A Eloquência dos
fatos
Leopoldo Machado
Reformador (FEB) Janeiro 1941
Somos francamente
pelo espiritismo de vivos e para vivos; francamente a prol do espiritismo
daqueles que aprenderam dos Espíritos o dever de trabalhar, solidários entre si
e tolerando-se fraternalmente, no sentido de tocar mais velozmente o carro da
evolução da Doutrina! Evolução de molde a converter mais do que convencer, se é
que os convertidos são os que, sentindo a Doutrina através de todas as suas
sublimidades, procuram reformar-se para, à força de seus exemplos e por seu
contato, reformarem os semelhantes. Por isso, preferimos o espiritismo evangélico
ao mediúnico sem evangelho; o espiritismo doutrinário ao metapsíquico; o espiritismo
de atos cristãos, de obras de assistência social, ao simplesmente teórico: o
espiritismo dos que o pregam mais pelos exemplos de trabalho, solidariedade e tolerância, ao dos que, sem
tolerância, solidariedade e trabalho, se limitam a tiradas lírico-doutrinárias,
por figuração e cálculo.
Não somos, por
isso, dos que se abalançam a testemunhar e registrar fenômenos espíritas em
prejuízo daquilo que, partindo de nós, possa esclarecer Inteligências, sacudir
corações e preparar consciências! Não somos curiosos de fatos espíritas, nós,
que viemos para o Espiritismo sem o acicate da dor, nem o testemunho dos fatos!
Lemos a Doutrina; sentimo-la como o verdadeiro Cristianismo redivivo em
espírito e verdade e pusemo-nos a praticá-la evangelicamente, cristãmente,
doutrinariamente! Os fatos vieram depois, por si mesmos, sem os procurarmos,
para maior robustecimento do que havíamos compreendido e sentido. E, sem que ainda hoje os provoquemos, eles
andam a procurar-nos! Foi bem um desses, que estão a exigir adjetivação, o fato
estupendo! formidável! - que nos procurou há duas semanas.
Um domingo, cheio
de sol e de vida, fomos procurado, na parte da manhã, por um cavalheiro
educado, de atitudes bem postas, para contar-nos a tragédia de sua existência
nestes últimos tempos. Sua senhora dispõe de múltiplas mediunidades, sem conhecer, entretanto, o Espiritismo. Também
ele não é espírita. Influenciados por Espíritos atrasados, andava o casal,
ultimamente, a sofrer toda sorte de inquietações e a registrar toda sorte de
fenômenos espíritas. Estavam residindo, então, numa pensão, na Tijuca. Na véspera,
fechados no quarto, registraram, talvez pela centésima vez, uma saraivada de
pedras que lhes entravam o quarto sem que eles vissem por onde. Em meio do
pandemônio, a senhora vê que mão indiscreta retira da carteira do marido alguma
coisa, Era uma cédula de 200$000 das quatro que lá se encontravam. Apelam,
então, para o Espírito de Bezerra de Menezes, por isso que lhe haviam dito que
era um bom Espirito! Um velhinho amável, com leve sorriso de piedade e conforto
nos lábios, apresenta-se entre ambos, visto pela médium, que faz do Espírito,
de quem nunca vira a fotografia, uma descrição que coincide com seus traços
fotográficos. O velhinho os orienta, confortando-os e sugerindo-lhes que nos
procurassem. Atinamos, para logo, com o porquê dessa sugestão do grande
Espírito. É que presidimos, a despeito de tudo, uma sessão de trabalhos mediúnicos,
a que só vão Espíritos obsessores e turbulentos. Como os Espíritos de luz, qual
o de Bezerra, só se comprazem nas manifestações inteligentes, precisos lhe eram
Espíritos inferiores, como o nosso e os que conosco trabalham em serviços
terra-terra, para desatarem o nó górdio das tribulações do ilustre visitante, a
quem prometemos examinar o seu caso na sessão próxima.
Assim fizemos, com
efeito, atraindo a legião dos que o perturbavam, inclusive o que lhe raptara a
cédula de 200$000. Caindo em si, porque vencido, mercê de Deus, à força de
doutrinação, prometeu que reporia a cédula. Disto demos conhecimento, na manhã
seguinte, ao visitante ilustre que, ansioso, voltou a procurar-nos.
- Mas, até eu sair
de casa, ainda não tinha reposto. Só se o fez na minha ausência - disse-nos.
- Se ainda não o
fez, fará, tenho a certeza - afirmamos-lhe cheio de convicção.
No dia seguinte,
quinta-feira, fomos para a Hora Espírita Radiofônica. Encontramos o cavalheiro
na emissora, a nossa espera, com um sorriso de satisfação a brincar-lhe nos lábios
e em atitude mais confiante. Disse-nos: .
Ele repôs hoje, às
três e meia, os duzentos mil réis. Foi assim: estávamos eu e minha senhora no
quarto, quando sentimos uma ambientação leve, suavíssima. Era Bezerra de
Menezes que chegava. Foi-nos dizendo: "O Espírito está aí, disposto a restituir a cédula, conforme a promessa
feita em Nova-lguaçú. Concentrem-se para ajudá-lo." Pus, apenas, um
caixote vazio no meio do quarto, para servir de mesa e esperamos concentrados.
A médium viu como se se produzisse uma fenda no forro do teto, na qual apareceu
a mão do Espírito que soltou a nota. Só testemunhei a nota a cair do teto. Aqui
está ela; trouxe-a para mostrar-lhe.
E mostrada nos foi,
realmente, como ao Agostinho de Souza, ao Dr. Gonçalves Maia, ao Rocha Garcia,
ao Victor de Souza, ao Humberto de Aquino e a muitos outros confrades que ali
se encontravam! ...
Escrevemos este
relato diante da carta que o Sr. Mario Araújo de Lacerda, que é o cavalheiro em
questão e reside, atualmente, à rua Haddock Lobo, 191, que foi onde se
verificou o fenômeno, nos dirigiu em testemunho do que se passou.
Assim, através da lógica
dos fatos e das obras puramente cristãs que realiza, vai o Espiritismo zombando
dos gigantes de outras religiões que o adversam e da ciência materialista que o
nega! Vai zombando dessa gigantaria toda, a granjear, sem esforços, adeptos,
porque, além do mais, vai também lenindo mágoas e solucionando situações
difíceis, enxugando lagrimas!
Abençoada Doutrina
que tanto pode.
Paz, Luz e Fé.
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