Ante o Grande Renovador
Irmão X por Chico Xavier
Reformador (FEB) Junho 1947
Senhor, lembrando a
Tua crucificação entre malfeitores, sacrificado em Teu ministério de amor
universal, ouvimos apelos de vários setores religiosos do mundo presente, invocando-Te
o nome para incentivar os movimentos tumultuários da renovação política que convulsionam
o Planeta...
Asseguram-Te a
posição de rigor revolucionário de todos os tempos. Afirmam que abalaste os
fundamentos sociais da ordem humana, que alteraste o curso da Civilização, que
transformaste os povos da Terra.
Quem te negará,
Senhor, a condição de Embaixador Celeste? quem desconhecerá teu apostolado de
redenção?
Entretanto,
divulgando a mensagem da Boa-Nova, jamais insultaste o governo estabelecido...
Amigo de todos os
sofredores e necessitados, nunca congregaste os infelizes em sinistras
aventuras de ódio ou indisciplina. Aproximavas-Te dos desamparados, curando-lhes
as enfermidades, ensinando-lhe o caminho do bem, estendendo-lhes mãos benfeitoras
e diligentes. Dirigindo-Te à massa anônima e desditosa, em nome do Eterno Pai,
não preconizaste movimentos armados de desrespeito às autoridades legalmente
constituídas. Ao invés do incitamento à revolta recomendavas que a Lei de Moisés
fosse respeitada, que os sacerdotes dignos fossem honrados, asseverando que o
Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores e sim com a elevação
espiritual do homem de qualquer raça ou nacionalidade, sinceramente interessado
em aproveitar os dons divinos.
Expondo princípios
superiores ao coração popular, não disputaste lugar saliente, junto ao romano
dominador, a pretexto de patrocinar a liberdade e, sim, aconselhaste acatamento
a César com a obrigação de resgatar-se o tributo que se lhe devia.
Erguendo novas
colunas no templo da fé viva, conclamando mãos limpas e corações puros ao
serviço do céu, não desprezaste a legião de pecadores e criminosos que se
abeiravam de Ti, sedentos de transformação para a tarefa bendita... Não falaste
a eles de uma tribuna dourada, acentuando fronteiras de separação... Comungaste
com todos, no caminho da vida, a pleno chão, abraçando leprosos e delinquentes,
avarentos e ricos, homens e mulheres desventurados. Não impunhas, no entanto,
qualquer compromisso que envolvesse a administração dos interesses públicos,
nem traçavas, com astutas palavras, qualquer insinuação ao desespero. Pedias
tão somente renovassem o coração para que a Luz do Reino lhes penetrasse as
profundidades do ser.
Sustentando o
sublime ideal de obediência a Deus nunca ordenaste morte ou punição aos companheiros
menos corajosos. Suportaste as fragilidades dos discípulos mais queridos,
confiando no futuro, certo de que se podiam faltar a Ti, nos instantes mais
duros, não falhariam para com o Pai, nas grandes horas, desde que não Te
desanimasses na semeadura de fraternidade e proteção, pelo esforço da palavra e
do exemplo no círculo educativo.
Se confiavas num
mundo vasto, onde reinaria a solidariedade nas relações humanas, jamais
tentaste apressar diretrizes absolutas pelo império da força. Começaste sempre a propaganda dos propósitos
divinos em Ti mesmo, revelando o próprio coração, cultivando o trabalho e a
esperança, com suprema fidelidade ao Poder Mais Alto que marcou estação
adequada à semente e à germinação, à flor e ao fruto. Em momento algum
mobilizaste a violência, alegando necessidades do serviço superior, e, em todo
o teu apostolado, jamais desdenhaste o menor ensejo de amparar o próximo,
edificando-o.
Para isso,
abraçaste os velhos e os doentes, os deserdados e os tristes, os aleijados e as
criancinhas...
Nunca disseste,
Senhor, que os discípulos deveriam dominar em Roma para serem úteis na Judéia,
nem prometeste primeiros lugares nas Estradas da Glória aos companheiros
diletos, ainda mesmo se tratando de João e Tiago que Te foram carinhosos
amigos. Mas garantiste a vitória sublime a todos os homens que se fizessem
devotados servos dos semelhantes por amor ao Pai Celestial!
Invariavelmente,
solicitaste socorro e proteção, desculpas e auxílios para os que Te perseguiam,
gratuitamente, irônicos e ingratos.
Tua ordem era de
amor e paz para que todo o espírito se converta ao Infinito Bem...
Hoje, contudo,
improvisam-se guerras sanguinolentas e sobram discórdias em Teu nome. Há companheiros
que disputam situações em relevo, a fim de servirem à Tua causa, como se o
sacrifício pessoal não constituísse a Tua senha na obra redentora. Outros Te
recordam os ensinos para justificar a inconformação e a desordem...
Sim, foste em
verdade, o Grande Renovador. Transformaste os séculos e as nações, trabalhando
e perdoando, ajudando e servindo, esperando e amando sempre!..
Um dia, na praça
pública, quando Te viste a sós com humilde e infortunada irmã, que se vira
fustigada pelo populacho ignorante, perguntaste a ela, emocionadamente:
- Mulher, onde
estão os perseguidores que te acusam?
Hoje, Mestre,
lamentando embora o tempo que também perdi na Terra, iludido e envenenado
quanto os outros homens, lembrando-Te ainda na cruz afrontosa, sozinho em tua
exemplificação de amor e renúncia, abnegação e martírio, ouso interrogar-Te com
as lágrimas de meu profundo arrependimento:
- Senhor, onde
estão os renovadores que Te acompanham?
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