Textos
adulterados
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Julho 1950
Entre as acusações mais ilógicas lançadas
contra o Espiritismo por seus adversários, uma foi de que as obras-primas de
poesia, recebidas por Francisco Cândido Xavier, seriam elaboradas no Rio de
Janeiro por um homem de grande talento, mas totalmente desconhecido em nossos meios
literários. Seria ainda esse mesmo gênio invisível quem redigiria ou, pelo
menos, poliria os romances e novelas do mesmo médium para torná-los peças de alto
valor literário.
lnteiramente ilógica essa forma de explicar
o fenômeno, porque o médium recebe suas produções em sessões públicas, à vista
de todos, e muitas vezes os originais são entregues no mesmo momento aos visitantes
que os levam e publicam em jornais, folhas soltas, cartões, brochuras ou livros
que tem sido publicados por toda a parte. Já os vimos, feitos em Uberaba, Juiz de
Fora, Belo Horizonte, Campos, S. Paulo e outras cidades visitadas pelo médium, além
de Pedro Leopoldo. Só uma senhora, amiga do médium, já publicou várias dezenas
de produções em cartões postais e folhas soltas, para distribuição pelos grupos,
sem revisão ou polimentos por ninguém. Mas a essa forma de ataque se juntou outra,
diametralmente oposta: de que as produções seriam originalmente perfeitas mas
teriam sido viciadas com interpolações por editores interessados em manter
pontos de vista doutrinários diferentes daqueles dos Espíritos comunicantes.
Acusação tão temerária quanto a precedente, porque o médium lê as obras depois
de publicadas e se apressaria em reclamar reajustamento do texto viciado, para
não perder o favor dos Espíritos superiores que lhe confiaram as mensagens.
Quando, porventura, alterações aparecem,
numa edição, elas antes são sempre encaminhadas e sancionadas pelos Espíritos que
ditaram a obra, nada se fazendo sem ordem ou assentimento deles e, muitas
vezes, são eles mesmos, os Espíritos, que devam ser feitas. (1)
Esta segunda forma de ataque nos faz
lembrar outra campanha das trevas, já muito velha, que ouvimos pela primeira
vez há mais de trinta anos e de quando em vez se repete com a mesma falta de
espírito, com o mesmo desrespeito pela cultura dos espíritas brasileiros.
Um confrade, de boa fé, trabalhador, mas
simples operário sem instrução, nos denunciou, há uns trinta e poucos anos, que
as obras de Allan Kardec, publicadas em português pela Federação Espírita Brasileira,
não eram reprodução fiel dos originais: haviam sido alteradas, trechos longos
haviam sido interpolados para justificar pontos de vista da Federação, em
oposição ao mestre. Perguntamos-lhe como tivera ciência disso; se ele mesmo havia confrontado
os originais com as traduções, e como não havia apontado de público essas falhas
para que fossem desmascarados os falsificadores e reconstituídos os textos. Respondeu-nos
que não sabia francês e não havia feito o confronto, mas que pessoas competentes
e de sua inteira confiança o fizeram, por isso tinha ele absoluta certeza de que
isso era verdade.
Na livraria da mesma Federação, por esse
tempo, achavam-se à venda os originais das obras de Allan Kardec e nos foi
muito fácil adquiri-las e fazer cotejos, verificando logo que se tratava da
mais leviana acusação à honradez dos tradutores.
Os originais de Kardec existem por toda a parte,
em bibliotecas públicas e particulares, para quem os queira comparar com as diversas
traduções já publicadas em português. Essa estulta acusação tem mais de trinta
anos de vida e frequentemente volta à baila com a mesma desfaçatez, ferindo a memória
venerável de vários servidores da causa: mas até hoje não foi apresentada uma única
alteração do originais. Pelo seu silêncio de alguns decênios, os acusadores
confessaram que eram simples, superficiais e irresponsáveis pelo que diziam e
continuam dizendo. Sua finalidade era lançar a dúvida, a confusão, a divisão na
família espírita brasileira, para enfraquecê-la e destruí-la. E tais instrumentos
das trevas se diziam e se dizem espíritas, viviam e vivem em nosso meio.
Deus tenha piedade deles!
(1) Quanto ao livro Brasil, Coração do Mundo, ver Reformador de 1947, páginas 85 e 132,
e de 1949, pág. 118, onde o assunto será exuberantemente esclarecido.
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