Falências
Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Março 1943
Anda presentemente
o mundo tão cheio de falências, que já ninguém acredita noutra prestabilidade do
gênero humano e de suas bizarras instituições, senão para justificar o
ceticismo de um Anatole France, ou a ironia de um Voltaire...
De tal modo se
radicou, mesmo, nos ânimos essa ideia de generalizada falência, que um dos mais
conspícuos e intrépidos cultores do Espiritismo, o nosso grande amigo Leopoldo
Cirne (que, hoje, podendo melhor ouvir-nos e perscrutar o nosso íntimo, bem pode
avaliar a estima que lhe consagramos) não trepidou em dar ao seu último
trabalho - O AntiCristo -Senhor do Mundo - aquele subtítulo perfeitamente desastroso e de todo
inconsequente – “A Falência do Espiritismo"!
Regra geral, isto
sim, o homem faliu em face do Cristianismo: faliu como intelectual, como
estadista e como religioso. Mas, deduzir-se dessa dolorosa constatação que
possa ter falido o Espiritismo, que é sem dúvida o Cristianismo restaurado em sua
pureza, não é possível, nem justo.
Os ouropéis de uma
civilização abastardadora do caráter simples e sincero, que lhe deverá ter
inspirado a Doutrina do Cristo, é que engendraram a falência dos homens,
reduzindo-os a uma situação de cativeiro infamante, de que nem sequer tentaram
libertar-se, porque a sua libertação implicaria grande esforço para se
purificarem e desprenderem de hábitos rotineiros em que se comprazem todos,
porque lhes fala mais alto aos sentidos essa modorra da consciência, do que á
alma os clamores da mesma consciência, entorpecida por séculos de vida hipócrita,
e contaminada de abjeções tremendas.
A ninguém, por
isso, é possível prever as consequências do desmoronamento universal desta
civilização edificada sobre o alicerce de fórmulas convencionais, tão contrárias
à índole do Cristianismo, que aos próprios espíritas é sobremodo difícil vencer
as dificuldades que se lhes deparam na prática da vida, para viverem de acordo
com os princípios que sinceramente professam! Horresco referens!
Mas, por misericórdia
de Deus, jamais se verificará a falência do Espiritismo - porque não é ele de
estrutura humana e sim espiritual, isto é, os seus mentores são Espíritos
livres das convenções sociais, que no momento oportuno sabem dizer as coisas
como as coisas são e jamais como as aconselha a exigência do bom-tom e da
harmonia fraterna - rotulagem triste com que se disfarçam personalismos
presunçosos, a se apresentarem como garantes únicos das boas diretrizes
doutrinarias ortodoxas.
Devemos estar
precavidos, pois que não podemos saber de que modo e a que horas chegará aquela
justiça, aquele poder que surge subitâneo como o raio, no próprio dizer do
Evangelho. O que é verdade é que a Civilização se contorce nas dores de um
parto decisivo, de que nascerá para o Mundo ou um ciclo luminoso de conquistas
alcandoradas do espírito humano, ou um doloroso ciclo de decadência (que seria
simples repetição da História, aliás sempre a repetir-se) para expiação mais
longa e profunda dos grandes crimes e dos pecados tremendos que, em geral, os
homens estão a praticar destemerosamente, desde que se imaginaram os únicos
competentes para lavrarem as suas próprias sentenças condenatórias ou absolutórias.
Deus apenas deve assistir, impassível, ao desenrolar dos acontecimentos, dizem
eles.
E o Cristo
continua, do alto da cruz, a suplicar: "Pai, perdoa-lhes, porque eles não
sabem o que fazem".
O homem faliu,
evidentemente, em face da Lei Moral, do eterno Código divino. Mas, o
Espiritismo, restaurador do puro Cristianismo, jamais falirá. Por amor do
Cristo, irmãos, façamos um supremo esforço: unamo-nos, amando-nos,
tolerando-nos, respeitando-nos e procurando amparar-nos reciprocamente, para
que as nossas falências sejam repassadas e possamos todos voltar, humildes e
arrependidos, ao redil das ovelhas do Mestre, pois que a falência não é somente
de um, é de todos.
Do Blog: Leopoldo Cirne substituiu a
Bezerra de Menezes na presidência da FEB onde permaneceu por 16 anos. Comandou
a construção da sede da FEB na Av. Passos, 32 no Rio de Janeiro. Instituiu a
Escola dos Médiuns que trouxe desconforto entre seus pares que articularam a substituição
de Cirne na presidência da FEB. Daí à geração de ressentimentos e que tais.
Detalhes? Cabe ler o livro citado. Ele está transcrito aqui no Blog até o ponto
em que Cirne detalha a celeuma. Não valeria a pena ressuscitar o assunto.
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