quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A Eloquência dos fatos


A Eloquência dos fatos
Leopoldo Machado
Reformador (FEB) Janeiro 1941

Somos francamente pelo espiritismo de vivos e para vivos; francamente a prol do espiritismo daqueles que aprenderam dos Espíritos o dever de trabalhar, solidários entre si e tolerando-se fraternalmente, no sentido de tocar mais velozmente o carro da evolução da Doutrina! Evolução de molde a converter mais do que convencer, se é que os convertidos são os que, sentindo a Doutrina através de todas as suas sublimidades, procuram reformar-se para, à força de seus exemplos e por seu contato, reformarem os semelhantes. Por isso, preferimos o espiritismo evangélico ao mediúnico sem evangelho; o espiritismo doutrinário ao metapsíquico; o espiritismo de atos cristãos, de obras de assistência social, ao simplesmente teórico: o espiritismo dos que o pregam mais pelos exemplos de trabalho, solidariedade e tolerância, ao dos que, sem tolerância, solidariedade e trabalho, se limitam a tiradas lírico-doutrinárias, por figuração e cálculo.

Não somos, por isso, dos que se abalançam a testemunhar e registrar fenômenos espíritas em prejuízo daquilo que, partindo de nós, possa esclarecer Inteligências, sacudir corações e preparar consciências! Não somos curiosos de fatos espíritas, nós, que viemos para o Espiritismo sem o acicate da dor, nem o testemunho dos fatos! Lemos a Doutrina; sentimo-la como o verdadeiro Cristianismo redivivo em espírito e verdade e pusemo-nos a praticá-la evangelicamente, cristãmente, doutrinariamente! Os fatos vieram depois, por si mesmos, sem os procurarmos, para maior robustecimento do que havíamos compreendido e sentido. E, sem que ainda hoje os provoquemos, eles andam a procurar-nos! Foi bem um desses, que estão a exigir adjetivação, o fato estupendo! formidável! - que nos procurou há duas semanas.

Um domingo, cheio de sol e de vida, fomos procurado, na parte da manhã, por um cavalheiro educado, de atitudes bem postas, para contar-nos a tragédia de sua existência nestes últimos tempos. Sua senhora dispõe de múltiplas mediunidades, sem conhecer, entretanto, o Espiritismo. Também ele não é espírita. Influenciados por Espíritos atrasados, andava o casal, ultimamente, a sofrer toda sorte de inquietações e a registrar toda sorte de fenômenos espíritas. Estavam residindo, então, numa pensão, na Tijuca. Na véspera, fechados no quarto, registraram, talvez pela centésima vez, uma saraivada de pedras que lhes entravam o quarto sem que eles vissem por onde. Em meio do pandemônio, a senhora vê que mão indiscreta retira da carteira do marido alguma coisa, Era uma cédula de 200$000 das quatro que lá se encontravam. Apelam, então, para o Espírito de Bezerra de Menezes, por isso que lhe haviam dito que era um bom Espirito! Um velhinho amável, com leve sorriso de piedade e conforto nos lábios, apresenta-se entre ambos, visto pela médium, que faz do Espírito, de quem nunca vira a fotografia, uma descrição que coincide com seus traços fotográficos. O velhinho os orienta, confortando-os e sugerindo-lhes que nos procurassem. Atinamos, para logo, com o porquê dessa sugestão do grande Espírito. É que presidimos, a despeito de tudo, uma sessão de trabalhos mediúnicos, a que só vão Espíritos obsessores e turbulentos. Como os Espíritos de luz, qual o de Bezerra, só se comprazem nas manifestações inteligentes, precisos lhe eram Espíritos inferiores, como o nosso e os que conosco trabalham em serviços terra-terra, para desatarem o nó górdio das tribulações do ilustre visitante, a quem prometemos examinar o seu caso na sessão próxima.

Assim fizemos, com efeito, atraindo a legião dos que o perturbavam, inclusive o que lhe raptara a cédula de 200$000. Caindo em si, porque vencido, mercê de Deus, à força de doutrinação, prometeu que reporia a cédula. Disto demos conhecimento, na manhã seguinte, ao visitante ilustre que, ansioso, voltou a procurar-nos.

- Mas, até eu sair de casa, ainda não tinha reposto. Só se o fez na minha ausência - disse-nos.

- Se ainda não o fez, fará, tenho a certeza - afirmamos-lhe cheio de convicção.

No dia seguinte, quinta-feira, fomos para a Hora Espírita Radiofônica. Encontramos o cavalheiro na emissora, a nossa espera, com um sorriso de satisfação a brincar-lhe nos lábios e em atitude mais confiante. Disse-nos: .

Ele repôs hoje, às três e meia, os duzentos mil réis. Foi assim: estávamos eu e minha senhora no quarto, quando sentimos uma ambientação leve, suavíssima. Era Bezerra de Menezes que chegava. Foi-nos dizendo: "O Espírito está aí, disposto a restituir a cédula, conforme a promessa feita em Nova-lguaçú. Concentrem-se para ajudá-lo." Pus, apenas, um caixote vazio no meio do quarto, para servir de mesa e esperamos concentrados. A médium viu como se se produzisse uma fenda no forro do teto, na qual apareceu a mão do Espírito que soltou a nota. Só testemunhei a nota a cair do teto. Aqui está ela; trouxe-a para mostrar-lhe.

E mostrada nos foi, realmente, como ao Agostinho de Souza, ao Dr. Gonçalves Maia, ao Rocha Garcia, ao Victor de Souza, ao Humberto de Aquino e a muitos outros confrades que ali se encontravam! ...

Escrevemos este relato diante da carta que o Sr. Mario Araújo de Lacerda, que é o cavalheiro em questão e reside, atualmente, à rua Haddock Lobo, 191, que foi onde se verificou o fenômeno, nos dirigiu em testemunho do que se passou.

Assim, através da lógica dos fatos e das obras puramente cristãs que realiza, vai o Espiritismo zombando dos gigantes de outras religiões que o adversam e da ciência materialista que o nega! Vai zombando dessa gigantaria toda, a granjear, sem esforços, adeptos, porque, além do mais, vai também lenindo mágoas e solucionando situações difíceis, enxugando lagrimas!

Abençoada Doutrina que tanto pode.


Paz, Luz e Fé.

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