meus pais, extrai (página 94) as seguintes linhas:

            “O bispo de Lombez, Jacque Colonne, estava à testa de sua diocese, quando Petrarca, por seus poemas, foi coroado em Parme. Petrarca, que era seu amigo, viu o prelado em sonho: “Aonde ides, disse-lhe eu. - Volto a Roma, replicou o Prelado. Eu vos seguirei, retrucou Petrarca., O Bispo o dissuadiu suavemente, dizendo-lhe: "não, ainda não é tempo”. “Eu notei, disse Petrarca, que a sua fronte tinha a palidez da morte”. Solto um grito que me acorda. Assinalo o dia; escrevo sobre este sonho aos meus amigos, vindo a saber, enfim, que Jacques Colonne havia falecido precisamente no dia em que ele me apareceu em sonho”. “Petrarca não era supersticioso: este acaso singular não o tornou mais crente que Cícero por ter tido um sonho que se realizou”.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário