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sábado, 16 de dezembro de 2017

Textos adulterados


Textos adulterados
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Julho 1950

Entre as acusações mais ilógicas lançadas contra o Espiritismo por seus adversários, uma foi de que as obras-primas de poesia, recebidas por Francisco Cândido Xavier, seriam elaboradas no Rio de Janeiro por um homem de grande talento, mas totalmente desconhecido em nossos meios literários. Seria ainda esse mesmo gênio invisível quem redigiria ou, pelo menos, poliria os romances e novelas do mesmo médium para torná-los peças de alto valor literário.

lnteiramente ilógica essa forma de explicar o fenômeno, porque o médium recebe suas produções em sessões públicas, à vista de todos, e muitas vezes os originais são entregues no mesmo momento aos visitantes que os levam e publicam em jornais, folhas soltas, cartões, brochuras ou livros que tem sido publicados por toda a parte. Já os vimos, feitos em Uberaba, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Campos, S. Paulo e outras cidades visitadas pelo médium, além de Pedro Leopoldo. Só uma senhora, amiga do médium, já publicou várias dezenas de produções em cartões postais e folhas soltas, para distribuição pelos grupos, sem revisão ou polimentos por ninguém. Mas a essa forma de ataque se juntou outra, diametralmente oposta: de que as produções seriam originalmente perfeitas mas teriam sido viciadas com interpolações por editores interessados em manter pontos de vista doutrinários diferentes daqueles dos Espíritos comunicantes. Acusação tão temerária quanto a precedente, porque o médium lê as obras depois de publicadas e se apressaria em reclamar reajustamento do texto viciado, para não perder o favor dos Espíritos superiores que lhe confiaram as mensagens.

Quando, porventura, alterações aparecem, numa edição, elas antes são sempre encaminhadas e sancionadas pelos Espíritos que ditaram a obra, nada se fazendo sem ordem ou assentimento deles e, muitas vezes, são eles mesmos, os Espíritos, que devam ser feitas. (1) 

Esta segunda forma de ataque nos faz lembrar outra campanha das trevas, já muito velha, que ouvimos pela primeira vez há mais de trinta anos e de quando em vez se repete com a mesma falta de espírito, com o mesmo desrespeito pela cultura dos espíritas brasileiros.

Um confrade, de boa fé, trabalhador, mas simples operário sem instrução, nos denunciou, há uns trinta e poucos anos, que as obras de Allan Kardec, publicadas em português pela Federação Espírita Brasileira, não eram reprodução fiel dos originais: haviam sido alteradas, trechos longos haviam sido interpolados para justificar pontos de vista da Federação, em oposição ao mestre. Perguntamos-lhe como tivera ciência disso; se ele mesmo havia confrontado os originais com as traduções, e como não havia apontado de público essas falhas para que fossem desmascarados os falsificadores e reconstituídos os textos. Respondeu-nos que não sabia francês e não havia feito o confronto, mas que pessoas competentes e de sua inteira confiança o fizeram, por isso tinha ele absoluta certeza de que isso era verdade.

Na livraria da mesma Federação, por esse tempo, achavam-se à venda os originais das obras de Allan Kardec e nos foi muito fácil adquiri-las e fazer cotejos, verificando logo que se tratava da mais leviana acusação à honradez dos tradutores.

Os originais de Kardec existem por toda a parte, em bibliotecas públicas e particulares, para quem os queira comparar com as diversas traduções já publicadas em português. Essa estulta acusação tem mais de trinta anos de vida e frequentemente volta à baila com a mesma desfaçatez, ferindo a memória venerável de vários servidores da causa: mas até hoje não foi apresentada uma única alteração do originais. Pelo seu silêncio de alguns decênios, os acusadores confessaram que eram simples, superficiais e irresponsáveis pelo que diziam e continuam dizendo. Sua finalidade era lançar a dúvida, a confusão, a divisão na família espírita brasileira, para enfraquecê-la e destruí-la. E tais instrumentos das trevas se diziam e se dizem espíritas, viviam e vivem em nosso meio.

Deus tenha piedade deles!


(1) Quanto ao livro Brasil, Coração do Mundo, ver Reformador de 1947, páginas 85 e 132, e de 1949, pág. 118, onde o assunto será exuberantemente esclarecido.

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