Ressureição é Reencarnação
Antônio
Túlio
(Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Março de 1943
A Terceira
Revelação projeta luz em muitos pontos obscuros das duas Revelações
precedentes.
A Bíblia nos fala
de Filhos de Deus que tomaram por esposas filhas dos homens, porque estas eram
formosas. Noutros lugares nos dá como sinônimo de profeta o título de "homens
de Deus". Nada disso é compreensível sem a Revelação Espírita,
esclarecendo-nos que Espíritos muito mais adiantados do que os indígenas da
terra vieram aqui habitar em missão e trouxeram uma nova civilização para o planeta.
Em relação aos primitivos habitantes deste, tais Espíritos eram verdadeiros
Filhos de Deus. Igualmente a vinda de grandes missionários, como verdadeiros
enviados de Deus, homens muito superiores aos da terra, justifica o título de
homens de Deus que a Bíblia frequentemente lhes aplica.
O profeta Isaias
declarou que os mortos reviverão. Jesus pergunta aos seus discípulos quem dizem
os homens que ele é. Respondem aqueles que as opiniões estão divididas, achando
uns que ele é Elias ou João Batista, outros que é ou Jeremias, ou um dos
profetas. Os judeus sabiam, portanto, que Jesus não era um simples habitante da
Terra e procuravam entender quem sido em outra encarnação missionária, por não
poderem perceber que ele era muito maior do que os seus antigos heróis
nacionais.
As noções claras
sobre a sobrevivência e a vida da alma não existiam, porém, entre os antigos
Judeus. Por vezes, suas expressões parecem de materialistas, pois falam em
cumprir a lei para viver longos anos na terra. Noutros lugares falam em
condenação ou salvação eterna no seio de Abraão. Empregavam a palavra "ressurreição" sem definição
clara. Ora supunham que o mesmo corpo ressuscitaria no fim dos tempos, ora
achavam que o Espírito retomaria outro corpo, como no caso de suporem que Jesus
seria a reencarnação de um dos antigos profetas. Acreditavam que Elias teria de
voltar, mas não sabiam como. Jesus declarou que Elias já voltara como João Batista
e os discípulos entenderam logo, sem mais Interrogações, que isso era a verdade
mas desse exemplo não extraíram um princípio geral. Limitaram-se a crer sem
compreender, sem raciocinar sobre a consequência teórica do fato
Afirmado.
A Igreja teve que
firmar dogma sobre a ressurreição e preferiu, infelizmente, a opinião mais
popular e menos científica, do reaparecimento do mesmo corpo. Assim, a palavra
ficou tendo sentido bem definido, mas com definição errada. Só a Terceira
Revelação esclareceu e provou que reencarnação é uma das leis da natureza e que
a velha ideia de reaparecer no mundo, depois de morto, expressa antigamente
pela palavra ressurreição, é absolutamente verdadeira com um novo corpo, como reencarnação. Logo, ressurreição é sinônimo
de reencarnação, doutrina religiosa universal e eterna, que a pouco e pouco se
vai tornando verdade demonstrada pela experimentação, isto é, entrando para o
domínio muito mais estreito da ciência positiva.
Pela observação dos
fatos, espontâneos uns, provocados outros, pela concordância nos depoimentos
dos Espíritos que se comunicam em toda a superfície do planeta, pelas
recordações que algumas pessoas conservam da encarnação anterior, a reencarnação sai do domínio amplo
da fé para o âmbito estreito do conhecimento. O mesmo se deu com a existência e
sobrevivência da alma. De crença vaga, matéria de fé, passou para o domínio dos
conhecimentos humanos, através de rigorosa experimentação e catalogação de fatos
espontâneos observados em todos os tempos e em todos os lugares, entre povos bárbaros,
primitivos, selvagens, tanto quanto entre os mais civilizados.
Embora a nossa inteligência
seja curta para as coisas imateriais e só consiga bons resultados na observação
da matéria, a sobrevivência da alma humana e a sua reencarnação se vão tornando
materiais, verificáveis pelos mesmos processos da ciência materialista, porque
já se verifica que o Espirito está sempre revestido de um corpo, que em certo sentido é material e
em casos especiais pode ser observado pelos sentidos, dando provas concretas da
sua presença.
Essa passagem do
domínio da fé para o do conhecimento traz consigo imensas consequências para a
futura civilização. A Religião e a Ciência estarão sempre de acordo, sem se hostilizarem
ou julgarem incompatíveis. Serão as duas asas para os grandes voos do Espírito.
Tudo tende a
fundir-se em um todo harmonioso. Religião, filosofia, ciência, moral hão de
formar um conjunto único e harmônico para bem de todos, e não técnicas
separadas, com seus especialistas divididos.
*
A demonstração de
que a palavra "ressurreição", do Cristianismo e do Judaísmo significa
na verdade o mesmo que "reencarnação" não é simples minúcia teológica
para as sutilezas de discussão escolástica ou acadêmica. Ao contrário, é uma
descoberta, dessas que alteram o curso da história do mundo, porque aproxima
todas as religiões do Ocidente às grandes Religiões do Oriente. De fato, a grande divergência entre o Cristianismo ortodoxo
das três grandes Igrejas cristãs - Católico-Romana, Ortodoxa Grega e
Protestante - que ensinam a doutrina das penas eternas, e as grandes religiões do
Oriente -- Budismo, Bramanismo e Xintoísmo - que ensinam a salvação universal
através das fieiras infinitas de existências do mesmo espírito, está só nesse
dogma. Todas as outras divergências decorrem dele.
Uma vez demonstrado
que ele está errado, que, na verdade não existem penas eternas mas sim salvação
universal; que o Cristianismo ensina, portanto, a mesma doutrina dos filósofos
gregos e das revelações orientais, todos se acharão de acordo, todas as Igrejas
poderão confraternizar para a obra comum de reformar a humanidade. Já os orientais,
não terão razões de nos julgarem bárbaros, nem nós, de julgá-los fanáticos
supersticiosos.
Três séculos de
missões católicas no Oriente, tratando os povos reencarnacionistas como
selvagens, deram resultados muito medíocres. Foi impossível induzir aquelas
massas imensas a aceitar a doutrina das penas eternas, a aceitar a crença na
graça, na predestinação, na remissão dos pecados e tudo mais que decorre do
princípio da existência única. Uma convicção multisecular em contrário, a
certeza de que a doutrina reencarnacionista está demonstrada e só ela explica
as infinitas diferenças de caráter dos homens e as diferenças de sorte lhes
fecham a alma aos dogmas das ortodoxias cristãs.
Verificado que as
ortodoxias cristãs realmente estão erradas nesse ponto, não haverá mais repugnância
entre o Oriente e o Ocidente em assuntos religiosos; poderemos entrar em
fraterna colaboração, permutando ideias e nesse domínio todos temos muito a
receber - ocidentais e orientais - e nós do Ocidente mais do que os do Oriente.
É missão do
Espiritismo, portanto, aproximar o Cristianismo do Budismo e do Bramanismo,
demonstrando que entre as duas grandes correntes religiosas só há diferenças de
palavras, que na essência o ensino é o mesmo.
Louis Jacolliot,
numa série de livros muito interessantes, já demonstrou que todos os fenômenos
do Espiritismo são conhecidíssimos na Índia e já o eram muitos séculos antes de
os estudarmos no Ocidente. Cabe ainda ao mesmo Louis Jacolliot a honra de haver
estudado as grandes religiões da Índia, e demonstrado que a nossa Bíblia traz
as mesmas ideias dos velhos livros hindus, ou, em outras palavras, a unidade da
revelação.
Afastadas as
diferenças de palavras, reinará a harmonia da essência, o fundo comum. Para lá
caminha a humanidade. Tudo avança para a universalização, para a união, para
Deus.
Nos domínios da matéria,
essa uniformidade já está alcançada. A ciência, a técnica já se aplicam
igualmente em todos os países do mundo. Todas as descobertas se universalizam
rapidamente. Nesse domínio, tudo é positivo, demonstrável, e não resta campo
livre à formação de seitas.
Em filosofia e
religião, por serem temas mais abstratos, de mais difícil compreensão para o
homem, formaram-se escolas e seitas diferentes; mas, a inteligência progride e
a pouco e pouco vai descobrindo os erros que produziam
separações. Uma vez corrigidos esses erros,
teremos chegado à união, teremos uma só religião, como já temos uma só ciência.
O conhecimento da
doutrina reencarnacionista lança por terra uma série de erros seculares.
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