‘e’e final. “Dos
Princípios Incontroversos
às
Hipóteses Plausíveis”
2.
A Hipótese da Morbidez Perispiritual
Sendo a enfermidade um elemento de
expiação ou de prova para o espírito Dependente de causas anteriores ou de
negligências atuais, poder-se-ia admitir, especialmente no primeiro caso, que a
sua sede é o perispírito: daí a eficácia da ação magnético-fluídica dos passes
que vão constituindo modalidade terapêutica sempre e cada vez mais apreciável.
A hipótese parece-nos plausível: mas
necessário é não exagerarmos o conceito, ao ponto de levá-la a extremos inconsequentes.
Sobretudo é preciso diferençar as causas remotas das enfermidades expiatórias,
do imediatismo que revestem certos acidentes patológicos.
... O que se passa, no caso em
apreço, é o seguinte, parece-nos: enquanto o homem permanece na fragilidade do
pecado - índice incontestável de imperfeição espiritual - o seu perispírito não
dispõe de energia fluídica suficiente para imunizá-lo contra as enfermidades endêmicas
ou esporádicas, próprias do ambiente em que se encontre - e o homem tem o seu
corpo físico acessível ao assalto dessas enfermidades. Vemos ai o imediatismo
do acidente mórbido, condicionado, porém, às causas remotas da imperfeição do
espírito, imperfeição que
lhe não permite constituir um perispírito capaz de proteger eficazmente o
arcabouço contra as doenças.
Agora, o que se pôde, aceitar como
regra geral, é que, quanto mais perfeito o espírito, tanto mais invulnerável o
corpo, graças à energia perispiritual, a certas formas de doença,
principalmente àquelas que, por sua incurabilidade, revestem caráter
expiatório.
Regra geral, dizemos, porque
frequentes são as exceções constatadas. No que concerne à tuberculose, por
exemplo, são de tal modo frequentes os casos em que vemos criaturas boníssimas
acometidas do mal incurável, que se poderia afirmar constituir a tuberculose -
a moléstia
das pessoas de bom coração, como se dizia outrora, nos bons tempos em que os poetas
cantavam desinteressadamente como os rouxinóis, constituir a moléstia
característica dos poetas.
Em nosso mundo, o aforismo - Mens sana in corpore sano é de aplicação
muito relativa.
3.
A Hipótese da Memória Perispiritual
Outra asserção que se encontra nos
tratadistas da doutrina, é a de que o perispírito possui a faculdade de
conservar, como em um registro, a memória dos acontecimentos que o espírito
presenciou ou dos fatos que ocorreram e de que foi ele protagonista, em sua
passagem pela Terra, o que lhe permite a própria identificação, através das
sucessivas encarnações planetárias e do estado de erraticidade na vida
espiritual. Constitui esta hipótese
um simples corolário da precedente, sob n." 1, isto é, a do "eterno
perispírito".
A memória é, sem duvida, o quid divino, sem o, qual não existe individuação
possível. A perda total e permanente da memória constituiria, fosse tal coisa
suscetível de dar-se, o não ser, isto é, a verdadeira morte, o nada para o
homem. Conceder esse atributo ao perispírito, seria deslocar para, este o
sentido espiritual do ser, a personalidade humana em sua essência eterna, ainda
que obscurecida pela matéria, mas de cuja existência pode-se ter perfeito
conhecimento, como disseram os espíritos a Allan Kardec, pelo pensamento. (1)
(1) "Livro dos Espíritos', pág.9, nº 26:
P.
Podemos conceber o espírito sem a matéria e a matéria sem o espírito?
- R. Sem dúvida, pelo
pensamento",
Queremos crer que a confusão resulta
de se desdenhar, na pesquisa das causas primárias, no que concerne ao homem, o
fator sentimental, emotivo, esse imenso repositório da vida espiritual, que o intelectualismo
de um lado e, de outro, os prejuízos de toda ordem das diversas escolas e,
sobretudo, as exigências do viver carnal, substituem pela existencialidade
terra a terra, do homem.
Entende-se, talvez por isso, que o
Espirito, sem matéria alguma, seria uma abstração: daí a permanência eterna do
perispírito, como o entendem alguns filósofos e o deslocar-se o atributo
essencial da memória para esse revestimento de matéria fluídica, sem o qual
pretende-se que o Espirito seja apenas uma abstração. É reduzir muito as
faculdades superiores com que Deus dotou o homem!
Mas, indaguemos, há ou não há o
Espirito? A própria teoria que o considera abstração desde que não se ache
unido ao perispírito, nada mais estabelece do que a existência da pura
personalidade espiritual, pois para que alguma coisa esteja unida a outra, é
necessário, fora de dúvida, que tenha existência real.
Ao nosso ver, o que há é um defeito
de conceituação (do Espiritismo dentro do Materialismo). que convém corrigido a
tempo de evitar deturpações da Revelação Espírita, por acréscimos
contraproducentes ao que nos disseram os mensageiros de Jesus e cuja
extemporaneidade retrógrada faz recuar os princípios da Revelação a uma fase de
reação psicológica do materialismo científico contra o dogmatismo religioso,
fase já vencida e ultrapassada pela humanidade.
A incompreensão do que seja um
Espírito, em sua essência divina, já não existe mais senão para os que teimam
em formar a sua cultura espírita à luz do extremado Racionalismo que ainda em
nossos dias predomina nas classes cultas.
Precisamos, porém, não confundir as
épocas. Esse racionalismo foi necessário, para vencer a opressão da fé dogmática,
esse credo
quia absurdum que serviu para o cerceamento das consciências. Pode ainda
convir aos que se deixaram galvanizar nos princípios da escola que teve por única
missão arrancar o domínio das almas das mãos da igreja, tornada incompetente
para o ministério sagrado de educadora da humanidade, desde o instante em que
deixou de servir ao Cristo para entregar-se ao serviço de Mamon. Mas os que
evoluíram com
o Espiritismo, os que fizeram a sua educação nos moldes do Espiritismo
Evangélico, procurando encontrar o espírito que vivifica, a fim de se nortearem
por ele, separando-o da letra que mata, esses não tem dificuldade em sobrepor-se
aos dogmas que a ciência sobrepôs aos
da igreja e, iluminados pela Fé viva que desperta o sentimento nas almas,
conhecem o Espirito, conhecem-se a si mesmos como entidades livres em sua essência
espiritual, que as imperfeições morais podem escravizar acidentalmente à
matéria, em qualquer dos seus grãos, mas
cuja libertação definitiva um dia chegará!
Que seria feito, nesse dia, do ser
eterno, indestrutível - do Espirito - se a memória constituísse apanágio do
perispírito?
Seria a perda da individualidade,
porquanto, extinto o perispírito, sede da memória (conforme a hipótese que
estamos contestando), extinguir-se-ia com ele o espírito. Absurdo, arquitetado
por um panteísmo de nova espécie, decorrente de um esforço extemporâneo para explicar
fenômenos que apenas podem ser, pela inteligência humana, constatados, porque
evidentes.
A memória é atributo exclusivo do
Espirito.
Simples palavras, dirão os nossos
irmãos ainda aferrados ao racionalismo. E nós lhes daremos a resposta do Cristo,
quando falava a Nicodemos: "Se vos falei de coisas terrestres, e não
crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?" (1)
(1) João, cap. 3, vers. 12.
Os espíritas que seguem a Jesus, quer
leiam Kardec ou estudem Roustaing; inundem os cérebros de cultura cientifica ou
se deixem ficar na penumbra silenciosa da prática da caridade; esses, não têm,
entretanto, o direito de dizer que lançamos palavras ao vento.
Meditem profundamente, sobre o que
acaba de ser exposto, os nossos companheiros de lides doutrinarias. Escrevemos
depois de haver perlustrado muitas páginas de obras espíritas, de tratados de
metapsíquica, de hipnotismo; depois de longos entretenimentos com espíritos de
diversas categorias, em um quarto de século de trabalhos humildes em humildes
oficinas de Jesus, onde se preza a inteireza da consciência; depois, também, de
termos exercido a mediunidade que, além de ser uma porta aberta para o mundo
admirável dos fluidos, é uma pequena, minúscula ogiva rasgada no templo da
Verdade, acessível ao homem, para o infinito do mundo espiritual.
Por essa minúscula ogiva tem subido
a nossa alma para o seio de Deus, em momentos, para nós memoráveis, de nossa
vida humilde - os momentos das supremas eclosões da alma, quando os olhos
inundam-se de lágrimas, a prece evola-se do tabernáculo da alma e do complexo
humano, em um rápido instante, apenas fica lugar para a vibração íntima e profunda
do Espírito.
***
O que se disse com relação à
memória, é aplicável a quaisquer outras faculdades permanentes do Espirito, que
possam porventura ser atribuídas ao perispírito.
A confusão resulta dos estreitos
limites em que se confinam estudos concernentes a fenômenos de suma transcendência,
como esse de que acabamos de tratar.
Circunscrever tais estudos ao nosso
plano, ao plano material, pela necessidade de lhes aplicar os nossos métodos de
indagação objetiva, não é nada recomendável.
Admitimos que, uma vez constatada a
existência do perispírito, a ele se reportem as nossas pesquisas, respeito às
manifestações que transcendem o mundo visível, palpável, da carne, em que nos
achamos soterrados: como as do mediunismo, por exemplo.
Essa constitui uma nova etapa, de alvissareiras
perspectivas, para as indagações de ordem científica. Mas a razão nos diz, a Fé
no-lo afirma, Jesus nos ensinou que não é um término do descortino intelectual.
"Vós procurais o
perispírito, disse certa vez um pensador do plano invisível; nós procuramos o
Espírito".
Este o caminho que nos foi aberto
por Jesus. Para percorrê-lo é preciso ter fé. "Em verdade vos digo que, se
tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis isto à figueira, mas até se a este monte
disserdes: Ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito". E tudo o que
pedirdes na oração, crendo, o recebereis. (1)
(1) Mateus: Cap. 21 – Vers. 21 e 22
Cultivemos a virtude da Fé e
obteremos a certeza da Pura Espiritualidade -- alvo bendito a que todos nos
destinamos pela Vontade de Deus.
por Arnaldo S. Thiago
Conferência realizada em 1º de
dezembro de 1940
no Centro Espirita "Discípulos
de Samuel"
in “Ao Serviço do Mestre” (Ed. FEB 1942)
FIM
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